*29: Estúbal


I

Uma menina dócil e educadinha,

até que para sua idade;

loirinha, parece uma anjinha.

Aninha.


II

Com nove anos de idade

já está na quarta série

por inteligente que é;

tem um gatinho

chamado Estúbal;

e depois de um domingo

de churrasco e brincadeiras

entre os amigos,

ela agora se prepara

para dormir;

vai à caixinha de Estúbal,

um gatinho de dois meses

de idade,

malhado

e muito brincalhão.






III

Ela agora está no corredor

do andar de cima

de sua casa;

virando à direita,

em um quartinho

cheio de brinquedos,

está a caixinha de dormir

de seu fofinho;

ela nota que o gatinho

não está dormindo na caixa;

ela o chama com voz

mansa:

- Estúbal! Apareça!

Seu brincalho...

ande queridinho...

estou para dormir,

e vim te dar boa noite!


IV

Sem ter resposta,

Aninha já fica preocupada

com o gatinho;

ainda um bebezinho,

mal conhecia a casa;

então, ela revira tudo,

evocando-o

na mais miúda voz:

- Estúbal, vamos menininho,

tenho que dormir!

V

E nada.

Já altas horas da noite

e Aninha procurando

por toda a casa,

chamando seu amigo

inseparável.


VI

Quando ela estava lá

na cozinha procurando

nos armários,

o telhado bramia,

parecia vivo,

mas como chovia

muito naquela noite,

ela julgou ser a chuva

destelhando sua casa,

mas agora,

como ela tinha revirado,

toda a casa,

ela já subia pela escada

do teto.


VII

No corredor que leva

ao sótão, no escuro

ela sente o cheiro

de Estúbal,

e sem vê-lo avisa:

- Estúbal, apareça!

Já sei...

amanhã te daremos

um banho

não adianta se esconder,

todo o mundo

tem que tomar banho,

rapazinho,

vem aqui coma Aninha,

eu vou acender a luz,

espera aí!


VIII

Acendendo a luz,

Aninha enxerga Estúbal

com os olhos estalados

de susto;

os pêlos ensopados

de sangue;

com um rastelo

de limpar grama

cravado em suas costas,

que atravessou

todo o corpinho

do gato e foi pregar

no chão, como uma carne

presa pelo garfo no prato

estava Estúbal.





IX

Aninha, ao acender a luz,

com muita dificuldade,

pois não tinha interruptor

no sótão;

era só girar a lâmpada,

mas, às cinco horas

da manhã

Aninha já estava fatigada;

procurara Estúbal

pro todos os cantos da casa

durante a noite.


X

Ela bate os olhos no gatinho

e seu coraçãozinho dispara;

seus olhos jorram lágrimas;

ela corre para o gatinho;

olha-o por um momento,

fica sem reação,

depois ela pega

no cabo do rastelo

e o desprende do assoalho.


XI

Com o rastelo

ainda cravado

nas costas do gato

ela chora

dizendo o nome

de seu amiguinho

repetidas vezes,

como uma oração:

- Estúbal... Estúbal...

- Estúbal... Estúbal...

- Estúbal... Estúbal...


XII

Ela, ainda dizendo

o nome do gato

retira-o do rastelo

e o abraça fortemente

balançando-o

como se faz

uma criancinha dormir;

- seu coro continua - :

- Estúbal... Estúbal...

- Estúbal... Estúbal...

- Estú... bal...


XIII

Às sete horas da manhã,

- como de costume;

todos acordam

e dão pela falta de Aninha

em sua cama;

procuram por

toda a casa,

e por volta do meio-dia

seu pai

vai consertar o telhado

e encontra

Aninha,

em seu coro;

abraça à Estúbal;

toda ensangüentada;

mas não chora mais.


XIV

Uma semana mais tarde

sentiria o gosto

do mesmo rastelo

fincando ela mesma

nas suas costas...

até as cordas vocais

que diziam:

- Estúbal... Estúbal... Estú...