Nos poucos momentos em que ficamos sozinhos surge aquela vontade de conversar conosco, de indagar muitas coisas, de tentar tirar de nós mesmos aquela resposta que se está protelando para dar, já faz algum tempo.

Surge então, a pergunta: e aí, meu amigo (a)?

Esse "e aí, meu amigo (a)?", serve para qualquer situação que se esteja vivenciando, alegre ou triste, fácil ou difícil, de consagração ou de derrocada.

Num momento de grande prestígio, em que as coisas se encaixaram como nunca, numa grande fase, também se pergunta, quando estamos cara a cara: e aí, meu amigo (a), você é bom mesmo ou é só uma farsa?

Nos piores momentos, a mesma coisa: e aí, meu amigo (a), será que o teu destino é fracassar ou isso pode mudar?

A fase de negação da realidade é muito comum em doenças terminais ou em outros casos traumáticos, dependendo da importância que se dá a eles.

Por isso que se diz muito por aí que quando não encaramos os problemas estamos enganando a nós mesmos.

O ruim de enganar a si mesmo é que o otário que cai no conto do vigário nunca muda e sempre a gente é quem acaba pagando o pato, além do fato de ter de conviver com quem não confiamos mais, lhe dar banho e dormir juntinho, sem falar nas vezes em que nos obriga a masturbá-lo.

A grande verdade é que muitos de nós nunca temos saco para uma grande discussão de relação (a famosa "DR") com ninguém, tanto mais conosco mesmo, pois embora sempre necessária e importante, a "DR" própria é pior do que malha fina da Receita, pois esta última, pelo menos regulariza a nossa situação, além de parcelar o nosso erro.

A "DR" própria é pior do que reunião de condomínio, de reunião de Tupperware, de visita de cunhado, de visita de Testemunhas de Jeová.

A "DR" própria é muito complicada, pois pode trazer excesso de vaidade ou excesso de piedade, ambos muito ruins só se diferenciando no vestuário e na expressão do rosto, o primeiro cheio de acessórios e com nariz empinado e o segundo amassado e com cara de choro.

Mas muito pior do que uma "DR" consigo mesmo é uma "DR" com o cônjuge. Aí sim, você vai conhecer o inferno, pois além de sair dela arrasado individualmente e sem aporte psicológico ou material para se reerguer, acaba com suas reservas de auto-estima e de dinheiro comprometidas totalmente para reerguer o parceiro.

Se for inevitável, ainda é melhor discutir a relação com a gente mesmo. De preferência, poucas vezes, para não banalizar.

Na pior das hipóteses, tem menos gente para te cobrar a mudança de postura.

A menos que você tenha múltiplas personalidades.

Nesse caso, é mais negócio vender Tupperware e se candidatar a síndico.

Sérgio Lisboa.