Paulo Roberto Alves Falk¹

Dyane Paes Pereira²

RESUMO

O futebol atual exige como qualidade física a velocidade como componente essencial ao sucesso individual e coletivo. Por isso faz-se necessário adequar os treinamentos para desenvolver esta capacidade física. Como forma de mensurar o nível de velocidade dos adolescentes, todos do sexo masculino, matriculados em escola de futebol na cidade de Lages/SC, praticantes desta modalidade em período superior a seis meses de treinamento, com periodicidade de três aulas semanais com duração aproximada de uma hora e trinta minutos, utilizou-se o teste de velocidade de 50m dos autores Johnson e Nelson (1979) apud Matsudo (1987). Os resultados encontrados para a faixa etária compreendida entre as idades de 12 e 17 anos, média de 15,03 ±1,45, foram em média de 7,84 segundos ±0,68. Não se encontram classificações específicas a esta faixa etária, por isso consideramos fundamental realizar acompanhamento periódico desta amostra para demonstrar a importância de treinamento adequado e específico no desenvolvimento da velocidade destes alunos.

PALAVRAS-CHAVE: futebol, velocidade, teste, treinamento.

ABSTRACT

The current football requires physical quality and the speed as an essential component to successful individual and collective. Therefore it is necessary to adapt the training to develop the physical capacity. As a way of measuring the level of speed of teenagers, all male, enrolled in school football in the city of Lages / SC, practitioners of this modality in a period exceeding six months of training, with a frequency of three weekly classes lasting approximately one hour and thirty minutes, using the test speed of 50 authors of the Johnson and Nelson (1979) apud Matsudo (1987). The results for the age group between the ages of 12 and 17 years, mean 15.03 ± 1.45, were on average 7.84 ± 0.68 seconds. Classifications are not specific to this age group, so consider conducting regular monitoring of key sample to demonstrate the importance of proper training and development specifically in the speed of these students.
KEYWORDS: football, speed, test, training.

INTRODUÇÃO

O jogador de futebol atual é reconhecido através de seu condicionamento físico diferenciado, para tanto executa treinamentos diários de aperfeiçoamento das valências físicas para que seja reconhecido como necessário à sua equipe, como afirma Floriano et al (2007) a dinamicidade do futebol atual vem exigindo que os atletas sejam cada vez mais polivalentes e tenham todas as suas capacidades físicas, referentes à modalidade, desenvolvidas ao máximo. Para tanto utilizam-se de princípios científicos capazes de trazer benefícios e melhorar o desempenho atlético dos jogadores de futebol. Bangsbo (1994) diz que a evolução dos métodos de treinamentos físicos além de formar atletas mais fortes e velozes tornou-os capazes de manter um nível de rendimento alto no decorrer de todo uma partida. Alguns autores destacam que apesar da importância de todas as qualidades físicas, a velocidade é enfatizada como uma das principais (Floriano, 2007 apud Alves, 2004). Por isso encontramos em Melo (1997) a explicação, onde ele cita as posições do futebol e suas exigências físicas específicas:

- Goleiro: força explosiva, flexibilidade, equilíbrio, resistência muscular localizada e velocidade de reação.

- Laterais: força explosiva, resistência e coordenação.

- Zagueiros: força, impulsão, equilíbrio, velocidade de reação e agilidade.

- Meio-campo: resistência, coordenação, recuperação e velocidade.

- Atacantes: velocidade, agilidade, equilíbrio e força explosiva.

Podemos identificar nesta definição de características do autor que somente os laterais não necessitam prioritariamente de algum tipo de velocidade. Velocidade de acordo com Kunze (1987) a velocidade é necessária para percorrer as distâncias curtas o mais rápido possível. E a extrema importância desta valência física no futebol é evidenciada por SCHMID e ALEJO (2002) onde nos mostram que, o futebol requer força, potência, velocidade, agilidade e resistência. Destacam que, apesar da importância dessas capacidades, a velocidade é talvez a mais importante. O simples fato de essa capacidade estar em evidência pode mudar uma partida. Mas este fato não pode nos fazer entender que somente a velocidade bem desenvolvida pode ser a chave do sucesso de uma equipe de futebol, como afirma Pavanelli (2004) o treinamento deve observar critérios clássicos considerando o futebol, com suas características próprias, não implica que seus jogadores sejam especialistas em velocidade, que tenham a capacidade aeróbia de um maratonista, mas sim uma forma equilibrada dessas variáveis para a melhor prática do esporte e demonstrar com eficiência a capacidade técnica individual que chamamos de talento ou simplesmente de genialidade. Para Hollmann & Hettinger (1989) apud Pinho et al (2005), a velocidade máxima é alcançada nos rapazes entre 18 e 22 anos de idade; ressaltando que há condições particularmente favoráveis entre os 7 e 15 anos. Desta forma pretendemos reconhecer os níveis de velocidade máxima e potencial de desenvolvimento desta capacidade física, em crianças e adolescentes compreendidos na faixa etária de 12 a 17 anos de idade, que para Bangsbo (1994) é importante para que jogadores e técnicos obtenham informações objetivas sobre o desempenho físico dos atletas para clarificar as metas dos treinamentos a curto e longo prazo.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo justifica-se pelo fato de que uma boa velocidade garante ao jogador ganhar tempo e conseqüentemente ganhar espaço, e isso é importante para a qualidade profissional do atleta (Pinho et al, 2005). Ao se mensurar níveis de velocidade em deslocamentos curtos podemos verificar a necessidade de treinamento desta capacidade considerada por muitos estudiosos como essencial a pratica da modalidade futebol de campo. Para Frisselli & Mantovani (1999) "O futebolista deve apresentar desenvolvidas as capacidades de deslocar-se em velocidade máxima com ou sem bola, além de realizar os fundamentos técnicos (dribles, fintas, passes, chutes a gol), o mais rapidamente possível". Para entender a importância do teste e sua semelhança a reais situações de jogo, citamos Knowles e Booke (1974) apud Pinho et al (2005) que definiram que durante uma partida de futebol os jogadores realizam em média 52 sprints, em distâncias de 4,6 a 59,4m. Entendemos que, no treinamento do condicionamento físico, deve-se enfatizar o trabalho de velocidade em distâncias curtas no máximo até 60m, pois esta é a situação real de jogo.

PADRONIZAÇÃO DO TESTE DE VELOCIDADE

Utilizamos para realizar o teste de velocidade de 50 metros, um campo de futebol gramado com as dimensões de 90 metros de comprimento, por 45 metros de largura, localizado no bairro Habitação na cidade de Lages/SC. O teste foi realizado com a padronização dos alunos em alguns critérios, como uniforme padrão, composto de shorts, camiseta e meias da escola de futebol e utilização de chuteiras. O horário de aplicação ocorreu das 14h às 16h, todos no mesmo local e data. Para mensuração do tempo utilizou-se cronômetro da marca SL888T Oregon, para todos os avaliados.

AMOSTRA

O teste da corrida dos 50 metros foi utilizado para avaliar a velocidade de deslocamento em 30 alunos de uma escola de futebol de campo que utiliza como cronograma de atividades a realização de três aulas semanais com duração de aproximadamente uma hora e meia por dia de treinamento. Estes alunos todos do sexo masculino, compreendidos na faixa etária de 12 a 17 anos de idade, que estão devidamente matriculados e freqüentando as aulas por período superior a seis meses.

TESTE DE VELOCIDADE DE 50 METROS

A padronização do teste seguiu a que foi proposta por JOHNSON e NELSON (1979) apud Matsudo (1987). Este é um teste máximo, ou seja, deve ser realizado na máxima velocidade e passar a faixa de chegada também na máxima velocidade; a posição de saída em afastamento ântero-posterior das pernas e com o pé da frente o mais próximo possível da faixa. A voz de comando será pelas palavras "Atenção! Já!", sendo acionado o cronômetro no momento que for pronunciado "Já!" e parado no momento em que o avaliado cruzar a faixa de chegada. Caso ocorra qualquer problema no teste e tenha que ser repetido, haverá um intervalo mínimo de 5 (cinco) minutos. Será permitida apenas uma tentativa, e o resultado do teste será o tempo de percurso dos 50 metros com precisão de centésimo de segundo.Algumas precauções devem ser tomadas na realização deste teste, segundo Antonialli (2009):

1. Explicar com calma o teste quando se tratar de crianças ou pessoas que não estão acostumadas a correr. Reforçar a idéia de que o teste deve ser realizado na máxima velocidade, devendo o avaliado passar pela faixa de chegada na maior velocidade possível;
2. O cronômetro deve ser acionado no momento em que se estiver pronunciando a palavra "Já" e não quando a criança iniciar o movimento;
3. Desaconselham-se sinais de comando com o braço ou bandeira, pois não permitem uma boa precisão de início do teste;
4. Observar para que nada atrapalhe o avaliado a correr com pessoas passando no percurso do teste, aglomerado perto dele na saída ou chegada, local escorregadio, etc;
5. Quanto ao aquecimento, consideramos sem necessidade, principalmente tratando-se de crianças. No entanto quando se tratar de atletas acostumados a se aquecerem, o mesmo poderá ser realizado normalmente. Nesse caso devemos dar um pequeno intervalo de 2 minutos entre o final do aquecimento e o início do teste permitindo assim a reposição dos estoques de ATP-CP.
 A tabela de classificação dos resultados para atletas novatos e experientes é a expressa a seguir, porém não se encontram nas bibliografias relacionadas ao assunto, classificação para a faixa etária de nossa amostra.

 

Excelente

Muito Bom

Bom

Regular

Fraco

Novatos

< 5,8 

 

5,8

5,9

6,0

6,1

Experientes

< 5,4 

 

5,4

5,5

5,6

5,7

FONTE: Johnson e Nelson, 1979 apud Matsudo (1987). 

DADOS COLETADOS E RESULTADOS

Os dados coletados resultaram nos seguintes valores, expresso na tabela a seguir:

 

Idade

Teste de 50m

Média

15,03

7,84 segundos

Desvio Padrão

±1,45

±0,68

A média de idade da amostra foi de 15,03 ± 1,45 e o tempo médio gasto para percorrer os 50(cinqüenta) metros do teste foi de 7,84 segundos ± 0,68, sendo o menor tempo de 6,50 segundos e o maior tempo 9,25 segundos. Segundo Matsudo (1987), "a corrida de 50 metros é um dos métodos mais utilizados para medir de maneira indireta a potência anaeróbia alática, pois os 50 metros são percorridos em torno de 10 segundos, pico máximo do metabolismo ATP-CP".

DISCUSSÃO

Nossa amostra demonstrou estar abaixo dos índices encontrados nas classificações destinadas a adultos Novatos e Experientes, para determinar se os índices são satisfatórios, seria necessário um comparativo com outro grupo de mesma faixa etária e prática de atividades físicas regulares. Na bibliografia de Frisselli e Mantovani (1999) há uma preocupação em diferenciar o treinamento de velocidade para faixas específicas de idade e maturação, desenvolvendo esta capacidade fundamental na prática do futebol.

Métodos utilizados para a formação das capacidades de velocidade no Futebol:

Categorias:

 

ESCOLINHAS

Todas as formas de velocidade, acentuando a velocidade de reação e decisão.

MIRIM

Estímulos curtos, visando a melhora na força explosiva; treino da velocidade de reação, decisão e antecipação. Ponto máximo da freqüência de movimentos. Exercícios de velocidade com aspectos técnicos.

INFANTIL/JUVENIL

Treino das aptidões de velocidade: técnica de corrida, força de explosão, velocidade de sprint e velocidade cíclica máxima. Exercícios de velocidade com aspectos técnicos.

JUNIORES

Semelhante a categoria infantil, além do aperfeiçoamento da velocidade nas condições solicitadas pela aplicação das habilidades motoras e dos procedimentos técnicos táticos.

FONTE: Frisselli e Mantovani, 1999.

Para BOMPA (2002), grande parte da capacidade de velocidade é determinada geneticamente. Quanto maior for a proporção de fibras de contração rápida em relação às fibras de contração lenta, maior será a capacidade de contração rápida e explosiva do organismo. Entretanto, apesar da relação da velocidade com a genética, ela não é um fator limitante. Os atletas podem melhorar sua capacidade com o treinamento. De acordo com dados obtidos por ISRAEL e BLASER, citado por WEINECK (1991); WEINECK (2000) pode-se concluir que o treinamento de velocidade deve ocorrer o mais precoce possível, pois há um o risco de crianças e jovens perderem velocidade por começarem a treinar tardiamente. BISANZ, citado por WEINECK (2000) preconiza que, pelo menos uma vez por semana, os adolescentes devem realizar um treinamento específico de velocidade, de força rápida e da coordenação.

Por isto entendemos ser necessário um estudo periódico de acompanhamento desta amostra no decorrer do planejamento do treinamento na tentativa de demonstrar a eficácia do treinamento de velocidade com a melhora dos índices coletados.

CONCLUSÃO

O treinamento da velocidade na modalidade de futebol de campo é fundamental para executar as tarefas específicas deste esporte com êxito. Para isso treinar ou aprimorar esta capacidade em crianças e adolescentes de forma programada e orientada por estudos facilita a obtenção e desenvolvimento desta valência física. Entendemos assim, que a velocidade é item primordial para o atleta de futebol. Porém esta capacidade deve ser agregada de diversos outros fundamentos e qualidades para formar um jogador completo. Sendo assim, o futebolista que não apresente indicativo de velocidade capaz de transformá-lo em um velocista, ainda poderá ser um futebolista capaz de imprimir um ritmo veloz ao jogo, desde que bem preparado física e tecnicamente e com um posicionamento tático adequado e inteligente, dando velocidade à jogada e à bola (Pinho et al, 2005).

BIBLIOGRAFIA

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KUNZE, A. Futebol. Tradução de Ana Maria de Oliveira Mendonça. Revisão Científica de Eduardo Vingada. Colecção Desporto n. 10. Lisboa: Estampa, 1987. Cap. 6, p. 129-141. (Condição Física).

MATSUDO,V.K.R.- Testes em ciências do esporte .S.C.do Sul 4_ ed. .,1987

MELO, R. S. Qualidades físicas e psicológicas e exercícios técnicos do atleta de futebol. Rio de Janeiro: Sprint, 1997. 133 p.

PAVANELLI, C.– Ciência do futebol- Turíbio Leite de Barros e Isabela Guerra-2004.

PINHO, S. T., ALVES, D. M., FILHO, L. A. O. R., - Adaptações ao treinamento no futebol - XXIV Simpósio Nacional de Educação Física, II Seminário de Extensão-2005.

SCHMID, S; ALEJO, B. Complete conditiong for soccer. Champaign: Human Kinetics, 2002. 184 p.

WEINECK, J. Biologia do esporte. Tradução de Anita Viviani. Verificação Científica de Valdir Barbanti. São Paulo: Manole, 1991.

WEINECK, J.. Futebol Total: o treinamento físico no futebol. Tradução de Sérgio Roberto Ferreira Batista. Verificação Científica de Francisco Navarro e Reury Frank P. Bacurau. Guarulhos: Phorte, 2000.