TODO MUNDO USA TERNO – Parte II

Texto: Daniela Souza

Lembro a  alguns anos , em  um caixa eletrônico, uma ocasião em que meu cartão ficou preso na máquina, a pessoa que estava logo atrás de mim na fila, era um homem de aparência distinta, trajava um belo terno, bem cortado, era bonito mesmo usando óculos,  alto não de uma forma desengonçada mas tinha um porte elegante e  os cabelos claros. Se prontificou  a ajudar, disse com uma voz calma e macia que quando isso acontecia, era só digitar a senha e apertar a tecla “estrela” que automaticamente  a máquina devolvia o cartão.

Sei que parece muito obvio, mas no calor da situação, qualquer pessoa, inteligente, faz qualquer coisa para se ver livre de um inconveniente desses, eu atrasada para o trabalho, e o dinheiro do caixa era para comprar um lanche rápido,  não dava pra pensar em ir  embora e deixar um cartão preso em caixa eletrônico no meio da rua.

Respirei fundo, pensei naquela frase chavão quando estamos no meio de uma desgraça ” porque essas coisas aconteciam comigo” e quando digitei a senha, a máquina não devolveu o cartão  (eu sei, foi uma atitude burra com  um resultado  previsível!)

O que fiz  em seguida continuou sendo burro, mas não mais previsível ,  digitei de novo, de novo e de novo e quando dei por mim estava espancando o  caixa eletrônico  com o salto do meu sapato até que um pedaço da máquina saiu na minha mão, junto com o cartão. Estava ali a prova do crime, uma improvisação amadora que se eu tivesse com menos pressa ou menos atrasada percebia.

E  em uma atitude agora mais inteligente  quebre o cartão i em pedacinhos  ali mesmo

Eu a  “ senhorita elegância zero”, descalça, desequilibrada, atrasada  e puta da vida porque agora  estava sem  o cartão, mas o moço atrás  de mim, dentro do seu terno, assistia tudo na maior calma e com o máximo de jeito e educação se prontificou a ajudar.

Ele ficou tão comovido com a minha situação  que solidariamente me levou até a porta do metrô, porque afinal de contas podia ter alguém me observando, eu estava nervosa  e era perigoso...

Entrei no metrô, agradeci a gentileza, e achei uma pena ele não ter pedido meu telefone, me contentei em poder contar com gente educada e civilizada no mundo e também ser  jovem e bonita porque isso contribuía para despertar  boa vontade das pessoas e ... Ingênua!!   

Ele fazia parte do golpe ! Claro!! Era por isso que a máquina não devolvia o cartão quando eu digitava a senha, ele  é quem queria  a senha....

Dei sorte, quando quebrei o cartão,  ele podia ter quebrado a minha cara.

Nesse dia aprendi duas coisas que me são uteis até hoje:

Em cidade Grande todo mundo usa terno e no mundo real são os príncipes que viram sapos!