SÃO JOÃO MARCOS: A PRIMEIRA CIDADE QUE FORA TOMBADA E DESTOMBADA PELO SPHAN.
Por Rodrigo Machado

São João Marcos, foi um município que em muito contribuiu para a riqueza do nosso país com suas vastas plantações de café durante seu período áureo, que perdurou por quase todo século XIX. No entanto, hoje, não passa de ruínas localizadas no território de Rio Claro, município da região do Médio Paraíba, interior do Estado do Rio de Janeiro. Uma nova São João Marcos nunca foi construída e poucos são os que conhecem a história do ex-município.
São João Marcos foi, durante mais de 50 anos, parte do município de Resende. Sua História se inicia em meados do século XVIII com a busca pelas minas gerais realizada pelos bandeirantes que passavam por essa região. A dez léguas de distância da região de Campo Alegre da Paraíba, atual Resende, descoberta pelo bandeirante Simão da Cunha Gago, o colono português, João Machado Pereira, justamente no ponto onde o rio cachoeira formava uma queda, lançou os alicerces de sua fazenda, em 1737. Esse território seria o futuro município de São João Marcos, porém, antes dessa concretização houve ainda várias etapas, que começaria dois anos mais tarde com a construção da capela ao Santo de devoção de João Machado, que daria o nome ao local: São João Marcos.
Segundo Dilma de Andrade, em seu livro História de Rio Claro , não há documentos que indiquem a existência de algum povoado, na região, antes da chegada de João Pereira. Isso pode ser explicado pelas freqüentes visitas dos índios puris à região próxima ao vale do Paraíba. Devido à intensificação da colonização portuguesa, os índios acabavam sendo empurrados para o interior das matas, quando não eram dizimados ou aldeados e cristianizados, como aconteceu em Vassouras, local onde viviam muitas dessas tribos.
Em 1742, São João Marcos é elevado a curato. Isso implicava na demarcação dos limites territoriais do local e na existência de uma cura permanente, que estaria encarregado de todos os ofícios religiosos. Posteriormente, em 12 de Janeiro de 1755, São João Marcos foi elevado à categoria de Freguesia e em 1796 foi iniciada a construção da nova capela do local, visto que a anterior, na propriedade de Machado Pereira, estava em ruínas. A nova capela, construída no sítio das Panelas, local que acabou se tornando o centro de São João Marcos, só foi inaugurada quinze anos depois, a 1º de novembro de 1811. Com a inauguração da nova igreja, foi se formando, ao seu redor, um núcleo populacional, que até então ficava mais afastado localizando-se nas fazendas, de forma isolada. Ao passo que iam sendo espalhadas as notícias da fertilidade do solo, a freguesia de São João Marcos se tornava mais populosa. Antes mesmo do término da construção da igreja, em 1797, já eram computados cinco povoados: Capela de Santa Ana, Sipó, Matto Dentro, Freguesia e Capivary, todos originários de sesmarias doadas em épocas diferentes.
Com o desenvolvimento da região, seus habitantes começaram uma luta pela separação de seus territórios do domínio do município de Resende. Iniciada em 1804, a briga com os Resendenses foi longa, pois, seus administradores não queriam a separação. Nessa época Resende também detinha o poder administrativo da região de Barra Mansa, Piraí, Valença e Rio Claro. Somente em 21 de setembro de 1811, São João Marcos se tornou Vila sob o nome de São João do Príncipe, em homenagem ao Príncipe regente Dom João VI. Além de conquistar sua autonomia, São João Marcos também conseguiu englobar em sua esfera administrativa os territórios de Valença, Santana do Piraí e Rio Claro, que conseguiram sua independência nos anos de 1823,1837 e 1849, respectivamente. De acordo com a Enciclopédia dos municípios , de Jurandir Pires Ferreira, após a proclamação da República, Rio Claro voltou a ser domínio de São João Marcos, com o decreto nº. 28, de 06/07/1891. No entanto, essa lei durou menos de um mês e a autonomia de Rio Claro foi restituída.
De passagem pelas terras de São João Marcos, a caminho de São Paulo, em 1817, os viajantes austríacos Spix, Martius e Thomas Ender, que vieram ao Brasil na comitiva da princesa Leopoldina, registraram que ao descerem a encosta escarpada, fora da escuridão da mata virgem por onde haviam passado, avistaram o pequeno lugarejo formado pela vila de São João Marcos e mais tarde uma "solitária, porém importante, fazenda no vale"
"No Retiro, uma pobre fazenda ao lado de São João Marcos, num vale pantanoso, todo cercado de morros cobertos de mata, passamos a primeira noite ao relento."
Novamente segundo Dilma Andrade, acredita-se que tenha sido a fazenda da Olaria, um dos primeiros prédios a desaparecer nas águas da Represa Ribeirão das Lajes. Essa fazenda, que pertenceu a Hilário Gomes Nogueira, foi comprada pelo comendador Breves e teria servido de parada para Dom Pedro I na sua segunda noite de viagem a caminho do Ipiranga, já no período de sua posse.
Por volta de 1808 havia em São João Marcos: seis engenhos de açúcar e quatro de aguardente; cultivava-se cana-de-açúcar, mandioca, milho, arroz, legumes e café; havia também criação de porcos; a população estava em torno de 4,600 habitantes em 550 fogos . O café nesse período ainda era mais uma produção para consumo doméstico, porém com o desenvolvimento da produção, o café foi se tornando a base econômica da região, além de trazer grande desenvolvimento social e populacional para São João Marcos, pois, nas últimas décadas do século XIX já se contabilizava cerca de 18,000 habitantes.
Já em 1835, São João Marcos se encontrava entre os maiores produtores de café que eram Resende, Barra Mansa, Vassouras, São João Marcos e Passa três. A produção cafeeira levou riquezas para São João Marcos, além do prestígio que obteve durante algum tempo, ao comportar uma grande quantidade de produtores bem sucedidos. Por volta de 1840 e 1890, São João Marcos comportou cerca de 150 produtores de café, com uma média anual de 2.500 arrobas. Nesse período os cinco maiores produtores eram: o comendador Breves (150 mil arrobas), José de Souza Breves, irmão do comendador Breves (100 mil arrobas), O Barão de Piraí (14 mil arrobas), Barão de Rio Claro (10mil arrobas) e o Comendador Antônio Xavier da Rocha (10 mil Arrobas). Porém, houve entre as décadas, acima citadas, um momento em que, por volta de 1850, esses produtores chegaram a produzir 382.800 arrobas num ano.
Como já mencionado Joaquim José de Souza Breves, o comendador Breves, era o maior produtor de São João Marcos e um dos maiores do Brasil. Das 14 milhões de arrobas produzidas no país em 1860, 200 mil, ou, 1,45% do total foi produzido apenas por Breves, que possuía por volta de 30 fazendas e 6.000 escravos. A partir de 1850, com a proibição do tráfico negreiro, Breves passou a trabalhar na sua mais famosa empresa, a de contrabandista de negros africanos. Por esse motivo, foi levado a julgamento, em janeiro de 1852, após ter feito desembarque de africanos no porto de Bracuhy, em sua propriedade, na Fazenda santa Rita. Com ele também se envolveram outros cafeicultores, como Manuel de Aguiar vallim, proprietário da fazenda Resgate, em Bananal. No entanto, Breves foi o único a ser levado a julgamento, mas acabou sendo inocentado, como mostra Maria Hebe Mattos em sua obra Resgate, uma janela para o oitocentos.
Além da grande produção cafeeira e do tráfico ilegal de escravos, Breves também se destacou na política, tanto local quanto nacional. Entre seus trabalhos políticos estava o mandato de presidente da câmara de São João Marcos, que exerceu por várias vezes, e deputado da província do Rio de Janeiro. Além disso, mantinha relações com o círculo do poder monárquico, participando, inclusive, do Grito da Independência, em 1822, ao lado de Dom Pedro I. Breves faleceu a 30 de setembro de 1889, na fazenda de São Joaquim da Grama, em Passa três, sendo enterrado na capela em que mandou edificar, também na fazenda da grama. Por suas vastas produções cafeeiras Breves ficou conhecido como o "rei do café".
Além do comendador Breves, São João Marcos acolheu personagens importantes como o poeta Luís Nicolau Fagundes varela, que iniciou sua profissão na cidade, logo após se formar advogado pela faculdade de direito de São Paulo, em 1836. Além disso, comenta-se entre alguns ex-moradores da região que Dona Leopoldina, esposa de Dom Pedro, teria uma fazenda nas redondezas da cidade onde gostava de passar alguns dias.
Da época do café São João Marcos herdou a arquitetura colonial, estampada em seus casarios e nas igrejas. Também é importante destacar a Ponte Bela, construída junto com a estrada que ligava São João Marcos à Mangaratiba, onde era escoada a produção cafeeira. A ponte, edificada em pedras de cantaria e muros de arrimo, possui 180 metros de vão sobre o Ribeirão das Lages. O bronze utilizado em sua construção foi saqueado por viajantes e, atualmente, parte da ponte se encontra submerso nas águas da represa.
Além da vasta produção cafeeira que era exportada, São João Marcos também tinha grande importância para a metrópole, o Rio de janeiro, o qual abastecia com produtos como arroz, tecido, milho, anil, aguardente, aves, porcos, açúcar entre outros artigos rurais.
Com a proximidade da abolição, a região começou a perder sua importância econômica, pois, a mão de obra utilizada na produção do café, principal produto Brasileiro na época era justamente a escrava. Em 1873 havia cerca de 7.810 escravos em São João Marcos, caindo para 3.064 em 1887.
Passado o "boom" cafeeiro, a região entrou em processo de decadência econômica, sobrevivendo através de pequenas produções para consumo interno e para exportação regional, além da pecuária extensiva.
A 15 de agosto de 1890, São João do Príncipe foi elevada a categoria de cidade, com a denominação de São João Marcos, retirando o São João do Príncipe, para apagar as lembranças da monarquia. Infelizmente, alguns anos depois, a cidade começou a se enfraquecer. Sua decadência era tanto política quanto econômica e esses fatores acabaram levando a um enfraquecimento populacional. Entre 1898 e 1922, o número de habitantes caiu de 18.000 para 7.400. A região passou a se voltar cada vez mais para pecuária extensiva e para a horticultura. Muitos comércios se fecharam e o trânsito das ferrovias também diminuiu. Sem condições de realizar novos serviços de infra-estrutura e, menos ainda, de conservar estradas, o isolamento de São João Marcos aumentou. Além de fatores como a queda na produção cafeeira e o surgimento de novas estradas, que fez com que o número de pessoas que passavam por ali diminuísse consideravelmente, a presença da Light, como será mostrado no capítulo referente à destruição, foi outro fator responsável pela decadência da cidade e por sua conseqüente anexação à Rio Claro, que se deu através do decreto 635 de 14/12/38.
São João Marcos também teve seus momentos de glória, como se pôde perceber através da grande produção de café que existiu em sua região. Seus monumentos arquitetônicos chamavam muito a atenção dos que por ali passavam. Era uma cidade onde o dinheiro, gerado principalmente pelo café, se mostrava através das construções. Também possuía lugares importantes, que geravam alguns empregos e serviam como fonte de lazer para os marcossenses. Por volta de 1890, São João Marcos possuía duas escolas públicas; uma agência dos correios; uma gafieira; um hospital; uma pensão; um teatro, chamado Tibiriçá; duas igrejas a de São João Marcos e a pertencente à irmandade de Nossa Senhora do Rosário construída e freqüentada pelos negros no tempo da escravidão. A igreja da matriz, a do padroeiro da cidade era ainda mais rica em decorações, com torres já evoluindo para o Barroco. Seu interior era todo decorado em ouro; Havia também dois cemitérios, o da Irmandade e o da Caridade Para os Pobres; dois jornais, "O Município", que foi fechado em 1932 e "A Bandeira", acredita-se que mais antigo; alambiques e até uma fábrica de tecido que foi transferida para Barra Mansa em 15 de novembro de 1909, como mostrou o jornal memória Barramansense , publicado em 9 de maio 2007. Chamava-se Fábrica de Tecidos e Fiação São José e pertencia ao senhor José Norberto de Mello.
Esses são apenas alguns lugares mais importantes que eram encontrados na cidade. Dentre eles também se destacam os clubes. Havia dois clubes: o Clube Marquense, com futebol e danças para os associados e o Prazer das Morenas, mais popular e imbatível no carnaval. Aliás, o carnaval era uma das principais festas da cidade. Durante o carnaval os clubes faziam uma espécie de concorrência, porém todos participavam. Havia inclusive bandas de música, blocos e carros alegóricos. Antes mesmo de o Rio de Janeiro possuir seus carros alegóricos, São João Marcos já os tinha. Durante as festas, moradores de cidades vizinhas como Piraí e Rio Claro compareciam aos montes a São João Marcos. Havia dois maestros na cidade e um deles, Inácio Loyola, era o tio de dona Ângela Azevedo Silva, ex-moradora de São João Marcos: "Lá era muito bonito... tinha um carnaval bom, tinha baile todo domingo... São João Marcos era muito animado... E carnaval não tinha lugar melhor do que lá".
São João Marcos era vista como uma cidade mais evoluída que Rio Claro, município do qual ainda faz parte. Coisas que existiam na antiga cidade, como o teatro, ainda não existe em Rio Claro. Se ainda existisse, São João Marcos poderia se comparar à Paraty, na avaliação da ex-secretária de turismo de Rio Claro, Elvira Brum. A cidade possuía ruas feitas em pedras, conhecidas como pés-de-moleque e suas construções eram todas feitas em estilo colonial. Chegou a ser considerada, pelo SPHAN, criado em 1937, "raro exemplo intacto de conjunto de arquitetura colonial". No entanto, só o que restou de São João Marcos foram suas ruínas e as histórias que permanecem na memória de seus ex-moradores.

CHEGADA DA LIGHT NA CIDADE DE SÃO JÕAO MARCOS

A destruição de São João Marcos foi um processo lento, e durou cerca de mais ou menos 36 anos, pois, seu início é freqüentemente associado à chegada da Light à região. Esse momento se deu em 1905, quando a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power, co.Ltd se estabeleceu em Piraí, município vizinho ao de São João Marcos.
A entrada da Light e de outras empresas estrangeiras no Brasil, ainda no final do século XIX, deve-se ao favorecimento da conjuntura internacional, onde estava ocorrendo a expansão de capital e a he¬gemonia do capital industrial e na conjuntura nacional, ocorria a expansão das atividades de mercado, com a consequente necessidade de im¬plementação de transportes e serviços públicos. Ainda que o Brasil tivesse fraca representação no mercado internacional no final do sé¬culo XIX (exportando principalmente borracha e café), a dinâmica mundial do capita¬lismo viria interferir diretamente na vida do país. Esse movimento foi acelerado devido à abolição da escravidão e à Proclamação da Repú¬blica, que possibilitaram ao país uma po¬sição de maior des¬taque na divisão internacional do trabalho, "no caminho dos fluxos de capital e da força de trabalho que se deslocavam do velho para o novo mundo".
A expansão das atividades das empresas estrangeiras no Brasil fora facilitada não somente pela necessidade de imple¬mentação dos serviços urbanos e de transportes, mas devido à aceitação dos governos bra¬sileiros da República Velha.
Nessa perspectiva política do país é fundada, no dia 9 de Junho de 1904, a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Ltd, para atuar na então capital federal, o Rio de Janeiro, recebendo autorização para o funcionamento em 1905. E no mesmo ano adquiriu o controle acionário da concessionária de iluminação a gás, a empresa belga Société Anonyme du Gaz de Rio de Janeiro, serviço que foi controlado pela Light até 1969, quando foi transferido para o governo estadual
"a Brazilian TRaction Light & Power Co. Ldt. Organizou-se em 1904 no Canadá, com capitais estrangeiros [...]. Foi-se estendendo aos poucos, e através de várias emprêsas [sic] filiadas e subsidiárias concentrou em suas mãos a maior parte dos serviços públicos" .(PRADO,1970, p.274).

A maior e mais moderna usina hidrelétrica do país foi construída no município de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro. Sua construção se iniciou em 1905 e três anos depois ela foi posta em operação. A primeira etapa da usina de Fontes foi concluída em janeiro de 1907 e a energia produzida foi empregada, a par¬tir de março, na iluminação pública e residencial do Rio de Janeiro e na tração de bondes. Para alimentar essa usina foi utilizado o Rio Ribeirão das Lajes, que cortava São João Marcos, pelo qual seria possível a inundação da cidade, para que pudesse encher suas barragens. Já em 1907, a Light recebeu autorização do governo federal para desviar o curso do Rio Piraí (um dos contribuintes do Rio Paraíba do Sul), aumentando, assim, a afluência ao reservatório de Lajes. Nesse mesmo ano é assinado o contrato entre a "Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Co. Ltd e prefeitura do Rio de Janeiro pelos seus serviços de energia e transporte e ficou "estipulada uma tabela de preços, que decrescia à medida que o patamar de consumo subia, mas o pagamento deveria ser feito metade em ouro, metade em papel-moeda".
Em abril de 1908, a potência ins¬talada alcançou 12 mil kw e 24 mil kw em junho de 1909. O armazenamento de água do Ribeirão das Lages foi ini-cialmente conseguido com a construção de uma barragem de concreto, em arco, cons¬truída no local denominado Salto. Este reservató¬rio abrange uma superfície que vai de Pi¬raí até Rosário, território pouco abaixo de São João Marcos.
Em 1913, o desvio foi concluído com a construção da barragem de Tócos - no trecho do rio Piraí que corta o município fluminense de Rio Claro. Isso fez com que as águas do Piraí fossem encaminhadas para o túnel de Tócos, com 8.5 quilômetros de comprimento.
Segundo Luis Ascendino Dantas a Light, "a título de in¬denização, pagou ao estado a quantia de mil contos de réis, sendo a metade em dinheiro e a outra metade em apólices do Empréstimo Popular do Estado do Rio de Janeiro" . Entretanto, segundo Dantas, os "municípios afetados por estas obras, que eram São João Marcos, Rio Claro e Piraí, não tiveram qualquer compensação financeira". A barragem de Tocos fica na região de Rio Claro e a água foi desviada para o túnel pelo leito do antigo córrego Tocos, nesse município, até o município de São João Marcos.

AS ÀGUAS DA REPRESA SE APRÓXIMA DA CIDADE

Com a chegada da empresa os transtornos à população marcossense, pois, para alimentar tal usina foi represado e desviado o curso de diversos rios, como o Rio Piraí e o Lages, formando a Represa Ribeirão das Lages. Aos poucos, embora num processo relativamente rápido, as águas da represa foram se aproximado de São João Marcos e a destruição começou a ser sentida pelos que viviam mais próximos às águas. Muitos agricultores perderam suas terras, suas plantações com as inundações causadas pelo avanço da represa. Assim a nova hóspede da região, a Light, começou a ser vista de outra forma, pois, apesar de ter beneficiado a cidade com a instalação da energia elétrica e com os empregos disponíveis, suas ações passaram a prejudicar São João Marcos e os boatos da verdadeira intenção da empresa passaram a circular pela cidade.
Por volta de 1909, com o aumento dos alagadiços e a conservação insuficiente da represa, a malária se alastrou causando uma epidemia que levou resultados alarmantes para a cidade. Foram registrados cerca de 770 óbitos só no ano de 1910, e a doença, que já existia antes, sem representar uma ameaça aos moradores, se tornou uma constante na vida da população, chegando a vitimar pessoas até nos últimos anos de existência da cidade. Muitos prefeitos reclamavam da atuação da Light no local, por esse motivo, pois, a situação da cidade se tornava cada vez mais precária. A cidade viu mais da metade de seus moradores serem atingidos pela doença. Muitos que sobreviveram à malaria fugiram deixando suas casas e terras para trás.
Para os que ficaram restaram o receio de não sobreviver a uma manifestação da doença e as cenas trágicas, como a presenciada por Luís Ascendino Dantas: "(...) em uma das casas, uma mulher morta tinha em seu colo uma criança que ainda mamava, e a seus pés outra que chorava" . (FLAGLIARI; SANTOS, 2000 )
A epidemia de malária foi à principal responsável pela considerável diminuição da população de São João Marcos. O número de habitantes que ficava em torno de 18.000 em 1898 caiu para 7.400 em 1922 chegando a 4.600 no ano de sua destruição. A população, que se encontrava a mercê da doença, foi praticamente abandonada pelas autoridades, por quase duas décadas. Por esse motivo, a população enviou cartas pedindo a presença de médicos e pessoas que pudessem ajudar a contornar a situação de calamidade que estavam vivendo. Segundo, Agrippino Grieco e Luiz de Souza Breves, que viveram nesse período,
"No pior período da epidemia, abriam-se valas enormes no cemitério e muita gente ainda viva foi para cova de cambulhada com os defuntos. Nos arredores encontravam-se cães devorando cadáveres e achou-se até uma criancinha morta." ((FLAGLIARI; SANTOS, 2000)

A própria anexação de São João Marcos a Rio Claro, feito pelo decreto 635, de 14 de dezembro de 1938, tem forte ligação com atuação da Light na região, pois, a justificativa para a decadência do município e a impossibilidade de reerguê-lo, passava principalmente pela interdependência entre saúde pública e economia. Não havia a possibilidade de melhoria enquanto a Light não saneasse sua represa, questão pendente desde o início do século XX, pois, a empresa nem se preocupou em desmatar a vegetação e salvar os animais do local. Por fim, com a perda de sua autonomia política, sua destruição se tornou mais fácil.
A presença constante da doença no território de São João Marcos, como foi dito, se iniciou na primeira década do século XX. Porém, de acordo com os depoimentos orais de ex-moradores do município ela passou a ser ainda mais freqüente nos últimos anos da cidade. Dona Iracildes Coelho Pena da Rocha, conhecida como dona Cidinha, que chegou a São João Marcos mais ou menos quatro anos antes do fim da cidade, conta que antes da chegada da Light à região não havia esse problema. Ela diz que no período da destruição a doença se tornou mais comum "Não tinha malária. Teve muitos anos antes. Houve lá, não sei o que é que foi lá, que ficou até condenada a cidade, né?[..]Apareceu depois, com a saída, que inundaram... Casas ficava ali mesmo, apodrecia, né? Aí apareceu a malária .
O que teria ocorrido seria uma breve pausa na epidemia da doença devido a um pequeno trabalho da Light. A empresa teria limpado a área em torno da represa uma única vez, o que seria absolutamente insuficiente para manter o controle sobre a doença e garantir a paz aos moradores. No primeiro período em que a doença passou a se manifestar a população sofreu muito mais. Não havia sido feito nenhum trabalho e ainda estavam quase todos os moradores na cidade.
São Sebastião do Arrozal foi um dos primeiros locais a ficar submerso nas águas da represa. A sede do distrito foi abandonada e a igreja do padroeiro incendiada. "Nem os restos mortais do cemitério foram retirados do local, que agora por sua vez jaz sepultado no fundo" teria dito o então presidente do Rio de Janeiro, em 1911, Francisco Botelho, segundo o caderno "Domingo do Jornal do Brasil" de 1990. Para os que viviam ali a destruição começou bem antes. Décadas antes da confirmação de que a cidade iria desaparecer, seus moradores foram obrigados a fugir para tentar sobreviver, assim, nem a mínima indenização paga pela empresa eles receberam. O distrito ainda se encontra sob as águas, no local denominado Barra. Como o local foi atingido pelas águas antes mesmo da destruição das casas, muitos, ao avistarem algumas partes que ficam à mostra no período da seca, acabam o confundindo com São João Marcos.

O PROGRESSO CULMINANDO COM O FIM DA CIDADE

Algum tempo após sua chegada à região, no início da década de 30, a Light começou a pleitear, junto ao governo federal, a expansão da represa. Os argumentos apresentados pela Light eram: a necessidade urgente de ampliar o abastecimento de água para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, que se abastecia com pequenos mananciais que já não atendiam às necessidades do consumo; ampliar a capacidade de geração de energia elétrica no estado, motor fundamental da industrialização, que já começava a se desenvolver a passos largos. Esse último argumento pode ser considerado o grande atrativo para o então presidente da república federativa do Brasil, Getúlio Vargas, visto que um dos setores mais desenvolvidos em seu governo foi o industrial. Dessa forma, para muitos, essa seria a explicação para que Getúlio concordasse com a destruição de São João Marcos. Por outro lado, existe a versão de que a causa da aceitação teria sido outra. Alzira Vargas, filha de Vargas, teria se envolvido em um acidente de carro no Canadá, país de origem da Light, no qual ela teria sido responsável pelo falecimento de uma pessoa. Para livrá-la da prisão, Vargas teria concordado com a inundação de São João Marcos, que já vinha sendo cobiçada pela empresa .
O engenheiro A.A. Meira Júnior, fiscal do governo junto à Light, era contra qualquer modificação. Segundo ele a descarga na saída das turbinas em Fontes, sem o levantamento da barragem, mesmo em época de estiagem, já era mais que três vezes a de que necessitava a cidade do Rio de Janeiro.
Por volta de 1939, a Light, passou a ameaçar um boicote no setor elétrico caso seus planos quanto ao aumento da barragem e conseqüente desaparecimento da cidade não fossem atendidos. Isso por que a população começava a se mostrar um problema para os planos da empresa. A 19 de maio de 1939, mesmo ano da comemoração do bicentenário da cidade, o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido dos marcossenses em um abaixo assinado, liderado por Luís Ascendino Dantas, tombou a cidade na tentativa de preservá-la da destruição, tornando São João Marcos, o primeiro município brasileiro a ser tombado. Luís Ascendino Dantas se destacou na luta pela preservação da cidade. Funcionário público estadual aposentado, chefe político local desde a década de 20, mas já afastado da vida pública, ele escreveu diversos livros e artigos sobre a importância da cidade. Além do abaixo assinado atendido por Mello Franco, representante do departamento cultural do Estado, Ascendino liberou vários outros, pedindo a preservação de São João Marcos. No entanto, mesmo com tantos apelos o município não foi poupado. Como a cidade já havia sido tombada pelo SPHAN, Getúlio Vargas, com seu poder autoritário apresentado durante o Estado Novo, criou o decreto-lei nº. 2.269, de 03/06/39 para destombar e tornar possível a destruição da cidade, com o qual, de acordo com o Art. 1º ele autorizava a desapropriação de terrenos, prédios e de quaisquer benfeitorias que viessem a ser inundadas pelos remansos da Light. Na verdade, visto que o SPHAN havia sido criado em 1937 e que seus representantes não aceitariam pressões, Getúlio Vargas teria concordado com a decisão apenas para esperar a situação se acalmar um pouco para, em fim, poder apoiar a empresa.
Em 1939 foi um ano de muitos acontecimentos para os moradores de São João Marcos. Nesse mesmo ano, em que o jornal O Globo anunciava a compra de 78 fazendas e boa parte das casas da cidade pela Light, houve o tombamento, que levou esperança aos marcossenses com falsa certeza de que assim a cidade não poderia ser destruída. Houve também a festa de comemoração dos duzentos anos da cidade. E por último, o destombamento da cidade, que fez com que a esperança desaparecesse. Com o decreto-lei estabelecido pelo governo federal a destruição passou a ser vista apenas como uma questão de tempo. Nada mais poderia ser feito. Em 1940 chegaram as primeiras notícias do alagamento iminente.
O projeto que havia sido apresentado pela Light ao governo Federal visava elevar a cota da barragem de salto de 404m para 423m. O paredão de concreto foi ampliado para 62 m. Com a aprovação do projeto, feita através do decreto Nº. 2.059 de 05/03/40, o volume de água aumentou de 180 milhões para 752.300.000 metros cúbicos. Além permitir o desenvolvimento do projeto, o governo Federal forneceu à Light cerca de 1.500 contos de réis para as desapropriações.
A cidade começou a ser desocupada em 1941. Apesar de saber que seria em vão qualquer apelo, a população ainda se organizou para fazer um último protesto. Saíram em passeata pelas ruas carregando cartazes. Um deles dizia "Somos quatro mil e seiscentos brasileiros e não queremos desaparecer" . De nada adiantou. No mesmo ano começaram as destruições. À medida que os moradores iam saindo, às casas eram destruídas. A maioria delas era destruída com a ajuda de marretas. Foram demolidos cerca de 140 prédios da cidade. Os moradores saíam, apenas com os móveis e, após a demolição, os operários incendiavam o material da construção. Dona Ângela , ex-moradora de São João Marcos, confirma essa afirmação:
"Eu vi quase desmulhar, acabar a cidade toda, né? Dava uma tristeza... Tinha muitos que trabalhavam lá contra a vontade, mas precisavam né?... Alguns falavam: a igreja não vai ser pra gente não. Ficavam com pena, né?. Eles tiravam as madeiras. Porque eram madeiras boas. Umas madeiras antigas, né?... E botava fogo... Isso eu vi... o pó que tinha né? Madeira, terra... ".

Os moradores que possuíam propriedades em São João Marcos receberam uma indenização da empresa. Os que venderam suas casas antes da confirmação da destruição receberam uma quantia maior. Na verdade eram os mais abastados, proprietários de fazendas, ex-produtores de café, enfim, pessoas que já pretendiam, por algum motivo, abandonar a cidade. Já os que resistiram até o último momento tiveram que aceitar o valor que a Light decidisse pagar. Por esse motivo, muitos não conseguiram sobreviver com o que receberam. O nível de vida daquelas pessoas mudou completamente, pois, a indenização paga não chegava nem a metade do valor real dos bens dos marcossenses. Muitos chegaram a entrar em depressão e até falecer devido às perdas sofridas, como ocorreu com a irmã do senhor Carlos Mângea, segundo sua entrevista ao jornal Serra do Mar, em março de 2006. Conhecido como seu Pequeno, o ex-morador de São João Marcos, que se mudou para Rio Claro com o fim da cidade, faleceu aos 93 anos, em 2006. A mãe de seu Carlos também foi vítima da malária e acabou não resistindo à doença. Sua irmã, que possuía 5 imóveis na cidade entrou em depressão após perder tudo o que tinha. Pouco tempo depois acabou falecendo.
Dona Cidinha também relata a situação em que muitos, ao saírem de São João Marcos, acabavam se encontrando devido à mínima indenização paga aos moradores:
"Não dava pra nada. Muita gente morreu de... Assim, não tinha um lugar pra. Lá em Mangaratiba, foi muita gente pra lá, sabe? Mas chegava lá tinha uns ranchinho, assim, um quartinho... Só para dormir, comer, tudo... e lá ( em São João Marcos) tinha umas casas antigas, boa, confortável..."

Outra mudança sentida pelos habitantes da cidade se deu no aspecto emocional. Muitos amigos perderam contatos uns com os outros, pois, as necessidades os obrigavam a buscar melhores condições de vida em outros lugares, que na maioria dos casos, não eram os mesmos. Também famílias se separaram. Os ex-moradores da cidade se espalharam pelos municípios vizinhos como Mangaratiba, Rio Claro, Piraí e alguns foram para lugares mais distantes como Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Os próprios funcionários da Light não concordavam com a destruição, no entanto, como muitos trabalhavam para a empresa, eles eram obrigados a destruir a própria cidade. O caso mais difícil nesse processo de destruição foi o da igreja da matriz. A igreja possuía uma construção tão sólida que os recursos normais não foram suficientes para derrubá-la. Além disso, os operários se recusavam a fazer o serviço, pois, o considerava um sacrilégio. O Ministério da Guerra foi chamado para dinamitá-la, porém, ao chegarem ao local, a igreja já havia sido derrubada por um especialista, do Rio de Janeiro, também contratado pela Light.
O mais lamentável na destruição da igreja é que se ela não fosse derrubada existiria até hoje, já que as águas jamais a atingiram. Áreas mais altas, como o local para onde foi transferido o cemitério, reinaugurado em 1991, também não chegaram a ser atingida pelas águas. E isso leva a outra questão, que ainda enfrenta controvérsias: segundo muitos, a destruição não era necessária. Como justificativa para essa opinião, eles se apóiam no fato de a cidade só ter sido inundada uma vez. Estudiosos sobre o lugar, como Dilma Andrade de Paula, também apresentam essa versão."Há pessoas que dizem que ela só foi inundada uma vez, outras que não. O que sei é que ela ficou descoberta a maior parte do tempo e hoje não pode ser inundada porque o nível da água baixou" . Assim como ela, a prefeitura municipal de Rio Claro também concorda com essa versão.
A Light por sua vez, defende que São João foi inundado, totalmente, em 1943, chegando a ficar completamente submersa e que, por várias vezes, até 1980, essa inundação se repetiu. Ela critica a prefeitura de Rio Claro, que afirma que a cidade nunca ficou totalmente submersa e diz que só após o início dos anos 80 a inundação deixou de ocorrer. Novamente, segundo Dilma, não existem documentos que comprovem essas novas inundações. Também não foi encontrado quem concordasse com a empresa, já que segundo seus cálculos, a cidade foi inundada por várias vezes durante quase 40 anos. Quanto à inundação ocorrida por volta de 1943, realmente há comprovantes. Nesse período a represa chegou a atingir os 423m mencionados no projeto apresentado ao governo federal de expansão da represa. Houve na época, até um boato que corria entre funcionários da Light, que a empresa temia a continuidade do aumento no nível da água, que estava próximo a 425m, pois, um rompimento na barreira da represa poderia significar o fim de vários municípios próximo ao Ribeirão das Lages, como Piraí. Apesar desse receio, a capacidade da represa, que era de 430m, nunca foi totalmente utilizada e logo as águas começaram a baixar não voltando mais a atingir o mesmo nível de antes. Quanto à destruição, segundo a Light, ela era necessária, pois, como foi dito acima a única forma de melhorar o abastecimento da capital federal era através da ampliação da Represa Ribeirão das Lages e isso levaria a inundação da cidade.
Segundo o coordenador de projetos especiais da Imprensa Oficial do Estado, Emmanuel de Macedo soares, em entrevista ao Jornal do Brasil , de 1990, o verdadeiro motivo da destruição de São João Marcos, era o medo da Light de que a cidade voltasse para seus antigos donos, pois se o "Estado Novo" se dissolvesse e voltasse um governo democrático, um levante popular poderia reverter a desapropriação. E mesmo que isso não ocorresse, a população poderia querer reclamar suas terras caso as águas não atingissem a cidade ou retrocedessem, como ocorreu. Ele também nos diz que São João Marcos tinha tudo para se desenvolver, pois havia um projeto de ligar Rio a São Paulo através da cidade. Outro projeto previa a construção de uma estrada de ferro unindo Angra dos Reis a São João Marcos e Passa Três.
Após a destruição de São João marcos, muitos documentos foram para o fórum e para a casa da cultura de Rio Claro. Além de centenas de documentos, a Casa da Cultura também possui uma sala com fotos da cidade, um vitral, a grade da cadeia entre outros monumentos que fazem parte da história do lugar. Com o fim da cidade, o governo Federal havia apresentado uma solução para amenizar as tristezas ocasionadas à população. Essa seria a reconstrução de São João Marcos em um lugar próximo. Inclusive foram avaliados diversos locais para esse fim. Getulândia, na época chamada Capelinha, foi um dos locais citados para a reconstrução de São João Marcos, porém, como era muito pequena para suportar tantas pessoas ela foi descartada. Outro local proposto foi Rubião, situado a 14 km de Mangaratiba e em 1954 houve uma doação de Nove hectares de terra, para assentar cerca de 40 famílias. Mas, por um processo de grilagem, essas famílias foram expulsas para outros locais até sobrarem apenas 10 famílias espalhadas pela região. Os ex-moradores de São João Marcos e seus descendentes que vivem em Rubião ainda hoje preservam parte da cultura difundida na antiga cidade. A imagem do padroeiro, que foi totalmente restaurada, se encontra na igreja do local ainda podendo ser visitado pelos fiéis da região. No entanto depois de algum tempo, o projeto de reconstrução foi abandonado. Até o decreto Nº. 2.269, que obrigava a Light a reconstruir, com as mesmas características, a igreja da Matriz, foi revogado. Pelo novo decreto, nº. 5.739 de 11/03/43, a Light apenas pagaria uma indenização de 600 contos de réis. Quase 50 anos depois, em 1989, a empresa forneceu 600 mil cruzeiros para a reconstrução da igreja. Por fim, o dinheiro sumiu e a reconstrução não ocorreu.
Como muitos, ao saírem de São João Marcos, se espalharam pelos distritos de Rio Claro e pelos lugares próximos à antiga cidade, o Macundu, que recebeu boa parte dos marcossenses, é visto por alguns como a nova São João Marcos. No Local existe até a festa do padroeiro São João Marcos, que acontece no mês de agosto. Macundu foi uma fazenda que, por ficar próximo ao ex-município, acabou se tornando de fácil acesso para os que não podiam ir muito longe. No entanto, comparando Macundu a São João Marcos, é impossível confirmar essa idéia. Macundu é um lugar pequeno, sem muitos recursos, possui apenas um postinho de saúde para casos mais simples, não possui clubes ou teatro ou várias igrejas. Nem a igreja de São João Marcos, existente no lugar, possui as características da igreja destruída. Em fim, por diversos motivos, Macundu não pode ser comparada à antiga São João Marcos.
Atualmente está sendo realizado no local à revitalização das ruínas de São João Marcos, que consiste na criação do parque arqueológico e a construção de centro de memória da cidade, que contará com fotos e depoimentos de ex-moradores. Este projeto é de responsabilidade do Instituto Cultural Cidade Viva com a parceria do Instituto Light, Prefeitura de Rio Claro e Eletronucelar.
São João Marcos, que já não se encontra inundada, não pode mais ser ocupado pelas águas, por que o nível da represa baixou completamente. Nem em épocas de cheia, quando ela chega transbordar, a quantidade de água é suficiente para voltar a inundar a cidade. Ainda assim, a Represa Ribeirão das Lajes, responsável pela inundação do município, fornece, atualmente, 11% da água consumida na cidade do Rio de Janeiro e abastece bairros que formam o rio antigo, como Centro, Lapa e Flamengo. Já a Usina de Fontes, para a qual foi construída a represa das Lajes, não está mais em funcionamento. Com o fim da vida útil dos condutos forçados, Fontes Velha foi desativada. No entanto, ao seu lado, foi construída a Usina de Fontes Nova, que com três unidades geradoras, adiciona atualmente ao sistema energético 132 MW.
Anos após a destruição da cidade, suas ruínas e as da Ponte Bela, que foi construída pelos Breves junto com a Estrada Imperial, a primeira rodovia do país, foram tombadas. A estrada, construída nos tempos do café, ligava São João Marcos ao porto de Mangaratiba.
Contudo, o fim de São João Marcos não pode deixar de ser visto como lamentável, pois, assim também foram interrompidas e destruídas as histórias de muitas pessoas. Os que ainda vivem são os que saíram de lá crianças ou jovens, mas nem por isso têm menos lembranças, menos histórias para contar. Diante da destruição o que pode ser dito com certeza é que aquelas pessoas não tiveram seu valor reconhecido. Não houve a reconstrução da cidade destruída, não houve um apoio às famílias que foram prejudicadas com essas mudanças. Seus habitantes, embora muitos bem mais humildes que os da Capital, também pagavam seus impostos, também cumpriam suas obrigações como quaisquer outros cidadãos. Contudo foram esquecidos. Seus gritos foram calados pelos que possuíam maiores condições e poder. Na verdade, não desejavam nada mais que ter aquilo que eles mesmos construíram, além do sossego e do direito de terem sua história preservada.






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ROCHA, Iracildes Coelho Pena. Iracildes C. Pena Rocha. Entrevista concedida a Rodrigo F. Machado. Barra Mansa, 2007. DVD. (29,50 mim).
SILVA, Ângela Azevedo. Ângela A. Silva. Entrevista concedida a Rodrigo F. Machado. Rio Claro, 2007. CD (20 min 50 seg.)