TAY, John S. H. Nascido Gay? Existem evidências científicas para a homossexualidade? Rio de Janeiro, Central Gospel, 2011, 180 p.

Dr. John S. H. Tay estudou medicina na Universidade de Sidney, na Austrália, com a bolsa de estudos do Colombo Plan (1961-1966). Formou-se como o melhor da classe, o que lhe rendeu um título de honra e uma medalha da universidade. Tem mestrado em pediatria e dois doutorados – um em genética humana, outro em filosofia – pela Universidade Nacional de Cingapura. Ele fez parte da equipe acadêmica do departamento de pediatria da Universidade Nacional de Cingapura por 22 anos (1973-1995), e, de 1988 a 1995, foi professor e chefe do departamento de pediatria e da divisão de genética humana. Publicou algumas centenas de pesquisas, inclusive na área da genética.

O livro do Dr. Tay examina a afirmação insistentemente feita por grupos homossexuais e seus defensores de que os gays já nascem como tais e que isso não pode ser mudado. Seria tal afirmação veraz? O autor, à luz da genética humana tenta oferecer uma resposta a este questionamento analisando vinte anos de pesquisas de alta qualidade e que foram publicadas em revistas internacionais bem conceituadas.

Introdutoriamente o livro faz uma revisão de importantes trabalhos científicos publicados. Aqui o Dr. Tay apresenta com breves comentários artigos sobre a homossexualidade que datam do ano de 1991 até o ano de 2009. Somos informados sobre dificuldades de compreensão desses trabalhos devido a uma linguagem técnica e cálculos matemáticos complexos. No entanto, a revisão oferecida no corpo do livro prima por uma linguagem acessível.

Ao todo são apresentados cinqüenta estudos com suas breves observações. Eis alguns títulos: Orientação sexual humana. As teorias biológicas são reavaliadas. Orientação sexual em gêmeos: um relatório sobre 61 pares e três grupos de trigêmeos. A homossexualidade é genética? Uma análise crítica e algumas sugestões. A descoberta do “gene gay” é questionada. Influências genéticas e ambientais na orientação sexual e seus correlativos em uma amostra de gêmeos australianos. Dados comparativos de assédio sexual na infância e na adolescência em pessoas heterossexuais e homossexuais. Mudando a orientação sexual: um relatório de pacientes. Alguns gays e lésbicas podem mudar sua orientação sexual? Duzentos participantes relatam uma mudança da orientação homossexual para a heterossexual. A importância de estudos de gêmeos.

No capítulo inicial denominado uma avaliação de pesquisas publicadas ao longo das últimas duas décadas o autor propõe uma discussão sobre a tão propalada base biológica para a homossexualidade. Ele inicia a conversa citando o trabalho do Dr. Jeffrey Satinover que polemiza a questão ao afirmar que a procura por uma base biológica para a homossexualidade pertence àqueles que querem destruir todas as experiências clínicas que provam ser a homossexualidade sujeita à mudança. O livro do Dr. Satinove comentado por Tay é Homosexuality and the Politics of Truth [Homossexualidade e a Política da Verdade]. Algumas conclusões desse texto são: 1 – Uma determinada constituição genética até pode fazer com que a homossexualidade esteja mais facilmente disponível como uma opção, mas não é a uma das causas da homossexualidade; 2 – A incidência da homossexualidade depende da definição que é dada a ela; 3 - Considerando que existiram culturas e épocas em que a incidência da homossexualidade era muito maior do que no presente, tal incidência é claramente influenciada pelos valores das pessoas. Onde se defende e incentiva a homossexualidade, a incidência aumenta; onde é rejeitada, a homossexualidade diminui. Esses fatores não têm nada a ver com genética. Em outras palavras, todos esses são fatores ambientais; 4 – Grande parte dos estudos até agora tem muitas falhas. Algumas são causadas pela intromissão de programas políticos no que deveriam ser pesquisas objetivas, enquanto outras se devem à natureza complexa do assunto.

O Dr. Tay comenta: “com base nos resultados de pesquisas de alta qualidade publicadas em revistas internacionais bem conceituadas ao longo dos últimos vinte anos, chegamos a uma clara conclusão sobre a contribuição de fatores genéticos e ambientais na causa da homossexualidade: os fatores ambientais são mais importantes do que os genéticos” (p. 69). Ele diz mais: “nenhum geneticista conceituado dirá em algum momento: ‘Eu nasci assim, e não posso mudar’” (p. 71). A respeito da reorientação o autor dedica inteiramente o capítulo 7 a esse assunto. Ainda nesse capítulo discute-se a contribuição de fatores genéticos comparativamente aos fatores ambientais através do índice da herdabilidade.

O segundo capítulo traz a baila uma introdução à metodologia de pesquisa. A verdade relacionada a um aspecto do mundo visível deve ser o alvo final de todo pesquisador. O bom funcionamento de um sociedade perpassa pelo respeito a verdade. Caso a verdade não seja levada a sério em qualquer área da sociedade, resultados de degradação e decadência são inevitáveis. O autor demonstra isso argumentando sobre o impacto da negação da verdade em setores da sociedade como artes e entretenimento, business e finanças, cultura e religiões, distribuição e mídia, educação e escolas, famílias e lares e governo e lei.

Dr. Tay explica que são evidências que estabelecem a verdade. Ele argumenta que em um tribunal as testemunhas são incitadas a falarem a verdade, outras são levadas a jurarem que suas informações são verdadeiras e outras podem até passar pelo detector de mentiras. No entanto, apenas por um conjunto de evidências suficientes é que um réu é declarado culpado. Em seguida, ele destaca e comenta três perguntas que devem ser feitas no processo de avaliação das evidências. São elas: A pergunta certa foi feita? A evidência é confiável? O que significam os resultados?

Sobre a primeira pergunta o autor pondera: “compare isso com a pergunta: a homossexualidade tem uma base genética? Nesse caso, uma resposta afirmativa satisfará a pergunta e não dará o estímulo para outras investigações. Na verdade, a resposta será a mesma (sim) se a contribuição genética para a homossexualidade for de 1% ou 100%. O que nos deveria interessar é a contribuição do individuo a partir de fatores genéticos e ambientais” (p. 79). No caso da segunda pergunta ele discute tipos de erros, a saber: erros sistemáticos e erros aleatórios. A respeito da terceira pergunta, diz Tay: “a pesquisa científica só pode dar evidências (conhecimentos incompletos sobre a proposição) e não provas (conhecimentos completos sobre a proposição)” (p. 86).

O terceiro capítulo define genética humana e apresenta os seus conceitos básicos. Dr. Tay explica o que são cromossomos, DNA e quais são as maneiras pelas quais se dá a herança dos genes. Em relação a este último ele apresenta quatro maneiras de transmissão dos genes de geração a geração. São elas: gene único (herança de Mendel), anomalias cromossômicas, muitos genes (herança poligênica) e contribuições genéticas para outras doenças.

O quarto capítulo discute-se como avaliar a contribuição dos fatores genéticos e ambientais para a homossexualidade. É apresentada uma medida para cálculo chamada de herdabilidade da tendência (h²). Os cálculos são complexos, porém a interpretação da herdabilidade é simples, afirma o autor. Neste capítulo, o objetivo é demonstrar como pode ser estimada a importância relativa dos genes e a importância do ambiente e, para isso, o Dr. Tay parte de duas abordagens chamadas de estudo de gêmeos e cálculo da herdabilidade da tendência. Alguns subtópicos da primeira abordagem são a importância dos estudos de gêmeos, interpretações das proporções de concordância e limitações dos estudos de gêmeos. Em relação a segunda abordagem, destacam-se os subtópicos modelos matemáticos e interpretação da herdabilidade da tendência.

O quinto capítulo examina as evidências de fatores genéticos na homossexualidade. Os estudos de gêmeos apontaram resultados surpreendentes assim como os estudos das estruturas cerebrais. Um estudo polêmico sobre diferenças estruturais entre o hipotálamo de homens homossexuais e o de homens heterossexuais escritos pelo neurocientista de Harvard Dr. Simon Lavey é discutido neste capítulo. Tal estudo, segundo Tay, “parece oferecer alguma evidência para diferenças biológicas entre homens homossexuais e heterossexuais, levantando a questão se a homossexualidade poderia ter origem genética ou biológica” (p. 115). Esse estudo foi submetido a uma análise cuidadosa e sensíveis limitações do mesmo foram apresentadas.

Retornando à questão dos estudos de gêmeos, encontramos neste capítulo uma significativa discussão sobre o assunto. Esta abordagem, na opinião do Dr. Tay, é “importante para se determinar a presença e a extensão de fatores genéticos responsáveis por uma determinada condição” (p. 117). Ele diz ainda: “o emprego de estudos de gêmeos é bem consagrado na análise genética, pois pode dar uma ideia do papel dos fatores genéticos na etiologia. Se ambos os gêmeos de um par forem afetados (tiverem a mesma orientação sexual), diz-se que são concordantes. Se somente um dos gêmeos for afetado, diz-se que são discordantes” (ibidem). Nesse sentido, o autor aponta quatro estudos sobre as proporções de concordância em gêmeos e os comenta. No mesmo diapasão, discute-se também, a partir dos estudos Amostra Nacional dos EUA e Registro Australiano de Gêmeos, a estimativa dos componentes genéticos e ambientais. Para resultados de estimativas de herdabilidade é dito que a segunda pesquisa é mais relevante devido ao fato do tamanho da amostra ser maior e da estimativa da herdabilidade ser mais precisa. O Dr. Tay comenta os resultados desse segundo estudo [Genetic and enviromental influences on sexual orientation and its correlates in na Australian twin sample / Influências genéticas e ambientais na orientação sexual e seus correlatos em uma amostra de gememos australianos] realizado por J. M. Bailey (2000): “na homossexualidade masculina, foi descoberto que a herdabilidade é de 0,26. Em resumo, a contribuição genética à homossexualidade é somente de 26%, ao passo que a contribuição ambiental é de 74% (100 menos 26). É importante observar que, nesse estudo, a estimativa da herdabilidade de 0,26 tem um intervalo de confiança bem grande e, portanto, não tem relevância estatística. Em outras palavras, a contribuição genética pode não ser relevante estatisticamente. Na homossexualidade feminina, foi descoberto que a herdabilidade é de 0,43%, ou seja, a contribuição genética á homossexualidade é de 43%, ao passo que a contribuição ambiental é de 57%. Nesse caso, a contribuição genética possui, de fato, relevância estatística. Em ambos os casos (homens e mulheres), os resultados mostram que os fatores ambientais são mais importantes do que os fatores genéticos” (p. 125). Outras discussões são levantadas até o fim do capítulo.

O sexto capítulo analisa fatores ambientais que poderiam levar à homossexualidade. São abordados fatores pré-natais como a razão entre as medidas do segundo e do quarto dedo e a homossexualidade masculina, mão predominante, dermatoglifia (estudo das impressões dos dedos e das palmas) e a ordem de nascimento fraternal e fatores pós-natais como relacionamento entre pai e filho e abuso sexual e físico. Além da discussão em torno desses fatores, discute-se também a denominada plasticidade da orientação sexual e os chamados fatores de manutenção. Toda argumentação que envolve esses fatores revela dados reveladores sobre o papel que o ambiente desempenha na orientação sexual. Esse capítulo é finalizado com a indicação de que homens homossexuais tem o tempo de vida vinte e quatro anos menor que os heterossexuais. Números relacionados a pesquisas feitas na Dinamarca e Noruega fundamentam a informação. O Dr. Tay relatou: “Na Dinamarca, o país com a história mais longa de casamentos gays, homens heterossexuais morreram com uma idade média de 74 anos, enquanto os 561 gays com parceiros morreram com uma idade média de 51 anos. Na Noruega, homens heterossexuais casados morreram com uma idade média de 77 anos, e os 31 homens homossexuais, aos 52. Na Dinamarca, mulheres casadas morreram com uma idade média de 78 anos comparada a 56, das 91 lésbicas. Na Noruega, mulheres casadas com homens morreram com uma idade média de 81 anos comparada a 56, das 6 lésbicas” (p. 148).

O sétimo capítulo discute a polêmica questão da terapia de reorientação. O Dr. Tay faz referência à Academia Americana de Pediatria e a Associação Psiquiátrica Norte-Americana como sendo organizações contrárias à terapia de reorientação. Esta posição fundamenta-se, segundo elas, na falta de evidências científicas publicadas. A base para esta posição é a suposição de que a homossexualidade é 100% genética. No entanto, Tay argumenta existir histórias de pessoas que alegam mudanças. Ademais, ele apresenta estudos como Status of behavioural reorientation techniques in the modifications of homosexuality: a review [Status da técnica de reorientação comportamental na modificação da homosexualidade: uma revisão] de H. E. Adams (1977), Changing sexual orientation: A consumer’s report [Mudar a orientação sexual: Um relatório dos “consumidores”] de A. Shidlo (2002). Esse último estudo foi patrocinado por uma associação de gays e lésbicas e, como resultados, 8 pessoas de uma amostra de 202 relataram mudança na orientação sexual. No entanto, o Dr. Tay faz ressalvas quanto a essa pesquisa dizendo que ela deve ser analisada com cautela; ele apresenta as razões. Outro estudo no qual se fundamenta Tay é o de R. L. Spitzer (2003): Can some gay men and lesbians change their sexual orientatio? 200 participants reporting a change from homosexual to heterosexual orientation [Alguns gays e lésbicas podem mudar sua orientação sexual? 200 participantes que relataram uma mudança de sua orientação homossexual para a heterossexual]. Este estudo causou reações das mais diversas na época no meio acadêmico. O Dr. Tay sumaria os pontos fortes da pesquisa implementada por Spitzer (ver pp. 159-60).

Para o autor, existem pelo menos três fontes em que se pode buscar respostas para a possibilidade de reorientação sexual. A primeira são histórias de pessoas que alegam ter experimentado a mudança. Outra são declarações consensuais de organizações de profissionais da psiquiatria e da psicologia. A terceira são pesquisas científicas, fonte que o autor escolheu examinar e analisar neste capítulo. Fechando o capítulo, Tay tece comentários sobre questões relacionadas a ética médica.

Na conclusão de seu trabalho, o Dr. Tay apresenta e comenta, resumidamente, algumas "certezas" sobre a terapia de reorientação.

Esta obra desmistifica muitas afirmações sobre este assunto bastante sensível. Ela, em conjunto com todos os estudos indicados, pode auxiliar como texto orientador na elaboração de políticas públicas relacionadas a homossexualidade afim de que as mesmas sigam na direção que as evidências apontam.

O livro apresenta alguns termos técnicos, cálculos matemáticos e estatísticos revestidos de alguma complexidade. No entanto, percebe-se uma preocupação do autor em oferecer explicações suficientes para situar o leitor frente a toda linguagem acadêmica que inevitavelmente acaba por aparecer no corpo do texto.

Este livro é recomendado para o público em geral. Em particular, recomendo-o para pedagogos, psicólogos, advogados, teólogos, pastores, demais líderes religiosos e todos aqueles que se interessam pelo assunto.

Por Zwinglio Rodrigues