"Nada é intraduzível num sentido, mas em outro

tudo é intraduzível, a tradução é um outro

nome para o impossível. Num outro sentido da

palavra tradução, certamente, e de um

sentido a outro é fácil me fechar sempre entre

estas duas hipérboles que são no fundo a

mesma e ainda se traduzem uma na outra."

Jacques Derrida

Análise dos tradutores automáticos (TA) de livre acesso, disponíveis na Internet, buscando enfocar os problemas e os equívocos encontrados nas traduções realizadas por estes sistemas referentes ao caráter semântico, sintático e polissêmico, a partir de textos recortados e submetidos aos tradutores citados. A pesquisa fundamentar-se-á em reflexões sobre a tradução, os sistemas de tradução automática, a linguística textual e a inteligibilidade do texto, como as de Arrojo (1993), Aubert (1992), Derrida (1975), entre outros.

PALAVRAS-CHAVES: Tradução; Tradutor Automático; Capacidade Linguística.

Partindo da premissa de que vivemos uma tendência globalizante, a tradução é uma atividade extremamente necessária. Atualmente, é quase inconcebível se pensar em tradução sem o auxílio de máquinas, em face do crescente volume de trabalho nesse campo. Apesar disso, algumas máquinas, que supostamente traduzem o texto por inteiro, são ainda muito precárias, a julgar pelos resultados obtidos na prática.

Tradução automática, popularmente conhecida como TA é o processo automático de tradução de um idioma original para outro através do computador. A pesquisa e o desenvolvimento da tradução automática deve muito às inovações feitas em duas diferentes áreas que confluem neste campo: a inteligência artificial e a linguística formal.

Na primeira, a tradução automática extrai uma série de técnicas computacionais ligadas à análise e à geração automática de textos em uma língua natural. Já a segunda, em especial as que abordam as teorias de Noam Chomsky, segundo as quais a competência lingüística do falante de uma língua poderia ser descrita através de um número finito de regras ou princípios lingüísticos capazes de gerar um número infinito de frases na língua alvo e eliminar um número infinito das frases consideradas agramaticais.

A epígrafe citada no início nos mostra quão complexo é o processo de tradução. Derrida propõe que se negue qualquer pretensão de presença ou de plenitude em qualquer manifestação lingüística, ele afirma que

Esse jogo de diferenças supõe, na verdade, sínteses e referências que proíbem em qualquer dado momento, ou em qualquer sentido, que um simples elemento esteja presente nele próprio, e que se refira apenas a si mesmo. Quer na ordem do discurso oral ou escrito, nenhum elemento pode funcionar como um signo sem se referir a um outro elemento, este também não simplesmente presente. (DERRIDA, 1987, p.26)

Percebemos então, que o texto não pode ser traduzido tendo como referencial apenas a tradução de palavras isoladas, uma vez que este método pode acarretar a perda do sentido proposto no texto de origem.

1. Breve histórico

Em meados dos anos 50, houve muitas investigações no que tange ao cérebro humano e o processo da linguagem. Percebeu-se que para que esse processo fosse efetuado com êxito, o cérebro, através de um sistema complexo apreendia, decodificava, assimilava e retransmitia as informações lingüísticas. Comparando com um computador, era como se o cérebro recebesse (input) e repassasse (output) ininterruptamente essas informações. Por meio desses estudos, após vários avanços, conseguiram criar um dispositivo de tradução automática, que é um dos ramos de estudo da Lingüística Computacional. Com início a Guerra Fria, a tradução automática passou a ser possível quando foi criada por Booth e Weaver uma calculadora capaz de traduzir uma palavra por vez, numa determinada língua, mas sem considerar aspectos sintáticos ou lexicais.

Em 1954, na Universidade de Georgetown, foi criado um computador que substituiu a antiga calculadora. Desse modo era possível obter uma tradução "mais" precisa. Apesar disso, foi-se constatado que as máquinas não forneciam uma tradução objetiva e totalmente precisa.

Foi através Noam Chomsky e a Linguística Formal que os estudos sobre tradução automática começaram a ganhar novos rumos. A partir da compreensão do funcionamento do cérebro humano e de como as informações lingüísticas eram processadas é que se tornou possível comprovar de que não se tratava apenas de um dispositivo de causa e efeito, mas que era necessário envolver uma série de princípios e parâmetros capazes de atuar na recepção e transmissão de mensagens sob um determinado código lingüístico. Assim, foi possível elaborar dispositivos e adaptar a linguagem humana ao meio computacional, criando alguns sistemas de Tradução Automática (Machine Translators) como: o Metal (Mechanical Translation and Analysis of Languages) (1961), o Systran (1970) e o Dèjá Vu (1993). A partir dos anos 80, o melhoramento desses sistemas e a criação de outros mais avançados, tornou-se possível o acesso gratuito.

2. A tradução e seus problemas

Para Berman, a tradução é um momento de constituição do pensamento, pois "as línguas diferem, naquilo que devem, mas não naquilo que podem expressar" (1999, p.25). Desse modo, é possível explicar os problemas recorrentes nas traduções realizadas através de dicionários e alguns tradutores automáticos. O que para nós parece ser uma tarefa um tanto simples, torna-se algo bastante complexo para ser realizado por um computador. Isso porque não se trata apenas de transpor as palavras do texto em seu teor original para o sistema de um dicionário bilíngüe feito para humanos. Trata-se de ir além, pois os humanos são capazes de utilizar esses dicionários nos dois sentidos (ou seja, se virem que A na língua A' se diz B na língua B', e vice-versa), de deduzir diversas questões morfológicas, sintáticas, lingüísticas e semânticas não expressas nesse dicionário e ter a capacidade de aplicar cada informação de forma correta e precisa.

Conforme afirma Nirenburg (1987), os termos precisos para não desvirtuar o sentido mais próximo do texto original pode ser realizado por humanos com um certo grau de facilidade, mas é algo que um computador não é capaz de realizar com exatidão. Além disso, a tradução só ocorre pela presença de dois fatores que são chamados de equivalência textual e correspondência formal. Ou seja, "uma boa tradução deve atender tanto ao conteúdo, quanto à forma do original, pois a equivalência textual é uma questão de conteúdo, e a correspondência formal, como o nome está dizendo, é uma questão de forma" (CAMPOS, 1986, p.49). Além disso, deve-se levar em conta não somente a análise semântica e sintática, mas também o fator da interlingüística.

A interlíngua está se desenvolvendo quase que exclusivamente no campo da inteligência artificial, de onde a tradução automática a empresta. Basicamente, um texto na língua fonte é analisado e mapeado, gerando uma representação conceitual numa linguagem neutra e independente de qualquer outra língua. Então são feitas inferências através das quais é acrescentado um conhecimento global que torna a representação mais completa. Finalmente, um programa gerador de linguagem natural volta a mapear essa representação conceitual para produzir o texto na língua alvo.

De acordo com Tucker, "para que a interlíngua represente verdadeiramente o significado conceitual de um texto ela deve ser capaz de realizar semântica composicional, que, juntamente com regras de semântica inferencial, lhe permitiria fazer deduções lógicas e chegar a uma compreensão mais completa do significado do texto de entrada" (1987, p.123). De acordo com o autor, é uma tarefa difícil atribuir a uma máquina características humanas e que são realizadas de modo completo e consciente.

Na tradução ainda enfrentamos o problema da impossibilidade de equivalência. Isso porque é comum encontramos em dois idiomas duas palavras que cubram o mesmo campo semântico, mas que não possuem o mesmo sentido de equivalência. Estes podem ser classificados como falsos cognatos, problema bastante recorrente nas traduções do português para o espanhol e vice versa. Assim, o mais comum não é tratar de traduzir unidades de código separadas, mas mensagens completas, conforme Jakobson "o tradutor recodifica e transmite uma mensagem recebida de outra fonte" (1987, p. 428). Dessa forma, existem diferenças na 'transposição' e na interpretação de enunciados ao longo da passagem de uma língua para outra, pois "a ciência da linguagem não pode interpretar uma espécie lingüística sem traduzir seus signos para outros do mesmo sistema ou para os de um sistema diferente" (JAKOBSON, op. cit., p.430). Ao realizar a tradução de um signo para outro, de uma língua para outra, deve-se levar em consideração que é imprescindível manter a idéia principal do texto, para que este seja melhor compreendido.

Segundo Derrida "há num sistema lingüístico, talvez várias línguas, algumas vezes diria mesmo sempre, várias línguas, e há impureza em cada língua" (1982, p.104). Esta impureza, o foco essencial da tradução, faz com que esta seja a uma tradução/interpretação, pois nos seria impossível traduzir um texto e conseguir alcançar a tarefa hercúlea de mantê-lo fiel ao original. Derrida ainda associa o double bind à tradução como "a promessa de uma tradução é o que nos anuncia o ser-língua da língua; uma boa tradução nos diz simplesmente isto: há língua, é por isso que se pode traduzir e que não se pode traduzir porque há alguma coisa como língua" (DERRIDA, op. cit., p.164). A partir dessa associação, podemos entender as especificidades da tradução quando, por exemplo, não há possibilidade de traduzir certos termos por serem próprios da língua original e não terem um termo ou palavra equivalente em uma determinada língua solicitada.

Assim, é importante ressaltar que os resultados obtidos não devem ser considerados como definitivos em uma tradução, "pois a capacidade de enxergar todas as nuanças de uma língua é exclusivamente humana, ou seja, uma ilusão de biunivocidade" (AUBERT, 1993, p.179). É um processo em que o tradutor deve estar apto no domínio dos níveis lingüístico-discursivos dos idiomas aos quais ele pretende corresponder para obter um resultado satisfatório aos interlocutores de duas línguas diferentes.

Para alcançar a meta satiosfatória no que diz respeito a uma tradução, é necessário ir além de uma mera decodificação e adaptação lingüística de um texto da língua-fonte para uma língua-alvo. É indispensável que o tradutor saiba ler, compreender, interpretar, analisar, decidir e adequar termos, enunciados e palavras para obter uma tradução mais próxima possível da original na língua pretendida.

Dessa forma, é possível verificar que os tradutores automáticos mostram dificuldades no que tange a evolução das línguas dentro das mais variadas culturas (diacrônico/sincrônico/ambigüidade-semântica/polissemia vocabular) gerando, em alguns textos, problemas de compreensão de gravidade variável em função da importância do termo não reconhecido e/ou não traduzido, pois os sistemas de tradução automática não possuem conhecimento e habilidades humanas para codificar uma língua para outra de maneira adequada.

3. Breve análise de alguns tradutores

As máquinas de tradução (Machine Translators), como são chamadas, parecem trabalhar com base no ditado popular "palavras são palavras nada mais do que palavras", e não vão além disso. Assim, não se pode esquecer que as palavras carregam significados conotativos e denotativos, que, por sua vez, conduzem o discurso com suas proposições, intenções e intencionalidades. Portanto, ao serem transferidos de um idioma para outro, todos esses aspectos devem ser considerados com atenção, afinal, conforme Derrida afirma:

Dentro dos limites em que é possível, em que pelo menos parece que é possível, a tradução pratica a diferença entre significado e significante. Mas essa diferença nunca é pura, a tradução também não o é, e temos de substituir a noção de tradução por uma noção de transformação: transformação regulada de uma língua por outra, de um texto por outro. (DERRIDA, 1975, p.30)

Ao abordar a tradução como transformação, Derrida (1975) propõe um trabalho de interpretação, não apenas da transposição palavra por palavra em seu sentido literal. Desse modo, ele deixa claro que a tradução vai além de um simples jogo de palavras. É uma transposição de um sistema lingüístico para outro, nos quais envolvem aspectos históricos, culturais, sociais e pragmáticos. A informática e a tradução mantêm entre si um relacionamento intenso, interessante e conflituoso com a padronização e controle.

De acordo com os testes efetuados nos tradutores automáticos de livre acesso e softwares por assinatura, distribuídos na web, tais como: Altavista, Babelfish, clubedoprofessor, GlobaLink, Google, Interbusca, Systran, Traduzweb, Universia, Wordlingo, entre outros, pode-se perceber que a maioria deles apresentam falhas nas traduções realizadas.

Apesar de alcançarem certos resultados, por serem populares, são menos sofisticados. Por isso, em todos existe um parâmetro de que a tradução é uma operação essencialmente lingüística e, por isso, foi-se constatado alguns problemas quanto:

- Supressão ou acréscimo de palavras;

- O não reconhecimento de palavras acentuadas;

- A não tradução de certos trechos;

- Ambigüidade semântica e polissemia;

- Mudança de gênero, número e grau;

- A aparente retomada do inglês para a tradução de outros idiomas.

No que se refere à supressão ou acréscimo de palavras à tradução, estão os tradutores Google, Interbusca, universia e wordlingo. As recorrências em maior número de supressão ou acréscimo estão nas preposições a, de, em, e sobre.

Exemplo 1:

ORIGINAL: "Solamente la FIRSTCLASS PHONECARD indica que sus supuestos ahorros están relacionadas a la manera tradicional de hacer llamadas." (Revista Eresmás Online)

TRADUÇÃO: "Somente [ ] PHONECARD FIRSTCLASS indica que suas economiassupostas estão relacionadas à maneira tradicional [ ] fazer chamadas." (http://traductor.interbusca.com/espanol-portugues)

Nesse primeiro exemplo, pode-se perceber a supressão da preposição [a]não inlfuencia na compreensão do enunciado. Já a supressão da preposição [de] deixa o enunciado com seu sentido imconpleto e confuso.

Exemplo 2:

ORIGINAL: "O cérebro humano começa a trabalhar no momento em que ele sobe num palanque para fazer um comício." (George Jessel – Revista Veja, 1998)

TRADUÇÃO: "El comienzo humano del cerebro [PARA] trabajar en el momento donde está nato el ciudadano y no para hasta el momento adonde entra para arriba en un apalanque [ ] hacer una asamblea." (http://traductor.universia.net/traducirTextoHome.do)

Agora é possível encontrarmos um texto confuso e sem sentido. A tradução parece remeter a uma tradução ipsi literis, i. e., palavra por palavra.

Exemplo 3:

ORIGINAL: "Nesse vôo 'tão rápido e seco que cortou um gemido ao meio', uma vista se perde. E daí? Como foi tudo um acidente, o policial pode encarar sua esposa e seus filhos com uma serenidade de um justo." (Jorge de Sá)

TRADUÇÃO: "En este vuelo seco 'tan rápidamente [e] que corta un quejido a la manera', una vista se pierde. ¿E de allí? Pues un accidente era todo, el policía puede hacer frente a su esposa y a sus hijos con una serenidad de apenas." (http://translate.google.com/translate_t?langpair=pt|es)

Nesse terceiro exemplo, a tradução fica ainda mais complexa e confusa. Essa tradução é de trecho literário que envolve atenção na interpretação e observação de aspectos sintáticos e semânticos. A tradução fica totalmente comprometida e ininteligível.

Exemplo 4:

ORIGINAL: "El Vaticano está pensando em formar um equipo de fútbol que podría competir com los mejores clubes del mundo, de acuerdo com el secretario de Estado, Tarcisio Bertone." (El País, 1996)

TRADUÇÃO: "O [Vatican] está pensando sobre dar forma a uma equipe de [football] que poderia competir com os melhores clubes do mundo, no acordo com o Tarcisio, secretária de Estado Bertone." (http://www1.wordlingo.com/pt/products_services/computer_translation.html)

Nesse caso, além dos problemas com preposições, há a presença de palavras traduzidas para o inglês [Vatican] e [football]. Provavelmente, esse tradutor remete o texto original para uma tradução em inglês, para posteriormente, remetê-lo para uma nova tradução no idioma selecionado (espanhol). Não há coerência textual. Existem atropelos frasais e mudanças de gênero, impossibilitando a compreensão do texto traduzido.

Após essas análises, percebemos que existe uma estrutura correta segundo o padrão da língua portuguesa ↔ espanhola comum entre tais tradutores, mas há itens que não puderam ser traduzidos. Além disso, não há uma organização precisa em relação a aspectos como ambigüidade semântica e a linha de raciocínio, as quais são encontradas em alguns trechos, de forma distorcida.

Nessa primeira análise, percebemos que os sistemas de TA são baseados em regras e caracterizados por representar o conhecimento por meio de diferentes níveis lingüísticos. Assim, para a transferência lexical, as características e restrições de itens individuais são codificadas num mecanismo de controle, tendo como referência quase que exclusivamente as regras e não o léxico.

Segundo Alfaro, "os sistemas de TA não foram e não estão sendo desenvolvidos com o intuito de traduzir textos gerais em várias línguas" (1998, p.15). Tais tradutores mostram dificuldades gerando, em alguns textos, problemas de compreensão de gravidade variável em função da importância das palavras não reconhecidas e de períodos não traduzidos.

Não nos esqueçamos que no processo de tradução, é necessário levar em conta que há uma série de fatores que conduzem a uma recriação da obra. Essa recriação envolve conhecimentos diversificados e bastante complexos que resultam na ressignificação do texto de acordo com os modelos pré-estabelecidos socialmente. Dessa maneira, essa tradução não pode se constituir, de forma alguma, no espelho da obra original.

Nos exemplos que se seguem, há demonstrações de alguns equívocos nas TA(s) que impossibilitam a compreensão dos textos traduzidos:

TEXTO 1: "Aquí acabo su canto Erastro y se acabo el camino de llegar a la aldea, adonde Tirsi y Damón y Silerio en casa de Elicio se recogierón, por no perder la ocasión de saber en qué paraba el comenzado cuento de Silerio. Las hermosas pastoras Galatea y florisa, ofreciendo de hallarse el venidero día a las bodas de Daranio, dejaro a los pastores ... (…)" (Obras de M. C. Saavedras, 1851, p.79)

TRADUÇÃO: "Aqui sua canção de Erastro terminada e a maneira terminaram para cegar na vila, onde Tirsi e Damón e Salerio na casa de Elicio fizeram exame do abrigo, para não perder a ocasião para saber em o que parou a historia começada de Silerio. Os [shepherds] bonitos Galatea e florisa, oferecendo ser o dia da vinda ao casamento de Dariano, deixaram os [shepherds]… (…)" (www.systransoft.com|es|pt)

TEXTO 2: "Y aquella misma noche, solicitado Silerio de su amigo Erastro, y por el deseo que le fatigaba de volver a su ermita, dió fin al suceso de su historia, como se verá en el siguiente libre." (Obras de M. C. Saavedra, 1851, p.79)

TRADUÇÃO: "E essa noite [do] mesma, pedida para Silerio de seu amigo de Erastro, e pelo desejo que se cansou lhe para retornar a sua [hermitage], deu o alvo ao evento de sua história como se vê no seguinte livro." (http://www.traduzweb.com.br)

No Texto 1, traduzido no Systran, observa-se uma tradução distorcida, com problemas considerados graves na tradução. Nela, há o acréscimo de preposições, mudanças de grau e gênero, além do acréscimo de palavras na língua inglesa.

· Constata-se que o fragmento se recogieron, que poderia ser substituído por se abrigaram, foi substituído por fizeram exame do abrigo, distorcendo o sentido do texto e impossibilitando a interpretação do enunciado.

Ex: "… adonde Tirsi y Damón y Silerio em casa de elicio se recogieron..."

Tradução: "… onde Tirsi e Damón e Silerio na casa de Elicio fizeram exame do abrigo… "

· Há ainda a mudança do gênero feminino para o masculino e do grau para o plural.

Ex: "… las hermosas pastoras…"

Tradução: "… os shepherds bonitos…"

O que seria uma frase simples, torna-se algo complexo e indefinido. A palavra shepherds, em inglês significa Pastor Alemão, algo totalmente fora do contexto. Assim, as bonitas pastoras acabam se tornando os bonitos Pastores Alemães. Isso ocorreu pelo fato da tradução ser realizada palavra por palavra, na qual pastoras foi considerado como sendo pastores alemães.

Após vários testes, o clubedoprofessor (http://www.clubedoprofessor.com.br), apesar de simples e mais utilizado por alunos do ensino Fundamental e Médio, que estão no nível inicial de aquisição de uma L2, apresentou uma tradução bastante compreensível:

ORIGINAL: "El nombre Coca-Cola deriva de las hojas de coca y la nuez de cola usado como aromatizante. La fórmula exacta es un legendario secreto comercial." (www.buscape.com/curiosidades)

TRADUÇÃO: "O nome Coca-Cola deriva-se das folhas de cocaína e da noz de cola usadas como [perfumar]. A fórmula exata é um segredo comercial legendário." (http://www.clubedoprofessor.com.br/traduz/)

Porém, é importante ressaltar que este texto é bem simples e pequeno. Em se tratando de textos maiores e literários, poderão ocorrer equívocos graves que desvirtuarão a tradução do texto original.

Já o Globalink, um dos tradutores mais avançados e disponível em Software, que comporta um dicionário onde o usuário pode agregar novas palavras e informações, traduziu cerca de 70% a 85% dos textos com o menor número de falhas.

Exemplo 1:

ORIGINAL: "Ninguém pode negar a importância do conhecimento e domínio de línguas estrangeiras, principalmente o espanhol, que desempenha papel de destaque como instrumento de comunicação entre povos de diversas nacionalidades." (Ângela M. Badin)

TRADUÇÃO: "Nadie puede negar la importancia del conocimiento y del dominio de idiomas extranjeros, principalmente el español, que desempeña papel de proeminencia como instrumento de comunicación entre la gente de nacionalidades diversas."

Exemplo 2:

ORIGINAL: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa lembrança, estas memórias póstumas." (M. de A.)

TRADUÇÃO: "Al gusano que primero royó las carnes frías de mi cadáver dedico, como recuerdo saudoso, estas memorias póstumas."

Exemplo 3:

ORIGINAL:

"Recuerdo que una tarde de soledad y hastio,

¡oh tarde como tantas! el alma mía era,

bajo azul monótono, un ancho y terso río

que ni tenía un pobre juncal en su ribera." (Elegia de un madrigal. Antonio Machado)

TRADUÇÃO:

"Lembro que uma tarde de solidão e [hastio].

Ó tarde como tantas! A alma era minha

Baixo azul monótono, um largo rio parado

Que não tinha um junco na ribeira."

Nesse último exemplo, percebemos que há pequenos problemas, mas que estes que não comprometem a compreensão como um todo. Para a crítica pós-estruturalista, fidelidade, autoria e traduzibilidade, independem de encontrar o sentido perdido, isto é, não existe uma tradução original do original, com sentido absoluto e amplo, o que há é uma transformação do texto, tornando-o compreensível tanto na sua língua original, quanto na tradução.

4. Considerações finais

Após os testes e analises de vários tradutores, pode-se perceber que o processo de tradução não é nada simples. Não é uma mera substituição de cada palavra, mas ter a habilidade de conhecer todas palavras em uma sentença ou frase e como uma pode influenciar a outra, uma vez que as línguas humanas consistem em morfologia, sintaxe e semântica. Mesmo textos simples podem estar repletos de ambigüidades.

Devemos estar atentos ao fato de que traduzir não é meramente transferir ou transpor idéias, do emprego polissêmico, diacrônico ou sincrônico, mas é uma adequação da palavra ou enunciado, visando o conforto e a compreensão do público-alvo que receberá o texto.

Embora as ferramentas de tradução sejam muito positivas e vem surgindo como uma forma recorrente de auxilio para os tradutores, sua capacidade lingüística, talvez por serem menos sofisticados que os softwares por assinatura, ainda não melhorou muito nas duas últimas décadas, as memórias de tradução e as ferramentas de gestão terminológica estão muito disseminadas entre os profissionais dedicados à tradução técnica, que trabalham com textos especializados e muito repetitivos, e que requerem freqüentes atualizações e uma terminologia coerente.

Martins & Nunes afirmam:

A ambiguidade não é um fenômeno periférico e marginal (…) nos enunciados em língua natural. Ela é constitutiva da própria linguagem, na medida em que todos os enunciados sofrem de vagueza e de indeterminação, se isolados os índices contextuais (relativos ao contexto extratextual) e co-textuais (relativos ao contexto intratextual) que provocam, com freqüência, a ilusão de que os enunciados seriam exatos e precisos. (MARTINS e NUNES, 2005, p.9)

Dessa forma, é compreensível que a capacidade de adequação e a necessidade interpretativa estão ainda distantes de serem corrdenados de modo preciso por um computador.

Este artigo teve por objetivo uma análise simples em alguns sistemas de TA de livre acesso. Estes, como vimos, não são dotados de um sistema completo, capaz de realizar uma análise sintática, semântica e pragmática contida nos textos-fontes. Assim, ao recorrermos as análises realizadas pelos tradutores populares, poderemos dizer que sim, é possível ter uma noção do conteúdo do texto e isso é algo bastante positivo.

No mundo de hoje, a tradução tem uma missão, que muitas vezes é considerada não produtiva, por estabelecer uma comunicação média e censurada, mas representa, na verdade, um meio de trocar idéias entre um indivíduo e outro, ou seja, a simples tradução palavra por palavra jamais poderia dar conta de todos os aspectos de uma língua em questão.

Portanto, devemos levar em conta os avanços tecnológicos e tirar proveito de todas as ferramentas disponíveis, mas não devemos prever a extinção da profissão de tradutor. Ao considerar a complexidade envolvida no processo tradutório, percebemos que mesmo utilizando das ferramentas mais avançadas é necessário ter bom senso, criatividade e sensibilidade, aspectos exclusivamente humanos e que fazem a diferença. É importante, então, que o profissional esteja atento às novas tecnologias disponíveis e esteja em constante pesquisa e atualização na sua área de trabalho.

REFERÊNCIAS

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