Grigorio Duarte Neto
Ana Beatriz Sousa Cerqueira (Orientadora)

RESUMO

O presente trabalho visa demonstrar a importância do diário de classe como instrumento de registro do fazer docente e, ao passo que serve também de base para o acompanhamento e avaliação por parte do pedagogo tanto junto ao professor quanto ao aluno, referencia as atividades de planejamento e avaliação a momentos imprescindíveis para que este acompanhamento pedagógico ocorra, valorizando a memória institucional escolar como forma de melhoria constante para a organização.

Palavras-chave: Trabalho Docente. Diário de Classe. Planejamento. Avaliação.

Introdução

Dentre vários instrumentos que materializam o fazer pedagógico explicitamente docente em sala de aula, o diário de classe apresenta-se como documento que, numa concepção dialética, tanto oportuniza como possibilita uma visualização dos currículos formal e real. Assim, a pesquisa surge com a necessidade de referendar a importância desse instrumento do docente que atua nos anos iniciais do Ensino Fundamental (antigo professor/mestre primário) na Unidade de Educação Básica Jornalista José Ribamar Bogéa, no bairro Cidade Olímpica, município de São Luís, Estado do Maranhão.
A motivação para o objeto de pesquisa nasceu da necessidade de entender o porquê de alguns diários de classe ser tão homogeneizados e, ao mesmo tempo, tão diversificados, respeitando as atuais políticas educacionais do município e ao plano global da escola como um todo.
Sendo assim, com um caráter de pesquisa-ação, por meio de questionários e experiência própria com gestora da instituição de ensino e o suporte pedagógico, o trabalho vai tecendo justificativas concernentes à visão de Homem, Sociedade e Mundo que deseja formar. Contribuindo na formação do Ser, como base para um planejamento educacional eficiente e eficaz e, sobretudo, dos educadores para oferecer ensino nos padrões de qualidade possíveis e contextualizados com a realidade social.
Optamos por apresentar o referido trabalho explicitado em quatro itens importantes, mas que podem ser incrementados de acordo com a situação e contexto de pesquisas subsequentes.
A primeira temática trata das funções do pedagogo escolar como meio para favorecer o bom andamento do trabalho pedagógico na escola, incluindo a ação de acompanhamento como digna de maior entendimento e intervenção por parte dos educadores e de forma coletiva; o segundo tema trabalha o planejamento de ensino no contexto de registro no diário de classe, a fim de favorecer a organização do trabalho pedagógico como um todo no âmbito de sua efetivação junto ao plano global da escola; o terceiro assunto versa sobre a importância de valorizarmos a memória escolar como forma de garantia para outros espaços-tempos de aprendizagem que não sejam o atualmente vivenciado, mas que possam contribuir positivamente para o desenvolvimento da instituição; o quarto tema trata da avaliação escolar e como esta é registrada e explicitada no diário de classe, buscando consolidar caminhos para uma melhor escolha de instrumentos de avaliação e conhecimentos sobre as funções da avaliação no rendimento escolar dos educandos.



1. O Pedagogo, suas funções supervisora e orientadora versus diário de classe: acompanhamento ou somente verificação?


Muito se tem falado a respeito de planejamento e até mesmo de avaliação no âmbito escolar e do sistema de ensino como um todo, porém questões como coordenação, execução e acompanhamento do trabalho pedagógico desenvolvido precipuamente pelos docentes em sala de aula ainda são pouco debatidas no cenário educacional. Quem realiza técnica, humana e político-socialmente esse trabalho junto aos docentes é o pedagogo.
A sociedade política, em seu conjunto, tendo elaborado meios propícios para a "implementação" de ações voltadas para a formação dos pedagogos, mesmo com os movimentos de base para mudanças curriculares nos cursos de Pedagogia ainda não tem esclarecido à sociedade civil especificamente sobre o fazer cotidiano desse profissional dentro da escola, deixando-o à margem de funções propriamente pedagógicas e ingressando-o em tarefas de cunho burocrático e corriqueiro.
Se, de tomarmos a posição de Menegolla e Sant?anna (2007; p. 23) como uma das assertivas viáveis na definição das funções desse profissional, iremos perceber que não há clareza, mas possibilidade de pensar e refletir sobre práticas pedagógicas e, até mesmo, executá-las:

"Pedagogia: a ciência de bem conduzir no modo de ser e viver, de pensar e agir. O termo pedagogia vem do grego: páis, paidós = criança; ago = conduzo, guio. Hoje o pedagogo é caracterizado não como condutor, mas como orientador." (MENEGOLLA; SANT?ANNA: 2007, p. 23)

Mesmo sabendo que em algumas redes de ensino não temos os dois profissionais, supervisor escolar e orientador educacional, com incumbências bem delimitadas, a presença de um único (o pedagogo ou coordenador pedagógico) ou até mesmo a ausência dos dois, não nos reportaremos a esse fato.
Delimitaremos as funções de acompanhamento e avaliação como premissas precípuas, mesmo que ainda feitas pelos diretores das unidades escolares. E, principalmente, faremos jus apenas ao trabalho do supervisor escolar frente ao instrumento de memória institucional e desenvolvimento do currículo, o diário de classe.
Frequentando algumas escolas, podemos observar que os pedagogos, assumindo cargos e funções referentes à Orientação Educacional, à Supervisão Escolar, Coordenação Pedagógica de escolas, o trabalho deles não se mostra de modo mais concreto como o dos professores, tendo em vista que tanto o trabalho de um como o do outro é de natureza não-material, pois está se referindo às funções supervisora e orientadora.
Sendo que as práticas supervisoras vão das mais diretas às mais indiretas, passando pela perspectiva e/ou abordagem ecológica de desenvolvimento profissional dos docentes e institucional das escolas e sistemas de ensino e, na atualidade, a abordagem dialógica de atuação, verifica-se uma necessidade de se compreender os processos em supervisão educacional principalmente pela via da gestão democrática.
Ou os supervisores, muitas vezes, se veem obrigados a se respaldar nos trabalhos dos gestores da educação, reproduzindo as mesmas facetas de trabalho destes, ou se vêem obrigados a criarem uma linha própria de trabalho pedagógico própria dos processos democráticos em educação. A concepção de educação que norteia este último trabalho é histórico-crítica para atender às necessidades de quem vê na escola a única possibilidade de obtenção do saber elaborado e historicamente acumulado pela humanidade.
Na história da humanidade, os educadores deram variados sentidos à atividade de educar, ensinar e, até mesmo, instruir, sendo necessário que, no decorrer, do processo pedagógico, um profissional agisse de forma indireta e outro direta sobre o educando, o primeiro sendo o pedagogo. Este profissional se fez preciso tendo em vista o próprio princípio de que a atividade de formar homens é de natureza subjetiva, sendo necessário um trabalho coletivo.
Assim, nestas acepções, conforme Almeida (2007: 59-64), o ensino é parte do trabalho humano de educar as pessoas. Diante disso, podemos inferir que a qualidade em educação é mais subjetiva do que objetiva, demandando planejamento das ações pedagógicas. Isso demonstra que os docentes e outros profissionais da educação não cumprem tarefas apenas relacionadas a uma determinada vocação, mas tomam uma decisão política na redefinição de seu próprio papel social dentro da educação escolar.
Entretanto, depois de muito refletir sobre a atuação dos pedagogos na escola e sistemas de ensino, percebemos quão importante é este profissional para a educação como um todo. Mas a maior importância desse profissional, acreditamos, é no acompanhamento do trabalho pedagógico deslanchado pela escola e, de forma macro, as redes de ensino.
Sem padecer no paraíso, os pedagogos devem realizar um trabalho com base na concepção de ensino adotada pela unidade escolar e seus pressupostos filosófico-metodológicos, a fim de que a consonância com os objetivos educacionais se dê de forma mais unânime e igualitária. Para isso, deve estar em voga um projeto educativo voltado para os ideais democráticos de participação social. É por essas premissas e outras que se exige uma maior clarificação da atuação desse profissional na escola.



1.1. O acompanhamento pedagógico: fronteira entre planejamento e execução a favor do trabalho docente


Ação quase imperceptível e necessária, que marca a possibilidade de zelar e velar pela qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores, com a presença de um educador habilitado, o pedagogo supervisor escolar ou coordenador pedagógico, o acompanhamento está entre o planejamento e a execução do trabalho de educação formal da escola. Sendo assim, a divisão entre concepção e execução não se vê de forma a nortear o trabalho educativo de forma engessada, pois teoria e prática sempre andam juntas num movimento dialético de apreensão do real.

a (sic!) pedagogia significa também condução à cultura, isto é, processo de formação cultural. E pedagogo é aquele que possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação cultural. É, pois, aquele que domina as formas, os procedimentos, os métodos através dos quais se chega ao domínio do patrimônio cultural acumulado pela humanidade. E como o homem só se constitui como tal na medida em que se destaca da natureza e ingressa no mundo da cultura, eis como a formação cultural vem a coincidir com a formação humana, convertendo-se o pedagogo em formador de homens. (SAVIANI apud ALMEIDA; SOARES, p. 15).

Assim percebemos o quão importantes são as ações desse profissional no trabalho de formação do educando, mesmo que essas ações sejam indiretas sobre o mesmo, sobretudo a ação de acompanhamento do trabalho desenvolvido tanto por professores quanto pelos alunos. No entanto, a fim de favorecer um melhor entendimento por parte do leitor a respeito de nosso objeto de estudo, o diário de classe, optamos por nos ater apenas ao acompanhamento das tarefas do professor, mesmo que nos fundamentando no âmbito da Orientação Educacional.
Acreditamos que as tarefas do pedagogo são tidas como funções supervisora e orientadora dentro do espaço escolar e/ou educacional, tentando desmistificar a ideia de que para cada profissional ficaria uma parte do "bolo", do todo do trabalho pedagógico. Assim, quando nos referimos ao acompanhamento dentro de uma atividade de aconselhamento do educando, por parte do orientador educacional, nos reportamos desta maneira, sendo o aconselhamento diretivo:

Acompanhamento
? Verificação da eficácia das soluções propostas na diminuição da intensidade do problema ou mesmo de sua extinção.
? Substituição das soluções propostas e que não se revelaram eficazes por outras mais eficazes. (MARTINS, P. 138).

Transpondo para o universo de acompanhamento do diário de classe, o pedagogo supervisor escolar necessitará já ter desenvolvido um trabalho de formação nas reuniões pedagógicas, HTPCs, conselhos de classe ou outros, para que se possa dar um feedback corretivo e/ou formativo ao docente, afim de melhorar seu trabalho, não só de registro, como também de melhoria das práticas docentes em sala de aula. Veja bem, que há um item denominado verificação da eficácia.
Quando falamos em verificação da eficácia, colocamos a avaliação dentro do próprio acompanhamento ou da ação de acompanhar o trabalho pedagógico. É o momento em que o pedagogo, com base em sua também formação filosófica, científica e técnico-profissional, tem contato com o diário de classe do docente, não apenas para lê-lo e oferecer feedback, mas para ser companheiro de jornada do professor. Isto, nas acepções de Vasconcellos se apresenta da seguinte forma:

? Acolher o professor em sua realidade, em suas angústias; dar "colo": reconhecimento das necessidades e dificuldades. A atitude de acolhimento é fundamental também como uma aprendizagem do professor em relação ao trabalho que deve fazer com os alunos;
? Fazer a crítica dos acontecimentos, ajudando a compreender a própria participação do professor no problema, a perceber as suas contradições (e não acobertá-las);
? Trabalhar em cima da idéia de processo de transformação;
? Buscar caminhos alternativos; fornecer materiais; provocar para o avanço;
? Acompanhar a caminhada no seu conjunto, nas suas várias dimensões. (VASCONCELLOS: 2009, P. 89)

Sabemos que nem tudo o que se pode aplicar ao educando, aplica-se ao docente, como forma de acompanhamento do trabalho pedagógico. Porém, necessitamos de norteamento para desenvolver uma prática o mais positiva possível dentro de uma escola, como instituição que zela pela aquisição e construção do saber e do conhecimento.
Acompanhar não é só verificar, dar uma olhada, apreciar, mas antes de tudo é ser companheiro de viagem, de jornada. O pedagogo, assim, não ficará ausente das tomadas de decisão necessárias ao bom processo escolar, mesmo que estejamos tratando do diário de classe como um dos instrumentos e não o único.
Vejamos o que o dicionário tem a nos dizer:
a.com.pa.nha.men.to s.m. 1 ação ou efeito de acompanhar; seguimento: O professor fará o acompanhamento dos dos trabalhos em grupo. 2 prato secundário que acompanha o principal: O acompanhamento é batata frita. 3 cortejo; comitiva: Um grande acompanhamento seguia o governador. 4 parte instrumental ou vocal executada conjuntamente com uma melodia à qual fornece textura harmônica ou rítmica. (CEGALLA: 2009, p. 27)

Partindo da necessidade de conhecer e valorizar o diário de classe como instrumento, de natureza tanto expressiva sobre o que é efetivado em sala de aula quanto epistêmica no sentido de diálogo com a realidade educacional circundante nos atemos às questões partidas das seguintes hipóteses:
 Os educadores, quando recebem o diário de classe como instrumento de registro, observam neste a possibilidade de unir teoria e prática em seu trabalho;
 Quando solicitados pela coordenação pedagógica, também denominada supervisão escolar, a demonstrarem o resultado de seu trabalho durante ou no período de um semestre, o fazem mais por uma exigência burocrática do que por uma necessidade aprendente, experiencial, formativa;
 Quem zela pelo andamento deste trabalho junto ao professor é a escola como um todo, ou seja, como organização aprendente complexa (incluindo gestores, supervisores, orientadores educacionais e docentes), numa discussão e debate cíclicos sobre a proposta pedagógica da instituição educacional como um todo orgânico;
 O diário de classe é uma das principais modalidades de acompanhamento e avaliação do trabalho do professor na escola.
Quando os docentes, munidos de uma formação inicial e experimentados através de formação contínua, oferecida ou não pela escola, recebem o diário de classe, o veem mais como uma forma de organizar o trabalho dentro da disciplina lecionada e, ao passo que vai ministrando as aulas, observá-lo como meio de adequação curricular de um período letivo para outro. Este fato pode custar ao docente, perceber que a escola é também um meio de construção do conhecimento e não deve ser tomada como efeito de aquisição somente de um saber já elaborado e que deve ser canonicamente seguido como currículo escolar.
Entretanto, mesmo que o pedagogo queira, por bem [e como Bem Comum], acompanhar seu trabalho docente através do diário de classe, esse mesmo professor sente-se invadido em sua privacidade enquanto educador individual, mas inserido direta ou indiretamente em um espaço coletivo e tendo obrigações para com a prestação de contas sobre seu trabalho à sociedade. Burocracia, esta é a palavra que vem tomando conta nos meios educacionais, a fim de dicotomizar relações pedagógicas em teoria e prática, isto é veementemente percebido pelos docentes.
O diário de classe, tomado em sua forma epistêmica de experienciação de outras práticas e reflexão sobre as antigas, vem deixando a desejar enquanto instrumento de registro escolar neste quesito, o de responsabilizar apenas o pedagogo supervisor como profissional catalisador de avaliação formativa deste, pois a escola, enquanto organização aprendente com projeto próprio, deve agir coletiva e conjuntamente na e para a mudança.
Diante do exposto, percebemos que este valioso instrumento ainda necessita de ajustes dentro da prática pedagógica, a ponto de favorecer aos educadores um verdadeiro acompanhamento pedagógico que esteja de encontro às reais possibilidades democráticas de gestão educacional. Para tanto, faz-se jus ao planejamento coletivo e participativo das ações pedagógicas, tanto em âmbito de sistema educacional, quanto de unidade escolar.

2. Planejamento de ensino e diário de classe: perspectivas de execução para a escola democrática

Planejamento, como processo de ação-reflexão-ação demanda a materialização concedida através do plano de ensino, que pode se desdobrar em anual, de unidades ou de aula. Assim sendo, carecemos de juízos de valor referentes à conexão existente que deve haver entre concepção e execução do trabalho pedagógico, focando a atenção no diário de classe como verificação e feedback corretivo ou formativo do que o professor desenvolveu em sala de aula.
Muitos diários de classe não tem sequer a presunção sobre o que realmente foi planejado, mas não só, também de acordo com o plano da escola ou Projeto Político-pedagógico da unidade de ensino. Devemos ter em mente os pressupostos filosóficos que embasam aquele determinado currículo em ação para que possamos fazer um retrato do que necessita melhorar ou do que será mantido em termos bem mais abrangentes de formação.
Também, antes de tudo, é necessário que se tenha uma visão de currículo única dentro do espaço escolar, para que, na unidade da ação de execução não só das aulas, mas também sessões de orientação, palestras, horas-atividades dos professores, se possa chegar a uma concepção pedagógica de forma concreta e unânime. Assim, evitar-se-iam distorções na democratização do acesso à formação oferecida pela escola como um todo.
Nos momentos de registro, os docentes, mesmo que em sala de aula, dariam mais prioridade àquilo que norteia a noção de currículo na referida instituição escolar, podendo dali, chegar à verdadeira implementação do projeto educativo formulado de maneira coletiva. Percebemos, durante a pesquisa, que os docentes durante os registros em sala de aula, põem de modo concomitante ao desenvolvimento da aula as informações em seu diário de classe, o que muitas vezes tem prejudicado a eficiência dos meios dentro da noção de currículo proposta ou concebida.
É bem aí que realmente a fragmentação entre teoria e prática ocorre, dentre outros espaços e tempos nas práticas pedagógicas, de maneira gritante e quase desenfreada, deixando o professor de aproveitar este momento de registro como forma de integração nas atividades permanentes .
Atividades que se reiteram de forma sistemática e previsível uma vez por semana ou por quinzena, durante vários meses ou ao longo de todo o ano escolar, oferecem a oportunidade de interagir intensamente com um gênero determinado em cada ano da escolaridade e são particularmente apropriadas para comunicar certos aspectos do comportamento leitor. (...) As atividades habituais (ou permanentes) também são adequadas para cumprir outro objetivo didático: o de favorecer a aproximação das crianças a textos que não abordariam por si mesmas por causa da sua extensão. Ler cada semana um capítulo de um romance é uma atividade que costuma ser frutífera nesse sentido. A leitura é compartilhada: a professora e os alunos lêem alternadamente em voz alta; escolhe-se um romance de aventuras ou de suspense que possa captar o interesse das crianças e se interrompe a leitura em pontos estratégicos, para criar expectativa. (http://revistaescola.abril.com.br/producao-de-texto/modalidades-organizativas.shtml)

Quando tratamos de planejamento, estamos falando de algo mais global e, não menos circunstancial, quando se diz respeito ao tipo de formação que se quer. Por isso, o Projeto Político-pedagógico da unidade escolar deve ser o foco tanto do processo de planejamento quanto de plano de escola e/ou de ensino.
Levando em consideração a assertiva, podemos perceber que a distorção de sentido e valorização do momento de planejamento, até mesmo durante os registros no diário de classe, é descabida:

Planejamento é processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações grupais e outras atividades humanas. O ato de planejar é sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações (BAFFI apud PADILHA, 2001: p. 30).

Sendo esta a verdadeira premissa de planejamento, conforme a pedagoga supracitada, convenhamos que os professores ainda carecem de ser desafiados a ponto de conceber a força que este processo favorece em educação, uma reflexão que nem de longe acirra tudo o que será feito adiante, em termos de tomadas de decisões (que muitas vezes chegam a ser interpretadas apenas como improvisações na escola e na sala de aula).
É nesse ponto que queremos colocar o diário de classe como um dos instrumentos de registro capaz de favorecer o processo de pensamento e reflexão sobre o que já foi feito, porém esta é uma temática que merece melhor destaque no item sobre memória institucional. Mas também, é no âmago da memória da escola ou memória institucional que a organização ganha mais relevância enquanto instituição formadora.

3. Memória da escola e diário de classe: o que passou, passou?

Uma das beldades a serem estudadas e mantidas na instituição escolar é a memória, pois o homem como ser histórico, tenta compreender o passado na busca de um tempo presente melhor, culturalmente mais organizado.
Até em que ponto os registros dos docentes têm contribuído para o encaminhamento de melhorias na prática pedagógica é um questionamento a ser levantado dentro do rol de recortes conceituais já existentes na pesquisa educacional.
Entretanto, quanto ao uso do diário de classe como documento vivo e em constante mudança, ainda vem deixando muitos programas educacionais nas unidades de ensino a desejar.
De quando em quando, alguns professores social e politicamente compromissados com a causa educacional de seus descendentes, olham diários de classe dos anos anteriores não para copiá-los, mas como uso e criação de mecanismo para uma avaliação e integração formativa desses programas educacionais em seus contextos histórico-sociais.
A memória institucional pode ajudar no processo de tomada de decisões no planejamento educacional, de forma mais abrangente, e de ensino, mais especificamente. Sendo assim, é na atitude de pensamento sobre o que já foi feito que os educadores poderão imprimir mudanças que estejam mais contextualizadas com a situação política, socioeconômica e cultural de uma escola ou sistema de ensino, levando em consideração os interesses últimos da comunidade local ou regional.
A memória institucional está diretamente relacionada ao seu desenvolvimento e desempenho, conforme as demandas reais da sociedade em constante transformação, podendo até mesmo servir de base para a cultura organizacional da escola ou do sistema de ensino.

Como afirma Bolívar, "as organizações aprendentes não surgem do nada. São fruto de um conjunto de atitudes, compromissos, processos e estratégias que têm de ser cultivados" (1997, p. 91). Têm um percurso de vida ou, como afirma Sá-Chaves, têm uma história de vida. Compete aos supervisores, se quiserem ser líderes de comunidades aprendentes, fazer a leitura dos percursos de vida institucionais, provocar a discussão e a negociação de idéias, rendibilizar a reflexão e a aprendizagem em grupo, organizar o pensamento e a ação do coletivo das pessoas individuais. (...)
O desenvolvimento institucional ocorre na interação das relações entre as organizações e o meio envolvente, mas também das interações entre seus membros (...). Devemos reconhecer que a vida das instituições, como a das pessoas, desenvolve culturas, regulamentos, rotinas. (ALARCÃO: 2001, p. 41, 43)

Experiências, sobretudo as boas, são ótimas faces para problematizações necessárias na formação docente e o diário de classe como instrumento de registro mais valioso do quefazer pedagógico-docente pode possibilitar isso da maneira mais concreta e simples possível, sem necessidade de dispêndio de energia e tanto tempo disponível.
Projetos que deram certo e que não deram não deve ser motivo principal para transformar uma realidade educacional. O pedagogo deve ter como premissa que o cotidiano pode e deve ser transformado, mas com os melhores elementos para tanto e não como simples proposição e crítica ao "velho".

O que se observa de modo geral, é que as escolas se comportam com amnésia. Tudo se começa do zero, ou quase zero, a cada ano. Não ocorre a apropriação da experiência por socialização. Conhecimentos dominados e práticas vivenciadas não se consolidam e não entram em ação. (CERVI: 2008, P. 146)

O diário de classe no sentido fornecido por Cervi (2008) quanto à mentalidade do que foi desenvolvido na instituição de forma mais duradoura, pode nos deixar a compreensão de que o registro escrito na escola é meio imprescindível de resgate do que já aconteceu e ponto de partida para o que acontecerá, numa possibilidade de recorte e não de transcrição sobre a realidade educacional.
Advém daí, que o diário de classe tanto serve como ponto de partida para análises como ponto de chegada para inovações que se fizerem necessárias, tendo realizado uma avaliação diagnóstica prévia das necessidades dentro do trabalho pedagógico a ser traçado.



4. A avaliação escolar no diário de classe


Visitando diários de classe de diferentes naturezas e exigências, percebemos que a questão da avaliação escolar fica um tanto relegada a segundo plano. Observamos que e, principalmente a avaliação pedagógico-didática raramente é registrada no diário de classe.
Temos de pontuar algumas problemáticas a fim de esmiuçar, detalhar com maior ênfase as avaliações pedagógico-didática e diagnóstica do processo ensino-aprendizagem neste instrumento de registro tão valioso:
De que forma e com qual linha divisória é registrada a avaliação escolar no diário de classe? Por quê?
Qual o intuito, que identifica a visão de ciência pedagógica implícita, de organizar o registro dessa forma?
Está se levando em consideração o ensinar avaliando e o avaliar ensinando vistos nos diários de classe?
De que forma o diário de classe mostra-se precioso na memória das atividades extracurriculares?
Pela experiência desenvolvida, nota-se que no diário de classe dos professores da U. E. B. Jornalista José Ribamar Bogéa não houve registros a respeito das avaliações processuais, o que indica este tipo de avaliação diagnóstica como algo que nem sempre é explicitado.
Segundo Libâneo (1994; p. 95):

A avaliação é uma reflexão sobre o nível do trabalho escolar tanto do professor quanto dos alunos (...).
A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume à realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa.

Sendo assim, no diário de classe, fica subentendida a ideia de avaliação enquanto apreciação qualitativa dos resultados processuais e/ou diagnósticos, mesmo que podendo apresentar as notas ou conceitos em uma parte específica deste valioso instrumento.



Considerações finais


Não há trabalho acadêmico que finalize, se fala de coisa que está em constante mudança, a educação. Sendo assim, o referido artigo teve a pretensão de demonstrar a necessidade de fomentar o estudo sobre o diário de classe na perspectiva de uma educação escolar emancipadora e histórico-crítica. Tentou trazer subsídios ao educador enquanto trabalhador dentro de uma organização aprendente, que é a escola dos dias atuais, além de colocar de forma concreta a responsabilidade do pedagogo nessa empreitada junto aos docentes. Para isso, recorremos a atividades-chave como o planejamento, avaliação e recurso à memória institucional para tentar alcançar nosso objetivo, o acompanhamento do fazer pedagógico-docente na escola e na sala de aula.



REFERÊNCIAS


ALMEIDA, Cláudia Mara de; SOARES, Kátia Cristina Dambiski. Pedagogo escolar: as funções supervisora e orientadora. Curitiba: Ibpex, 2010.

ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Transposição didática: por onde começar? São Paulo: Cortez, 2007.

BAFFI, Maria Adélia Teixeira. O planejamento em educação: revisando conceitos para mudar concepções e práticas. In.: BELLO, José Luiz de Paiva. Pedagogia em Foco, Petrópolis, 2002. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/fundam02.htm>. Acesso em: 19 jul. 2011.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. p, 27.

CERVI, Rejane de Medeiros. Planejamento e avaliação educacional. 2 ed. Curitiba: Ibpex, 2008.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).

MARTINS, José do Prado. Princípios e métodos de orientação educacional. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1984.

MENEGOLLA, Maximiliano; SANT?ANNA, Ilza Martins. Didática: aprender a ensinar: técnicas e reflexões pedagógicas para formação de formadores. 8 ed. São Paulo: Loyola, 2007.

RANGEL, Mary (org.). Supervisão pedagógica: princípios e práticas. 9 ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
REVISTA NOVAESCOLA ON LINE. Fundação Victor Civita. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/producao-de-texto/modalidades-organizativas.shtml. Acesso em 18 jul. 2011.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 11 ed. São Paulo: Libertad Editora, 2009. (Subsídios Pedagógicos do Libertad; 3).