O Reflexo da Violência Doméstica no Desenvolvimento Sócio-Cultural da Criança e do Adolescente.


RESUMO: O presente artigo tem como objetivo explicitar as causas e efeitos da violência doméstica, e seu reflexo no desenvolvimento sócio cultural da criança e do adolescente inserido no sistema educacional, bem como efetuar a identificação dos tipos mais recorrentes deste tipo de violência.

PALAVRA CHAVE: Violência Familiar. Desenvolvimento sócio-cultural, dificuldades de aprendizagem, distúrbios de comportamento.

ABSTRACT: The present article has as objective to present the causes and effect of the domestic violence, and its consequence in the development cultural partner of the child and the adolescent inserted in the educational system, and make the identification of the types most recurrent of this type of violence.

KEYWORDS: Familiar violence. Difficulties of learning, riots of behavior


A violência doméstica é um problema universal que atinge a milhares de pessoas, na maioria das vezes, de forma silenciosa e dissimulada. Trata-se de um problema que não costuma restringir-se a nível social, econômico, religioso ou cultural específico. Comprovadamente, a violência doméstica, pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental da vítima quando esta é uma criança, pois a infância é o período em que são moldadas grande parte das características afetivas e de personalidade que esta carregará para a vida adulta. A criança aprende com os adultos, e tende a reproduzir suas atitudes ao amadurecer. A maneira de reagir à vida e viver em sociedade, noções de direito e respeito aos outros, auto-estima, as maneiras de resolver conflitos, frustrações ou conquistar objetivos, tolerar perdas, enfim, todas as formas de se portar diante da vida, são profundamente influenciadas durante a idade precoce. É assim, que muitas crianças abusadas, violentadas ou negligenciadas na infância se tornam agressoras na idade adulta, pois seu comportamento é um reflexo de suas experiências domésticas.
Certos indícios de mau desenvolvimento de personalidade geralmente são observados em idade precoce. Tais características podem ser manifestadas por dificuldades para se alimentar, dormir, concentrar-se. Essas crianças podem começar a se mostrar exageradamente introspectivas, ansiosas, tímidas, com baixa auto-estima e dificuldades de relacionamento com os outros, outras vezes mostram-se agressivas, rebeldes ou, ao contrário, muito passivas.
A Violência Psicológica ou Agressão Emocional, às vezes tão ou mais prejudicial que a física, é caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente, causa efeitos permanentes em suas vítimas.
Um tipo comum de Agressão Emocional é a que se dá sob a autoria dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar emocionalmente o outro para satisfazer a necessidade de atenção, carinho e de importância. A intenção do(a) agressor(a) histérico(a) é mobilizar outros membros da família, tendo como chamariz alguma doença, dores, problemas de saúde, enfim, algum estado que exija atenção, cuidado, compreensão e tolerância. Este tipo de comportamento é predominantemente encontrado em mulheres.
No histérico, o traço predominante é o "histrionismo", palavra que significa teatralidade. Normalmente, a pessoa histérica conquista seus objetivos através de um comportamento afetado, exagerado, exuberante e por uma representação que varia de acordo com as reações de suas vítimas. Uma mãe histérica, por exemplo, pode apresentar um quadro de severo mal estar para manipular seus familiares. A histeria, quando acomete homens, é bastante marcante. O homem histérico, geralmente coloca-se como a grande vítima e o maior mártir, cujo sacrifício faz com que todos se sintam culpados.
Outra forma de Violência Emocional é fazer o outro se sentir inferior, dependente, culpado ou omisso é um dos tipos de agressão emocional dissimulada mais terrível. Uma das atitudes violentas bastante comum neste quadro, pode ser caracterizada pelo agressor que faz tudo corretamente, impecavelmente certo, não com o propósito de ensinar, mas para mostrar ao outro o tamanho de sua incompetência. O agressor com esse perfil tem prazer quando o outro se sente inferiorizado, diminuído e incompetente. Normalmente é o tipo de agressão dissimulada pelo pai em relação aos filhos, quando esses não agem exatamente da maneira idealizada.
O comportamento de oposição e aversão é mais um tipo de Agressão Emocional. As pessoas que pretendem agredir se comportam contrariamente àquilo que se espera delas. Demoram no banheiro, quando percebem alguém esperando que saiam logo, pequenas coisas do dia-a-dia, podem servir aos propósitos agressivos. Estas atitudes não poderiam ser consideradas agressão, se não fossem intencionais.
A violência verbal existe, inclusive, na ausência da palavra, ou seja, em pessoas que permanecem em silêncio. O agressor verbal, vendo que um comentário ou argumento é esperado para o momento, se cala e, evidentemente, esse silêncio é capaz de ferir mais do que se houvesse dito algo. Nesses casos o agressor demonstra ter algo a dizer e não diz. Aparenta estar doente, porém não se queixa, mostra estar contrariado, porém não fala, e assim por diante, causando maior sentimento de culpa nos demais.
Ainda dentro desse tipo de violência estão os casos de depreciação da família e do trabalho do outro. Outro tipo de violência verbal e psicológica diz respeito às ofensas morais. Muitas vezes a intenção dessas acusações é mobilizar emocionalmente o(a) outro(a), fazê-lo(a) sentir-se diminuído(a). O mesmo peso de agressividade pode ser dado aos comentários depreciativos sobre o corpo do(a) cônjuge.
Atualmente, os aspectos emocionais da aprendizagem têm sido muito estudados, anteriormente desconsiderados, pois somente os aspectos cognitivos eram valorizados no processo de aprendizagem. Hoje, sabe-se que o papel do afeto na educação é importantíssimo, e, muitas vezes decisivo para que esta seja bem sucedida.
Segundo a ABD (Associação Brasileira de Dislexia), distúrbios de aprendizagem são diferentes dos distúrbios de escolarização. Os distúrbios de aprendizagem abrangem indivíduos com problemas neurológicos, psíquicos de conduta grave, deficiência mental, ou que ainda não alcançaram a fase na qual se encontra a maioria dos indivíduos de sua faixa etária.
Distúrbios de escolarização, referem-se aos indivíduos que apresentam dificuldades no aproveitamento escolar com distúrbios de conduta menos severos, sendo estes, os mais comuns dentro da escola, alunos considerados normais que, por diversas razões não apresentam um bom rendimento escolar, alguns apresentam problemas comportamentais prejudicando o bom desenvolvimento das aulas, Neste grupo, podemos encontrar a maior parte dos estudantes vítimas de violência, e aqueles que sofreram traumas profundos responsáveis por sérios comprometimentos psíquicos e de conduta. O estudante vítima de violência apresenta na escola sinais de que algo em sua vida não está ocorrendo normalmente. Geralmente manifesta comportamentos estranhos, baixo rendimento e pouca freqüência.
É muito importante que a escola possa enxergar seus alunos com um olhar realmente investigativo. É muito simples rotular um aluno indisciplinado ou com baixo rendimento como o "aluno-problema". Infelizmente, com o aumento da violência, muitos dos nossos alunos são vítimas das mais diversas formas de agressões, e grande parte sofre os maus tratos, dentro da própria casa, lugar onde julgamos ser o último a maltratar uma criança. Os valores da família já não são os mesmos, o alto custo de vida, o desemprego, a falta das condições básicas para o exercício da cidadania, colaboram para que haja um abalo severo na estrutura emocional familiar.
Desta forma, crianças e adolescentes ficam a mercê dos desequilíbrios de seus pais e responsáveis, sendo obrigadas a enfrentar sofrimentos terríveis e a amadurecerem antes do tempo. As dificuldades comportamentais e de aprendizagem são as maneiras pelas quais essas vítimas manifestam seus problemas pessoais, é como um pedido de ajuda, de socorro. Se a escola for receptiva, compreensiva, calorosa, agradável e maleável poderá contribuir muito para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos-vítmas, tornando o processo de superação dos traumas menos doloroso
Na maioria das vezes, os pais e/ou responsáveis não sabem como lidar com tais situações e precisam de orientação para que o desenvolvimento de seus pupilos não seja afetado. É quando se faz necessária a intervenção de profissionais que lidam com a temática. Apesar de ser muito difícil solucionar uma situação de violência familiar, é possível, com a interferência de profissionais e da sociedade, minimizar seus efeitos, através de denuncias e da busca por tratamento psicológico dos componentes da família, devendo receber tratamento tanto a vítima quanto o agressor.
Neste caso, é fundamental a interferência do professor, que deve estar preparado para identificar alunos em situação de violência e atuar da maneira menos traumática possível, sem constranger o aluno e, se possível, sem que seja necessário expô-lo a situações embaraçosas, ou que possam colocar sua integridade física ou moral em risco.
É necessária uma atuação mais efetiva dos órgãos públicos, como Conselho Tutelar, Delegacia da Mulher, Equipes Multidisciplinares de Educação, entre outros, para que se possa, trabalhando em conjunto, auxiliar a essas vítimas a recuperar seu direito fundamental de viver com dignidade.

Referências Bibliográficas


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