O que os pais são capazes de fazer com os filhos na hora da separação
Publicado em 27 de março de 2017 por Anissis Moura Ramos
Não tem como não se ficar chocado ao ver a falta de respeito e consideração dos pais com os filhos na hora da separação, momento em que a criança está fragilizada, sofrendo, mesmo que não verbalize. Nesta hora o que impera é o sentimento de vingança em relação ao cônjuge, esquecem que têm filhos e que deveriam poupá-los. Vê-se isto com frequência nos processos litigiosos, onde um cônjuge quer agredir o outro e acaba usando o filho para isto, não pensando nos prejuízos que isto causara na vida psíquica da criança. Este mecanismo usado por alguns pais, chama-se de Alienação parental ou Síndrome de Alienação parental.
Gadner, psiquiatra americano que nos apresentou a alienação parental e a síndrome de alienação parental, diferencia a alienação parental da síndrome, referindo que a síndrome se dá quando a criança se junta ao alienador e começa a falar e agir contra a figura do alienado. Claro que temos que ter cuidado para não querermos enquadrar todo mundo neste quadro de alienação ou na síndrome de alienação parental. Temos que entender também que a pessoa que age desta forma, muito provavelmente apresenta problema de ordem emocional/psicológica e quiçá um transtorno de personalidade.
A alienação parental pode começar quando o casal ainda está casado e se acentuar após o processo de separação. Desconsiderar ou desvalorizar o que o cônjuge diz, criticá-lo, ridicularizá-lo, desautoriza-lo em relação aos filhos são algumas das formas de alienação parental. A pessoa que age desta forma denota ter algum tipo de problema, pois esquece que aquela pessoa que está atacando foi escolhida por ela, inclusive para ser o pai ou mãe dos seus filhos. As dificuldades que surgem no decorrer da relação, deveriam ser solucionadas pelo casal, porém, muitos preferem ficar trocando farpas até o respeito terminar e não conseguirem mais viver juntos.
Alguns autores referem que a alienação parental é feita pelas mães, mas na prática isto não se confirma, vê-se também pais que fazem alienação parental e que conseguem jogar a criança contra mãe. O interessante que o alienador normalmente não se percebe como tal, acredita que está protegendo o filho. As estatísticas referem que o maior número de alienações se dá pela figura materna.
Durante este processo de alienação e de colocar a criança contra o alienado é bastante comum a implantação de falsas memórias, ou seja, são informações falsas compatíveis com a experiência, passando a ser incorporado como vivido. A criança afirma que algo aconteceu, mas na realidade nunca vivenciou a situação, mesmo assim, a riqueza de informações e detalhes é espantoso.
Pode-se pensar que a criança que é envolvida neste comportamento perverso de um dos seus genitores é vítima de maus-tratos, porque isto terá uma repercussão importante na vida psíquica e emocional da criança. Ela poderá começar a apresentar agressividade física e/ou verbal podendo ser justificado por motivos fúteis, sentimento de ódio dirigido ao alienado sem ambivalência, referindo que chegou sozinho as conclusões e passa a defender o alienador de forma racional, relata casos que não viveu e armazena na memória fatos considerados negativos sobre o genitor alienado, evita entrar em contato com o genitor alienado. Futuramente, em sua vida adulta, poderá se tornar um alienador.
Tentar resolver seus conflitos, diferenças, ciúmes, frustrações valendo-se da ingenuidade da criança é algo muito doentio. O casal deveria resolver as diferenças e os sentimentos que surgem na hora da separação entre eles, sem usar os filhos para atacar o cônjuge, deveriam procurar proteger os filhos dos conflitos que vivem neste processo, porém, o que vemos é exatamente ao contrário, escracham os conflitos e muitos querem que o filho tome partido, esquecendo que a criança não tem estrutura de ego para dar conta disto e que não é algo que tenha que resolver, pois amo os dois e, provavelmente, gostaria que seus genitores permanecessem juntos.
Usar a criança no processo de separação demonstra o alto grau de egoísmo do genitor alienador, a sua falta de capacidade de lidar com a frustração, o sentimento de fracasso, de revolta, entre tantas outras coisas que poderia citar aqui. O ideal seria que ao verem que o casamento não dá mais, procurassem um profissional da saúde mental para que pudessem ser ajudados neste processo que é difícil, a fim de que o casal saísse do relacionamento com o menor número possível de sequelas, para que as crianças não precisassem viver esta tortura em que as colocam.
Quando o processo de alienação ou a síndrome de alienação parental está instalado, o ideal é que todos os membros da família recebessem um apoio psicológico, para que conseguissem romper o ciclo de acusações e violência que se estabelece, entretanto, sabe-se que na maioria das vezes este tipo de agressividade que se estabelece perdurará até a criança conseguir ter discernimento do que realmente aconteceu no processo de separação dos pais. Por vezes, carregam isto por toda vida, repetindo com os seus parceiros (as) o que viveram na infância, sem perceberem. Com isto, continuam sofrendo, infelizes e perpetuado o processo de alienação ou da síndrome de alienação parental na família que constituiu, percebendo como algo natural.