Sábado na manhã, depois do tênis, gosto de verificar algumas coisas econômicas relacionando o passado ao presente, sempre com foco nas distorções que o estado brasileiro provoca. O estado e não governantes quero deixar claro. Neste período tivemos vários governos, de 1985 até hoje. O estado é o mesmo, os governantes foram Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula, bem ecléticos na ideologia e na competência, mas deixemos de lado esta questão.

Vamos ao cerne da minha ilação: A farra da banca.

Na minha visão, indignada por sinal, a súcia dos banqueiros monta no estado desde a década de 80,no governo Sarney. Não preciso lembrar que no final do governo Sarney, em 1989, a inflação chegou a 80% ao mês, alguém se lembra?

Esqueçamos o lado negro da inflação e dos planos mirabolantes, do Cruzado, Bresser, Collor, etc, e chegamos finalmente ao Plano Real (1994) e a Política de Metas Para a Inflação (1999). Este sim, o Real, o baluarte da estabilização até hoje, muito pela conjuntura mundial e responsabilidade dos governantes.

Fiz uma conta simples: US$ 10.000,00 dólares em março de 1985 valia (Cruzeiro) CR$ 39.510.000,00. Atualizado até abril de 2008 pelos índices oficiais (ORTN, OTN, BTN, INPC, UFIR até 1996 e depois a SELIC) chego ao seguinte número: R$ 61.189,00. Este número convertido pelo câmbio atual (US$ 1 = R$ 1,66) dá exatamente US$ 36.860,84. Ou seja. Quem tinha US$ 10 mil em março de 1985 e aplicou só nos papeis lastreados em títulos oficiais teria agora quase US$ 37 mil. Sabe quanto foi o reajuste? 369%.

Considerando que a década de 90 até aqui foi mundialmente de inflação baixa, imaginem o ganho real em US$.

O PPI Índex (um dos indicadores americanos de inflação) não ficou em 50% no período de 23 anos que analisei.

Quem é o maior emprestador? Adivinhou, a banca. Isso mostra como eles ganhavam com a inflação e ganham sem inflação. As razões são várias, mas o estado é o maior tomador de recurso, gasta mal e tem ânsia arrecadadora, cria estes mecanismos e enche a burra dos potentados.

Tudo bem que alguém pode dizer que sofismei pela conversão ao câmbio e hoje nossa moeda, o Real, está forte. Se ainda assim o US$ estivesse mais forte e a paridade fosse R$ 3,00, o ganho real ainda seria o dobro da média dos EUA.

Além de bancar o governo, eles extorquem os incautos com a farra do crédito, sem risco no caso consignado.

Hoje temos 30% do PIB na mão de analfabetos matemáticos que pagam "spreads" absurdos. Podem escrever ai: Teremos na primeira crise mundial que arrastar o Brasil, uma crise do "sub prime" do crédito brasileiro.

A minha revolta é antiga, mas a cada momento constato que de boas intenções estamos cheios, mas as coisas não funcionam como deveria, dentro de preceitos democráticos e da justiça social. Montesquieu do "Espírito das Leis" escreveu: "Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda parte." Aqui tudo parece funcionar, mas as distorções são enormes. O Banco Central só pode ser refém da banca, a questão das tarifas é caso de polícia.

Meu sábado segue em frente, mas com a triste sensação de que somos um povo abençoado e acomodado, que aceitamos calados as mazelas e nos contentamos com as migalhas que sobram.

O Brasil nunca chegará onde deveria estar. Não com a classe política sempre eleita nos enganos ao povo e do povo eleitor.

Murilo Prado Badaró- Empresário- Economista- [email protected]