Aércio Fernando Bocolli 

Um breve resumo do caso Enron

Enron: os mais espertos da sala é um documentário baseado em um best-seller escrito por Bethany McLean e Peter Elkind. O filme apresenta um estudo sobre um dos maiores escândalos no mundo corporativo norte-americano. Os administradores da sétima maior companhia dos EUA fugiram com bilhões de dólares e deixaram para trás investidores e empregados sem dinheiro. O documentário mostrafotos, comentários, documentos e gravações reveladoras sobre o escândalo, mostrando a diferença existente na hierarquia da empresa. Assim, o caso Enron representa um dos maiores fracassos empresariais da atualidade.

Livro relacionado:

 Aspectos contábeis, funcionais e controle

"Enron" era a sétima maior empresa dos Estados Unidos e uma das maiores empresas de energia do mundo. A "Enron" mantinha, no Brasil, participações na CEG/CEGRio, no Gasoduto Brasil / Bolívia, na Usina Termoelétrica de Cuiabá, na Eletrobolt, na Gaspart e na Elektro (empresa que atende cerca de 1,6 milhões de consumidores).Atuava, principalmente, em cinco grandes áreas: Enron Transportation Services: condução interestadual de gás natural, construção, administração e operação de gasodutos; investimento em atividades de transporte de óleo cru; Enron Energy Services: compra, comercialização e financiamento de gás natural, óleo cru e eletricidade; administração de risco de contratos de longo prazo de commodity; gasodutos estaduais de gás natural; desenvolvimento, aquisição e construção de centrais de energia de gás natural; extração de gás natural líquido; Enron Wholesale Services: negócios globais da "Enron", incluindo a negociação e entrega de commodities físicas e financeiras e serviços de gerenciamento de risco; Enron Broadband Services: atividade implementada no ano 2000, que provê aos clientes uma fonte de serviços de telecomunicações e Corporate and Others: provê serviços relacionados a abastecimento de água.

Diante do quadro apresentado pela empresa, o principal questionamento foi acerca do papel desempenhado pela auditoria independente que tinha o dever de fornecer informações de todas as operações e tinha a obrigação de transparência com o mercado. Sabe-se que, no Brasil, a auditoria deve ser um propagador da situação da corporação e, certamente, no contexto norte- americano não é diferente. No caso da Enron, a auditoria responsável pelos balanços era a Arthut Andersen, há quase 10 anos. Essa empresa também prestava consultoria à Enron, atividade essas que são consideradas incompatíveis de serem realizadas pela mesma empresa.

Quanto ao controle da empresa, os administradores usurparam desse poder facultado a eles. Como pessoa física personificaram em si a própria empresa. Um dos fatores que gerou esse "abuso", por parte dos administradores, foi a dispersão dos sócios minoritários. A massa acionista foi afastada da vida empresarial. Dessa forma, o detentor do poder de controle, ou seja, o grande investidor institucional, no caso o chefe-executivo Ken Lay, tinha total controle e manipulação da empresa.

Aspectos éticos: refletindo sobre o caso Enron

Através do caso Enron pode-se repensar os aspectos éticos que envolvem as empresas. Certamente, é indiscutível a ideia da necessidade de uma prática transparente nas empresas. Administradores, investidores e empregados devem ter acesso aos balanços e balancetes para estar por dentro de todas as informações. No caso analisado, como mostra o documentário,um dos investidores questiona o porquê da Enro não fazer essa divulgação.

Não se pode afirmar quais foram os reais motivos do trágico naufrágio (no documentário a empresa é comparada com o Titanic), no entanto, a prática de fraudes e manobras contábeis que culminaram no prejuízo de milhares de pessoas, certamente foi influenciada pela economia do mercado. Nesse sentido, todas as atitudes dos administradores demonstram a fragilidade do sistema contábil e de auditoria.

Assim, o que mais chama a atenção, nessa situação, que mais parece roteiro de filme de ficção, é a visibilidade da falta de ética dos profissionais, através da postura adotada diante da empresa. Como é relatado no documentário, o que era para ser infalível, graças à maliciosa e desonesta forma como fora administrada, faliu em dezembro de 2001, deixando cerca de R$ 180 bilhões e muitos escândalos corporativos.