O capitalismo precisa de revisão?

O mundo avança a passos largos, a tecnologia vem fazendo sua parte e vivemos a sociedade da informação, da comunicação e a era do conhecimento. Capitalismo não é projeto, é processo, inexorável.

A cada revolução que muda nosso estágio civilizatório o tempo  fica cada vez mais curto entre uma e outra revolução. Escrevi  e publiquei aqui no Web Artigos dois textos sobre estes momentos, vale a pena ler para entender como vem sendo a dinâmica da evolução humana com a alavanca da tecnologia.

O primeiro - Os Avanços Tecnológicos Publicado em 14 de Maio de 2008 por Murilo Prado Badaró – Clique e leia

O segundo - Aumenta A Velocidade Dos Avanços!- Publicado em 14 de Maio de 2008 por Murilo Prado Badaró – Clique e leia

Do século XVII para cá, especialmente no século XX e XXI as mudanças foram profundas, na verdade são ajustes em vários setores de nossa vida. Correção de rumos, reparação de erros, reconhecimento de falhas diversas.  Em tudo, em toda ciência, na filosofia, na sociologia, em todas as matérias e por isso na economia não foi e nem está sendo diferente.

Desde o iluminismo a consciência do ser humano é provocada, muitos dogmas questionados e com a economia não foi diferente. O entendimento dos processos econômicos surgidos principalmente na revolução industrial levaram filósofos e pensadores a decifrar e destrinchar a matéria. Adam Smith, considerado o pai da economia, surgiu ai, neste momento. Ele começou a escrever e demonstrar o processo produtivo, a economia e podemos dizer que neste momento a economia virou de fato uma ciência.

Exatamente no momento da incipiente revolução industrial surgem outros pensadores, questionando os abusos e a selvageria daquele momento, como não poderia ser diferente e inegável, afinal os processos estavam começando, sendo entendidos. Não há como negar a importância de Karl Marx, Friedrich Engels , Alfred Marshall , e outros tantos que foram a antítese do liberalismo que surgia com  Adam Smith, François Quesnay ,Anne Robert Jacques Turgot , Vincent de Gournay, autor da célebre frase: “Laissez faire, laissez passer, lê monde va de lui même” (Deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo) e ainda  Thomas Malthus,  James Mill e David Ricardo.

A dialética era necessária, saudável e oportuna. Sem as contradições explicitadas, o pensamento na justiça social e a consciência desta dinâmica para ajustes e correções, não teríamos tido as revoluções que vieram a seguir.

O capitalismo tem varias definições acadêmicas, mas sem entrar muito no conceito em si, podemos definir seus pilares: Propriedade privada, lucro, liberdade de acesso aos meios de produção (capital terra e trabalho). Não há como  questionar as vantagens do capitalismo, ele é processo inerente ao ser humano que busca sua evolução e precisa dos mecanismos para tal.

Isso não quer dizer que este processo seja totalmente legítimo. Natural ele é, mas a sociedade tem suas fraquezas e vicissitudes e vez ou outra é preciso sim uma intervenção aqui e acolá.

Neste momento surge a influência do estado, que deveria regular e controlar estas vicissitudes que geram muitas injustiças, como foi no passado inicial.

Quero dizer que mesmo com todas as vantagens advindas do processo natural, há sim que se ter atenção com distorções que surgiram e vão continuar surgindo com esta dinâmica evolutiva permanente.

Acabo de ler um livro de nome Capitalismo em Confronto, de Philip Kotler, economista, autor do celebro o Marketing do Século XXI, recomendo a leitura de ambos para quem gosta de marketing e economia.

Faço questão de citar a fonte e os termos cunhados por ele, com os quais concordo plenamente. Existe hoje não mais o capitalismo selvagem do passado, da revolução industrial ou do início do século XX.

Capitalismo compassivo, capitalismo inclusivo, capitalismo humanitário, capitalismo humanista, capitalismo saudável e Neocapitalismo são nomenclatura que ele define como as formas que estão surgindo para fazer os ajustes  necessários. Esta é a realidade.

O capitalismo cowboy como ele chama e selvagem como é conhecido virou coisa do passado. Assim como a mais valia, o “well fare state”, o estado como promotor de todos os bens e da justiça social, o monopolista da virtude de da bondade. Este estado está morto. A história se encarregou de enterrar estes projetos, socialistas, comunistas, como foram chamados, porque para mim estes termos são coisa do passado. Assim como o capitalismo cowboy mencionado por Kotler. Vivemos outro momento da humanidade

O mundo mudou e continua mudando, quem quiser viver no passado de conceitos e muitas vezes dogmas vai  se dar mal ou ficar em permanente conflito com a modernidade.  A verdade de alguns conceitos e pilares é imutável na economia, mas sua evolução é permanente na dinâmica das relações sociais, alguns se moldam a esta realidade que se apresenta a cada momento outros não.

Há muito ainda o que pode ser feito neste momento, os questionamentos e a dialética de autores modernos vem confirmando a discussão e a reflexão que busca o aprimoramento do capitalismo.

O capital no século XXI, do francês Thomas Piketty mostra um estudo sobre a concentração de riqueza  atual e das desigualdade existentes . O livro, confesso que ainda não li, gerou discussões acirradas em redes sociais pelas conclusões explosivas.  Questionado por muitos por indicadores e índices ininteligíveis ou sem muita consistência, não há como negar que ele abre e aprofunda a discussão, assim como faz Philip Kotler, este, sempre o defensor do capitalismo, mas não aquele cowboy como ele denomina.

Sem ler o livro todo de Piketty, tive acesso a algumas afirmações que são no mínimo dignas de reflexão profunda. A desigualdade social não tem questionamento. Uma delas ele afirma:

- Nas seis décadas que transcorreram entre 1914 e 1973, a taxa de crescimento econômico excedeu a taxa de retorno do capital. Isso conduziu a melhora na vida dos trabalhadores.  Neste período tivemos as duas grandes guerras e a crise de 1929 que destruíram grande parte do capital.

Fato, momentos de grande prosperidade, geração “baby boom” nos anos 50 e 60 fases inigualáveis que segundo ele não se repetem.

A afirmação bombástica dele e que ainda não me convenci, mas fica difícil de contestar é a seguinte:

- Nos quarenta anos que se seguiram a 1973 a taxa de retorno do capital excedeu a taxa de crescimento econômico que desacelerou.

O autor afirma que quanto maior a taxa de retorno do capital comparada ao crescimento econômico, mais desigualdades.

Ele pode e deve estar certo.

A solução de taxar riqueza e criar impostos não saberia dizer se é a melhor saída. A famosa curva de Lafer mostra que também estamos no limite superior de carga tributária em muitos países.

O capital gera prosperidade e riqueza, não se pode afrontar esta realidade e criar soluções temporárias e pouco sustentáveis que afugentem a semente da prosperidade.

A reflexão por si só já é uma forma de buscar soluções para corrigir as desigualdades e melhorar a justiça social, todos  desejamos isso. A diferença entre os ditos liberais e os contrários é a forma de chegar ao resultado final.

Uma lógica do capitalismo é que o cidadão consumidor tenha qualidade de vida e consumo, crescentes. Tendo este movimento cessado, o próprio capitalismo incorre em riscos.

Vale frisar que hoje os grandes bilionários  do mundo são os maiores mecenas e benfeitores, com ajuda a muitos países e organizações humanitárias, fazendo muito mais que muitos governos bem intencionados. Isso é prova da consciência que impera em nosso momento atual.

A marca hoje que corrobora esta situação da mudança e consciência é a seguinte na minha visão, todo projeto deve sempre ser:

1.       Socialmente responsável

2.       Ambientalmente sustentável

3.       Economicamente viável.

Se conseguirmos atingir esta lógica o mundo seguirá seu curso e sempre reparando as injustiças que são inerentes ao próprio ser humano, mas precisam ser combatidas e amenizadas.