O ATO DE SER PROFESSOR

Agrário Antonio Marcelino Conrado

Bárbara Pontes de Assis

Lourivan Batista de Sousa

Sivirino Ramos da Silva Filho

RESUMO

Esse artigo tem por objetivo ajudar a refletir sobre o "eu" educador através dos tempos, diante de toda essa distonia educacional, procurando enfocar a profissionalização docente.

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Profissional da educação. Professor. Valorização docente.

1. INTRODUÇÃO

Há alguns anos, pensava-se que o professor com graduação já estava pronto para exercer plenamente a sua tarefa de docente. Iria ele "passar" os conteúdos que aprendeu na sua formação de licenciatura. No entanto com as mudanças ocorridas a partir do processo da globalização, surge a complexidade da prática de ensino, e acompanhado desse fato, os aperfeiçoamentos exigidos para integração no processo da nova ordem mundial.

O ensino-aprendizagem exige mais conhecimentos além do conteudismo. Requer maior participação humana e emocional entre o professor-aluno. O conhecimento, não só teórico específico, mas de forma contextual, deve ser a essência viva do professor. A formação e o aprendizado são infinitos, ninguém nasce pronto e nunca se está pronto. Na sala, com seus alunos, ou através de programas oficiais de aperfeiçoamento o professor é um eterno aprendiz, um analisador e formador de novas idéias, bem como construtor de cidadãos.

2. A PRÁTICA PEDAGÓGICA COM O AVANÇO DA TECNOLOGIA

É fato que não somente a prática pedagógica aperfeiçoa a formação do conhecimento, mas precisa, necessariamente, do acompanhamento da ciência educacional, das novas formas de pensar e de agir, dos auxílios correlacionados e correlatos afins. A pessoalidade do docente é importante, pois depende dele a busca por novos saberes, novos conhecimentos, novas práticas e consequentemente um melhor aperfeiçoamento profissional, que deve ser contínuo e incessante, pois bem sabemos que o processo ensino-aprendizagem é dinâmico e insistente, a educabilidade é o elemento ativo do contexto, o educador se alia aos seus conhecimentos, mantendo sempre a esperança que vai alcançar seus objetivos de formar o cidadão solidário, tolerante, ético, participativo, crítico e capaz de ser sensível ao abstrato da natureza e da arte, co-entender a política e usar a tecnologia, perpetuando as boas relações, sobretudo familiares, segundo Romanowski (2007).

Já não estamos mais numa época em que o ato de lecionar era mais prazeroso do que o retorno financeiro, em que a afetividade era a mola propulsora do elo na relação professor-aluno. Até mesmo a prática da teoria da escola tradicional não era empecilho para um aprendizado efetivo por parte de todos. É bem verdade que havia problemas, mesmo porque o sistema educacional já nasceu com as suas deficiências e suas imposições e restrições da sociedade.

Hoje com o advento revolucionário científico pós 2ª Guerra Mundial, a globalização tecnológica se tornou fato marcante na sociedade, apresentando novos contextos históricos e culturais, desafiando todos para o enfrentamento de outra realidade escolar, e nesse contexto está inclusa, de uma forma ativa, a classe docente, principalmente como instrumento de tal mudança, sendo um facilitador veicular da tecnologia, agora o professor deve conhecer e se preparar para o uso e o repasse dessa tecnologia, sem esquecer o lado humanitário que é o grande enfoque do educador.

3. O "SER" PROFESSOR

Houve um tempo em que ser professor era uma escolha, um ofício honroso, ainda o é, mas que tinha charme e prestígio na sociedade. Hoje, o que é perceptível é a falta de interesse pela profissão de educador. Muitos profissionais da educação, dessa nova geração, buscam o labor do ensino por falta de opção, esse contexto é evidente nas expressões, no convívio do dia a dia, de professores do ensino público, bem como no ensino particular, só que em menor proporção, já que existem melhores condições de trabalho, não tanto, mas o suficiente para haver uma diferenciação. É claro que esse também é o retrato na região do Vale do São Francisco, abrangendo as cidades de Petrolina-PE e Juazeiro-BA.

A escolha de ser professor é mais do que uma profissão, ela é uma aceitação ao longo da vida, muitas vezes passa pelas dificuldades do aprender, no qual o educador deseja transmitir e "devolver" aquilo que lhe foi apresentado, todas as maravilhas do saber ler, escrever, interpretar e construir os saberes sociais, políticos e educacionais. Assim foi o querer ser o docente de hoje, que no começo foi usando dos conhecimentos técnicos para labutar no ensino-aprendizagem, através de uma formação diferente da licenciatura, e no transcorrer do tempo, até mesmo pela criação das novas diretrizes do ensino nacional, fez-se necessário a busca pela formação em nível de licenciatura, dando início ao processo de aprendizagem contínua.

3.1. DESÂNIMO PROVOCADO?

É notável perceber educadores, que após longos anos dedicados à vida docente, desestimulados e sem ânimo, apresentando sinais de desistência, inclusive, abandonando o labor educacional em busca de um descanso para a mente, que vive sobrecarregada pela angustia de superar as expectativas dos alunos, da sociedade, do governo, e tudo isso com poucas, em muitos casos, sem nenhuma condição de trabalho, piorando com uma crescente desvalorização profissional acentuada nos últimos anos. A ascensão da Educação à Distância (EaD), onde muitos professores se sentiram "eliminados" de vagas que deveriam ser criadas e pela supressão de parte de trabalhos, apesar do aumento da oferta de educação formal no Brasil, pode ter contribuído com isso.

Com a EaD basta apenas um professor titular, que faz o papel de transmissor do conhecimento, e um tutor de sala, como orientador, para atingir grande número de alunos, isso faz, de certa forma, que os profissionais educadores se sintam ameaçados em suas salas de aulas. Esse quadro é mais grave do que parece, pois a grande maioria desses educadores acaba desistindo de lutar por melhorias das suas condições de trabalho, por causa do temor pairante no ar, que deixa uma dúvida irraigada na mente de todos, se isso tudo não é uma situação provocada pelo sistema educacional.

3.2. O OUTRO LADO DA MOEDA

Um caso de valorização do docente, através de melhoria salarial, vale ressaltar que esse não deve ser a mola propulsora para a melhoria da Educação, é o adotado pelo próprio Estado da Bahia, que apesar de haver uma enorme disparidade educacional em seu sistema de ensino, vem adotando uma medida de incentivo salarial através dos chamados "avanços horizontais", onde os professores buscam desenvolvimentos profissionalizantes na área de educação, e recebem, com isso, uma porcentagem de bonificação em seu salário, o que de certa forma é uma ação bastante interessante, pois atende, a uma boa parcela, das partes envolvidas, de um lado o Estado tem um docente mais capacitado profissionalmente, do outro o professor tem um acréscimo no seu contra-cheque, como uma espécie de promoção e valorização profissional.

Entretanto, ainda é bastante evidente a resistência por grande parte dos profissionais da educação, que preferem ficar na inércia, com seus míseros salários, participando no anonimato das discussões por melhores condições de trabalho para a classe do que "encarar" uma sala de aula em busca da profissionalização e do desenvolvimento pessoal. Essa questão merece um destaque crítico-reflexivo, pois como explicar a angustia desses profissionais educadores, em querer o aluno na sala de aula, já que é alto o número de evadidos no ensino público, se esses mesmos educadores não estão dispostos a enfrentar o ambiente escolar como aprendizes ativos.

A Educação, com certeza, estará caminhando numa direção para a superação dos desafios impostos pelas mudanças dos contextos históricos e culturais da sociedade, quando houver uma maior conscientização de todo o sistema educacional. É claro que não será o professor o grande responsável pelo sucesso e o insucesso do ensino como um todo. Nessa qualidade que a educação deve alcançar, cada parte envolvida deve fazer a sua etapa com efetividade e afetividade, porém a figura que merece maior atenção no cenário atual é o profissional docente, pois o mesmo está sendo responsabilizado pela falência de um sistema, que já nasceu falido e que não dá o apoio devido ao educador.

3.3. DIFERENÇAS NO MESMO PLANO PEDAGÓGICO

Relato de professores do ensino estadual da Bahia é de que, eles, os professores, solicitam determinados livros didáticos, por escolha, inclusive esses materiais solicitados são divulgados pelo próprio Estado, e que quando recebem os livros didáticos, esses são totalmente diferentes e com conteúdos fora da realidade do contexto da sala de aula. Outra grande dificuldade encontrada é quando os educadores lecionam em mais de uma Instituição de Ensino, do próprio Estado, onde uma turma trabalha com determinado conteúdo, turmas de mesmo ano escolar, e outras não, além de turmas que por diferenças regionais, urbana e rural, não conseguem assimilar os mesmos conteúdos pedagógicos.

4. UMA POSSIBILIDADE REFLEXIVA

Podemos buscar meios de melhorar a educação, mas isso, primeiramente, deve passar pela melhoria das condições de trabalho do profissional educador. Sabe-se que existem esforços para que isso seja possibilitado aos mestres do ensino escolar, porém com pouca efetividade. Não que as soluções sejam insuficientes, mas pelo fato de sua implementação ser bastante complexa diante da situação educacional atual.

Por mais paradoxo que seja, diminuir a carga horária anual letiva se torna uma boa alternativa para melhorar o ensino-aprendizagem e as condições de trabalho, inclusive, permitindo um tempo maior para que o professor use-o para o seu aperfeiçoamento e sua capacitação adequada, para que seja permitida, pelo menos uma semana, em dias consecutivos, dentro de cada semestre, para que novos conhecimentos sejam adquiridos, bem como tempo, espaço e apoio para colocar em prática as novas técnicas, testando-as, sempre identificando a precariedade dessa nova práxis educacional, sem a pressão imposta pelo sistema educacional para que haja um resultado expressivo e efetivo, que muitas vezes coloca o foco da responsabilidade dos problemas da educação na figura do professor. A redução da carga horária letiva pode ser compensada com o aumento de anos dos alunos na escola, aproximando assim a realidade de países desenvolvidos.

Um fato importante para ser ressaltado é de que o ensinotradicional, ainda é bastante utilizado como forma de teoria da aprendizagem, e essa teoria é aplicada nos mais distintos lugares e regiões brasileira. O grande número de docentes leigos, sem formação adequada, também merece destaque, reforçando esse enfoque no ensino conteudista, onde o giz, o quadro negro e o conhecimento adquirido em sala de aula, ainda são as únicas ferramentas dos professores, principalmente no Norte e Nordeste do Brasil. Por isso, a maior importância quanto à formação continuada, que apesar de fundamental, ainda não é alcançada por todos, precisa ser vista como meta possível, sendo necessário a mobilização do sistema político, através de políticas educacionais que contemplem todos os educadores, de forma uníssona, com programas de melhorias e desenvolvimento profissional. Porém, vale lembrar que medidas estão sendo tomadas e que o Governo assumiu um compromisso em que, até 2015, irá nivelar essa disparidade no ensino brasileiro. Enquanto isso não for uma realidade, cada docente deve buscar os meios de se capacitar, sempre escolhendo aquilo que está em planejamento no seu projeto de desenvolvimento profissional.

5. A CONTINUIDADE DO APRENDER NO CONTEXTO EDUCACIONAL

A integração dos novos saberes continuados, aliados aos conhecimentos específicos da ciência educacional, é sumariamente importante para a eficiência do aprendizado. Com novos conhecimentos e recursos tecnológicos bem aplicados, o público alvo, os educandos, será mais beneficiado e o ato de aprender será mais eficiente num menor período.

O uso da informática, nos tempos atuais, é peça chave para o aprendizado geral. O professor deve fazer uso efetivo dessa importante ferramenta, como metodologia de ensino-aprendizagem, sempre direcionando o educando para o bom uso da mídia. Porém, é importante que o professorestimule o uso da informática como forma de aprendizagem dos conteúdos específicos, no uso de textos, gravuras, áudio para a diversificação dos conteúdos. Segundo Skinner (2006) em sua teoria Behaviorista:

O condicionamentoleva ao aprendizado, ainda mais, se for estimulado positivamente, tendo sempre em mente que o reforço com outras ferramentas do modo de aprender devem ser utilizada, de modo que uma auxilie a outra no objetivo final: o aprender.

Com as mudanças ocorridas nas últimas décadas, fica claro que a exigência de aperfeiçoamento, principalmente, na área docente, faz-se obrigatória e necessária. Os novos recursos e ferramentas exigem do professor aproximação, compreensão e uso adequado e dominante.

Os avanços tecnológicos, a construção de um novo saber, a escola e o aluno são adimensionais no processo de globalização. A construção da nova sociedade depende da interação e do uso da capacidadeinterior de cada indivíduo, as experiências devem ser realizadas e agilizadas para uma melhoria na qualidade educacional como um todo. Mesmo porque o docente precisa reafirmar sua posição como direcionador do ato de ensinar, ele é o professor, a ferramenta e o recurso. O docente tem que se mostrar preciso e necessário no processo educacional, ele deve ter especificidade, cientificidade, tem que dominar os conhecimentos pedagógicos com seguridade e autonomia.

O interacionismo se afina com a nova tecnologia do momento globalizado, o cidadão moderno deve ser educado para o momento tecnocientífico que vivemos, além de ser sensível à natureza, ao social e entender o momento político e econômico, de forma crítica-reflexiva. Portanto, o professor, nesse momento, passa a ser um mediador da transição do processo mundializado, relativo ao contexto histórico, político, social e econômico do aluno e da sociedade.

Observando a evolução do profissional da educação, no seu ofício de ensinar, é notável que, mesmo com as adversidades, houve avanço na profissionalização, e em relação à ciência dos saberes, elas existem, estão em pleno processo de difusão no mundo desenvolvido, embora em países como o Brasil, ainda seja lento, principalmente, pelas gestões governamentais em relação aos recursos aplicados às novas técnicas e teorias do conhecimento na educação formal. Tem que haver um incentivo, seja ele por parte do governo ou pelas Instituições de Ensino Superior (IES), para que haja a implementação da pesquisa científica, como um item fundamental para a formação docente e profissional do educador.

6. CONCLUSÃO

É importante observarmos a ampliação da oferta da educação formal como um todo, e no sentido contrário desse crescimento está a valorização perceptível dos professores, mesmo que tenha havido um grande crescimento de docentes no mercado de trabalho, inclusive com formação de licenciatura, como determinam as diretrizes da educação. Esse contexto de crescimento, na oferta e expansão do ensino educacional no Brasil, não quer dizer que houve uma melhora significativa no ensino em geral, bem como de professores mais preparados para superar os novos desafios da educação.

Faz-se necessário que a autonomia outorgada aos professores explicita na Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96 seja aplicada pelas Instituições de Ensinos (IE) que mantêm o controle sobre as ações educacionais construídas e desenvolvidas pelos docentes, que em muitos casos não são convidados a participar desse momento de elaboração, mas apenas servindo de meros executantes do planejamento.

Cabe ao sistema educacional buscar e propiciar melhorias para as condições de trabalho, sem, no entanto, tirar a responsabilidade do professor de estar aberto e apto para o novo, para o autodesenvolvimento, para as metodologias de ensino, que venham a ajudar na superação dos desafios.

O contexto educacional exige que o professor busque capacitação profissional para que tenha maior aptidão para superar os desafios impostos pelo momento histórico e cultural ao sistema educacional. E esse novo cenário provoca o educador a sair da inércia da sala de aula para ir à busca do autodesenvolvimento profissional, bem como do autoconhecimento. Estando o educador fora dessa perspectiva, com certeza ele estará defasado para a nova concepção de ensino-aprendizagem.


7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIA, Ana Cristina de; CUNHA, Ivan da; FELIPE, Yone Xavier. Manual prático para elaboração de monografias. Trabalhos de conclusão de curso, dissertação e teses. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas da aprendizagem. 2ª ed. Ver. e atual. Curitiba: Ibpex, 2008.

MELO, Alessandro de; URBANETZ, Sandra Terezinha. Organização e estratégias pedagógicas. Curitiba: Ibpex, 2009.

ROMANOWVSK, Joana Paulin. Formação e profissionalização docente. 3ª ed. rev. e atual. Curitiba: Ibpex, 2007.

SANTOS, Gisele do Rocio Cordeiro Mugnol; MOLINA, Nilcemara Leal; DIAS, Vanda Fattori. Orientações e dicas práticas para trabalhos acadêmicos. Curitiba: Ibpex, 2007.

SKINNER, Burrhus Frederic. Sobre o Behaviorismo. 11ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.