MODELAGEM E TICs: UMA PARCERIA LITERALMENTE ANIMADA

Luciana Apolonio Rodrigues Carneiro1

Resumo
Este artigo tem o objetivo de mostrar uma das possibilidades pedagógicas das Tecnologias da Informação e Comunicação, as TICs, aqui utilizada como ferramenta para confecção do produto final do Projeto Didático Lendo Quadrinhos: a animação de modelagem. O objetivo desse projeto foi ler sem dominar a leitura convencional, uma vez que um dos desafios da escola é despertar e incentivar o gosto pela leitura. Para promover esse desafio, as histórias em quadrinhos, consideradas por estudiosos como um gênero facilitador em virtude de suas características visuais, foi o pivô de todo o repertório literário e motivo inspirador para a confecção do processo de animação em parceria majoritária das TICs.
Palavras chave: Tecnologia. História em Quadrinhos. Modelagem.

Introdução
Segundo dados estatísticos, o Brasil ocupou o 53º no ranking do exame feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) que avaliou em 2009 o conhecimento de 470 mil estudantes em leitura, ciências e matemática de 65 países. Leitura foi a área que teve maior ênfase, e os resultados confirmaram o que as avaliações internas indicam: o desempenho dos alunos da rede pública é inferior ao de estudantes de instituições privadas.

Esses resultados preocupam a escola pública que tem buscado nos últimos anos melhorias em suas condições, desde a formação continuada à aquisição de livros de boa qualidade.
Projetos Didáticos que focalizam a leitura também é uma prática incentivada e freqüente, bem como a implantação da Informática Educacional na rede pública, em que os professores assumem uma função importante diante deste fato: a promoção.
Aliar as experiências de leitura em ambientes diferenciados (impresso e virtual) permite aos alunos uma situação convidativa à adoção de hábito e/ou gosto pela leitura. As Histórias em Quadrinhos (HQs), consagrada com facilidade pelo público estudantil, permite parcerias com as TICs em diversas situações pedagógicas. Entre as inúmeras opções existentes do mercado, a Turma da Mônica, personagens criados por Mauricio de Sousa que se caracterizam na idade pré-escolar, configuram-se na escola como um instrumento educativo, que mediado por ações teóricas e práticas e unido aos aspectos ambientais, éticos, morais, corporais, musicais, culturais em especial o literário, tornam-se um importante meio de disseminação de leitura.
A Tecnologia, que hoje proporciona experiências variadas no campo educacional, não pode ser ignorada, afinal está presente nas situações mais minuciosas possíveis, desde as tarefas administrativas ao ensino à distância, e aqui neste trabalho, se tornou a principal aliada na confecção do produto final do Projeto Didático Lendo Quadrinhos: animação em modelagem.

Desenvolvimento

O Parâmetro Curricular Nacional (PCN) de Língua Portuguesa afirma que a leitura é a porta de entrada para o acesso ao conhecimento: "Uma prática intensa de leitura na escola é, sobretudo, necessária, porque ler ensina a ler e a escrever." (p. 65)
A concepção do PCN de Língua Portuguesa, recorre a inúmeros gêneros textuais, mas o uso das Histórias em Quadrinhos, abreviadas por HQs, é considerada por estudiosos como um dos elementos facilitadores para aquisição no gosto pela leitura, pois além da popularidade tem a forte presença da imagem - fator convidativo para o leitor, em especial, a criança.
Calazans destaca a utilidade das Histórias em Quadrinhos (HQs) para a prática de leitura em sala de aula.
Segundo um artigo de Serpa e Alencar sobre HQ em sala de aula, publicado em 1988 na revista Nova Escola, ficou confirmado, após uma pesquisa sobre hábitos de leitura dos alunos, que 100% deles (ou seja, todos os alunos) gostavam mais de ler quadrinhos do que qualquer outro tipo de publicação. Essa pesquisa confirmou o que todo professor conhece na prática em sala de aula: as HQs seduzem os leitores, proporcionando uma leitura prazeirosa e espontânea. (CALAZANS, 2004, p. 10)

Também elege as HQs como um apoio ao ensino: "As HQs podem ser utilizadas em todos os níveis de aprendizado, desde a alfabetização até o ensino universitário." (p. 10).
O contato freqüente com HQs pode estabelecer e ou despertar o gosto pela leitura, o que eventualmente venha se transferir para outros impressos ou gêneros.
Ele também destaca que as HQs são uma espécie de ponte entre as áreas de conhecimento: "As HQs unem as Artes Plásticas e Literatura." (p. 11)
Para alimentar essa união (HQs e Arte), as Tecnologias da Informação e Comunicação, conhecidas como TICs, agregam no seu universo tecnológico e virtual materiais diversos, desde a projeção (DVD e sites) à criação (programas, aplicativos e ferramentas).

A dinâmica oferecida pela Tecnologia provoca e contagia seu público, principalmente as crianças, que tem a necessidade de serem primeiramente atraídas pelo texto através de ilustrações e/ou sonoridades. O fato da existência das "n" possibilidades no mundo das TICs faz com que elas sejam sinônimas de apoio e ferramentas educacionais para o dinamismo no preparo de aulas e de trabalhos pedagógicos para qualquer docente.
Silva destaca essa relação Escola e Tecnologia.
Se a escola não inclui a Internet na Educação das novas gerações, ela está na contramão da história, alheia ao espírito do tempo e, criminosamente, produzindo a exclusão social ou exclusão da cibercultura. Quando o professor convida o aprendiz a um site, ele não apenas lança mão da nova mídia para potencializar a aprendizagem de um conteúdo curricular, mas contribui pedagogicamente para a inclusão desse aprendiz na cibercultura.
Frente a essas fundamentações teóricas e às observações de campo, o trabalho sistematizado aqui aglutina os benefícios das HQs, a ludicidade de um instrumento pedagógico comum nas escolas, as massas de modelar, e as TICs. Dentre as muitas situações pedagógicas contempladas, destaco em especial:
1. Contação de histórias, tendo como exclusividade as histórias em quadrinhos da Turma da Mônica;
2. Acesso as produções em mídia DVD da Coleção Cine-gibi Turma da Mônica;
3. Manipulação dos portadores de texto de histórias em quadrinhos (tiras e gibis) em ambientes virtuais e impresso;
4. Averiguação de preferências dos personagens da Turma da Mônica;
5. Planejamento e execução de modelagem;
6. Produção oral de textos escritos de gêneros diversos, adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação;
7. Confecção da animação em modelagem.
Essas ações foram permeadas a fim de repertoriar o 1º ano "A" para a criação de uma animação em modelagem, em que a narrativa seria de autoria do grupo de alunos. A prática freqüente da leitura fortaleceu a familiarização com o gênero, despertando nos alunos a curiosidade para os elementos visuais que as histórias em quadrinhos (HQs) fornecem, tais como os sons onomatopaicos e a variedade de balões que aparecem nas formas impressas e virtuais. Respectivamente friso o encantamento dos alunos frente as HQs no ambiente virtual.
Segundo Moran, a relação entre internet e alunos tem como palavra de ordem a motivação.
A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta, se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade entre os alunos.
Também endossa a função do professor nesse processo como um coordenador.
O professor é coordenador desse processo, o responsável na sala de aula. Sua primeira função é sensibilizar os alunos, motivá-los para a importância da matéria, mostrando entusiasmo, ligação da matéria com os interesses dos alunos, com a totalidade da habilitação escolhida.
As características dos personagens da Turma da Monica também foram um dos pontos em destaque. Características físicas, condutas comportamentais e a opção do modo de vida, trouxeram identidade ao próprio grupo de alunos do 1º ano "A", servindo de base para discussões e entendimento. Esse grupo de alunos, denominado também de Turma do Tesouro, era composto por 31 crianças com faixa etária de seis a sete anos e, com características físicas e conduta comportamental diversificadas, como qualquer outro grupo, mas com dois alunos que tinham suas instalações domiciliares no campo - visto que a escola se encontra num bairro urbanizado na cidade de Bauru.
Calazans evidencia a aproximação que as HQs faz em relação aos conteúdos didáticos e a realidade. Como pressuposto de trabalho pedagógico, sugere atividades com foco na linguagem em referência a um dos personagens: "Os alunos geralmente se identificam com os problemas do Chico Bento, o que os atrai e acaba por gerar uma empatia pelo ensino de Português. " (p. 16)
A preocupação em atingir o proposto principal do Projeto Didático Lendo Quadrinhos, que foi ler sem dominar a leitura convencional, tomou espaço de forma gradativa, uma vez que a clientela não valorizava tanto a leitura de textos não verbais como mais uma forma de leitura. A fala de uma aluna transmite nitidamente esse fato: "Professora eu não sei ler essas letras. Pode ver os desenhos da história? "
A reunião de pais foi um momento de esclarecimento sobre o propósito pedagógico do trabalho em desenvolvimento, pois através da Tecnologia (TICs) foi apresentado registros em vídeo feito durante as rodas de leitura em que a criança demonstrava apreço pelo portador de texto (HQs), e realizava a leitura de imagem da narrativa, de forma coerente aos dados registrados de forma escrita. Esse momento possibilitou maior entendimento aos pais e responsáveis. Durante as exibições, o maior enfoque foi no que o grupo de alunos já havia conquistado em competência leitora, até então despercebidas pelos seus familiares, tais como: a organização da seqüência dos quadrinhos e o significado dos balões seguido às entonações de falas: "Aí ele pensou vou fazer um plano ...", "A Mônica gritou." e " Nhoc, nhoc. Que delícia! " .
Da mesma forma que a Tecnologia permitiu apresentar esses momentos pedagógicos, ela pôde também proporcionar uma Sessão de Cinema com o produto final desse projeto: Cinegibi na versão do 1º ano "A" ? O Piquenique.
A descrição de ações abaixo, se refere de forma detalhada a todos os preparativos para a confecção da animação em modelagem.
1 - Tendo em mãos a produção coletiva da narrativa e os bonecos modelados já selecionados pelo grupo, aconteceu um ensaio de como seria representada as cenas.
2- Após o ensaio, foi posicionada de forma fixa a câmera digital fotográfica Sony Cyber-shot 7.2 MP em local definido, considerando a luminosidade do espaço.
3- Para que todos os alunos participassem dessa atividade, as tarefas foram dividas: narrador, manipuladores dos personagens e fotógrafo(a).
Para cada cena da narrativa foi endossado que a imobilidade da câmera fotográfica era fundamental, pois caso contrário não aconteceria a animação. A princípio foi de difícil compreensão esse pedido, pois os alunos entenderam efetivamente o recado quando foi mostrado rapidamente a sequência de fotos.
O próximo passo foi a preparação do áudio, no qual foi usado o programa Audacity, editor de áudio digital livre e gratuito. Há a versão 1.3.6 (beta), cujo ainda é um trabalho em progresso que não contém documentação ou traduções completas. Ela é recomendada apenas para usuários avançados do sistema. Recomenda-se a utilização da versão 1.2.6, que é a versão estável, completa e documentada deste programa, disponível tanto para o sistema operacional Mac OS X, quanto para o Windows e o Linux/Unix.
Para a gravação do áudio foi feita uma triagem disputada entre os alunos, que eufóricos queriam fazer a imitação dos personagens. Oportunizar a simulação foi uma das condutas em sala de aula, para assim, o grupo escolher aqueles que julgavam o melhor.
A qualidade no áudio foi um detalhe considerado. Para se fazer uma gravação sem interrupções e sem ruídos internos e externos, o áudio original da animação foi feito em uma sala de aula distante das movimentações escolares, onde o pré-requisito era apenas a presença dos alunos encarregados nessa tarefa. Notou-se que esses alunos ficaram preocupados em ter uma conduta oral mais próxima do real. Renan, imitador do personagem Cebolinha, fez e refez várias vezes algumas das suas falas, pois demonstrava muita vontade em trocar as letras, o que eventualmente no processo de gravação não acontecia.
A edição da gravação com os alunos foi à próxima etapa. Foram usadas as ferramentas de espaçamento, de corte, emendas de falas e também a inclusão de sons onomatopaicos. Esses efeitos sonoros estão disponíveis no ambiente virtual, sendo fornecidos com facilidade em sites de busca. Com a edição do áudio pronta, houve a necessidade de conversão do arquivo de áudio em .wmv ou .mp3, feito no programa Audacity.
Finalizado esse processo de fotografia das cenas e preparação do áudio, na qual a participação dos alunos foi enriquecedora, o trabalho de organização desses elementos foi feito no aplicativo Windows Movie Maker 14.0, que permite inserir seqüência das fotos, aqui denominadas de cenas, com um intervalo mínimo (dois segundos) entre os slides, pois o movimento dos personagens modelados é derivado dessa transição de slides. O registro em fotos de cada movimento dos personagens contribui para eficácia na animação, ou seja, no momento do registro em fotografia das cenas, faz se necessário fazer uma lenta e detalhada manipulação dos bonecos.
Após seqüenciar as cenas fotografadas, a etapa seguinte passa ser a aglutinação do áudio ? ação também permitida no Windows Movie Maker 14.0. E para concluir todo o processo da animação, a opção salvar em vídeo torna o projeto publicado em vídeo.
A estreia da animação em modelagem foi feita na Reunião de Pais, na qual houve a parceria inevitável das TICs. Também foi proposto a apresentação de todas as ações do Projeto Lendo Quadrinhos e o seu produto final que extraiu aplausos e elogios dos pais e o "Bis" do grupo de alunos participantes.

Conclusão

Indiscutivelmente a Tecnologia é uma ferramenta presente e importante para enobrecer as atividades do universo escolar. Seus variados elementos dinamizam as aulas e enriquecem o trabalho dos docentes, em virtude do baixo custo e aparência.
Percebeu-se após análise do projeto que o interesse dos alunos pela leitura de gibis e tirinhas pôde ser despertado e fortalecido através de ações usuais, mas que o uso das HQs no ambiente virtual também foi benéfico por fascinar seus leitores com a tamanha diversidade agregada a seus elementos visuais, afinal, esse ambiente onde as HQs estão inseridas promove uma agradável visão e sensação para o leitor.
No processo de animação da modelagem, os alunos demonstraram interesse pelas HQs, e durante as etapas de produção do Cinegibi o grupo manifestou muita satisfação e ansiedade para a visualização do produto final, que foi apresentado na forma de uma sessão de cinema, acompanhado de pipoca e refrigerante, em que mais uma vez a Tecnologia foi essencial.
No entanto, vale ressaltar que com as situações de leitura oportunizadas obtiveram-se excelentes resultados, como o aumento do interesse pelos gibis no cantinho da leitura localizado em sala de aula e a aquisição freqüente de gibis em sebos, supermercados e bancas de revista feita pelos pais a pedido de seus filhos, conforme depoimentos durante a avaliação do Projeto Didático Lendo Quadrinhos.
Como mais uma forma de divulgação dessa experiência de sucesso, foi disponibilizado virtualmente no Youtube http://www.youtube.com/watch?v=WT_Z6yJoThs e sites de relacionamento (Orkut) o produto final desse projeto didático, o vídeo Cinegibi, na versão do 1º ano "A" ? O Piquenique, sendo assim mais um canal de comunicação e expressão dos alunos, seus familiares e comunidade local sobre os benefícios e experiências com a leitura, modelagem e as TICs.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. Brasília, MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a distância. Integração das Tecnologias na Educação. Brasília, 2005.

CALAZANS, Flavio. História em quadrinhos na escola. São Paulo: Paulus, 2004.

MORAN, José M. Como utilizar a Internet na Educação. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0100-19651997000200006.Acesso em 4 abr 2011.