ANTONIO DOMINGOS ARAÚJO CUNHA

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DO PARANÁ

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO URBANA – PPGTU/2004

RESUMO: MAX WEBER

DISCIPLINA: PARTICIPAÇÃO CIDADÃ E CITADINA

 

01.    RESUMO

Coloca-se em tela alguns comentários e notas relevantes sobre a vida e pensamento de Max Weber, tendo como referência a obra de Maria Lígia de Oliveira Barbosa e Tania Quintaneiro, “Um toque de clássicos”, que em seu Capítulo III inclui a notável contribuição desta figura humana notória no contexto da história da humanidade, em termos de concepção de seu pensamento e estrutura racional do mesmo, conservando a estrutura de tópicos levantados pelas autoras nos itens seguintes.

 

1.1.  A objetividade do conhecimento

Para Weber, a compreensão do fenômeno social pressupunha a recuperação do sentido (p. 108), sempre arraigado temporalmente e adstrito a um relativismo e a um ponto de vista, qual seja, perspectivismo. Projetava seu pensamento nas dimensões histórica, econômica, ideológica e sociológica. Influenciado pelo pensamento de Nietzche (1844-1900),  segundo o qual a vontade do poder, expressa na luta entre valores antagônicos, é que torna a realidade social, política e econômica compreensível. Para ele, torna-se necessário distinguir entre o pensamento de valor e o saber empírico. O cientista não deve dizer o que deve ser feito, mas o que pode ser feito. A sustentação das hipóteses constitui ponto importante de seu pensamento, reforçando a idéia de que as ciências sociais visam a compreensão de eventos culturais enquanto singularidades. Mas o fato significativo em sua especificidade nunca estará livre de pressupostos porque ele próprio foi escolhido em função de valores. Em sua concepção, os fenômenos individuais são um conjunto infinito e caótico de elementos cuja ordenação é realizada a partir da significação que representam e por meio de imputação causal que lhe é feita de maneira que: ª O conhecimento de leis sociais não é um conhecimento do socialmente real, mas unicamente um dos diversos meios auxiliares que o nosso pensamento utiliza para esse efeito e b. porque nenhum conhecimento dos acontecimentos culturais poderá ser concebido senão com base na significação que a realidade da vida, sempre configurada de modo individual, possui para nós em determinadas relações singulares (p. 111). Tem-se que a visãodo cientista não pode ater-se a meras suposições, mas ao contrário, sempre a vista a confirmação de hipóteses, cientificamente submetidas a condições de controle, não obstante a probabilidade estatística esteja na linha das expectativas das ciências sociais. Ou seja, pode-se conhecer o rumo dos fatos em processos distintos (p. 112).Para Weber, faz-se necessário e indispensável ... “ã clara compreensão do objeto de investigação”do que entende  inicialmente como o espírito do capitalismo( p. 113).

 

1.2.  Os tipos ideais

As ciências sociais funcionam como uma ferramenta para compreendermos a realidade que nos cerca, visto que procura entender uma individualidade sociocultural formada de componentes historicamente agrupados, nem sempre quantificáveis, a cujo passado se remonta para explicar o presente, partindo deste ponto para avaliar perspectivas futuras(p. 112). Para tanto é necessário observarmos o quão significativa parecem ser e de que forma são adequadas as ações compreensíveis que constituem-se em objeto da Sociologia. Quanto a elaboração de um instrumento que oriente o cientista social em sua busca de conexões causais é muito valiosa do ponto de vista heurístico, constituindo-se este modelo de interpretação-investigação, um tipo ideal para tal intuito. Porém, suas possibilidades de limites devem ser: 1. Unilateralidade, 2. À racionalidade, 3. Caráter utópico, partindo-se de uma escolha para o tipo ideal, sendo por exemplo possível, construir padrões ideais ou tipos urbanos. Weber parte da obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo” que lhe serve como guia de investigação empírica (p. 113). Weber destaca a necessidade de não deixar a ação humana tão a mercê dos sentimentos mais que siga o rumo de uma linhas de planejamento adequado à situação. Visa-se a compreensão de determinado fato ou fenômeno nos limites da racionalidade e irracionalidade.

 

1.3.  Os conceitos fundamentais de Sociologia Weberiana

Conforme Weber, a Sociologia está intimamente relacionada na forma dos usos e costumes ou situações de interesse. Segundo ele a explicação sociológica busca compreender e interpretar o sentido, o desenvolvimento e os efeitos da conduta de um ou mais indivíduos referida a outro ou outros (p. 114). 

 

1.4.  Os tipos puros de ação e de ação social

Considera-se para todos os efeitos, que a conduta será racional em relação à valores quando o agente orientar-se por fins últimos, por princípios, agindo de acordo com ou a serviço de suas próprias convicções e levando em conta somente a sua fidelidade a tais valores, estes, sim, inspiradores de sua conduta, ou na legitimidade de alguns comportamentos, como ser honesto, casto, etc... (p. 116). ). Entende-se que o sujeito age de forma afetiva, quando se deixa levar por ações tais como inveja, medo, raiva, entusiasmo, compaixão, vingança, gosto estético, vontade de alimentar-se etc... A ação pode ser  classificada em a) ação homogênea considerada aquela executada por muitas pessoas simultaneamente, como proteger-se contra uma calamidade natural – ex. empresários aumentam o preço de um produto porque há uma notícia do governo de que será elevado no mercado: e também a ação b) uma ação condicionada pelo comportamento de outro – multidão – imprensa, opinião pública, etc... (p. 118).

 

1.5.  Relação social

A denominação ao que Weber denomina relação social, corresponde a uma conduta plural de vários reciprocamente orientada, dotada de conteúdos significativos que descansam na probabilidade de que se agirá socialmente de um certo modo, constitui o que Weber denomina relação social (p. 118). Um bom exemplo é o sentimento de amor, que pode muitas vezes não ser correspondido, mas pode ser notado através de atitudes típicas e características. No entanto, as vezes embora ambos entendam o sentido de que se predispõem a uma relação, muitas vezes não se entregam a ela (p. 119) Para Weber, o que é chamado de instituição ou do que se chama personalidades coletivas, tais como formações sociais como o Estado, cooperativas, sociedades anônimas, não são outra coisa que desenvolvimentos e entrelaçamentos de ações específicas de pessoas individuais, já que apenas elas podem ser sujeitos de uma ação orientada pelo seu sentido (p. 120). O que se estabelece, é que num piso médio de atitudes aceitas em sociedade, uma ação que seja contra esta normalidade, ou validade ou legitimidade de uma ação, facilmente cai por terra. Ou seja, uma conduta discordante daquela adotada. Daí se tem que a primeira ordem é convenção e a segunda direito (p. 121). 

 

1.6.  Divisão do poder na comunidade: Classes, estamentos e partidos.

A concepção de sociedade construída por Weber implica numa separação de esferas – como econômica, religiosa, política, jurídica e social e a cultural – sendo que cada uma delas possui uma lógica particular de ser (p. 122). Coloca-se a força pela qual a honra social é distribuída dentro de uma comunidade. Nada impede como explicam as autoras, de que nesta perspectiva os homens guiem-se  pelas perspectivas jurídicas ou de mercado, dependendo do tipo de ação humana que orienta o resultado. Weber, baseado no pressuposto de que as consciências individuais orientam a vida em sociedade a partir de conceitos referenciais referentes ao plano coletivo tais como ª classes, b. estamentos ou grupos de status, c. partidos – que nos permite entender os mecanismos diferenciados da distribuição do poder, o qual pode assumir a forma de riqueza, de distinção ou do próprio poder político, num sentido estrito (p. 113).  Para Weber fala-se de classe, quando 1. É comum a um certo número de pessoas um componente causal específico de suas probabilidades de existências na medida em que 2. Tal  componente esteja representado exclusivamente por interesses lucrativos e de posse de bens: 3. Em condições determinadas pelo mercado (de bens ou de trabalho).  Destacamos a definição de situação estamental constante  neste trabalho, “... a todo componente típico do destino vital humano condicionado por uma estima específica – positiva ou negativa – da honra adscrita a alguma qualidade comum a muitas pessoas (p. 124).

1.7.  A dominação.

O conceito de poder no ponto de vista sociológico é amorfo pois que significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra qualquer resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade” (p.128). Abstrai-se da obra o conceito de dominação:

“É um estado de coisas pelo qual uma vontade manifesta(mandato) do dominador ou dos dominados influi sobre os atos de outros ( do dominado ou dos dominados), de tal modo que, em um grau socialmente relevante, estes atos tem lugar como se os dominados tivessem adotado por si mesmos e como máxima de sua ação o conteúdo do mandato (obediência) (p. 131).   

1.8.  Carisma e desencantamento do mundo

A história não é apenas progresso linear em direção aos mundos burocráticos: há descontinuidades e estados de crise, quando as estruturas institucionais consolidadas podem desintegrar-se e as formas rotineiras de vida mostrar-se insuficientes para dominar um estado de crescentes tensões, pressão ou sofrimento (p.132). Destaca-se o ponto relevante das lideranças carismáticas de cunho religioso ou político, de salvadores. Mas apesar de e talvez graças ao seu caráter renovador e irracional, o carisma é engolido pela lógica férrea das instituições e obrigatoriamente é rotinizado e adaptado ao cotidiano, sendo retomado  o caminho da institucionalização tradicional ou racional (p. 133). Resume então sua teorização em proletarização psíquica, no interesse da disciplina ( p.134).

1.9.  A sociologia da religião

Em toda religião que descansa numa técnica de salvação ( como o êxtase, a embriaguez, a possessão etc.) o renascimento sob o ponto de vista religioso só parece ser acessível à aristocracia dos religiosamente qualificados por meio de uma luta pessoal contra os apetites ou afetos da rude natureza humana, apoiada por uma ética de virtuosos (p. 134).

A igreja é definida para Weber “... como uma associação de dominação que se utiliza de bens de salvação por meio da coação hierocrática exercida através de um quadro administrativo que pretende ter o monopólio legítimo dessa coação, submetendo seus membros de modo natural e contínuo (p. 135) .

1.10.        Tendência à racionalização e burocracia

Do mesmo modo, encontram-se e atuam através de instrumento cada vez mais universal e eficaz de se exercer a dominação que é burocracia (p. 139). Destacada a idéia do grau de calculabilidade da ação econômica conscientemente orientada pela devoção religiosa pela emoção guerreira, pelos impulsos de piedade ou por outros afetos semelhantes. Da administração publica à gestão dos negócios privados, da máfia à polícia, dos cuidados com a saúde às práticas de lazer, escolas, clubes, partidos políticos, igrejas, todas as instituições, tenham elas fins ideais ou materiais, estruturam-se e atuam através do instrumento cada vez mais universal e eficaz de se exercer a dominação que é a burocracia. O sistema de leis aplicadas judicial ou administrativamente de acordo com determinados princípios vale para todos os membros do grupo social (p. 139).

 

1.11.        Racionalização e Capitalismo

A disciplina da moderna fábrica se espelha na organização militar, mas utiliza-se de métodos completamente racionais como aqueles desempenhados pela administração científica americana. Na sugestão de Weber há a possibilidade da existência de algum tipo de afinidade particular entre certos valores presentes na época do surgimento do capitalismo moderno e aqueles disseminados pelo calvinismo (p. 141). A finalidade racional é do reestabelecimento necessário à eficiência do corpo e nunca como diversão ou como meio de despertar o orgulho, os instintos, ou o prazer irracional do jogo. Interessante notar, que em certa época acreditou-se que o esporte deveria servir apenas para responder a uma finalidade racional e condenou-se práticas tais como o jogo, o teatro, e atividades estéticas e artísticas como poesia, música, literatura e até mesmo as que se referiam ao vestuário ou decoração pessoal. Weber utilizou-se de ditos de Benjamin Franklin, em meados do século XVIII, os quais servem de expressão do que ele está chamando de espírito do capitalismo (p. 141). Há reconhecidamente algumas dúvidas inescrupulosas de destacada tortura moral, contra tentações da carne, recomendada a dieta vegetariana, banhos frios, trabalho enérgico e para tanto,  operários dispostos a seguir esta disciplina.

Weber chamou a esta vocação obstinada ao trabalho, chamado vocação, como fruto de um ascetismo mundano, oposto ao ascetismo católico em dois pontos fundamentais, primeiro no seu caráter de ação metódica no mundo, e segundo, na valorização do sucesso econômico.

Destaca a idéia ... o trabalho é velho e experimentado instrumento ascético, apreciado mais do que qualquer outro na igreja do Ocidente, mas também com quase todas as ordens monásticas do mundo. (p. 143). 

 

1.12.        Conclusões

A ênfase no conceito de dominação como parte integrante das relações sociais em qualquer esfera é outro instrumento precioso para se entender a natureza destas relações (p. 144). Para as autoras, a procura da unidade da obra de Weber, representou um desafio semelhante ao de montar um quebra-cabeça – atraente e instigante – que permite múltiplas combinações.

 

 

 

Referências:

 

QUINTANEIRO, Tania, Um toque de clássicos, Editora UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2002.