Gilson Sousa Silva



RESUMO: Cada vez mais usada por grupos específicos e discutida entre estudiosos da língua portuguesa, a linguagem denominada ?internetês? vem chamando a atenção nos meios acadêmicos. Pelo o que se constata, não se trata de uma nova língua, como destaca Possenti (2010), mas sim de uma variação de grafia que desperta a curiosidade justamente por estar tão em evidência. Em geral, o uso do ?internetês? fica a cargo de adolescentes com acesso a blogs, salas de bate-papo, msn, orkut e outras ferramentas do mundo virtual. Mas por ser razoavelmente novo no campo da pesquisa, o tema ainda suporta vários questionamentos. Afinal, essa linguagem digital carrega praticidade ou pode-se dizer que é uma forma preguiçosa de escrever mensagens? O que é certo é que o ?internetês? existe por conta da busca pela rapidez na comunicação virtual. E essa acaba sendo uma prática muito comum entre os jovens. Portanto, a partir de análises de especialistas e de pesquisa de campo, este artigo pretende mostrar o lado funcional da linguagem em questão. Com isso, define-se pela praticidade dos internautas, principalmente jovens e adolescentes, que fazem uso constante do ?internetês? para se comunicar com o mundo. Ademais, o artigo também levanta a preocupação da sociedade com a possibilidade dessa linguagem específica freqüentar o campo da língua padrão, podendo até causar prejuízos ao ensino do português normativo.


Palavras-chave: Internetês. Comunicação. Língua. Linguagem.

RESUMEN: Cada vez más utilizado por grupos específicos y discutido entre los estudiosos de Inglés, la lengua llamada "Internet" ha llamado la atención en los círculos académicos. De lo que hemos observado, esto no es un nuevo lenguaje, como se destaca Possenti (2010), pero una variación de la ortografía que intriga, precisamente porque es tan evidente. En general, el uso del "Internet" es responsabilidad de los adolescentes con acceso a los blogs, salas de chat, MSN, Orkut y otras herramientas del mundo virtual. Pero ser campo relativamente nuevo de investigación, que todavía están admite varias preguntas. Después de todo, es descargar el lenguaje digital o práctico, podemos decir que es un modo vago para escribir mensajes? Lo que es seguro es que el "Internet" se debe a la búsqueda de la velocidad en la comunicación virtual. Y esto termina siendo una práctica muy común entre los jóvenes. Por lo tanto, desde el análisis de expertos y la investigación de campo, este artículo pretende mostrar la parte funcional de la lengua en cuestión. Por lo tanto, se define por el sentido práctico e incluso los perezosos, especialmente los jóvenes y adolescentes, que hacen uso constante de la "Internet" para comunicarse con el mundo. Por otra parte, el artículo también se plantea la preocupación de la sociedad con la posibilidad de un lenguaje específico como para asistir al campo de la lengua estándar, e incluso puede causar daños a la enseñanza de la normativa portuguesa.

Palabras llaves: la jerga de Internet. Comunicación. Idioma. Idioma.


1 - INTRODUÇÃO



O objetivo deste trabalho acadêmico/científico é mostrar, ao leitor, a possibilidade de reconhecer a linguagem digital, chamada internetês, como um dos avanços no campo da comunicação humana, precisamente, no que diz respeito aos jovens e adolescentes, com acesso à internet. A abordagem do assunto foi feita com base em conceitos pré-estabelecidos na área da linguagem e nas consequentes pesquisas de campo que buscaram comprovar a eficiência dessa atividade digital.
Decerto, constata-se que a prática em questão vem se tornando cada vez mais frequente entre comunidades específicas que buscam se comunicar através da utilização de abreviaturas e símbolos facilmente compreendidos entre eles. Os exemplos mais comuns, que representam uma universalidade da ideia dessa linguagem, foram transcritos no desenvolvimento do trabalho. Sempre com o objetivo de situar o leitor no conjunto do tema pesquisado.
Paralelo à expansão da linguagem digital, utilizada com frequência até em ambientes escolares, o trabalho busca evidenciar uma preocupação pertinente: um possível choque entre o uso do internetês fora dos ambientes virtuais e a língua padrão do brasileiro. Essa preocupação, aliás, já povoa o pensamento de pais e professores de português que buscam alternativas para minimizar o possível problema.
Como forma de ampliação do internetês, o trabalho traz uma referência entre a linguagem específica e a literatura, buscando, inclusive, conceitos de gêneros textuais para melhor dimensionar o posicionamento deste tipo de linguagem na sociedade. E esse exemplo se dá através de um poema produzido por uma jovem artista que revela no texto sua condição juvenil e sua capacidade criadora e experimental diante do novo modelo de linguagem.
Portanto, o referido trabalho serviu para condicionar melhor o pensamento sobre o internetês, sem deixar de lado os conceitos que abalizam cientificamente todo o percurso da linguagem praticada entre seres humanos. É uma oportunidade de expandir os conhecimentos sobre algo relativamente novo no campo da comunicação. E tudo isso produzido a partir de teses facilmente comprovadas e compreendidas pela sociedade atual.



2 - CAMINHOS DA PRATICIDADE

Nos últimos anos, a sociedade vem ouvindo falar muito numa nova espécie de linguagem que surgiu a partir do uso constante do computador como instrumento para troca de mensagens. Essa linguagem é o ?internetês? que, segundo o pesquisador Possenti (2010, p. 60), "trata-se da grafia utilizada por certos usuários dos computadores, em geral, jovens adolescentes que passam horas ?teclando?, isto é, trocando mensagens por escrito. Em resumo, trata-se apenas de grafia, nada mais que de grafia".
Empregada constantemente em e-mails, chats, blogs, Messenger, scraps do orkut, icq, twitter e outros recursos de comunicação interativa da internet, a linguagem do ?internetês? traz como característica o uso de abreviaturas na maioria das palavras. E, apesar dessa utilização abrangente, Possenti (2010, p. 60) afirma que o ?internetês? não passa de uma variação de grafia, estando longe de ser uma nova língua.
Mas o que leva o usuário do computador, que tem à sua disposição um teclado com todas as letras do alfabeto universal, a escrever textos baseados em abreviaturas? Falta-lhe conhecimento da língua para construção das palavras? Falta-lhe disposição suficiente para o exercício da escrita padrão? Ou será esse um caso de praticidade devido à exigüidade de tempo para comunicação no dia-a-dia? Um pouco de cada coisa, é o que se constata através dos estudos realizados, até então, no país.
De acordo com reportagem da Revista Língua , (2010), no Brasil, existe um batalhão de 15 milhões de usuários que troca 500 milhões de mensagens por dia através do Messenger (MSN) , o comunicador instantâneo da Microsoft. Grande parte desse contingente, é claro, produz seus textos dentro dos padrões do ?internetês?, ou seja, utilizando-se de abreviaturas e símbolos. E é nesse ponto que tem início a preocupação com o uso constante da linguagem.
Para Possenti (2010, p.59), os usuários do ?internetês? sofrem vários preconceitos. Em geral, são acusados de serem iletrados, de serem jovens, de fazerem a espécie regredir no seu conteúdo intelectual, e até de destruírem a Língua Portuguesa. E seguindo este raciocínio, especialistas afirmam que o fenômeno é extremamente prejudicial para a língua padrão no Brasil, já que os jovens têm um acesso maior à internet do que à própria norma culta da língua escrita.
No entanto, comprova-se que não existe problema algum no ato de se escrever mensagens utilizando abreviaturas e símbolos numa sala de bate-papo da internet. O que se precisa saber é justamente diferenciar o que é escrito para um grupo específico de amigos do que se pretende escrever, por exemplo, numa redação de vestibular ou documento oficial de trabalho. Essa consciência é necessária para que os jovens que adotam o ?internetês? não fiquem prejudicados quanto ao uso apropriado da língua padrão.
Portanto, em uma mensagem de texto escrita num ambiente virtual, não há nenhum problema em grafar vc, ao invés de você, blz (beleza), q (que), abs (abraços), ou qdo (quando). Até porque, abreviar de maneira lógica e inteligível as palavras, resulta em economia de espaço e de tempo, pois as interações virtuais síncronas dependem da agilidade e rapidez do internauta no ato da mensagem. (FREITAG, FONSECA E SILVA).


3 - LINGUAGEM EFICAZ

A constatação do crescente uso dessa linguagem na troca de mensagens virtuais é o fator que determina a eficácia do ?internetês? no seu campo de atuação. De acordo com a revista Língua Portuguesa , "a linguagem que pontua a dinâmica social dos jovens e adolescentes é o internetês".
À época da reportagem, 62% dos internautas jovens e adolescentes no país já estavam integrados à tecnologia e com acesso fácil a computadores e conexões de banda larga. Com isso, eles buscam respostas rápidas, proximidade com seus interlocutores e nutrem a expectativa de aproveitar cada momento de diversão.
"A ansiedade por contato teria estimulado, assim, o hábito de escrever mensagens e a busca de novas formas de expressão ligeira e funcional", afirma a reportagem (2009).
Para Possenti (2010, p. 60), se o internetês é apenas um conjunto de soluções ortográficas, então, evidentemente, não ameaça a língua portuguesa e nem pode, a rigor, ser chamado de linguagem.
No entanto, nesse ponto de análise existem controvérsias. É claro que o ?internetês? não pode ser chamado de ?linguagem? no sentido de criação de algo novo no âmbito da língua portuguesa, mas não deixa de ser uma novidade na forma de expressão e comunicação humana, o que não deixa de ser também certa forma de linguagem no campo digital.
Para MURRIE (1995, p. 13), a linguagem é uma atividade essencialmente humana, histórica e social. "Se bem conduzida, pode ser uma aliada na luta contra os preconceitos sociais, pois é a partir de seu uso que observamos, compreendemos e interagimos com o mundo natural".
Aliás, na sua prática, o ?internetês? preza, e muitas vezes de forma exagerada, a simplificação da linguagem padrão e a farta eliminação de vogais. Mas isso resulta sempre em eficácia no processo de comunicação quando se trata de interlocutores equivalentes em termos de conhecimento.
De acordo com estudo apresentado por Freitag & Fonseca e Silva (2010), abreviar as palavras, sempre que possível, resulta em economia de espaço e de tempo, pois as interações virtuais síncronas dependem da agilidade e rapidez do internauta. Já Álvares , em sua análise sobre o assunto, aponta que "o internetês é uma linguagem digital, e quem não a conhece está ?fora do mundo".
Portanto, levando em consideração o campo virtual, a linguagem torna-se eficaz sempre que utilizada no seu meio. E em termos de tendências, o ?internetês? pode, no futuro, até tornar a comunicação mais eficiente. "Ou evoluir para um jargão complexo, que, em vez de aproximar as pessoas em menor tempo, estimule o isolamento dos iniciados e a exclusão dos leigos", diz a reportagem da revista Língua Portuguesa.


4 - ABREVIATURA E SÍMBOLOS


Não se sabe ao certo o limite de palavras utilizadas no vocabulário ?internetês?. A possibilidade de abreviações é vasta, e isso implica na possibilidade de crescimento desse campo a cada dia. O que se define é que o ?internetês? dá nome a um conjunto de abreviações de sílabas e simplificações de palavras que leva em conta a pronúncia e a eliminação de acentos.
Os exemplos mais evidentes, segundo Possenti (2010. p. 60) são: kbça (cabeça), vc (você), bjo ou bju (beijo), flw (falou), vlw (valeu), blz (beleza), aki (aqui), ksa (casa), kra (cara), q (que), abc (abraço), xamar (chamar), qdo (quando), gnt (gente). Todos eles tratam-se basicamente de abreviações, mas existe a possibilidade de utilização de onomatopéias, que são palavras que imitam sons naturais.
Existem ainda outras expressões muito utilizadas pelos jovens internautas, principalmente em salas de bate-papo virtual. Entre elas, encontram-se o p (para), pq (porque), iaí (e aí, e então), axu (acho), cto (quanto), fds (fim de semana), niver (aniversário), nus (nós), nunk (nunca), pexual (pessoal).
Benedito (2003, p. 38) escreve que, para economizar caracteres, existem as seguintes normas (ou estratégias): cortar quase todas as vogais; aproveitar o som dos vocábulos, como mas+é = mazé, etc.; empregar mt sons onomatopéicos, como ronc, miau, quá, fiu, cof, ffff, etc.; suprimir mt espaços; valer-se de todos os signos do teclado.
Além dessas dicas que fortalecem o ?internetês?, Benedito aconselha usar letras maiúsculas somente em abreviaturas e siglas, pois o uso em outras situações significa gritos; usar a letra h para acentuação, abreviaturas e siglas; os acentos desaparecem; ponto final desaparece; ch = x, e qu = k.
Por essa prática, enquanto os textos tradicionais podem ser relidos, repensados e sempre corrigidos, as mensagens em tempo real na internet tendem ao mínimo de caracteres, pois são mais curtas e dadas com rapidez. Outra característica a ser ressaltada é que muitas vezes a palavra possui caráter homofônico, como no caso de 100sação, 100nome, bonitaD+, dentre outras. E justamente por esses motivos, o "mensageiro" pode conversar com muita gente ao mesmo tempo em salas de bate-papo ou ambientes virtuais semelhantes.
Mas afora essa grandiosidade de exemplos de abreviaturas para tornar mais prática e eficiente a comunicação, existem também os símbolos. Nesse caso, a expressão das sensações dá lugar aos emoticons ou smileys, em que caracteres digitados fazem a analogia de uma emoção. Eis mais um recurso amplamente utilizado pelos jovens internautas na hora da comunicação.
Os símbolos mais conhecidos, que integram a linguagem do ?internetês? são: : - ) sorrindo, : - ))) gargalhando, : - ( triste, : - ((( muito triste, < : - ) burro, : 8) porco,
: -Q fumante, * -) drogado, :*) resfriado, : -V falando, X -) tímido, : -t mau humor,
> : -) sorriso malicioso, (: -) careca, : -(#) aparelho dentário, ; -) piscando, : -6 que nojo, : -C emburrado, O: -) santo, : - ($) você me paga, ^.^ gatinha, @}?uma rosa, ? -) olho roxo. Além desses, centenas de outros são utilizados, com frequência, pelos jovens e adolescentes com acesso à internet.
É importante frisar que os chamados emoticons podem ser criados de forma aleatória pelos internautas. No entanto, os usuários dos símbolos precisam explicar para que eles servem, até, de repente, esses símbolos caírem no gosto comum e todos começarem a usar. De acordo com os estudiosos do assunto, foi assim que nasceram os emoticons que circulam na internet.


5 - CHOQUE: INTERNETÊS X LÍNGUA PADRÃO

Professor de lingüística da Unicamp, Possenti (2010), não acredita que existe fator de risco quanto à interferência do ?internetês? no processo da língua padrão no Brasil. "Uma coisa é a grafia; outra, a língua. Não há linguagem nova, só técnicas de abreviação no internetês. As soluções gráficas são até interessantes, pois a grafia cortada é a vogal", admite o pesquisador.
De fato, o ?internetês? pode não representar uma ameaça ao idioma padrão como no passado a grafia dos telégrafos ("vg" para vírgula) ou o caipirês de Chico Bento, personagem de Mauricio de Sousa, também não o fizeram.
No entanto, um fato preocupa pais e professores de língua portuguesa. Essa invasão do ?internetês?, especialmente entre os jovens em fase escolar, provoca certo receio quanto à influência desta modalidade no ensino/aprendizado da norma padrão da língua portuguesa. (FREITAG & FONSECA E SILVA)
E pelo fato dessa linguagem digital ameaçar certa penetração no cotidiano das escolas, a discussão acerca da influência desse novo método de se expressar através de palavras reduzidas e incomuns à língua culta divide pais, educadores e até os próprios jovens.

Particularmente não gosto de muitas abreviações no "internetês" pq muitas vezes mais atrapalha que ajuda! Entender palavras já muito utilizadas é fácil, mas alguns têm mania ou preguiça e abrevia muitas palavras, o q dificulta a leitura. Na internet precisamos nos comunicar rapidamente, principalmente em bate papos, mas acredito que dá sim para escrever corretamente as palavras... só costumo abreviar as mais comuns pelo tempo mesmo, mas outras palavras costumo escrever por inteiro. A linguagem na internet é prática e mais sucinta, o que justifica abreviar algumas palavras, porém, também justifica escrever outras por inteiro, já que o usuário não vai escrever frases tão longas...



O certo é que esse tipo de linguagem digital influencia o modo culto de escrever de jovens e adolescentes. Isso porque expressões como "naum" (não), "blz" (beleza), "pq" (por que), dentre vários outros termos, estão presentes em redações escolares e dessa maneira podem ameaçar de forma assustadora a língua portuguesa.
Possenti (2010, p. 62), explica que escrever no computador, especialmente em tempo real, é certamente um fator que induz a inovações, seja pela velocidade que se deseja imprimir à escrita, seja por eventuais limitações dos teclados, que podem não conter teclas para os acentos.
E mesmo desconhecendo o risco da influência do ?internetês? na língua padrão, o pesquisador aponta que "saber escrever de duas maneiras é bem melhor do que saber escrever de uma só. (pág. 64)".
A propósito, um relatório anual feito pelo Ministério da Saúde, chamado Vigitel , mostra, nos seus mais recentes dados sobre a alimentação e atividade física no Brasil, que o número de sedentários hoje no país soma 16,4% da população. Boa parte desse contingente abrange os jovens e adolescentes que passam horas em frente a um computador, utilizando ou não a linguagem do ?internetês?.


6 - GÊNEROS TEXTUAIS E LITERATURA

A linguagem digital, conhecida como internetês, pode não estar longe de ser um gênero textual, Com base no conceito do linguísta russo Bakhtin (1992) , os gêneros textuais são tipos "relativamente estáveis" de enunciados produzidos nas mais diversas esferas da atividade humana, não sendo, portanto, formas estruturais estáveis e permanentes.
Na atualidade, já há quem afirme que o chat (sala de bate-papo virtual) pode se caracterizar como gênero textual. Para Vesaro (2010), o chat substitui, em face das características da vida moderna, a antiga rodinha de amigos.
Em sentido amplo, o chat, que é o principal campo de atuação do ?internetês?, apresenta como característica ser uma produção escrita e síncrona, na forma de diálogo, no qual os turnos não ocorrem necessariamente em seqüência encadeada, por razões, muitas vezes técnicas, sendo os textos produzidos nos turnos de curta extensão.
A linguagem utilizada está próxima da oral, porém grafada, como forma de interação entre os membros de uma comunidade virtual. Por esse motivo, hoje, essa modalidade genérica tem um papel relevante na vida de muitas pessoas, sobretudo na dos jovens e adolescentes com acesso à internet.
Todavia, não obstante à confirmação de que o ?internetês? ainda não se enquadra amplamente em gênero textual da Língua Portuguesa, existe quem arrisque uma produção literária em forma de poema utilizando características da linguagem digital. Foi o que fez Camila Galvão (2007):

ha coisas q qro t dizr e nao consigo....
certas coisas nao c diz...
certas coisas nao c faz...
certas coisas soh c sent....
certas coisas nao c sent....
ha coisas q qr me perguntar...
ha perguntas q qro respondr...
ha momentos q qro relembrar...
ha momentos q qro esquec...
ha coisas q desejamos tr....
ha receios q receamos em falar...
ha verdades q qremos esconder...
ha mentiras q qremos nos contar...
ha desejos q qremos sufoca...
ha vozes q qremos ouvi...
ha toqs q qremos senti...
ha beijos q sonhamos em dar...
ha sonhos q queremos viver...
ha pesadelos q sonhamos esquecer....
ha sentidos q qremos despertar...
ha pessoas q qremos envolver...

Porém, a preocupação com essa invasão da linguagem no cotidiano só tende a aumentar. Por esse motivo, os estudiosos do assunto questionam: qual o papel do professor de língua portuguesa, diante desse quadro, já que a leitura e a escrita estão sendo estimuladas pelas inovações tecnológicas? A resposta pode estar na tentativa de reforçar cada vez mais o ensino da língua padrão, deixando espaço para a criatividade dos alunos na produção de texto, sempre com orientação sobre o uso compreensivo da linguagem. (FREITAG & FONSECA E SILVA).


7 EXPANSÃO DO INTERNETÊS

Se é fato que a sociedade está cada vez mais comunicativa por conta dos avanços tecnológicos, também é fato que o ?internetês? pode se expandir ainda mais como linguagem digital nesse processo de comunicação interpessoal. Essa é uma realidade que se constata com o uso crescente da tecnologia digital. Hoje a utilização em massa de aparelhos de telefonia celular e computadores para envio de mensagens superam muitas expectativas.
No terceiro trimestre de 2010, a venda de computadores domésticos no Brasil subiu 19% e chegou a 3,7 milhões de unidades. Esse estudo foi divulgado pela consultoria IDC Brasil . No total de vendas do ano, segundo o instituto, a previsão é que tenham sido comercializados 13,8 milhões de computadores no país, o que representaria uma alta de 24% sobre o total de 2009.
Outros dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) , apontam que o segmento de informática foi o que apresentou maior faturamento da indústria elétrica e eletrônica em 2010. Esse desempenho foi puxado pelas vendas de notebooks, que aumentaram 39%, sendo 7,15 milhões em 2010.
Essas informações só comprovam a tendência de expansão da linguagem digital ?internetês?. Isso, claro, justamente porque boa parte desses computadores comercializados estará nas mãos de jovens e adolescentes que buscam cada vez mais interação com o mundo e fortalecimento das relações pessoais. E fazendo tudo isso sempre ao seu modo.



8 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este trabalho teve como pretensão apontar alguns dos argumentos que sustentam a ideia de praticidade quanto ao uso da linguagem digital, chamada de ?internetês?. Para isso, procurou-se enfatizar procedimentos e atitudes que caracterizam tanto a linguagem quanto o público que a utiliza, no caso, os jovens e adolescentes. O trabalho também buscou interpretar uma preocupação reconhecida entre pais e professores quanto à crescente utilização do ?internetês?, inclusive em atividades de sala de aula. No entanto, especialistas na Língua Portuguesa descartam uma possível interferência desse tipo de linguagem no idioma padrão, já que a tendência do ?internetês? é permanecer no campo das redes sociais mais abrangentes da internet. Portanto, mesmo sendo uma área de pesquisa científica ainda pouco explorada no Brasil, a linguagem digital em questão obteve, através das analises deste trabalho, a certeza de que se trata de uma linguagem muito prática, levando em consideração seu campo de atuação e uso.



9 REFERÊNCIAS


ÁLVARES, Júnia. Vc ainda naum conhece o Internetês?. Disponível em: <http://www.overmundo.com.br/overblog/vc-ainda-naum-conhece-o-internetes>. Acesso em: 19.11.2010.

BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e de Estética. São Paulo: Editora Unesp, 1988.

BENEDITO, Joviana,. Dicionário da Internet e do telemóvel. Lisboa: Centro Atlântico, 2003.

Camila Galvão. Publicado no Recanto das Letras em 13/12/2007. Código do texto: T776912. Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/pensamentos/776912, Acesso em: 30.11.2010.

FREITAG R. M. K. & FONSECA e SILVA, M. Uma análise sociolinguística da língua utilizada na internet: implicações para o ensino de língua portuguesa. Revista intercâmbio, volume XV. São Paulo: LAEL/PUC-SP, ISSN 1806-275X, 2006. Disponível in http://www.cibersociedad.com/congres2006/gts/comunicacio.php?id=96&llengua=ga.


HEINE, Palmira Considerações sobre o hipertexto e os gêneros virtuais emergentes no seio da tecnologia digital. Disponível em: http://www.inventario.ufba.br/04/04pheine.htm. Acesso em: 23.11.2010


MARCONATO, Silvia. Simplificação da grafia e uso de símbolos aplicam liberdade da fala à escrita. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11061>Acesso em: 16.11.2010

MURRIE, Zuleika de Felice. Universos da palavra: da alfabetização à literatura. São Paulo: Iglu, 1995.

PALMA, Dieli Vesaro. Gêneros textuais e sua relação com o passado e o presente. Disponível em: http://www.pucsp.br/pos/lgport/downloads/publicacao_docentes/generos_textuais_Dieli.pdf Acesso em: 07.12.2010

POSSENTI, Sírio. Língua na mídia. São Paulo: Parábola Editora, 2009.

RELATÓRIO Vigitel, do Ministério da Saúde. Disponível em: <http://delas.ig.com.br/comportamento/anos+00+serao+lembrados+por+organicos+divorcios+e+jovens+gays/n1237839851880.html> Acesso em: 29.11.2010


Venda de notebooks supera a de desktops pela primeira vez no País. Disponível em: www.ig.com.br. Acesso em 9.12.2010.

Venda de PCs no Brasil sobe 19% no terceiro trimestre e chega a 3,7 milhões de unidades. Disponível em: http://www.idclatin.com/default2.asp?ctr=bra, Acesso em 30.11.2010.