A felicidade na visão de Aristóteles

 Por Diego Bruno de Souza Pires

 Escrever sobre felicidade em compreensão genérica, desraigada de influência cultural, moral ou de qualquer elemento subjetivista capaz de me influenciar, não é algo fácil (para não dizer impossível), uma vez que exige muito cuidado e atenção com as palavras, sem me deixar levar pelos seus encantos de beleza, e assim, ter mais possibilidade de encontrar-me com a sua “razão”.

 Falar de felicidade não se resume a ser poético com as palavras, ou através de uma escrita erística tentar convencer o leitor do que é ou não felicidade. Para pisar nesse terreno, sem sombra de dúvida, devemos buscar na imparcialidade/neutralidade possíveis sentidos para conceituá-la e entendê-la.

 Nessa direção, não há como dispensar “da” filosofia para me ajudar a regredir e progredir nessa “descoberta”. É como se eu tivesse que efetuar agora um caminho de volta para o passado, percorrendo os rochedos da complexidade individualista de cada cultura ou de cada indivíduo, e tentar pelo menos visualizar uma centelha da compreensão primitiva do primeiro homem.

 Como para a filosofia nada é impossível, passei a me servi do seu manancial de compreensão, mas é claro, sem deixar de atentar-me as orientações da psicologia e da sociologia...

 Frente à modernidade a qual formos destinados, felicidade seria um estado afetivo ou emocional de sentir-se bem ou sentir prazer [i]. Essa compreensão não se assemelha com os pensamentos de Aristóteles, para quem “ter felicidade ou ser feliz é usar a razão como propriedade e fazer de tal modo que isso se torne uma virtude”.

 De forma relativa, poderia dizer que o sentido de felicidade é próprio de cada ser humano, partícula central do “conhecer a si mesmo”. Depende – caso a caso – da visão nuclear de necessidade do indivíduo.

 Como vivemos num mundo consumista, a felicidade do ser humano passou a ser – em tese – o preenchimento das suas necessidades aparentes. Expliquemos melhor. A felicidade na compreensão de quem necessita ou deseja ser rico, é acumular riquezas; já de um socialista, resume-se em reparti-la com o povo. Para um estudante de nível médio a felicidade é conquistar a sua vaga no vestibular; já para um estudante de nível superior, é sair bem empregado da faculdade. Para um analfabeto a felicidade se concretizará com a sua alfabetização; já para um amante da leitura, a felicidade se aparenta quando ler mais uma obra.

 Em regra, para o mundo do consumo a felicidade se perfaz na satisfação do “EU-QUERER”. E em regra também, essa felicidade não é permanente. Depois de revelada uma felicidade, haverá sempre outra mais doce a ser descoberta, a ser querida pelo homem moderno.

 Dessa forma, compreender felicidade em modernas avaliações psicológica e sociológica, dificilmente fugirá da regra do “EU-QUERER”. A satisfação da “necessidade” consumista do homem é suficiente para que ele possa descrever a felicidade como elemento de preenchimento de sua satisfação.

 Creio que a resposta (e não o conceito) de felicidade para o homem capitalista seja mais acentuadamente voltada para as suas conquistas de valores determinados pelo mundo moderno. Ou será que há pessoas descrevendo felicidade como um encontro de si com as suas virtudes? Ou o encontro de si mesmo com as suas razões de indivíduo?

 Se houvesse uma pesquisa popular com a seguinte pergunta: “o que falta para você ser feliz?” Quantos diriam: - falta encontrar-me com a minha elevação pessoal de virtude? Creio que uma quantia irrisória... não é mesmo?!

 Divagando na compreensão de Albert Einstein, por exemplo, o mesmo tinha a vitória como caminho que sempre levaria a felicidade. Atrelava seu sentimento de felicidade ao de vitória, o que não deixa de ser - nos mesmos passos da compreensão – uma visão “consumerista”; só que com o propósito de encher o ego, a vaidade, a fama e a emoção.

 Dizia Einstein que "se quer viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não ás pessoas nem as coisas".

 Voltando a filosofia, encontramos nos entendimentos de Aristóteles, ser a felicidade semelhante a “um bem supremo - tanto para os vulgos quanto para os cultos”.

 Aristóteles era um homem bastante apegado com a SUA FILOSOFIA como um modo de vida correto, ao ponto de encontrar-se com a felicidade todas as vezes que o seu entendimento de “bem viver” e de “bem agir” se concretizavam em sua frente.

 Defendem os seguidores de Aristóteles que a felicidade seria o encontro com uma “vida agradável”, mas não sei se realmente seria esse o significado que ele queria deixar para a humanidade.

 Diógenes versus Aristóteles e um pouco de Sócrates.

 

 Diógenes foi um filósofo que desprezou a opinião pública. Ele se importava mais com aquilo que existia dentro de si. A sua consciência sempre falava mais alto. Desprezava quaisquer bens materiais.

 A sua vida tem uma ligação misteriosa com a de Falcão, um dos personagens principais do livro “O Futuro da Humanidade”, do brilhante Augusto Cury. Parece-me que Diógenes viveu em um pequeno barril [v], tendo como únicos bens: um alforje, um bastão e uma tigela, símbolos do seu desapego com as coisas mundanas.

 Diógenes era mais conhecido como o filósofo-cão, apelido originado por viver em extrema miséria.

 Na simplória visão de Diógenes, a felicidade era entendida como autodomínio e liberdade espiritual. Nesse aspecto, se parece muito com o Mahatma Gandi e com a figura “oculta” do grande Sócrates.

 Diógenes era a verdadeira realização de um sonho de liberdade. Muitos diziam que ele vivia o seu próprio sonho. Ele combatia - pela sua própria filosofia de vida - os prazeres, os desejos e as luxúrias, elementos que poderiam impedir a sua auto-suficiência[1].

 A história conta que Alexandre "O grande", andando pela cidade, avistou Diógenes dormindo dentro de um barril e, incumbido de ajudá-lo passou a perguntá-lo se seria possível fazer algo por ele.

 Ao perceber que Alexandre estava empatando que os raios de sol adentrassem o barril, Diógenes, sem pestanejar, disse: "Não me tires o que não me podes dar!". Isso foi suficiente para mostrar seu desapego com os bens materiais. Ele era livre da compreensão mundana.

 Aristóteles tinha a felicidade como "algo louvável e perfeito”, uma vez que “algo Divino". A felicidade seria semelhante a “uma atividade da alma em conformidade com virtude perfeita”. Algo que, (...) sem dúvida alguma, examina a alma humana em buscar a sua perfeição, por isso que a “felicidade seria uma atividade da alma (...)".

 E assim, louvado seria o homem que desejasse a felicidade, pois seria chamado sábio, referindo-se “a sua disposição de espírito”; e somente assim, eleito virtuoso.

 Será possível alcançar a felicidade através de uma lei?

 Somente a título de curiosidade, cabe ressaltar a existência de duas PECs (Projetos de Emendas Constitucionais) de autorias de Cristovam Buarque (Senado) e de Manuela D’Ávila (Câmara), em que buscam o aperfeiçoamento do art. 6º da Constituição Federal, prevendo como elementos necessários para se alcançar a felicidade social objetiva, a existência efetiva da educação, da saúde, da alimentação, do trabalho, da moradia, do laser etc.

 Assim é a descrição do art. 6º das mencionadas PECs, que em conjunto buscam o aperfeiçoamento do Texto Constitucional:

 “Art. 6º. São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”      

 Por óbvio que as PECs não visam proteger a felicidade subjetiva, pois seriam algo inalcançável, uma vez que cada um tem a sua. Contudo, visa “proteger” uma “felicidade objetiva”, entendida como a concretização de alguns direitos sociais que a população necessita para conseguir sua dignidade.

 Para os defensores da PEC da FELICIDADE, esta somente poderá ser encontrada de forma coletiva quando “são adequadamente observados os itens que tornam mais feliz a sociedade, ou seja, justamente os direitos sociais – uma sociedade mais feliz é uma sociedade mais bem desenvolvida, em que todos tenham acesso aos básicos serviços públicos de saúde, educação, previdência social, cultura, lazer, dentre outros”.

 Note que o próprio legislador – em tese - tem se “preocupado” com as necessidades do povo, mostrando-se comovido no “encontro” (não efetividade) dos básicos direitos sociais que a sociedade precisa.

 Acredito que embora haja boas intenções de alguns legisladores, sabe-se que, na realidade, nem sequer os mais básicos dos direitos tem sido efetivados na sociedade. Por isso, embora deslumbrante a iniciativa, sabemos que não cursará de efeito, tornando-se mais uma lei de “força simbólica”. É formulada para gringo ver!!!  

 Conclusão

 Depois de ter exposto tudo isso – ora regredindo, ora progredindo – percebo que a felicidade é uma caixinha de surpresas, bem guardada dentro de cada indivíduo. A subjetividade fala mais alto que a nossa razão de “pensamento lógico”.

 Por se tratar de algo de abstração elevada, a Felicidade não poderá ser simplesmente explicada por palavras, mas também por elas... A felicidade é um conceito que se explica por si mesmo, isentando-se de se conceituar...(???)

 Em suma, a felicidade é simplesmente o simples aos olhos dos humildes em simplicidade. A felicidade “É”, e por isso não deixará de “SER”. Eis aqui um dos conceitos que a amplitude não consegue abarcar e somente o universo - pelas mãos de Deus - poderá nos explicar.

 Diga qual é a sua felicidade...(???)

 



[1] Podemos notar a extrema semelhança de Chaves, programa exibido pelo SBT há anos, com a figura do filósofo Diógenes, pois têm as mesmas características: a simplicidade, humildade, pobreza, mora num barril e tem uma única veste. Uma característica que surpreende a todos é o caráter do Chaves, pois tem princípios e preserva seus valores, mesmo vivendo num barril e sendo pobre. É um exemplo maravilho de mostrar como atingir a felicidade, mesmo sendo uma criança que não entende das coisas, sem ter praticamente nada de bens materiais. Correntes alegam que o programa do Chaves foi lançado com o intuito de levantar a auto-estima dos cidadãos mexicanos em relação às crises econômicas passadas pelo país. Por ser o México um país emergente, com altos índices de pobreza e marginalização, o programa Chaves ajudaria a direcionar a educação das crianças, elevando os valores morais.