ESTERILIZAÇÃO: LIMITES E POSSIBILIDADES NA ESTÉTICA
Agricia S. Oliveira1, Fernanda Quaresma2

1 Acadêmica do curso de Tecnólogo em Estética e Imagem Pessoal da Universidade Tuiuti do Paraná - UTP (Curitiba, PR).
2- Professora da Universidade Tuiuti do Paraná - Orientadora.
Endereço para correspondência: [email protected]
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RESUMO: Este estudo objetivou avaliar a viabilidade dos processos de esterilização dos instrumentais utilizados em estabelecimentos de estética e atividades correlatas, pois tais estabelecimentos se caracterizam pela alta rotatividade de indivíduos, grande variedade de veículos transmissores de microrganismos e pela falta de atenção no que se refere à prática de esterilização de instrumentais. Para tal avaliação foram considerados os métodos de esterilização através de agentes químicos sob a forma líquida, considerando o glutaraldeído e o ácido peracético, e por meio de calor, sob a forma seca através do forno de Pasteur, e úmida através da autoclave. Conclui-se com este estudo, que a eficácia do controle de infecção por meio da esterilização de instrumentais não depende somente dos métodos, dos equipamentos ou dos produtos, mas essencialmente da capacitação dos profissionais envolvidos no processo, justificando a importância do tecnólogo em estética junto às centrais de materiais e esterilização capacitando e promovendo a educação continuada dos profissionais que atuam nesta área.

Palavras-chave: estética, biossegurança, controle de infecções, processamento de instrumentais e esterilização.
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ABSTRAT: This study aimed to avaluate the feasibility of procedures for the sterilization of instruments used in aesthetic establishments and related activities, because such institutions are characterized by high turnover of individuals, a variety of vehicles transmitting microorganisms and the lack of attention with regard to the practice of sterilization of instruments. For such an assessment were considered the methods of sterilization by chemical agents in liquid form, such as glutaraldehyde and peracetic acid, and using the heat in the dry form in the oven Pasteur, and the wet form in the autoclave. It has been concluded from this study that the effectiveness of infection control through sterilization of instruments depends not only on the methods, equipment or products, but primarily on the training of professionals involved in the process, justifying the importance of the technologist in aesthetics together with nuclear materials and sterilization enabling and promoting continuing education of professionals working in this area.

Keywords: aesthetics, biosecurity, infection control, processing and sterilization of instruments.
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1 INTRODUÇÃO
Os riscos de infecção cruzada em estabelecimentos de estética e atividades correlatas podem representar um grave problema de saúde pública, pois existem nestes locais uma alta rotatividade de indivíduos e uma grande variedade de veículos potencialmente transmissores de doenças, tais como instrumentais, materiais, equipamentos e as próprias mãos dos profissionais.
O conhecimento e a conscientização tanto dos riscos de transmissão de infecções quanto das limitações dos processos de esterilização, são imprescindíveis para que se possa adotar as devidas precauções no que se refere ao controle de infecção cruzada.
A área da estética busca constantemente incorporar novas tecnologias relacionadas a produtos e processos, porém, a atenção e os recursos destinados a biossegurança necessitam de mudanças, em especial no que se refere ao controle de infecções.
Enquanto instrumento de atualização o presente trabalho tem como finalidade orientar os profissionais da área da estética e atividades correlatas sobre a importância da prática de biossegurança, especialmente, no tocante ao controle de microrganismos em instrumentais e materiais utilizados nos procedimentos estéticos, contribuindo assim, para garantir a qualidade e a segurança no atendimento aos pacientes.

2 METODOLOGIA
O presente trabalho parte de uma pesquisa documental exploratória a partir de fontes oficiais (leis, resoluções, normas técnicas), documentos não oficiais (manuais, POPs ), livros, publicações em periódicos, artigos científicos e fontes eletrônicas online.
Para efetuar a coleta de dados foram realizadas visitas técnicas na Central de Esterilização do curso de Odontologia da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. A pesquisa tecnológica englobou todas as etapas de processamento, desde a abertura dos pacotes esterilizados no momento do atendimento, até a distribuição dos mesmos após a esterilização.

3 ESTERILIZAÇÃO: LIMITES E POSSIBILIDADES NA ESTÉTICA

3.1 BIOSSEGURANÇA
Atualmente a biossegurança é uma preocupação de todos os serviços relacionados à saúde (GARBIN et al., 2005), e neles inclui-se a estética, visto que se trata de uma área com grandes riscos de infecção cruzada.
Conforme Teixeira e Valle citado por Costa e Costa (2002), biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando a saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados.
Porém, conforme sugere Melo et al. (2006), para que os conceitos de biossegurança sejam implementados e consolidados, é necessária a conscientização por parte dos profissionais, principalmente sobre a importância da adoção de medidas de controle de infecção como forma eficaz de redução dos riscos de transmissões de agentes infecciosos.

3.2 CONTROLE DE MICRORGANISMOS
Sabe-se que a pele atua como uma das barreiras biológicas mais importantes contra os microrganismos. Entretanto, conforme afirma Soares (2009), quando os agentes infecciosos encontram uma quebra de integridade epitelial, ou quando inoculados diretamente por meio de instrumentais no organismo humano, encontram condições favoráveis ao seu desenvolvimento, iniciando um processo infeccioso.
Vários procedimentos da área da estética podem atuar facilitando a entrada de microrganismos nos tecidos humanos, dentre eles a drenagem linfática no pós-operatório, galvanopuntura, maquiagem definitiva, eletrolipólise, eletrólise, podologia, manicure, pedicure, entre outros.
Visando uma padronização de nomeclatura, neste estudo adotou-se o conceito de "instrumentais" para todos os materiais utilizados em procedimentos estéticos das áreas de eletroterapia facial e corporal, podologia, manicure, pedicure, dermopigmentação, entre outros. Como exemplo destes instrumentais: alicates, espátulas, curetas, pinças, cubas, eletrodos, toalhas, gaze, algodão, entre outros. Observou-se que a maioria destes instrumentais pode atuar como vetores infecciosos causando infecção cruzada, ao que justifica a prática do controle de microorganismos em ambientes de estética e atividades correlatas.
O controle de microrganismos é conceituado por Pelczar et al. (1997) como sendo um conjunto de conhecimentos utilizados para controlar, isto é, destruir, inibir ou remover os microrganismos em seu meio. E, segundo Guandalini (1999), para que o controle de infecção seja eficaz, algumas medidas básicas devem ser seguidas, dentre elas o rigoroso controle de microrganismos em instrumentais através da esterilização.

3.3 ESTERILIZAÇÃO
Conforme Ramos et al. (2000), esterilização é o processo de destruição de todas as formas de vida microbiana (bactérias, fungos, vírus e esporos ) mediante aplicação de agentes físicos, químicos ou físico-químicos. Desta forma, segundo Ayliffe et al. (1998), um objeto estéril, no sentido microbiológico, está completamente livre de microrganismos vivos.
Cabe ressaltar que o conceito de esterilização usado neste estudo alcança apenas a esterilização através de agentes químicos sob a forma líquida, considerando o glutaraldeído e o ácido peracético, e por meio de calor, sob a forma seca através do forno de Pasteur, e úmida através da autoclave. Optou-se por tais métodos por serem estes relevantes na área de estética.

3.4 PROCESSAMENTO DE INSTRUMENTAIS
Conforme Guandalini (1999) e Anders et al. (2009), a eficiência da esterilização de instrumentais depende de um preparo prévio que consiste na classificação, lavagem, secagem, revisão e preparo, e empacotamento dos instrumentais antes da esterilização. Falhas cometidas durante estas etapas preliminares comprometem a eficácia do processamento, cuja qualidade é imprescindível para a segurança na realização dos procedimentos.
Constatou-se na pesquisa bibliográfica uma grande disponibilidade de literaturas sobre biossegurança na área da odontologia, assim como uma carência de publicações e manuais relevantes para a área da estética. No entender deste estudo, as atividades profissionais da odontologia e da estética podem ser equiparadas no tocante aos riscos de infecção, tanto pela proximidade com o paciente e pelo tempo dos atendimentos, quanto pela necessidade de esterilização dos instrumentais.
Então, com base nos artigos publicados para o Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro (CRO/RJ), a escolha dos métodos de esterilização devem ser baseadas não somente na natureza do agente esterilizante, mas também, no tipo de material que contém os microrganismos (KONKEWICZ,...), pois, felizmente, a crescente tecnologia amplia cada vez mais a variedade de instrumentais utilizados na estética e atividades correlatas, fabricados de forma a facilitar seu processo de limpeza, esterilização ou descarte, o que justifica a importância da seleção dos instrumentais para melhor escolha do método de esterilização.
De acordo com a ANVISA (2006), a análise e a pré-seleção dos instrumentais a serem processados, deve considerar alguns critérios de inclusão tais como se o material pode ser processado, se a tecnologia disponível para o processamento do material é compatível com as propriedades do mesmo, a avaliação dos riscos e conseqüências de falhas no processamento, o risco ocupacional, a análise do custo-benefício, entre outros.
Seja uma simples limpeza ou esterilização a escolha do processamento ao qual o instrumental deverá ser submetido será melhor compreendido quando separados em uma das três categorias gerais propostas por "Spaulding" que são artigos críticos, semicríticos e não críticos, baseadas no risco potencial de infecção que é determinado em função do uso a que se propõem (CEVS/SES/RS, 2007).
Conforme Assis et al. (2008), os instrumentais utilizados em procedimentos invasivos, com penetração em pele, são classificados como artigos críticos. Pelo grande risco de transmissão estes artigos devem ser esterilizados.
De acordo com Prado e Santos (2002), os instrumentais que entram em contato apenas com mucosa íntegra, ou pele não integra, são denominados de artigos semicríticos.
E, segundo Venturelli et al. (2009), os instrumentais que entram em contato com a pele íntegra ou que não entram em contato direto com o paciente são classificados como artigos não-críticos.
Conforme categorização proposta por "Spaulding", os instrumentais utilizados na estética podem ser classificados da seguinte maneira: críticos (alicates, espátulas, bisturis, curetas, gaze, algodão, entre outros), semicríticos (ponteiras diamantadas, manoplas, ventosas, alguns tipos de eletrodos, entre outros), e não-críticos (cubas, almotolias, espátulas, alguns tipos de eletrodos, lençóis, toalhas entre outros).
3.4.1 Central de material e esterilização
Todo o processamento de instrumentais da área da saúde deve ocorrer na Central de Material e Esterilização (CME). Esta área destina-se a instalação dos equipamentos utilizados para a esterilização e deve ser dotada de bancada com pia e água corrente potável de uso exclusivo para limpeza dos instrumentais. Porém, não havendo local específico para o processamento, esse poderá estar localizado dentro da sala/área de procedimentos, desde que respeitada a necessidade de estrutura mínima, bem como o estabelecimento de barreira técnica que corresponde à adoção de medidas padronizadas dentre elas o fluxo adequado de instrumentais para evitar o cruzamento dos sujos com os limpos e esterilizados. Cabe ressaltar que os profissionais responsáveis por esta área devem utilizar equipamentos de proteção individual (EPI), constituídos por avental impermeável, óculos de proteção, máscaras, luvas de borracha, gorro e calçado fechados de preferência impermeáveis (SESA/PR, 2007; ASSIS, 2008; LEITE, 2008; SECIH/HPP, ...).

3.4.2 Limpeza dos instrumentais
A primeira etapa do processamento consiste na limpeza dos instrumentais, cujo objetivo é a remoção de sujidades visíveis, pois a matéria orgânica presente (óleo, gordura, sangue, pus e outras secreções) envolve os microrganismos, protegendo-os da ação do agente esterilizante. Por essa razão, a limpeza constitui núcleo de todas as ações referentes aos cuidados de higiene com os instrumentais. A limpeza poderá ser realizada de forma automatizada ou manual. Recomenda-se deixar os instrumentais abertos, desarticulados e desmontados, totalmente imersos em solução de água adicionada de detergente enzimático, respeitando a diluição e o tempo de exposição informados pelo fabricante. Decorrido o tempo de imersão, na forma manual, realiza-se fricção em todos os instrumentais utilizando uma escova plástica, e logo em seguida o enxágüe com água potável corrente. Esta etapa é finalizada com a secagem, que objetiva evitar a interferência da umidade nos processos e produtos posteriores, podendo ser realizada com um pano limpo e seco, papel toalha, ou estufa regulada para este fim (Ministério da Saúde, 1994; RAMOS et al., 2000; ANVISA, 2004; ANVISA, 2006; DAMMENHAIN, 2008).

3.4.3 Revisão e preparo dos instrumentais
De acordo com Ramos et al. (2000), a revisão deve ser feita durante o preparo dos kits de instrumentais, e consiste na verificação da integridade das funções e presença de sujidade no instrumental. O preparo consiste na montagem dos kits e pacotes. Esta etapa deve ser realizada em área limpa e organizada, devendo existir no local as listas dos instrumentais que compõe cada kit, e orientações para o preparo dos mesmos.
A exemplo de kits utilizados na área da estética temos o kit para manicure, que consiste nos seguintes instrumentais: alicate para remoção de cutícula, alicate para corte de unha, espátula para afastar a cutícula e toalha.

3.4.4 Empacotamento dos instrumentais
Após o preparo dos instrumentais e/ou kits, estes devem ser acondicionados em invólucros adequados à técnica de esterilização empregada.
A embalagem do instrumental a ser esterilizado é de vital importância durante e após o processo de esterilização, garantindo a qualidade e a longevidade da esterilidade do instrumental. As embalagens devem atender as especificações do equipamento para garantir que o instrumental foi esterilizado com segurança, considerando a permeabilidade para penetração e eliminação do agente esterilizante (COVISA/SP, 2008).

3.4.5 Tipos de invólucros
Os invólucros indicados para esterilização no forno de Pasteur são as caixas metálicas, os instrumentais contidos em seu interior devem ter um limite de volume que proporcione a circulação do calor e todas as caixas deverão ser fechadas com tampa. O invólucro recomendado para esterilização em autoclave é o papel grau cirúrgico que já possui os indicadores químicos de processo, podendo ser encontrado na forma de envelopes prontos, ou rolos de diferentes tamanhos e larguras. Se utilizados em rolo, deverão ser selados a quente com seladoras próprias, de forma que a selagem fique íntegra e sem rugas. A utilização de caixas não é obrigatória, porém protege os instrumentais e a integridade da embalagem uma vez que muitos são pérfuro-cortantes. A esterilização deve ser repetida se o pacote estiver danificado (rasgado, furado, aberto), se apresentar umidade, ou, se o indicador de processo não estiver com a cor alterada. As embalagens de papel grau cirúrgico são de uso único, podendo ser descartados junto com os resíduos do grupo D (DONATELLI; OPPERMANN; PIRES, 2003; COVISA/SP, 2008).

3.4.6 Identificação dos pacotes
Todos os pacotes devem ser identificados na própria fita indicadora de processo, com os seguintes dados: identificação do instrumental ou kit, data e lote, assinatura legível do responsável que o preparou (RAMOS et al., 2000).
Após a realização de todas as etapas preliminares, os materiais estão prontos para serem esterilizados, seja por processo químico ou físico.

3.5 ESTERILIZAÇÃO QUÍMICA
A esterilização por métodos químicos é um processo de longa duração, entre 8 e 18 horas, no qual ocorre a destruição de todas as formas de vida através do uso de agentes químicos designados esterilizantes. Este método é indicado para artigos críticos e termossensíveis , pois estes não resistem às altas temperaturas dos processos físicos. Embora exista uma variedade de produtos para esterilização química apenas dois contemplam características que asseguram maior praticidade, eficácia, segurança ocupacional e custo acessível, que são o glutaraldeído e o ácido peracético (OPPERMANN; PIRES, 2003).
O glutaraldeído é um agente desinfetante bactericida, eficaz contra Mycobacterium tuberculosis, alguns fungos e vírus, incluindo os da hepatite B e HIV. É lentamente efetivo contra esporos. Normalmente utiliza-se uma solução a 2% em pH 8 denominado glutaraldeído ativado/alcalino (GOMES et al., 2007).
O ácido peracético a 0,2% é caracterizado por sua rápida ação contra todos os microrganismos, incluindo esporos bacterianos. Além de ser efetivo na presença de matéria orgânica, apresenta solubilidade em água, biodegradabilidade e atoxicidade (OPPERMANN; PIRES, 2003).
Para garantir a eficácia do processo de esterilização química, alguns critérios devem ser respeitados, dentre eles, a total imersão do instrumental na solução esterilizante, bem como o tempo de exposição recomendado pelo fabricante do produto, sempre mantendo o recipiente tampado e o local ventilado. Para a finalização da esterilização química recomenda-se múltiplos enxágües com água esterilizada, visando eliminar resíduos do esterilizante utilizado, em seguida, secar externamente os instrumentais utilizando compressas estéreis e técnica asséptica , para, posteriormente, acondicioná-los em recipientes ou invólucros adequados e estéreis (JORGE, 2002).

3.6 ESTERILIZAÇÃO FÍSICA
De acordo com Ramos et al. (2000), a esterilização por meio físico consiste na utilização do calor, em suas várias formas, sendo indicada para esterilização de qualquer instrumental termorresistente , podendo ser realizada por meio de calor seco ou calor úmido.

3.6.1 Através de calor seco
O equipamento utilizado para a esterilização através de calor seco é o forno de Pasteur, usualmente conhecido como estufa. O processo baseia-se na utilização do calor gerado por uma fonte, o qual requer o uso de altas temperaturas e um longo tempo de exposição, pois como o ar quente propaga-se lentamente no instrumental, a esterilização exige um aquecimento prolongado. A irradiação do calor causa a destruição dos microrganismos fundamentalmente por um processo de oxidação, ocorrendo uma desidratação progressiva do núcleo das células. Este processo é mais indicado para metais, instrumentais de ponta ou de corte, que podem ser oxidados pelo vapor, vidrarias entre outros, sendo inadequado para tecidos, plásticos, borrachas e papel. Ao colocar a carga na estufa deve-se deixar espaço suficiente entre as caixas metálicas para haver uma adequada circulação de calor. As temperaturas variam entre 140ºC e 180ºC, quanto menor a temperatura maior será o tempo de exposição. Para uma efetiva esterilização dos instrumentais deve-se marcar o início do tempo de exposição quando o termômetro de bulbo instalado no orifício superior da estufa atingir a temperatura escolhida no termostato original. A estufa deve ser mantida fechada ininterruptamente durante o ciclo de esterilização, após, a estufa deve ser desligada para o resfriamento gradual e lento, pois a retirada da carga ainda quente para uma superfície fria, pode ocasionar a condensação de vapor e retenção de umidade. Para a retirada de materiais recomenda-se uso de pinças próprias ou luvas especiais (ROMANO; QUELHAS,...; DONATELLI...; RAMOS et al., 2000; OPPERMANN; PIRES, 2003).

3.6.2 Através de calor úmido
A esterilização por calor úmido é realizada em autoclaves, que emprega vapor de água saturado sob pressão em temperaturas entre 121°C a 132°C. Neste processo, os microorganismos são destruídos pela ação combinada do calor, da pressão e da umidade, que promovem a termocoagulação e a desnaturação das proteínas da estrutura genética celular. Este método é o de primeira escolha em se tratando de esterilização por calor. Esta preferência se justifica pelo fato do método preservar a estrutura dos instrumentais metálicos e de corte, por permitir a esterilização de tecidos, vidros e líquidos, desde que observados diferentes tempos de exposição e invólucros. Ao colocar a carga na autoclave, deve-se observar para não ultrapassar 70% da capacidade interna o equipamento. Os pacotes devem ser dispostos paralelamente uns aos outros no sentido vertical, respeitando pelo menos um centímetro entre eles e evitando encosta-los nas paredes internas da câmara, favorecendo a circulação de vapor e facilitando a secagem. Nas autoclaves convencionais, as embalagens poderão sair umedecidas, o que denota cuidados para não danificar a mesma e contaminar o instrumental. Atualmente existem autoclaves que apresentam dispositivos de secagem através de sucção do ar, aproveitando o calor dos instrumentos que foram aquecidos pelo vapor. A qualidade da água e conseqüentemente do vapor interferem na conservação e durabilidade dos instrumentais, podendo ocasionar manchas e corrosão, portanto, a água utilizada no reservatório da autoclave deve ser filtrada ou destilada (DONATELLI, ...; JORGE, 2002; OPPERMANN; PIRES, 2003; COVISA/SP, 2008; LEITE, 2008;).
Existe uma constante busca por modelos de autoclaves que permitam a máxima remoção do ar, com câmaras de auto-vácuo, totalmente automatizadas. Entretanto, para o manuseio desses equipamentos sofisticados faz-se necessário profissionais qualificados, pois estes são o fator de maior importância na segurança do processo de esterilização (LEITE, 2008).

3.7 VALIDAÇÃO DO PROCESSO
Conforme Ramos et al. (2000) validação é a verificação prática e documentada de todo o processo de esterilização, que avalia o desempenho dos equipamentos para averiguar se cumprem suas finalidades.
A validação do processo de esterilização através do monitoramento, deve incluir uma combinação de indicadores, químicos, biológicos e controles físicos, que avaliem as condições de esterilização e a eficácia do ciclo de esterilização. A monitoração física corresponde ao controle do tempo de exposição, da temperatura, e da pressão (no caso de autoclave). Os indicadores químicos se dividem em indicadores de processo (ou indicador visual), que são fitas auto-adesivas utilizadas unicamente para diferenciar os pacotes processados dos não processados através da mudança da cor da fita, e indicadores externos, que consistem de tiras de papel impregnadas com tinta termocrômica que mudam de cor quando expostas à temperatura por tempo suficiente, indicando que as condições em que se processou a esterilização estavam corretas. O indicador biológico, a exemplo o Attest, é um sistema que contém suspensão de esporos do tipo Bacillus stearothermophilus (autoclave) e Bacillus subtilis (estufa), são utilizados para testar a eficácia do processo quanto à destruição dos microrganismos. As ampolas de Attest são colocadas dentro de pacotes-teste (identificados assim) em locais estratégicos. A periodicidade ideal para a realização do teste biológico é de uma vez por semana, e as etapas devem seguir essencialmente as orientações do fabricante (RAMOS et al., 2000; OPPERMANN; PIRES, 2003).
Conforme pode ser visualizado durante a visita técnica à Central de Esterilização do curso de Odontologia da UTP, os métodos de esterilização devem ser monitorados e registrados a cada ciclo, levando em consideração os seguintes parâmetros: data, lote, número do ciclo, pressão (no caso de autoclave), tempo, resultado, dentre outros. Os dados referentes à monitoração física e biológica, devem ser anotados em formulários, os quais devem ser assinados pelo responsável pelo processo (UTP, 1999).

3.8 ESTOCAGEM
A estocagem dos instrumentais esterilizados deve ocorrer em ambiente fechado, limpo, com umidade relativa do ar de 30 a 60% e temperatura não superior a 25ºC. Recomenda-se a estocagem em armários fechados de superfície lisa e de fácil limpeza, ou caixas plásticas com tampa. O prazo de validade é bastante variável e depende do tipo de invólucro, da eficiência do empacotamento, do local de estocagem, entre outros. Em geral a validade é de até 07 dias para esterilização por calor úmido e seco (ANVISA, 2004).
4 DISCUSSÃO
O presente trabalho foi realizado com o objetivo discutir a viabilidade dos métodos de esterilização para instrumentais utilizados em procedimentos estéticos.
Dentre os métodos estudados, a esterilização química mostrou algumas desvantagens, pois, além de ser um processo de difícil execução e de longa duração, o instrumental não pode permanecer estéril, uma vez que é esterilizado sem a utilização de invólucro, e também por não existir teste biológico para comprovar a esterilidade do mesmo, o que o torna um método de difícil aplicação para os estabelecimentos de estética e atividades correlatas.
Por outro lado, para os materiais que resistem a altas temperaturas, a esterilização por meio do calor é o método de primeira escolha, pois não forma produtos tóxicos, é seguro e de baixo custo, preserva a estrutura dos instrumentais metálicos e de corte, e através da autoclave pode-se esterilizar tecidos, vidros e líquidos.
Assim, a esterilização realizada por autoclaves pode ser uma alternativa para a área de estética e atividades correlatas.

5 CONCLUSÃO
Os processos de esterilização em instrumentais utilizados em procedimentos estéticos, contribuem para a prevenção de infecção cruzada, garantindo, do ponto de vista microbiológico, um atendimento seguro.
Entretanto, existem limitações no que se refere a esta prática, geralmente decorrentes da falta de informação e conscientização quanto aos riscos e também quanto às possibilidades de aplicação, o que pode representar um grave problema de saúde pública.
Conclui-se que a eficácia do controle de infecção por meio da esterilização de instrumentais não depende somente dos métodos, dos equipamentos ou dos produtos, mas essencialmente da capacitação dos profissionais envolvidos no processo.
Diante deste contexto, o tecnólogo em estética pode contribuir para a prevenção de infecção cruzada em estabelecimentos de estética e atividades correlatas, atuando junto às Centrais de Materiais e Esterilização (CME), elaborando os Procedimentos Operacionais Padrão (POP?s), capacitando os profissionais desta área, promovendo a educação continuada e supervisionando os processos de esterilização.

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7 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1 Disponível em: http://www.webartigosos.com/articles/27500/1/PROCEDIMENTO-OPERACIONAL-PADRAO-/pagina1.html. Acesso em: 05 jun. 2010.

2 Disponível em: http://curlygirl.no.sapo.pt/monera.htm. Acesso em: 05 jun. 2010.

3 Disponível em: http://www.fiocruz.br/biossegurancahospitalar/dados/material5.htm. Acesso em: 05 jun. 2010.

5 Disponível em: http://www.sbcc.com.br/revistas_pdfs/ed%2006/06Asseptica6.pdf. Acesso em: 05 jun. 2010.