INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é relatar algumas experiências de produção coletiva de fotonovela, na perspectiva da Educomunicação, com alunos do ensino infantil e do primeiro ano do ensino fundamental, por mim realizadas na Escola Estadual Marechal Floriano, da qual participei como aluna pesquisadora e na Escola Municipal de Educação Infantil Antonio Branco Lefevre, enquanto realizava a minha formação em Pedagogia.
Pretendo evidenciar como a tecnologia influencia nosso cotidiano e como é possível o professor usá-la de forma positiva em suas práticas pedagógicas, propiciando diversos aprendizados, principalmente, processos de construção de autoria a partir dos primeiros anos de escolarização das crianças.
Tenho observado que alguns alunos com dificuldade de socialização acabam ficando isolados mesmo estando dentro do ambiente escolar, e isso pode causar transtornos para o seu desenvolvimento físico, cognitivo e principalmente social, fatores fundamentais para sua formação. Com o avanço tecnológico, esses recursos hoje disponíveis nas escolas da cidade de São Paulo, poderão ser utilizados no cotidiano escolar para o desenvolvimento de atividades promovendo a alfabetização e o letramento , de forma a contribuir para uma plena cidadania.
Existem outras barreiras que impedem a transformação de nossas escolas em ambiente apropriado de formação do cidadão. A educação escolar pode propiciar meios que possibilitem transformações e melhoria da qualidade de vida da população, se houver vontade política. Digo isso porque, pelo que pude perceber os alunos na escola não gostam de ficar apenas pintando desenhos ou de mexer em materiais reciclados, e eu concordo com eles. Essas atividades até que são boas alternativas para conscientização ao que se refere ao meio ambiente, mas a partir do momento em que os alunos apenas fazem isso como "arte" na escola, desvaloriza-se o potencial do aluno que poderia ser mais bem explorado. As crianças gostam, querem e precisam ter a oportunidade de aprender com equipamentos que envolvem tecnologias. Elas sentem necessidade e merecem usufruir desse aparato disponível nas salas de informática de cada unidade escolar . Trata-se, em suma, de uma questão que envolve o direito ao acesso e a oportunidade de aprender com qualidade.
Porém, algumas escolas de hoje (escola pública - foco da minha pesquisa), têm se mostrando apáticas a tal importância. Vivemos num mundo tão cheio de imagens e a escola insiste em tentar transmitir conteúdos de forma apenas escrita sem nenhuma reflexão. Predominam as aulas expositivas e a cópia nas atividades de escrita, isolando-se da realidade, burocratizando o acesso à arte, à tecnologia e podando a comunicação, descaracterizando, enfim, o indivíduo em formação como um ser capaz, criativo e autônomo.
É necessário inserir no ambiente escolar, atividades diferenciadas, estimulantes e desafiadoras para os educandos com o objetivo de ampliar repertório e promover o desenvolvimento cognitivo por meio da comunicação. Vale ressaltar que há muitos professores que conseguem desempenhar seu papel muito bem em condições adversas, movidos pela força de vontade e ética, trabalhando apesar de a sociedade insistir em diminuir sua real importância profissional.
Conhecendo algumas técnicas de produção coletiva de fotonovela , na perspectiva da Educomunicação, pensei em utilizar desse recurso, porque, quando os alunos interagem, constroem relações novas entre si e descobrem novidades sobre o mundo em que vivem. Usando recursos da fotografia e da dramatização ? elementos estruturantes da produção de fotonovela - com liberdade, aprendendo a estabelecer relações colaborativas com colegas será possível colaborar para a formação das crianças de forma mais harmônica e saudável. Ademais, tais atividades revelam respeito a diferenças e experiências individuais. Por fim, a interação que essa atividade promove, assim como outras produções de educomunicação, é fundamental para a formação política do indivíduo num processo de conscientização para transformação da realidade.
"O neologismo Educomunicação, que em princípio parece mera junção de Educação e Comunicação, na realidade, não apenas une as áreas, mas destaca de modo significativo um terceiro termo, a ação. É sobre ele que continua a recair a tônica quando a palavra é pronunciada, dando-lhe assim, ao que parece, um significado particularmente importante. Educação e/ou Comunicação ? assim como a Educomunicação ? são formas de conhecimento, áreas do saber ou campo de construções que têm na ação o seu elemento inaugural" (SOARES, Donizete 2010: 3).






CAPÍTULO I ? A fotonovela no contexto da educação
A fotonovela é um tipo de história em quadrinhos onde são utilizadas fotos em vez de desenhos. Ela pode narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos, e até ser utilizada para retratar o meio para a livre expressão do pensamento e manifestação de práticas sociais, além de favorecer o aprendizado e o acesso à tecnologia no ambiente escolar.
Comentarei agora sobre algumas pesquisas realizadas envolvendo Tecnologia, comunicação e educação muito importantes para o desenvolvimento desta monografia.
Jair Santana mostra que há um descompasso entre tempo e espaço na escola e na sociedade, formando duas vertentes. Um pressuposto mostra que as TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) podem introduzir mudanças no ensino formal, porém há resistência à sua inserção e barreiras para sua apropriação, havendo necessidade de novas abordagens pedagógicas para sua inserção na escola exigindo, consequentemente, o redimensionamento do ensino. O outro pressuposto argumenta que as TIC não podem introduzir mudanças significativas no sistema formal. Há impedimentos de ordem paradigmática, expressos nas abordagens pedagógicas e relações assimétricas de poder, direcionando para a virtualização da aprendizagem ou aprendizagem eletrônica em ambientes virtuais (Estado do Conhecimento nº 9: 28).
Estas duas vertentes são muito importantes, pois apontam a flexibilidade da utilização da tecnologia nos processo de ensino aprendizagem. Como se trata de dados de cunho quantitativo, minha preocupação se volta à qualidade da utilização da tecnologia para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que efetivamente possam contribuir para que o educando aproprie-se do saber.
Comentarei a seguir um trabalho desenvolvido sob a perspectiva da educomunicação, com crianças e adultos, com bons resultados qualitativos na afirmação dos processos de autoria e da livre expressão do pensamento.
Grácia Lopes Lima em sua tese de doutorado amplia uma pesquisa de dois anos, empreendida pelo NCE ? Núcleo de Educação e Comunicação da Escola de comunicação e Artes, da Universidade de São Paulo, em parceria com pesquisadores da UNIFACS, Bahia, que buscavam identificar os trabalhos relacionados com a inter-relação comunicação e Educação e seus respectivos realizadores no âmbito da América Latina. Esses resultados se referem a entrevista junto a 178 colaboradores de 14 países, sendo 67,61% brasileiros, e 32,29% latino-americanos e espanhóis. As atividades de comunicação cultural, especialmente ligadas a linguagens artísticas eram de 4% e atividades com o uso da comunicação em ações voltadas para a cidadania, melhoria da qualidade de vida e diversidade humana eram de 3% em toda a América Latina.
Essa tese contribui significativamente para este trabalho porque algumas práticas de educomunicação realizadas mostram resultados qualitativos, relatando que em pouquíssimo tempo, crianças do "Projeto Cala-boca já morreu", por exemplo, mostravam que o domínio de equipamentos tecnológicos e da linguagem dos meios de comunicação pode ser um instrumento precioso para a formação de indivíduos esclarecidos, ativos e autônomos nos processos coletivos de criação (LIMA, 2009: 10).
"Essas experiências de mais de uma década voltadas para a produção coletiva de comunicação, na perspectiva da educomunicação, com diferentes públicos ? crianças, adolescentes, jovens e adultos, em espaços de educação formal e não formal ? têm levado várias questões inquietantes, não só em quem produz e se reconhece como autor nas mensagens midiáticas que cria, como em quem acompanha o processo e percebe aí a possibilidade de as produções serem uma forma de conhecer/compreender as culturas de diferentes grupos sociais e envolver-se em uma outra proposta que se vale das tecnologias e das linguagens dos meios de comunicação como instrumentos de educação" (LIMA, 2009: 12).

Tais afirmações calcam-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ? LDB que promove a garantia de direitos no que se refere à igualdade de condições para acesso e permanência na escola, local de atendimento educacional especializado gratuito, preferencialmente na rede regular de ensino; preconiza que são indispensáveis padrões mínimos de qualidade, bem como insumos para o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem e que aos docentes cabe a participação da elaboração da proposta pedagógica, o cumprimento do plano de trabalho, o zelo pela aprendizagem dos alunos bem como estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento.
Baseiam-se também no Estatuto da Criança e do Adolescente ? ECA que afirma caber ao poder público o estímulo à pesquisa, experiências e novas propostas relativas a currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura. Os Municípios, com o apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais voltadas para a infância e a juventude.
A estratégia proposta promove os objetivos gerais dos Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Fundamental, compreendendo a cidadania como participação social e política, atrelada ao desenvolvimento de atitudes de solidariedade, cooperação e respeito mútuo, o posicionamento de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, construção progressiva da noção de identidade nacional e pessoal, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente; desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania; utilizar as diferentes linguagens: verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal, como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação e respeitando suas peculiaridades (PCN?s ? Introdução, 1997: 69).
No caso específico de produção coletiva de fotonovela, na perspectiva da Educomunicação, fica evidente ser possível viabilizar alguns dos objetivos específicos para língua portuguesa contido no PCN, tais como a ampliação de visão de mundo e inserção do pequeno leitor na cultura letrada; estímulo ao desejo de outras leituras; possibilidade de vivenciar emoções, exercício da fantasia e da imaginação; compreensão do funcionamento comunicativo da escrita (escrever para ser lido); expansão do conhecimento a respeito da própria leitura; produção de textos em outras linguagens; compreensão da relação que existe entre a fala e a escrita; e estabilização de formas ortográficas (PCN ? LP, 1997: 47).
Considerando a produção coletiva de fotonovela como um processo pertinente também às artes visuais, eis alguns objetivos específicos que ampliam a proposta de compreensão e utilização da arte como linguagem, mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou coletiva, articulação entre percepção, imaginação, emoção, investigação, sensibilidade e reflexão ao realizar e fruir produções artísticas; construção de uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, sabendo receber e elaborar críticas; observação das relações entre arte e realidade, refletindo, investigando, indagando, com interesse e curiosidade, exercitando a discussão, a sensibilidade, argumentando e apreciando arte de modo sensível; identificação, relação e compreensão de diferentes funções da arte, do trabalho e da produção de artistas (PCN ? Arte, 1997: 39).
No que se refere à expressão, comunicação e apreciação têm importância significativa na prática. Ainda de acordo com os PCN?s, as artes visuais no fazer dos alunos, incluem vídeo, fotografia, histórias em quadrinhos, produções informatizadas além de desenho, pintura, colagem, escultura, gravura, modelagem e instalação. Isso significa o reconhecimento da utilização dos elementos da linguagem visual para representar, expressar e comunicar por imagens utilizando-se da fotografia e dos recursos da informática, como acontece nas produções de fotonovelas que realizei para este trabalho; Assim, experimentação, utilização e pesquisa de materiais e técnicas artísticas com máquinas fotográficas, vídeos, aparelhos de computação e de reprografia mostram capacidade de familiarizar os alunos com a tecnologia no ambiente escolar (PCN ? Arte, 1997: 45 - 46).
As referências citadas me ofereceram um panorama da atual situação em relação ao tema escolhido "Educomunicação na Alfabetização e no Letramento" e me ajudaram a problematizar a produção coletiva de fotonovela como estratégia para "alfabetizar letrando" no ambiente escolar. No capítulo seguinte, comentarei sobre os aspectos psicossociais da exclusão social que influenciam no processo de ensino aprendizagem, ainda presentes no ambiente escolar e sobre recursos para resgatar a livre expressão do pensamento e desenvolver o senso crítico dos educandos.
CAPÍTULO II - Aspectos psicossociais da exclusão social no processo de ensino-aprendizagem
Observamos que as artes visuais, desde o início da história do homem, têm um papel muito importante, seja como forma de registro para as gerações posteriores, para marcar território, disseminar regras, rituais, ou para a comunicação ao longo dos séculos, sendo criada e recriada, em todas as épocas, nos mais variados estilos.
Quando entendemos que não é a universalidade da espécie que define um sujeito, mas as suas peculiaridades ligadas a sexo, etnia, origem, crenças, tratar as pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, assim como tratar igualmente os diferentes pode esconder as suas especificidades e excluí-los do mesmo modo.
Observamos que ao longo dos tempos o ser humano praticou inúmeros processos de seleção crueis, segregando as pessoas pela raça, por decorrência de disputas políticas, exploração econômica e principalmente pela repressão à liberdade de expressão, condicionando o cidadão a estereótipos culturais negativos, quando não o direciona a um consumismo desenfreado, através da publicidade veiculada pelos meios de comunicação.
MANTOAN & PRIETO colocam a escola, como espaço inter, trans, pluri e multidisciplinar, em que as fronteiras entre os distintos campos de conhecimento solicitam cada vez mais dos profissionais que nela atuam a capacidade de dialogar e transitar por caminhos insólitos e desconhecidos. O diálogo é o melhor caminho possível para buscar o equilíbrio entre interesses particulares e antagônicos que sustentam as disciplinas e os campos específicos de conhecimento, admitindo que tratar igualmente aqueles que são diferentes pode levar-nos à exclusão.
A igualdade abstrata não propiciou a garantia de relações justas nas escolas. A igualdade de oportunidades, que tem sido marca das políticas igualitárias e democráticas no âmbito educacional, também não consegue resolver o problema das diferenças nas escolas, pois elas escapam ao que essa proposta sugere, diante das desigualdades naturais e sociais.
A igualdade de oportunidades é perversa, quando se trata do acesso de pessoas que não têm a mesma possibilidade das demais, para desfrutar do processo educacional em toda sua extensão. Não lhes é assegurada a permanência e o prosseguimento da escolaridade em todos os níveis de ensino. Mais um motivo para se firmar a necessidade de repensar e de se romper com o modelo educacional elitista de nossas escolas e de reconhecer o direito de aprender como ponto de partida e as diferenças no aprendizado como processo e pronto de chegada.
A construção da competência bem como a formação continuada do professor para responder com qualidade às necessidades educacionais especiais de seus alunos, pela mediação da ética, responde à necessidade social e histórica de superação das práticas pedagógicas que estimulam a discriminação, segregam e excluem, e, ao mesmo tempo, configuram a ação educativa. As barreiras psicossociais podem se constituir em impedimentos cruciais ao acesso e à permanência dos alunos.
Para virar este jogo, percebo que o melhor caminho é resgatar valores e promover a reflexão, não há melhor espaço que o ambiente escolar, utilizando a tecnologia para promover o processo de autoria dos alunos. Estimulando criatividade do aluno, cada vez mais ele será um criador, tornando-o condutor de sua própria vida, de forma consciente e responsável.
Na mediação pedagógica a postura do professor será essencial. Colocando-se como facilitador, incentivador e motivador da aprendizagem, apresentando-se com disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem, poderá, inclusive, fazer uso das novas tecnologias, visando à melhoria do processo de aprendizagem dos alunos que estão à margem dos demais, isso porque as novas tecnologias sugerem o uso do computador, da Internet, hipermídia, multimídia, ferramentas de educação a distância, chats, listas de discussão, e-mail, blogs e de outros recursos digitais disponíveis e que surgem a todo o momento.
É preciso estimular o aluno à interação social, o conhecimento e as habilidades de que necessita para crescer como cidadão plenamente reconhecido e consciente de seu papel em nossa sociedade. Isso só será alcançado se oferecer também à criança com dificuldades acentuadas, pleno acesso aos recursos culturais relevantes para a conquista de sua cidadania.
Tais recursos incluem tanto o saber tradicionalmente presente no trabalho escolar, quanto os contemporâneos, preocupados, por exemplo, com o meio ambiente, a saúde, a sexualidade e as questões éticas relativas à igualdade de direitos, à dignidade do ser humano e à solidariedade. Nesse sentido, é fundamental ajudar o educando a enfrentar o mundo como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de direitos e deveres é fundamental, e nosso objetivo.
No capítulo seguinte tratarei da produção coletiva de fotonovela na perspectiva da Educomunicação como atividade pedagógica no ambiente escolar.


CAPÍTULO III - Produção coletiva de fotonovela na perspectiva da Educomunicação como atividade pedagógica no ambiente escolar
Para realização da produção coletiva de fotonovela é necessário definir tarefas e papéis de acordo com o interesse do aluno. Geralmente são necessários um autor, um fotógrafo e o elenco de atores.
Nos trabalhos que realizei inicialmente perguntei para os alunos quem se interessava em ser um autor de livro. Devo lembrar que trabalhei com crianças de cinco, seis e sete anos e a grande maioria ainda não estava alfabetizada. Partindo do interesse do aluno em ser um autor de livro eu pedi que, como tarefa de casa, elaborasse uma pequena história que poderia se escrita ou em desenho. O próximo passo foi distribuir os grupos e as tarefas, sempre partindo do interesse dos alunos.
Cada aluno autor contou sua história para os colegas e, a partir daí, foram definidos os grupos. Foram utilizados os diversos espaços dentro do ambiente escolar, depende do enredo. Uma câmera digital foi dada ao aluno que se interessou em ser o fotógrafo. Esse foi um jeito de levá-lo a se familiarizar e aprender a mexer no equipamento. Os próprios alunos articularam as cenas a serem fotografadas e a produção oral que teria destino escrito. Eu tive cuidado para anotar tudo, porque somos nós, os professores, que devemos ser os escribas nesse tipo de proposta e tudo deve sair como o combinado entre o grupo.
Com o material coletado dos alunos, fotos e escritos, então, o próximo passo foi editar no Programa Power Point a sequência das fotos. Inicialmente parece trabalhoso, mas a partir do material produzido pode-se fazer uma série de mini-aulas abordando diversos assuntos, sempre lembrando que o material que o aluno produz sempre terá um significado.
Tive a oportunidade de imprimir e encadernar alguns trabalhos para os alunos trabalharem em sala de aula para apropriação da leitura e da escrita. Se os alunos manipulam vários livros didáticos e paradidáticos que às vezes não têm muito sentido, por que não trabalhar com o próprio material criado por eles, que favorece o estímulo e atribui significado para o que leem?
Todas as fotonovelas foram reproduzidas em DVD e entregues aos alunos para serem eternizadas como lembrança do primeiro ano do ensino fundamental. Quero deixar bem claro que o que mais interessa nesse procedimento é a valorização do processo de autoria dos alunos.
Entendo que uma metodologia qualitativa é a mais adequada para minha pesquisa. Assim, primeiramente realizei observações de cunho psicossocial, fazendo uma descrição do que se refere ao comportamento, convivência na sala de aula. Para realização deste trabalho fiz uma pesquisa participante, aquela em que o pesquisador, para realizar a observação dos fenômenos, compartilha a vivência dos sujeitos pesquisados, participando, de forma sistemática e permanente, ao longo do tempo da pesquisa, das suas atividades. (SEVERINO, 2007).
Observei a comunidade escolar com uma análise de sua própria realidade antes, durante e depois da apresentação da técnica de produção coletiva de fotonovela, mostrando os resultados obtidos tendo como foco principal a alfabetização e o letramento, focando no processo de autoria dos alunos.
Foram considerados os processos esperados no ambiente escolar de aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver, bem como o acesso à tecnologia, o interesse do professor em promover a produção coletiva de fotonovela, a participação dos alunos e o interesse do gestor em viabilizar as condições e suportes adequados. Não posso deixar de colocar minha posição no que se refere à renovação das relações políticas que essa atividade promove.
A tecnologia tem fundamental importância no nosso cotidiano, e a comunicação é uma ação que trabalha intelecto e emoção desordenando a ordem convencional. Esta perspectiva faz com que o espectador seja parte da história, usando sua interpretação, a oportunidade de olhar com os olhos do outro. Afirmando, assim um processo sócio-histórico do desenvolvimento humano. Desta forma o conhecimento não se apresenta como uma ação do sujeito sobre a realidade, e sim por sua mediação.
A pesquisa iniciou-se em agosto de 2007, com a produção de quatro fotonovelas na E.E. Marechal Floriano. Em 2008 foram mais cinco e, em 2009, na EMEI Antonio Branco Lefrève foram duas conforme relatarei.
Na E.E. Marechal Floriano, ano 2007, era véspera do "Dia das Bruxas" e os alunos pediram para levar fantasias para a escola. O Professor disse que não poderia e então os alunos ficaram tristes. Então, resolvi fazer atividade de fotonovela com eles. Os alunos aceitaram e se empolgaram. No dia seguinte alguns trouxeram suas fantasias, quando então pedi que eles elaborassem uma história. Eles se organizaram, descidiram quem iria ser o fotógrafo e começamos a sessão de fotos.
O Professor passou a ajudar na organização do cenário, gostou tanto que separou os outros alunos em dois grupos e marcou mais fotonovelas para o dia seguinte.
No dia seguinte, logo cedo, os grupos se reuniram. Então eu disse que eles deveriam proceder como o grupo anterior, decidindo quem iria ser o fotógrafo e o autor, elaborando uma história, os personagens, e como a história se desenvolveria. Tudo resolvido, após o intervalo, iniciamos a sessão de fotos, desta vez na Brinquedoteca e surgiram mais duas histórias, eles adoraram fazer essa atividade e ficaram anciosos para ver o resultado.
A colaboração do Professor foi muito importante, ele até trouxe algumas fantasias utilizadas no teatro.
É impressionante como alunos que tem algum tipo de "dificuldade" quando desenvolve esse tipo de atividade, mostram-se e com boa iniciativa, já outros se revelam como perfeitos atores. Em outro dia, pedi para os alunos se organizarem formando um grupo de aproximadamente dez alunos. Eles se reuniram no fundo da sala e o procedimento foi o mesmo, definir o fotógrafo e o autor, elaborar uma história e os personagens, só que desta vez não havia fantasia.
No decorrer do processo, observei que os alunos faziam dobraduras para o cenário. Percebi, então, a capacidade de improvisação que essa atividade promove. Os trabalhos ficaram muito bons.
No ano de 2008, apresentei a técnica para a professora regente, que logo autorizou a realização da atividade. Eram trinta e dois alunos que formaram cinco pequenos grupos para fazer cinco fotonovelas. Fiz a mesma proposta com a diferença de que, nesse ano, a grande maioria dos alunos não tinha fantasias. Então, procurei solucionar esta questão buscando doações e fazendo um pequeno investimento. Não houve muito entusiasmo por parte da professora regente durante a atividade. Enquanto eu trabalhava com um grupo de cada vez em outro espaço da escola, a professora regente continuava passando o "conteúdo curricular" para os alunos que permaneciam na sala de aula. Isso significa que propostas diferentes de metodologia didática podem provocar rejeição em alguns professores, quando então, a melhor coisa a fazer é mostrar os benefícios. O resultado final mudou a opinião da professora, pois a satisfação e o entusiasmo dos alunos ficaram visíveis.
Na EMEI Antonio Branco Lefrève, realizei um estágio nos meses de outubro e novembro de 2009 tive a oportunidade de permanecer lá um pouco mais de um mês e procurei me integrar ao ambiente sempre observando criticamente os acontecimentos. Ocorre que na classe do segundo estágio (crianças de cinco anos), havia dois alunos de inclusão que não são muito bem aceitos pelos colegas e até por algumas professoras. Os dois, apesar de serem muito inteligentes, balbuciavam apenas algumas palavras e viviam à margem dos acontecimentos e atividades da sala de aula.
Percebendo a necessidade de uma integração sugeri à professora a produção coletiva de fotonovela, expliquei a técnica, ela interessou-se e me autorizou a realizar a atividade com os alunos. Devo informar que essa escola era muito bem estruturada no sentido de trabalhar a ludicidade em suas práticas pedagógicas com material diversificado como muitos brinquedos, fantasias, máscaras, acessórios e um amplo espaço dedicado ao ato de brincar.
Foram formados dois pequenos grupos e duas produções. Durante o processo esses problemas ficaram evidentes, mas procurei fazer uma mediação de forma que todos pudessem participar, afinal de contas, não podemos problematizar e deixar o problema para ser resolvido apenas por eles, isso seria atribuir-lhes uma responsabilidade que não lhe cabia em tenra idade. O processo, bem como o resultado foram muito bons. Os alunos se identificaram com os personagens, se esforçaram, articularam e tudo deu certo. O resultado foi uma bela apresentação para a sala e depois uma exposição do material impresso para os demais alunos da escola.

CONCLUSÃO
Nas escolas utilizadas como campo de ação deste trabalho, constatei a existência de bons equipamentos, materiais, acessórios e espaços no ambiente escolar que não são utilizados ou são utilizados inadequadamente desvalorizando a importância das novas tecnologias e da comunicação, como por exemplo, a sala de informática com pouquíssima utilização para o desenvolvimento de práticas pedagógicas.
A tecnologia, cada vez mais influenciará nos processos educativos e comunicativos, e os docentes são mediadores fundamentais dos processos interdisciplinares e das relações sociais, para tanto, concluo que a produção coletiva de fotonovela no ambiente escolar favorece ao educando o desenvolvimento da oralidade, da leitura e da escrita, de forma descontraída, um significado prático para seu uso, bem como promove o processo de autoria, fundamental para o fortalecimento de cada sujeito, de sua cultura e da transformação da realidade.

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