E se pudéssemos...

 

E se pudéssemos voltar atrás de cada palavra dita, da palavra omitida, do gesto contido, do olhar abaixado, da vida não vivida, de cada não que queríamos sim, de cada sim que significava um não e das lágrimas por tudo isso derramadas?

E se pudéssemos voltar atrás do amor não compartilhado, do amor negado, de partidas e chegadas tão doloridas, das incertezas incertas que povoam nossa vida e dos sonhos só sonhados?

E se pudéssemos voltar atrás de riscos não assumidos e que muitas vezes não entendemos que poderíamos mudar e sequer tentamos e os transformamos em lamento e das perguntas sem respostas e das respostas que sequer foram pedidas?

E se pudéssemos apagar no tempo o tempo em que dissemos coisas que mudaram nossa vida e das quais nos arrependemos tanto?

E se pudéssemos reescrever nossa história, apagar os dias já vividos, as noites de insônia, o choro preso na garganta, tantas despedidas doídas, tantos abraços contidos, as mãos vazias a alcançar o nada, cada olhar de tristeza ao ter que dizer adeus e cada súplica não atendida?

Será que percorreríamos novamente o caminho do “e se tivéssemos?” Será que mesmo o sabendo difícil, tortuoso, indefinido, indeciso, sofrido, passaríamos por ele novamente, para tentar apagar nossa vida e reescrevê-la a nosso bel prazer?

Será, será que tudo poderia ter sido diferente?

O que faríamos então com nossas alegrias, com os sorrisos a nós direcionados, com as promessas feitas e com nossos projetos realizados?

 E com os dias de chuva que ficamos na cama, ouvindo o bater das gotas na janela de nosso quarto, a nos mostrar que viver também é descansar, é relaxar, é ter um cadinho de preguiça?

E com tantas “chegadas” que tivemos em nossas vidas e que nos mostraram o quão bom é a recompensa de esperar e a alegria do momento em as vivemos?

E com as lágrimas derramadas por motivo de alegria e que recompensaram o tempo de espera que parecia tão longo... Tão distante... Tão incerto... Mas que se mostrou certo na hora certa de acontecer?

 E se pudéssemos... Seriam tantas perguntas sem respostas... Ou seriam muitas as respostas que não gostaríamos de ouvir?

 É a vida que nos faz pensar que se os “e se pudéssemos...” fossem  vivenciados, nós nos contentaríamos, nos calaríamos e seríamos tão mais felizes...  Como se possível fosse.

Mas não, os “e se pudéssemos...”, fazem parte do nosso viver, da nossa inquietude, da ânsia de viver o que se pensa ser o que é ou o que seria melhor para viver nossa vida em plenitude.

Ou não?

Heloisa/ 6 de outubro de 2009