As Várias Releituras do Conto Chapeuzinho Vermelho por Ângela Lago

 Marcos Paulo da Silva Soares[i] 

Ângela Lago, escritora e ilustradora, mineira de Belo Horizonte, recria, de forma estupendamente criativa, o conto Chapeuzinho Vermelho. A autora, por meio de recursos da informática, como a animação, e da adaptação da técnica de RPG (Role–Playing–Game – Jogo de Interpretação de Personagens), muito conhecida entre os jovens que adoram jogos eletrônicos ou de tabuleiros, possibilita ao leitor vivenciar diferentes caminhos na história. Ele pode conduzir escolhas dos personagens como a própria Chapeuzinho, a mãe desta, a Vovozinha, os caçadores e, é claro, o Lobo.

Em uma das possibilidades que a autora propõe para a (re)escrita do consagrado conto, por exemplo, na animação, a garotinha do Capuz Vermelho não segue imediatamente para a casa de sua avó, mas sim, vai ao campo colher flores para a mesma. Nesse ínterim, o Lobo, que a espreitava, corre para a casa da vovozinha devorando-a. Chegam os caçadores e um deles pega um livro – que, levado, pelas vezes que interagi com a história no site, entendi como sendo o próprio conto de Chapeuzinho Vermelho – e começa a lê-lo. Diante da triste notícia, Chapeuzinho arremessa as flores ao chão, saindo em seguida desesperada e chorosamente.

Não há nenhum texto escrito exceto os que são usados na apresentação e finalização da releitura da obra dos irmãos Grimm. As falas dos personagens resumem-se em breves cantorias – que não passam mais do que balbuceios - da Chapeuzinho, gritos da vovó, tiros dos caçadores e outras onomatopeias. Isso traz uma simplicidade pueril ao contar a história. Não é necessário saber ler para “ler” a história.

A surpresa e a interação são excelentes elementos presentes nessa proposta educacional de Lago. A arte-educadora nos levar a pensar a produção literária para crianças sob a ótica dos letramentos literário e visual.  Associando áreas como a leitura, o lúdico (por meio da técnica do RPG) e a reescrita de textos em uma atividade, ela ainda traz à ação um fundo musical francês e pelos títulos dados à história no final dessa interação: Le Chaperon Rouge e La interminable caperucita.

O primeiro é o título do referido conto em francês. O segundo é um trocadilho do mesmo conto em espanhol: Caperucita Roja com o termo Interminable (Interminável, também em espanhol). A genialidade dessa mineira nesse trocadilho é claro: por trás das reescritas e releituras, um texto nunca termina. Um texto nunca morre, ele sempre ressuscita e incorpora novas características vindas da visão de mundo de cada (re)leitor ou (re)escritor.

Como um ótimo estímulo à leitura, a abordagem de Lago a um caminho também já trilhado, em parte por outros artistas. Como é o caso do livro (Coração de Tinta), de Cornelia Funke (existe uma versão cinematográfica homônima da obra). Onde releituras de outros contos são feitas contando com a interatividade dos personagens com os habilidosos leitores da história.

Pelas diversas vezes que joguei ou será que é li ou reescrevi o conto infantil com Ângela Lago, este autor descobriu cinco variações da história. Será que você consegue descobrir mais? A aposta está de pé? Use o link a seguir (http://www.angela-lago.com.br/Chapeuzinho.html) e tenha uma Boa (Re-)Leitura!

 

[i] Graduado em Letras-Literatura pela Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza – Ce, e Bacharel em Teologia com especialização em exegese pelo Seminário Batista do Cariri, Crato – Ce. Leciona, desde 2009, Português, Grego, Hebraico, Antropologia Cultural, Religiões Comparadas, Introdução Bíblica no Centro de Treinamento Eclesiástico & Missões - CETREM, em Juazeiro do Norte – Ce  (filiado ao Seminário Teológico Batista do Ceará, em Fortaleza – Ce ). Ex-estagiário da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Funcap, e da Secretaria de Educação do Estado do Ceará - SEDUC, Crede 20, em 2011. Atuou como professor de Grego e Português no Seminário Batista do Cariri - SBC, de 2008 a 2011.