1 INTRODUÇÃO

 

Ao longo da história da educação infantil, o processo de adaptação, foi por muitas vezes encarado pelos profissionais como sendo um período de tempo e espaço determinado pela própria escola e tinha como objetivo fazer as crianças pararem de chorar.

Falamos em adaptação quando enfrentamos uma situação nova, quando entramos em contato com algo já conhecido, mas por algum tempo distante do nosso convívio diário.

A adaptação é um processo contínuo de mudança, crescimento, desenvolvimento e amadurecimento. Marcado por encontros e desencontros é o momento em que a criança e seus pais passam a criar novas relações afetivas com um novo grupo que se encontra na sociedade: o início da vida escolar da criança. Acontece, a partir de então novos relacionamentos e favorece que a criança construa um mundo social mais amplo.

Quando se trata de entrar na escola infantil, fala-se de momentos delicados e marcantes na vida do aluno que se inicia, pois envolve sentimentos e expectativas de pessoas que esperam algo melhor para um futuro vindouro. De uma só vez, a criança tem que aprender a conviver com um ambiente diferente do que ela estava acostumada a conviver, apropriando-se de uma realidade nova, com influências, idéias, amizades e oportunidades com as quais nunca havia se deparado antes.

Sentimentos estão envolvidos. A criança apresenta sentimentos de tristeza, separação, sensação de estranheza ou desconforto, pois elas sentem-se estranhas no grupo ao qual ela está se inserindo, que é diferente do seu grupo familiar. BALABAN (1988) afirma que é necessário tempo para que essa criança apreenda toda a nova situação que está vivenciando (seja a característica desse novo adulto, ou dessa nova rotina e ambiente). É necessário tempo para que essa criança aprenda a conviver com essa nova situação: organização do tempo, do espaço e referência do adulto.

Novas experiências terão repercussão para as crianças, pais e aquelas pessoas que os acolhem, ou seja, os profissionais da instituição escolar. Entre as novas experiências que podem ser vividas, podemos destacar: a separação das crianças de seus pais, o afastamento do discente do ambiente familiar, além da criança entrar em contato com um novo grupo de adultos e crianças estranhas. Tudo isso provoca na criança ansiedade, pois para ela significa a separação dos adultos que lhe dão prazer e o principal, segurança básica, como alimentação e vestimenta.

Nesse momento de sua vida a criança depara-se com duas conquistas fundamentais: a independência e a autonomia. Como afirma BALABAN (1988, p. 25), “a separação é uma experiência que ocorre em todas as fases da vida humana”.

A criança começa a perceber-se independente de sua mãe. Por outro lado, a mãe terá um sentimento de perda. Na maioria das vezes é a primeira grande separação do filho e essas novas mudanças causam um certo desconforto. A entrada da criança na escola dá aos pais a impressão de estar antecipando a sua “independência”, tarefa árdua para ambas as partes. É importante lembrar que a separação é um processo que gera sentimentos, precisando ser entendidos, discutidos e superados gradativamente.

 

2 ADAPTAÇÃO ESCOLAR: UMA QUESTÃO DE TEMPO

 

Essa é geralmente a primeira grande separação. Na maioria das vezes é a mãe que tem a incumbência de levar o filho pela primeira vez à escola maternal (...) Isso faz a mãe reviver separações pelas quais passou, e mesmo que estas tenham sido resolvidas com êxito, não há como fugir ao fato de que estamos lidando com uma experiência emocional (...) O fluxo de emoções sentido pela maioria das mães não reflete apenas sentimentos relacionado à criança, mas também suas próprias lembranças de separação. (REID, 1999: 99-100).

 

Como a escola pode se posicionar frente a esses conflitos? É preciso minimizar o impacto negativo desse momento particular na vida das crianças e de suas famílias tornando a escola um ambiente mais saudável e confiante. Ser aberta e disponível são dois fatores que devem estar presentes na escola.

Cada instituição de educação infantil deve planejar-se para esse processo de adaptação de acordo com as concepções de educação e da criança que direcionam sua prática. Cada escola tem a sua realidade específica. Existem diferenças sociais e econômicas que vão particularizando as escolas infantis e, portanto faz mudar o planejamento no que se refere ao regimento interno escolar.

 

Todas as escolas e creches têm um ponto de vista a respeito da entrada da criança na escola e a respeito da separação, quer ignorem estes assuntos, quer tenham planos para eles. Se os ignoram, é mais provável que o seu ponto de vista se baseie na posição tradicional de que a separação não é algo que tenha uma importância especial, e que largar a criança na escola e escapar é melhor para as pessoas envolvidas. Se a escola tem um plano para a separação, está reconhecendo a importância de ligação entre pais e filhos. (BALABAN, 1988, 103)

 

Segundo BALABAN (1988), a criança que é capaz de dominar seus sentimentos de separação ligadas com a entrada na escola, está dando um grande passo ao seu amadurecimento, que ao invés de encarar como um problema, verá como uma oportunidade de crescimento.

O trabalho com crianças em escolas de educação infantil deve acontecer, assim com a responsabilidade que as instituições escolares devem ter em ocupar-se de facilitar a apropriação e a reconstrução de saberes e conhecimentos.

Na realidade, desde cedo a criança deve apropriar-se do conjunto de informações, valores e referências que ampliem seus conhecimentos, para que se constitua como cidadã em uma sociedade que passa por profundas mudanças tecnológicas, políticas e econômicas. (CARVALHO, 2001:6)

 

A função da escola e dos profissionais é de receber a criança e para isso é necessário um trabalho cuidadosamente planejado. A instituição deve causar boa impressão, apresentar-se como um ambiente seguro, com um espaço que propicie o desenvolvimento e uma aprendizagem significativa.

BALABAN (1988), orienta que antes do início das aulas, sejam organizadas reuniões coletivas e individuais com os pais, para a escola expor aos mesmos a sua proposta pedagógica, os seus objetivos, explicando-lhes como se dá esse processo de adaptação, enfatizando que esse momento merece uma atenção especial.

Imaginar que o sucesso de um processo de adaptação se resume à ter ausência de choro é banalizar uma situação que não termina em si mesma. Os sintomas que as crianças apresentam como doenças, regressões, alterações de comportamento, etc., estão aí para comprovar que elas não falam que as coisas não vão bem somente chorando. (BORGES, 2002: 32)

Fica possibilitado nesse momento o esclarecimento de dúvidas, pois serão plantadas sementes nesse encontro para o estabelecimento de uma relação de confiança, afetividade e amizade entre escola e família.

Sem dúvida, a convivência familiar é insubstituível, mas é na escola que a criança tem a possibilidade de ampliar essa vivência e isso determina a construção de seus conhecimentos, uma vez que é na interação com os outros que esses conhecimentos se firmam e se constroem.

Segundo DAVINI (1999:45):

A adaptação é todo um grande período, que abrange desde as entrevistas e visitas preliminares dos pais as escolas, bem como os primeiros dias e o primeiro ano de escolarização da criança.

HENRIQUES (1987), propõe um trabalho que auxilie as crianças a elaborarem alguns dos conflitos particulares desse momento, com vista à formação de seu auto-conceito e a sua interação no grupo, tão importante para o êxito das aprendizagens posteriores, discorrendo alguns conteúdos significativos que podem ser estudados na adaptação, tais como: quem sou eu? Com quem eu moro? O que eu posso aprender?

A organização do ambiente escolar, a preparação dos profissionais que irão lidar com essas crianças e os familiares é de fundamental importância para que a efetivação da adaptação à vida escolar seja um momento positivo nos aspectos enfocados. O planejamento, desde o conhecer dessa criança, através de entrevistas e questionários destinados às famílias, à organização de atividades e do próprio espaço pelo qual a criança está inserida ou vai se inserir merecem atenção especial.

Este período é desenvolvido sem “prazos” para acabar e iniciar aprendizagens mais “sistemáticas”, pois as atividades espontâneas das crianças vão encadeando-se e integrando-se às propostas do professor, num trabalho também sistemático que versa sobre conteúdos inerentes aos interesses e necessidades deste seu momento de evolução. (HENRIQUES, 1987, 191-192)

 

Para que ocorra uma adaptação significativa da criança é necessário que a instituição escolar fundamente-se teoricamente acerca do assunto e organize-se para receber os novos alunos, sabendo que juo a eles receberá também seus pais e/ou responsáveis.

A separação afeta as crianças. Afeta os pais. Faz brotar sentimentos nos professores. O início da vida escolar pode ser uma ocasião excitante ou também uma ocasião agradável. Junto com aqueles que realmente estão encantados por estarem iniciando sua vida escolar, existem freqüentemente outras crianças chorando ou pais tensos e nervosos. (BALABAN, 1988: 24)

 

O professor nesse processo aparece como mediador principal no contexto da adaptação à vida escolar. Assim como as crianças e os pais, nesse momento, também passa pelo processo de adaptação, pois a cada ano que se inicia novas experiências, novas crianças, novos pais serão conhecidos. As expectativas são muitas: como serão as novas crianças? Serei bem aceita por elas? Será que elas confiarão em mim? Ademais, a rotina de sala de aula e muitas vezes da própria escola são modificadas diante das peculiaridades encontradas no processo de adaptação.

Enfim, o professor é o principal mediador e tem que atender as expectativas dos pais, ganhar a confiança das crianças e de seus familiares e ainda, conduzir esse processo, além de trabalhar seus próprios sentimentos. Estão sendo postos o tempo todo à prova e é necessário sempre ampliar e capacitar os seus conhecimentos.

 

ABSTRACT

ADAPTATION SCHOOL: FACING NEW

This article deals with the question of the adaptation of the child in the pertaining to school institution. It is a process of change and renewal in the life of the child, the professor and familiar. The child can present sadness feelings and unreliability; everything depends on the reception and planning of the school. The function of the school and the professionals is to receive the child and to cause a good impression, at last, to present itself as a surrounding insurance. The professor must be the main mediator in the context of the pertaining to school adaptation, not leaving the classroom to fall in the routine at the same time where he gains the confidence of the familiar children and.

 

Key-words: Adaptation; School Institution; renewal in the life of the child.

 

3 CONCLUSÃO

 

Pode-se concluir que a adaptação é uma situação de muito estresse tanto para os pais, como para as crianças e de certa forma para os professores. A decisão de colocar o filho na escola ou creche tem que ser muito bem pensada. Os pais têm que estar muito seguros desta atitude. Eles devem estar prontos, pois terão que se manter firmes, não deverão em hipótese alguma se arrepender e voltar atrás, pois esta atitude resultará em danos tremendos à criança.

Toda situação nova, tanto para as crianças como para os adultos é uma posição incômoda, pois tira o indivíduo da sua zona de conforto. Enfrentar o desconhecido é sempre uma condição estressante independente da idade.

Quanto ao professor, este deve estar proporcionando um ambiente agradável e acolhedor com atividades lúdicas e prazerosas as quais supram o processo de separação vivido pela criança, e que estimule a sua individualidade e socialização, como músicas e danças, jogos e brincadeiras, histórias dentre outras, dessa forma o professor irá conquistar a confiança da criança e conseqüentemente facilitará o processo de adaptação e socialização da mesma, principalmente em se tratando da pré-escola.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BALABAN, Nancy. O início da vida escolar: da separação à independência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

BORGES, M. F. S. T. e SOUZA, R. C. de (org.) A práxis na formação de educadores de educação infantil. Rio de Janeiro: DP & A, 2002.

CARVALHO, Tânia Câmara Araújo. Educação infantil: subsídios para a formação do professor. Trabalho apresentado no X Colóquio Internacional da AFIRSE, set/ 2001.

COSTA, Simone Rodrigues de Lima. Adaptação na educação infantil: Estratégias de envolvimento dos pais. (Monografia) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Departamento de Educação. 2003.

DAVINI, Juliana; FREIRE, Madalena (Org). Adaptação: pais, educadores e crianças enfrentando mudanças . São Paulo: Espaço Pedagógico, 1999. (Série Cadernos de Reflexão).

DIESEL, Marlete. A Adaptação escolar: sentimentos e percepções do educador diante da questão. Revista do professor. Porto Alegre, 19 (74): 10-13, abr/jun. 2003.

HENRIQUES, L. A . O período de adaptação na pré-escola em um enfoque psicopedagógico. In: SCOZ, B. J. L. (et al). Psicopedagogia – o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

REID, Susan. Compreendendo seu filho de 2 anos. Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Imago, 1992.