ENTRE O REAL E O MARAVILHOSO: O COMTEMPORÂNEO.

 

“ O maravilhoso, o imaginário, o onírico, o fantástico...

 deixaram de ser vistos como pura fantasia ou

mentira, para ser tratados como  portas que se

 abrem para determinadas verdades humanas.”

                          (O conto de fadas, Nelly Novaes Coelho)

 

Na fronteira imprecisa que separa o cotidiano do “mundo real” das composições ficcionais, abre-se um espaço para a ficção infanto-juvenil contemporânea, cujos pontos teóricos rompem com a concepção tradicional e linear dos contos de fadas clássicos, sobretudo por repensar a caracterização intrínseca da literatura infanto-juvenil pelo viés da “coexistência pacífica ou não, entre a inteligência racional/ científica, altamente desenvolvida, e o pensamento mágico que dinamiza o imaginário”; engendra-se, neste escrito, algumas reflexões sobre a obra A vaca voadora de Edy Lima.

O ponto nodal configura-se em mostrar a relação do maravilhoso com a contemporaneidade e sua representação por meio da oralidade: trazer à baila a tessitura que erige esta obra de Edy Lima não como instrumento pedagógico que estabelece os padrões comportamentais exigidos pela sociedade, mas como possibilidade de reformulação de conceitos e de autonomia de pensamento.

 

O CARÁTER LITERÁRIOEM A VACA VOADORA.

“... os projetos mais arrojados de literatura infantil investem,

 não escamoteando o literário, nem o facilitando, mas enfrentando

 sua qualidade artística e oferecendo os melhores produtos

 possíveis ao repertório infantil, que tem a competência

 necessária para traduzi-lo pelo desempenho de uma leitura

 múltipla e diversificada”

                          (Literatura Infantil- Voz de criança, 2003, p.11)

Atualmente existe uma enorme discussão entre os teóricos para entender a Literatura Infantil. A questão transita entre a conceituação, a concepção da infância e do leitor, a ligação da literatura infantil e a escola, até o caráter literário dessas obras para crianças.

Os primeiros livros infantis surgem somente no final do século XVII escritos por professores e pedagogos. Estavam diretamente relacionados a uma função utilitário-pedagógica e, por isso, foram sempre considerados uma forma literária menor.

Observando a origem dos chamados “clássicos” da literatura infantil, nota-se que os contos de fadas surgiram de histórias da tradição oral. Os maiores clássicos da literatura grega, A Odisséia  e A Ilíada, também têm a mesma origem nessa tradição oral. São histórias contadas e recontadas oralmente que fazem parte da cultura e que são depois registradas na forma escrita. Os irmãos Grimm, por exemplo, pesquisaram e recolheram contos por meio de viagens a diversas regiões da Alemanha e tiveram o cuidado em não deturpar essa tradição oral. A passagem do oral para o escrito exige, sem dúvida, uma sensibilidade e domínio da língua que são características dos grandes escritores.

Dessa forma, os contos de fadas apresentam a mesma estrutura narrativa dos chamados contos maravilhosos (que são considerados literários), como é o caso de A Vaca voadora, porém o tratamento dado a este conto deriva  da criação narrativa e da recuperação das influências clássicas por meio da oralidade na escritura.

Apesar de ambos serem escritos para crianças, possuem todas as características de outras obras literárias e são adotados atualmente como literatura infanto-juvenil.

Além disso, A Vaca voadora de Edy Lima, apresenta os fatores estruturais que aparecem em qualquer obra literária: o narrador, o foco narrativo, os personagens, o espaço físico e temporal, uma linguagem usada literariamente e um destinatário da sua comunicação: o leitor, que oferecem suporte para evidenciar o caráter literário dessa obra.

O MARAVILHOSO E A CONTEMPORANEIDADE EM A VACA VOADORA

Utilizando-se de uma linguagem verbal que remete a certa oralidade, Edy Lima soube trazer à tona em A vaca voadora as possíveis relações significativas entre narrador – mensagem – destinatário, cujo enredo gira em torno da personagem Lalau, um menino de seis anos, mas que narra  sua história já adulto, na época em que morava com duas tias muito criativas: Maria Cristina e Cristina Maria. As duas são completamente diferentes. Tia Cristina chamada pela irmã de Maricotinha, é baixinha e gordíssima, só anda de branco e vive na cozinha; Cristina Maria, a Quiquinha, é alta e magra como um esqueleto, só se veste de preto e é dada à alquimia.

A história começa quando Gumercindo presenteia as tias com uma vaca, pois se sentia culpado pela morte de Aniceta, sua grande paixão, que morreu de rir quando Gumercindo pediu-a em casamento.

Tia Quiquinha, com suas experiências de alquimista, transformava ovos normais em ovos de ouro. Gumercindo aceitou uma omelete, mas os ovos de ouro não se partiam de jeito nenhum. Quiquinha tinha inventado o “elixir de levitar”, e como a vaca não passava pela porta, pois era mais larga que o batente, a solução foi dar-lhe o elixir de levitar...

Lalau saiu voando  montado na vaca, mas o efeito do elixir durava pouco  e logo Lalau voltou para a Terra. A vaca despencou no telhado da casa das tias e, com muito esforço, foi trazida para a sala. Sem muita cerimônia ela mastigou e engoliu todos os retratos de Aniceta e começou a ruminar. Tia Quiquinha, então, teve uma brilhante idéia: para recompor as fotos era necessário tirar umas radiografias da vaca. Mas para fazer a vaca sair pelas portas da casa contratou uma construtora com arquitetos e engenheiros.

Com efeito, de maneira muito divertida a amalucada, a narrativa envolve o leitor com o drama da vaca, as ações e palpites das irmãs, as intervenções de Lalau e as trapalhadas de Gumercindo. O enredo, como é fácil perceber, é cheio de magia, situações surrealistas e surpreendentes que encantam o leitor.

Dessa forma, em A vaca voadora, a autora constrói cenas narrativas que abrem espaço para a interação das vozes do narrador, da mensagem, dos personagens e do próprio receptor que se sente cativo da narrativa, como demonstra este fragmento:

“A vaca estava bem em frente à porta da cozinha, olhava tudo com a boca aberta de estranheza. Foi por isso que um dos ovos de ouro entrou-lhe pela boca. A coitada da vaca, ao sentir que estava engasgada, tossiu e tentou livrar-se daquela situação. Tia Quiquinha, perdida em seus pensamentos e alheia a tudo o que ia em volta, como era seu costume, nada viu. Eu dei o alarme:

- Tia Quiquinha, ajude, a vaca está engasgada!

- Que horror!  Se ela também morrer sem fôlego, como Aniceta, vai ser um novo choque para Gumercindo.

- Faça alguma magia para salva-la.

- Não é caso para isto, basta dar-lhe uns tapas nas costas como em qualquer pessoa quando se engasga.”                                                                         (A vaca voadora, 2004, p.12)

 

Deduz-se assim, que o cruzamento dessas vozes possibilita ao leitor um leque de analogias,  na busca de novos aprendizados, sentidos, experiências e sensações, a esse respeito Maria José Palo e Maria Rosa Duarte dizem:

“ (...) o pensamento infantil está apto para responder à motivação do signo artístico, e uma literatura que se esteie sobre esse modo de ver a criança torna-a indivíduo com desejos e pensamentos próprios, agente de seu próprio aprendizado. A criança, sob esse ponto de vista, não é nem um ser dependente, nem um ‘adulto em miniatura’, mas é o que, na especificidade de sua linguagem que privilegia o lado espontâneo, indutivo, analógico e concreto da natureza humana.”

                                                                     (Literatura infantil- voz de criança, 2003, p.8)

Aspecto de relevância é o foco narrativo ou, ainda, do ponto de vista que  o narrador assume durante do texto . Veja-se o fragmento:

“ (...) Era agora como passear de helicóptero. Eu nunca tinha andado em um, naquele tempo, mas depois andei. E na ocasião me pareceu que era como voar em uma vaca. Por isso  creio que as duas coisas se equivalem. E quem tiver  tido, como eu, as duas experiências, possivelmente concordará com minha afirmação”

                                                                                                (A vaca voadora, 2004, p.26)

Observa-se que a voz do narrador dialoga com o leitor, na tentativa de conquistá-lo pela interação narrador e leitor: “E quem tiver  tido, como eu, as duas experiências, possivelmente concordará com minha afirmação”.

É licito dizer, que a história considera o universo infantil no nível ideológico, no entanto, não o concretiza completamente no nível da linguagem infantil, à medida que apresenta o narrador Lalau  já adulto contando e mostrando para o leitor um episódio de sua infância, no qual descreve capítulos como “O vôo em volta da Terra”  e “A aterrissagem da vaca”, cuja linguagem, na maioria das vezes, não é a da infância, e o leitor infantil não se identifica com esse tipo de descrição que na verdade é produzida pelo narrador adulto que se lembra da infância.

Para melhor compreensão observe-se o seguinte excerto:

“Tentei dirigir a vaca para o lado da janela, mas era como partir a duzentos quilômetros num carro de corrida e querer frear depois de andar três ou quatro metros. (...)

Pensei que tínhamos entrado em órbita

Logo pensei que minhas tias e Gumercindo saberiam notícias nossas pela televisão e pelos jornais.

Pois decerto seríamos identificados como o disco voador de quatro pernas (...)

Não tinha conseguido pôr a vaca para dentro de casa. Mas diante da notoriedade que para sempre revestiria meu nome, tudo seria compensado.”       (A vaca voadora, 2004, p.12)

De fato, percebe-se neste fragmento que o narrador se distância não só da linguagem, mas também do pensamento infantil: “Mas diante da notoriedade que para sempre revestiria meu nome, tudo seria compensado”, sendo assim, neste fragmento, o narrador assume voz e pensamento do adulto perdendo a verossimilhança com o universo infantil. Em outros momentos a voz da criança aparece na narrativa, resgatando o universo infantil do faz-de-conta por intermédio da oralidade:

“ Como aquilo devia ter acontecido antes de eu vir morar ali, indague:

- Mas tartaruga anda no telhado?

- Em geral não, Lalau, mas aquela tinha tomado uma dose do meu elixir.

- Então  por que andava em vez de levitar?

- Porque tartaruga é muito lenta”.

                                                                                  (A vaca voadora, 2004, p.9-10)

Contudo, a oralidade é firmada pela referência folclórica indiciada na personagem Índio, da qual a autora tece o discurso oral que retoma a tradição dos “clássicos infantis”, cuja narrativa era composta de histórias populares retiradas da tradição oral.

Para maior explanação faz-se preciso a leitura do trecho:

“Daí a pouco vimos o que nunca poderíamos ter suposto encontrar em plena cidade. Um índio. Não desses com ar de pobreza, que às vezes aparecem vendendo arcos e flechas feitos para turistas. Este era um índio de verdade. Forte. Nu. Quer dizer, com uma tanga. O corpo pintado como se fosse participar de uma festa da tribo. Enorme cocar de penas na cabeça. Nas mãos armas verdadeiras, arcos de dois metros. (...)

Fizemos uma roda e cantamos em volta dele.

Dançou no meio, com gestos de guerreiro, empunhando as armas.

Daí falei com ele:

-          Seu índio, me desculpe, mas de onde vem, para onde vai?

-   Poiranga ataraca voar do Amazonas em ave de metal, enganado por caras pálidas de língua mentirosa que convidam Poiranga para grande festa de brancos”       

                                                                                        (A vaca voadora, 2004, p.92)

Dessa maneira, quando a narrativa desse trecho segue a oralidade o que importa no discurso não é o que se diz mais o como se diz: as redundâncias, os desvios das normas lingüísticas e a informalidade das  expressões populares são permitidas.

Nuança importante de ressaltar, é que o narrador Lalau introduz o maravilhoso no conto por meio do capítulo chamado “Os ovos de ouro”, instaurando um outro plano narrativo, ou seja, têm-se o plano da realidade  no qual a convivência familiar  das tias  com  Lalau e com a sociedade representada pelos personagens enfermeiros, pedreiros, engenheiros e arquitetos faz-se com muito humor,  sem romper com a verossimilhança do real e do “visível”. No entanto, o plano do maravilhoso emerge da narrativa quando ovos normais são transformados em ovos de ouro, quebra-se a mimese com a realidade, entra em cena o mundo “invisível”  e  mágico, no qual o imaginário do narrador Lalau voa livremente:

“...A aterrissagem foi violenta e o peso do corpo repousou sobre o lado esquerdo dianteiro, fratura interna.

- E agora? – indaguei, parando de mastigar o pastel.

- Basta engessar-lhe a perna – ponderou tia Maricotinha.

- Vamos chamar o pronto socorro! – sugeriu Gumercindo.

- Não seja exagerado – respondeu tia Quiquinha – tenho poções mágicas capazes de fazer esse serviço sem gesso, nem demora. Amanhã estará boa. Basta esfregar de meia em meia hora a perna quebrada com o bálsamo que era usado pelos gigantes dos contos de fadas”.

                                                                                                  (A vaca voadora, 2004, p.35)

Por essa via, o narrador mantém-se em dois planos da narrativa: o da realidade confirmado pelos elementos “o pronto socorro” e “engessar-lhe a perna” e o da imaginação que se materializa no “bálsamo que era usado pelos gigantes dos contos de fadas”, porém para dar sentido a realidade da história, o narrador cruza os dois planos narrativos.

Nesse sentido, Edy Lima resgata a narrativa tradicional em sua função, na qual a fantasia, a magia, o faz-de-conta e a imaginação tem seu valor e cumpre seu papel.

Outro fator importante a ser considerado, é o fato da personagem vaca manter-se com as características próprias de animal, não apresentando uma linguagem  humanizada, tão comuns nos contos maravilhosos, porém o narrador- personagem a todo o momento esboça os sentimentos e emoções humanas que são internalizados e vivenciados pela vaca:

“Saltei dos joelhos de Gumercindo e fui esfregar bálsamo na pata quebrada da pobre. Ela me agradeceu com um – Muuuuuuu!

Havia um quê de tristeza em seu mugido. Não quis preocupar os outros com isso, mas eu mesmo fiquei inquieto. Não teria sido demais para ela, viajar no bagageiro de um carro, tomar elixir de levitar, quebrar a pata e ser radiografada? Gostaria de  explicar-lhe que não se preocupasse, que ali em casa sempre tudo era muito tranqüilo. Mas não sabia ainda a linguagem das vacas”.

                                                                                                  (A vaca voadora, 2004, p.79)

Com relação às figuras sonoras, que oferecem a pulsação rítmica das frases, em A vaca voadora poucas são encontradas, como por exemplo a aliteração no excerto:

“ – Vaqueiros vaquejantes de vacas voadoras – falou tia Quiquinha ligeiramente nervosa.”                                                                                              (A vaca voadora, 2004, p.20)

Ou ainda, o uso de figuras onomatopéicas como:

“Como  era muito pesada e as telhas já eram velhas, foi aquele estrondo:

- CRAAAASSHHHH”                                                            (A vaca voadora, 2004, p.33)

“De repente a casa pareceu vir abaixo com umas batidas que soavam como se  as paredes estivessem estourando:

- Ploft-planque-ploft-planque”.                                   (A vaca voadora, 2004, p.43)

Proeminente as figuras sonoras, observa-se em A Vaca voadora a construção artesanal de neologismos elaborada pela autora:

“A segunda voz que ouvi foi a de Gumercindo, gritando:

- Está havendo um terremoto?

Tia Quiquinha tranqüilizou-o.                                                              

-          Não, meu bem, é apenas um ‘casamoto’ ”.   (A vaca voadora, 2004, p.33)

Ou ainda no trecho:

“As pessoas muitas vezes tinham a impressão que tia Maricotinha não era muito ajustada da cuca. Os olhares dos ‘ambulanteiros’ foram equivalente ao comentário dos pedreiros”                (A vaca voadora, 2004, p.68)

Já as figuras visuais apresentadas dentro da narrativa, não são compatíveis com o fluxo da história, uma vez que as linhas, figuras, cores e espaços não traduzem de forma ampla o que diz o texto. Em A vaca voadora, percebe-se que as ilustrações são muito poucas, espalhadas em algumas páginas do livro,  onde as figuras aparecem em preto e branco, comprometendo o diálogo visual  -  verbal , além de desestimular a leitura da criança.

Maria José Palo e Maria Rosa Duarte fazem o seguinte comentário sobre a importância das figuras na obra infanto-juvenil:

“As  figuras não são apenas visuais, mas também sonoras e verbais. Figuras que, mais do que representar, desejam ser, presentear os objetos pertencentes a realidade de outra ordem: aquelas das formas possíveis, cuja existência se deve ao fato de poderem ser imagináveis, independente da conformação da experiência e da razão”.

                                                                    (Literatura infantil- voz de criança, 2003, p.17)

Indubitavelmente, este conto maravilhoso de Edy Lima traça de forma singular as marcas da contemporaneidade, que são transportadas do mundo real contemporâneo para o mundo da magia e da fantasia, interagindo simultaneamente com os elementos da tecnologia de comunicação e com o raciocínio lógico/ cientifico vivenciado pelas crianças e jovens na atualidade:

“Nosso vôo, eu soube depois, não mereceu nenhum noticiário da televisão nem dos jornais. Mais tarde entendi que só se torna notícia o que é  anunciado com antecipação. e que a  imprensa, falada ou escrita, como dizem, só toma conhecimento do que de antemão lhes é oferecido como algo sensacional. Claro que minhas tias não telefonaram avisando coisa alguma”.                                                                                    (A vaca voadora, 2004, p.26)

Nota-se ainda, que a personagem Lalau é uma criança que vive com as tias, logo a instituição  familiar que serve de referência para está criança não é a tradicional, composta pela presença do pai e da mãe, mas sim, a de nossos tempos,  onde o que realmente importa é a convivência com entes familiares responsáveis pela educação e segurança da criança.

“Minhas tias eram muito pacientes e nunca me forçavam a nada. Gumercindo, então, nem se fala, só de pensar no meu remoto e quase possível parentesco com Aniceta, seria incapaz de fazer qualquer coisa que me contrariasse”.                (A vaca voadora, 2004, p.22)

No que diz respeito à função pedagógica, esta obra infanto-juvenil  apresenta  preocupação com a educação, estabelecendo uma forte relação entre a literatura e a escola, buscando por meio de brincadeiras estimular nos leitores o imaginário para reformulação de conceitos e da autonomia de pensamento, como demonstra o fragmento:

“Lá em baixo, as vizinhas gritavam:

- Que menino travesso!

- Cada brincadeira que inventam! Não faltava mais nada, senão uma vaca voadora.

A  meninada, ao contrário, babava-se de gosto e pedia:

- Lalau, deixa depois eu andar de vaca um pouquinho (...)

E eu ali, sem saber como explicar. Tinha consciência que elixir de levitar era segredo de tia Quiquinha. Mesmo nessa idade já era muito sério. Compreendia que assuntos de família não podem ser discutidos fora de casa.”                             (A vaca voadora, 2004, p.31)

 Por essa via, diversos estudiosos defendem o uso do livro em sala de aula, mas atualmente o objetivo não é transmitir os valores da sociedade e sim propiciar uma nova visão da realidade. É o que diz a estudiosa Nelly Novaes Coelho:

“... a escola é, hoje, o espaço privilegiado, em que deverão ser lançadas as bases para a formação do indivíduo. E, nesse espaço, privilegiamos os estudos literários, pois, de maneira mais abrangente do que quaisquer outros, eles estimulam o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do eu em relação ao outro; a leitura do mundo em seus vários níveis e, principalmente, dinamizam o estudo e conhecimento da língua, da expressão verbal significativa e consciente – condição sine qua non para a plena realidade do ser.”

                                                   (Literatura Infantil: teoria, análise, didática, 2000, p.16)

De tudo exposto, fica evidente que o real e o maravilhoso estabelecem em A vaca voadora, uma ponte para o universo contemporâneo que se materializa no imaginário infantil. Por isso, a literatura é o manifestar-se em uma forma singular, estranha e com procedimentos que lhes são particulares. Ler esta obra infanto-juvenil de Edy Lima é sentir o ritmo, a sonoridade e perceber a imagem de maneira a torná-las um pensamento integrado e analógico.

BIBLIOGRAFIA

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SOSA, Josualdo.  A literatura infantil. São Paulo: Cultrix: Ed. da

         Universidade de São Paulo, 1978.

CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil. São Paulo: Brasiliense.

        1986.

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva,

         1979.

PALO, M. J. & OLIVEIRA, M. R. D. de. Literatura infantil – voz de criança.

        São Paulo: Ática, 2003.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São

        Paulo: Ática, 1993.

COELHO. Nelly Novaes. O Conto de fadas. São Paulo: Ática, 1987.

___________________.Literatura Infantil: teoria, análise, didática.

        São Paulo: Moderna, 2000.