A SODOMIA IMORREDOURA DOS INSTINTOS

A crítica de Ariano Suassuna às letras de forró e a intervenção da "Parents Television Council" ao seriado "Gossip Girl" mostram o quanto Sodoma e Gomorra estão entranhadas na alma humana

Chegamos ao fim do mundo, no sentido moral. Não há outra forma de expressar a realidade quando olhamos atentamente a escalada da depravação mundial, sem que ninguém dê uma resposta que vá a fundo na questão, simplesmente porque NINGUÉM se sente cem por cento isento para dar um parecer que não pareça, aos olhos dos outros, mera hipocrisia da Era das Comunicações. É mais que uma bola de neve; é uma bola de arame farpado com as crianças dentro, rolando de cima a baixo a montanha da degeneração inconscientemente consentida.

Chegamos a um quadro tal que talvez nem as depravações mais sórdidas da História possam servir de comparação, e tentarei, em um ou dois parágrafos, mostrar porquê. Por exemplo: dizem que Sodoma foi terrível porque lá quiserem fazer sexo até com anjos de Deus! É verdade. Mas isso em nada ajuda a melhorar a imagem da moral pós-moderna, vez que a religiosidade generalizada das grandes massas é tão vazia e interesseira que ninguém pode imaginar quantos ou quais pecados camufla, no mau sinal da auto-ilusão consoladora. Todavia, mesmo em Sodoma, ainda havia um justo (um único homem de respeito, Ló), pelo qual os anjos foram poupados do vexame, e o juízo final daquela cidade pôde ser cumprido sem computar, na prática, este crime hediondo.

Em Sodoma e Gomorra todos os pecados se esforçavam bastante para serem conhecidos da população, e só à custa das "fofoqueiras-de-plantão" e das "línguas-de-meretrizes", as perversões ficaram conhecidas, mas ninguém pode garantir que cada alma sabia o que todas as outras almas estavam passando. Na Sodoma pós-moderna não. Cada pecado em cada casa é conhecido de todos, e há mesmo gente que filma os próprios pecados e "joga na Rede" (Internet), sem qualquer "dano de consciência", desconforto ou constrangimento. Pelo contrário, como uma onda hipnotizante, os depravados fizeram escola, e hoje em dia rebatizaram a liberdade pela libertinagem sem freio, e até as "senhoras decentes" (pelo menos assim deveríamos pensar delas) entendem tudo sem sustos, ou estão encarando tudo como algo glamouroso e chique entre as próprias colegas de idade e sexo. Assim, os tarados e maníacos que até meados do Século passado mal saíam de seus casulos sórdidos (porque também não se viam sempre com bons olhos), passaram a freqüentar as altas rodas, as baladas, as boates, os clubes, as praias, os aniversários, as novelas, os meios de comunicação e até as igrejas! Basta lembrar que há menos de 50 anos atrás, quando uma sobrinha ou uma neta sentavam-se de pernas abertas, ou quando iam sair de casa com um micro-vestido, suas tias ou avós não deixavam passar em branco, repreendendo o comportamento leviano ou imoral, e tinham apoio de todos. Hoje o bem se calou diante do mal, lembrando a irretocável frase de Rui Barbosa:"De tanto ver triunfar a nulidade..." (http://recantodasletras.uol.com.br/cronicas/536932).

Para o leitor ter uma idéia mais clara do parágrafo anterior, crendo em Deus ou não, os seres humanos foram dotados de uma profunda poesia interior, uma sensação paradisíaca, uma "lua dos amantes", um romantismo latente, uma ânsia pela felicidade, tudo, enfim, chamando a uma estranha saudade-de-não-sei-o-quê, como se um dia tivéssemos feito parte de um tempo eterno (Salomão dizia "Deus colocou a eternidade no coração do homem"). Este sentimento divino em nós teria sido a principal vítima da Queda, embora jamais foi de todo derrotado. Porém, depois de tantos milênios de involução, a voz diabólica dos instintos pervertidos faz-se ouvir com mais nitidez, eliminando do coração humano o verdadeiro amor plantado por Deus em nossa alma. No lugar dele já aparecem sem nenhuma máscara os íncubos e súcubos da pós-modernidade, cobrando o seu trono no coração e destronando a pureza. Tanto é assim que, embora Deus nos tenha dotado de uma especial fome de amor (muito mais do que de sexo, mas quem ainda vê isso?), que nos impele a procurarmos nossa cara-metade no sexo oposto, os instintos mais primitivos, herdados das bestas-feras que um dia fomos, não conseguem mais se satisfazer com o puro amor, ou o simples "amor-de-par", ou de Ying e Yang, de côncavo e convexo, de sol e lua, de eu-e-tu. Agora, nesta triste época, os corações estão sendo levados a crer (e a maioria já crê) que aquele amor-poético não existe, que a saudade é uma nódoa da meninice, e que a lua-de-mel jamais deve durar como a lua-dos-amantes.

A idéia é destronar o amor, mostrando que o prazer sexual é maior e melhor para plantar a felicidade, assim como o sono-de-sonífero é melhor que o sono natural. E se a idéia é esta, então não há porque manter o arcaico amor-a-dois, e muito menos a obrigação de sexo entre opostos. Se o prazer é o deus da felicidade, então quanto mais gente estiver no jogo, mais profundo e arrebatador será o resultado. Estavam certas as 'salamandras-do-caos' quando profetizaram que o sexo do futuro seria a sodomia (orgia, ou sexo coletivo), porque "nós saímos de Sodoma, mas Sodoma nunca saiu de nós" – a frase original continha a palavra "igreja", ao invés da abjeta cidade. Foi exatamente isto que temeram os diretores da "Parents Television Council", quando intervieram para impedir que o seriado "Gossip Girl", que trazia a sugestão subliminar de aprovação do ménage à trois, viesse ao ar e literalmente desintegrasse os últimos remanescentes da pureza entre adolescentes, que talvez já nem existam numa visão menos otimista. O presidente da organização, o Sr. Tim Winter, chegou a dizer, até meio timidamente: "Vocês serão cúmplices na criação de um precedente e nas expectativas que os adolescentes devem criar com um comportamento até então associado a filmes adultos" (LINK: http://noticias.bol.uol.com.br/entretenimento/2009/11/05/ult4738u29536.jhtm). Sim. É uma tristeza e tanto, embora ela só doa em nós se virmos ali os nossos filhos, e se ainda não tivermos sido picados pela "mosca da ninfomania".

Queremos crer que no nosso país também ainda restam algumas poucas luzes no túnel negro da sodomização. Foi o que vimos com satisfação na leitura de uma crítica do Secretário de Cultura, Ariano Suassuna (http://www.nucleodenoticias.com.br/2009/08/20/critica-de-ariano-suassuna-sobre-o-forro-atual/), às letras das músicas do forró pós-moderno, nas quais o nível de desrespeito chegou às raias da execração bíblica. Com efeito, o Novo Testamento traz uma revelação assombrosa sobre este assunto. Ali São Pedro diz que os homens são piores do que os demônios, pois estes são maus, mas no final ainda mantêm certo temor e respeito às autoridades, ao passo que nós humanos não respeitamos ninguém, e aqui está explicado por que tentaram molestar até anjos em Sodoma!

É a sodomia imorredoura dos instintos, que inicia pela simples sensualidade do olhar e vai, sorrateira e inexoravelmente, caminhar firme até a pedofilia, na intenção inconfessa de todos os depravados pelos chamados "demônios lascivos". Eles podem dizer, com a maior cara-de-pau: "Eu? Eu? Jamais iria para a cama com uma criança", mas no íntimo de sua alma uma vozinha diz que, se for uma menina de 11 anos, com peitinho já nascido e olhar de piranha (hoje em dia isso é muito comum, por culpa dos hormônios e das "Malhações" – para bom entendedor), jamais perderão a chance de fazer aquilo que outro, bem ali, fará! Alguns até dizem isso em tom de piada, mas é piada só da boca pra fora, no "sem querer querendo".

Transar a três, a quatro, a cinco ou mais, sonhar com uma mão de menina a apalpar o pênis, penetrar uma paciente anestesiada no hospital (muitos médicos fazem isso), brincar de masturbação coletiva, fazer sexo num elevador lotado, ou nas poltronas de um avião como em "Emmanuelle", ou simplesmente aceitar o dogma de que não se pode viver sem sexo (como na música do Ultraje a Rigor), tudo isso pode ser a última cartada de uma "Era de Seres Humanos", nas vésperas de seu engolfamento na mente luciferial. Porquanto Lúcifer sabia que o único modo de promover a Queda Final seria manter e exacerbar os instintos mais animalescos, associados ao desespero da busca pela felicidade no lugar errado!... Afinal, se ninguém mais acredita numa vida além (e há até quem creia que no Além terá 7 virgens e outras depravações!), e se nesta vidinha tediosa só o sexo dá algum ânimo, então para que tentar preservar a pureza do amor conjugal, se nada de melhor virá? Ou "por que não aproveitar o tempo curto de uma vida carnal usando a carne para usufruir de algo que talvez nunca mais tenhamos?"...

Neste ponto do argumento pode nascer o único sinal positivo desta história: é que a pior das depravações sexuais, por mais que pareça longe de tratar-se de um problema espiritual, jamais os seus 'agentes' conseguem responder aos outros e a si mesmos sem apelar para um paraíso perdido, ou uma 'sede injusta', culpando a Deus pela perda da Felicidade e trocando esta pela ilusão (http://eat-jvs.blogspot.com/). Mas a loucura tem troco, e cobrará, ainda nesta vida, os dividendos dolorosos de sua operação, e talvez já tenha começado a fazê-lo. Os índices de suicídio mostram isso. Só os loucos não vêem.

Prof. João Valente de Miranda.

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