A SOCIOLOGIA DA ARTE



No texto o autor Heinich, aborda a arte não como uma manifestação natural, mas um fenômeno construído por meio da história e das práticas. Dessa maneira, a sociologia da arte "[...] não deveria mais ter necessidade de petições de princípio por se interessar pelos diferentes públicos, pela sua morfologia, seus comportamentos, suas motivações, sua emoções" ( pág 71).Assim o estudo da recepção nos leva a uma melhor compreensão.
O autor, comenta a obra de Pierre Bourdieu que tornou-se o iniciador da pesquisa estatística para o mundo da cultura, fazendo uma crítica sobre a crença no caráter inato das "disposições cultivadas", para pôr em evidência o papel primordial da inculcação familiar, relacionando a noção marxistas de capital econômico a de capital cultural, denunciando o fato de que os museus, ao invés de serem instrumentos de uma possível democratização ao acesso à arte, agravam a superação entre não conhecedores e iniciados, da mesma forma que as universidades, ao invés de trabalhar para a democratização do acesso ao saber, só fazem aprofundar a distância entre dominantes e dominados.

1 SOCIOLOGIA DO GOSTO

Neste capítulo o autor coloca as idéias de Bourdieu que entende como um sistema de disposições duráveis uma "estrutura estruturada estruturante", isto é, um conjunto coerente de capacidades de hábitos e de marcadores corporais, que forma o indivíduo pela inculcação não consciente e a interiorização de modos de ser próprio do meio. Sem essa noção seria difícil apreender o que faz a verdadeira "barreira à entrada" nos locais de alta cultura.

1.1 Práticas Culturais

Segundo o autor a mensuração estatística das práticas culturais, refere-se a frequentação. Duas interpretações são propostas por Bourdieu e citadas pelo autor para explicar o fenômeno: ou se trata de uma democratização do público, pela abertura dos museus a novas categorias sociais, mais numerosas e menos selecionadas, ou se trata de uma intensificação da prática pelas mesmas categorias sociais, atraídas com mais freqüência para os museus pela multiplicação das exposições assim como pelo aumento do tempo consagrado ao lazer. Assim:

[...] democratização dos públicos trata-se de uma possibilidade social de acesso à cultura das populações menos favorecidas, que as políticas públicas visam a partir dos anos 60, particularmente pela abertura das casas de cultura e o desenvolvimento da ação ou ainda a preocupação com o não- público (pág 78).



Dessa maneira essa questão da democratização constitui objeto de discussão comum para políticos e sociólogos, representando duas direções possíveis a prática e a teórica.

1.2 Percepção Estética

Sob esse aspecto o autor comenta que Bourdieu abre um caminho interessado pelo uso social do fotografo, a abordagem estatística fora completada por um método mais qualitativo, à base de entrevistas em profundidade, que será em seguida utilizado por sociólogos da arte e da cultura em seus trabalhos de campo. Assim: "a sociologia da recepção antecede a sociologia do gosto, questionando não as preferências estéticas, mas as condições que permitem ver emergir um julgamento em termos de beleza ( ou de feiúra, de arte ou não-arte" (pág.82).

Dessa maneira, tanto as propriedades objetivas das obras com os quadros mentais receptores, e os contextos pragmáticos de recepção são requisitados na probabilidade de ver qualificado um objeto em termos estéticos, a descrição dessas mudanças, e a explicitação de suas lógicas, fornecendo às sociologia um programa de pesquisa rico em possibilidades.

1.3 Admiração Artística

De acordo com Heinich, a sociologia da arte se inclina a uma sociologia de valores "[..] é que a arte se torna objeto de investimentos bem maiores do que aqueles de que se ocupam tradicionalmente os especialistas, quando se interessam pela origem, pelo valor e sentido das obras" ( pág 84). Assim encontra-se no registro de valores uma estética não apenas como possível qualificação das obras, ou de seus autores, paralelamente à moral, à sensibilidade, à racionalidade econômica ou ao sentimento de justiça.
Assim sendo, as rejeições importam tanto quanto admiradores, os não iniciados quanto os iniciados, o mau gosto tanto quanto o bom gosto, e as pessoas tanto quanto as obras, mesmo que a vida dos artistas seja menos expressiva que seus quadros.

2 MEDIAÇÃO

De acordo com o autor o termo refere-se a tudo que intervém entre uma obra e sua recepção e tende a substituir distribuição ou instituições, podem-se distinguir várias categorias de mediadores como: as pessoas, instituições, palavras e pelas coisas, embora estejam, na realidade, estreitamente ligadas.

2.1 Pessoas
Segundo o autor uma obra de arte não se torna tal como é sem que antes não entre pela rede de atores complexa, (marchads para negociá-la, colecionadores, críticos, peritos, avaliadores etc.). Assim: [...] entre uma arte orientada para o mercado e uma arte orientada para os museus. Essa sociologia do mercado da arte poderá igualmente se concentrar em certas categorias de atores, tais como os peritos ou agentes de leilão (pág 89).
Assim, a atividade dos críticos pode ser o objeto de uma sociologia da recepção, e não apenas de uma história da fortuna de crítica tal como é praticada tradicionalmente nos estudos literários. Pode tratar-se de pôr em evidência, na continuidade dos trabalhos de Pierre Bourdieu, a ligação entre a posição social ou política dos críticos e de suas posições estéticas.

2.2 As Instituições

As pessoas exercem frequentemente sua atividade no quadro de instituições que a história da arte demonstrou bem isso tem sua história e sua lógica próprias. Assim, a economia é convocada quando demonstra como as administrações concorrem para o encarecimento dos custos do espetáculo ao vivo, por meio de subvenções que elevam as expectativas de qualidade para além das possibilidades oferecidas pelo mercado.




2.3 As palavras e as coisas
O estudo das mediações para além da ação das pessoas e das instituições " as palavras, os números, as imagens, os objetos também acabam por interpor-se entre uma obra e os olhares postos nelas ( pág. 94).
Assim, a edição de arte hoje parte integrante do ambiente estético, misturando as imagens com as palavras que comentam, informam e avaliam.

2.4 Teorias da Mediação

Segundo o autor, a mediação contribui, algumas vezes, para a produção das obras, quando os procedimentos de credenciamento, fazem parte integrante da proposição artística, fazendo da arte um jogo a três, entre produtores, mediadores e receptores.
Sendo assim, as relações improváveis entre mundos separados, mas com mediadores, no sentido de operadores de transformações, ou de traduções, que fazem a arte por inteiro, ao mesmo tempo em que a arte os faz existir. Assim, podemos entender a mediação como tudo o que se interpõe entre a obra e seu espectador, nessa perspectiva, outras abordagens são suscetíveis de conferir um suporte teórico a essa noção.
Dessa maneira, o conceito de campo como foi elaborado por Pierre Bourdieu, pode articular-se a uma problemática da mediação, nesse conceito de campo, a propósito do campo artístico sendo que o campo da verdade, é totalmente autônomo, pois os autores vivem forçosamente em vários campos ao mesmo tempo, dentre os quais alguns são mais abrangentes ou mais poderosos que outros.
A teoria da mediação permite compreender o que pode ser o funcionamento em rede, mais não esclarece muito a respeito de sua estruturação. A teoria dos campos, o contrário, interessa-se pelas estruturações, mas quase não oferece ferramentas para descrever as transformações e as associações. A teoria do conhecimento ao mesmo tempo, a cadeia das mediações e articulação estruturada.




2.5 Uma Hierarquia Específica

De acordo com o autor, não se pode compreender a especificidade dos fenômenos artísticos sem levar em conta a estratificação dos públicos, indissociável dos efeitos de elitismo, traduzidos em termos de distanciamentos temporais entre os momentos e modalidades do sucesso.
Assim, a sociologia da dominação desvela as desigualdades, ela é menos bem equipada para conceber as interdependências que os atores e as instituições têm em redes de credenciamento cruzadas onde mesmo os mais poderosos não podem fazer.

3 PRODUÇÃO
3.1 Morfologia Social

Segundo Heinich, as profissões artísticas e o desafio da análise sociológica relacionam-se a investigação, numa perspectiva etnometodológica, ao critério da autodefinição considerando como artista todos aqueles que assim se declaram. Assim, os critérios clássicos em sociologia das profissões são poucos utilizáveis. A atividade artística, [..] ela pode se apreendida e exercido sem passar por um ensino oficializado, e as estruturadas de afiliação coletivas tornaram-se praticamente inexistentes a partir do fim das corporações e do declínio das academias num universo individualizado ( pág 111).
Essa pesquisa terminou na tentativa de relacionar as variações da tendência estética, em função do efeito de geração, com o objetivo de explicar por meio de determinantes de uma geração as escolhas de expressão artísticas.

3.2 Sociologia da Dominação

Projeto materialista clássico consiste em explicar a obra de arte não pelas características de seus mecenas ou do seu contexto de recepção, mas pelas propriedades de seu produtor. Este, entretanto, não é mais considerado enquanto individuo psicológico, como na estética tradicional, nem enquanto membro de uma classe social, como na tradição marxista, mas enquanto alguém que ocupa certa posição no "campo de produção restrita" a que pertence sua criação. A esse parâmetro coletivo que é o campo corresponde de modo equivalente o parâmetro individual. "[...] como é o caso da sociologia bourdieusiana, que penetrou amplamente o mundo da cultura. Toda pessoa dotada de notoriedade torna-se, como "dominante", o fomentador ou o cúmplice de um exercício ilegítimo aos olhos do sociólogo de legitimação ( pág 114).
Dessa maneira a redução da pluralidade das dimensões de um campo, e da própria pluralidade dos campos, a um princípio de dominação, quase não permite levar efetivamente em consideração a pluralidade dos princípios de dominação, a sociologia da dominação, que tem em foco as estruturas hierárquicas, pouco facilita concreta das interações efetivas, muito mais complexas do que ugere ua redução a uma relação de forças entre dominantes e dominados.

4 SOCIOLOGIA INTERACIONISTA

Segundo o autor a descrição empírica da experiência real faz com que ela se apresente como essencialmente coletiva, coordenada, isto é, submetida a pressões materiais e sociais exteriores aos problemas especificamente estéticos, opera uma desconstrução das concepções tradicionais superioridade intrínseca das artes e dos gêneros maiores, individualidade do trabalho criador, originalidade ou singularidade do artista. Assim, o estabelecimento de fatos é indispensável a um reconhecimento das representações como tais, o sociólogo deve escolher entre duas opções do primeiro estágio em conformidade com o projeto positivista do modo de dizer a verdade que as representações dissimulam, em conformidade com o projeto crítico, que consiste em destacar as lógicas próprias à formação e à estabilização das representações.

5 SOCIOLOGIA DA IDENTIDADE
Segundo o autor mais do que a estatística e a observação direta das condutas, é a análise dos discursos e das imagens que fornece a base metodológica de tais análises, para além de uma explicação das posições sociais, a sociologia dos produtores de arte pode consistir em uma compreensão das representações dos atores, buscando a compreensão lógica dessas diferentes representações que veiculam certo número e sociólogos da arte.Por outro lado compreende esses criadores, como seus admiradores, demonstram repugnância em pensar sua trajetória em termos de carreira.Essa noção, implica, ao mesmo tempo, uma personificação dos fins personificação dos fins perseguidos pela pessoa e uma estandardização dos meios, de posto em posto.