O sociólogo polonês Zygmunt Bauman nasceu no dia 19 de novembro de 1925, em Poznán. Iniciou sua trajetória acadêmica na Universidade de Varsóvia, mas logo foi obrigado a deixar a academia, em 1968, ao mesmo tempo em que sua obra era proibida neste país. Bauman partiu para a Inglaterra, depois de passar pelo Canadá, EUA e Austrália. No início da década de 70 ele assumiu o cargo de professor titular da Universidade de Leeds, onde permaneceu por pelo menos vinte anos. Nessa ocasião ele teve contato com o intelectual que seria a base do seu pensamento, o filósofo islandês Ji Caze.

De modo geral podemos afirmar que as obras de Baumam perpassam as conexões sociais potenciais na sociedade contemporânea mais especificamente denominada “pós-modernidade”. Para o sociólogo, a fluidez dos vínculos, que marca a sociedade contemporânea, encontra-se inevitavelmente inserida nas próprias características da modernidade; também, a intensa velocidade, e a onda de ideias como consequência da globalização são fatores que interferem nas relações entre as pessoas. Tais discussões apresentam-se como características dos textos do autor.

A obra Aprendendo a pensar com a Sociologia foi publicada originalmente em 1990 abordando temas atuais como corpo, intimidade, tempo, espaço, desordem, risco, globalização, identidade, etc. O livro nos mostra como a sociologia oferece maneiras de observar as experiências humanas, bem como as implicações de nossos atos sobre a maneira como conduzimos a vida.

Bauman propõe que a Sociologia seja um instrumento de interrogação da vida social, e que nos possibilite ver que os aspectos da vida, mesmo aqueles que nos parecem simples e banais, podem ser repensados, refigurados e resignificados em todo tempo. O autor ainda reflete o modo como a sociologia pode objetivamente nos ajudar, seja na vida pessoal ou na relação social.  

Em entrevista à revista Isto é, o autor faz uma reflexão acerca de uma simples ação cotidiana e de como ela sugere ou possibilita uma análise sociológica. Quando perguntado se as pessoas estariam se desconectando da sua própria realidade, ao se conectarem ao mundo pela internet, ele responde:

 Os contatos online têm uma vantagem sobre os offline: são mais fáceis e menos arriscados — o que muita gente acha atraente. Eles tornam mais fácil se conectar e se desconectar. Casos as coisas fiquem “quentes” demais para o conforto, você pode simplesmente desligar, sem necessidade de explicações complexas, sem inventar desculpas, sem censuras ou culpa. Atrás do seu laptop ou iPhone, com fones no ouvido, você pode se cortar fora dos desconfortos do mundo offline.

Na mesma entrevista Bauman continua sua explanação acerca da desconexão da pela conexão online,

Mas não há almoços grátis, como diz um provérbio inglês: se você ganha algo, perde alguma coisa. Entre as coisas perdidas estão as habilidades necessárias para estabelecer relações de confiança, as para o que der vier, na saúde ou na tristeza, com outras pessoas. Relações cujos encantos você nunca conhecerá a menos que pratique. O problema é que, quanto mais você busca fugir dos inconvenientes da vida offline, maior será a tendência a se desconectar. (PRADO, 2010)

Ao tratar de uma tarefa da vida cotidiana, e que é algo comum na contemporaneidade, Bauman mostra que a Sociólogo “faz a diferença no mundo”, uma vez que desperta o senso crítico frente as generalizações do senso comum. O Autor defende que todas as ações ou decisões que o ser humano toma em seu ambiente social têm significado ético e que, direta ou indiretamente têm um impacto em outras pessoas. Essa relação torna necessária a reflexão sociológica.

O autor se coloca contrário à ideia de que há liberdade e livre escolha por parte dos indivíduos, ideias, estas, que são geralmente disseminados na nossa sociedade. Bauman acredita que os indivíduos podem entrar em conflito consigo mesmos ao verificarem que devem se conformar com expectativas alheias, possibilitando sentimentos positivos ou negativos referente ao resultado das ações e das experiências. (BAUMAM, 2010) Os grupos ou as instituições, como já afirmava Emile Durkheim, exercem pressões sobre as ações individuais, apresentando, portanto características como a generalidade, a conectividade e a exterioridade.

Segundo Bauman “a Sociologia é um espaço de atividade contínua que compara o aprendizado com novas experiências e amplia o conhecimento, mudando nesse processo, a forma e o conteúdo da própria disciplina” (BAUMAM) Na tentativa de responder algumas questões como, “com quais objetos trabalha a sociologia?”, o que fazem os sociólogos?”, “O que os torna diferentes de outros campos de conhecimento e de outras disciplinas que têm seus próprios procedimentos?”, o autor comenta o fato de que comumente, em muitas biblioteca, as estantes próximas às de Sociologia têm etiquetas como História, Direito, Antropologia, Ciência Política, Psicologia, Filosofia, Literatura, etc. Nesse caso poderíamos conceber que todas essas áreas de conhecimento tratam de ações humanas? Se exploram o mesmo território, o que os distingue? O que os faz tão diferentes um do outro, que justifique cada qual ter um nome? Em meio a tantos questionamentos Bauman tenta oferecer uma resposta, simples, segundo ele:

Divisões entre corpo de conhecimento devem refletir as divisões em seu universo de investigação. São as ações humanas (ou os aspectos dessas ações) que diferem uma das outras, e as divisões entre diferentes corpos de conhecimento simplesmente levam em conta esse fato. Assim, a História diz respeito às ações que têm lugar no passado, enquanto a sociologia se concentra nas ações atuais. De modo similar a Antropologia trata de sociedades humanas em estágio de desenvolvimento diferentes daquele que se encontra a nossa (independente da maneira que isso seja definido). (BAUMAN, 2010)

Da mesma forma Bauman menciona cada um dos campos de conhecimento citados anteriormente e o relaciona com um aspecto da ação humana, dividindo, assim, tais ações pertencem à domínios diferentes, que consequentemente, fica a cargo de uma especialidade.

A sociologia deve ser capaz de recusar a ver o universo social tal como ele se apresenta: definitivo e imutável. O Bom senso, o senso comum, a visão herdada e retirada do mundo social que fazer crer que as coisas são como são, isto é: as desigualdades são naturais, o nosso modo de vida é universal, os nossos valores são aplicáveis a tudo ou a quase tudo o que existe, as hierarquias são necessárias para que as coisa funcionem bem, etc. O estudo da sociologia nos permite ser capaz de superar tanto o conformismo intelectual, quanto seu assombro diante das coisa mais esquisitas, longínquas ou excêntricas, principalmente quando elas estão em desacordo com os seus valores e os seus ideais, para poder dizer como o mundo social é, e como ele deveria ser.

Segundo Bauman as ciências físicas e biológicas não se preocupam em estabelecer relações ou distinções com o senso comum, pois segundo ele

A maioria das ciências se estabelece definindo-se em termos de fronteiras que as separam de outras disciplinas, e não se supõe partilhando terreno suficiente para se preocupar em traçar fronteiras ou pontes com esse conhecimento rico, ainda que desordenado e não sistemático, em geral desarticulado, inefável, que chamamos de senso comum. (BAUMAN, 2010)

A sociologia se difere do senso comum, segundo Bauman quanto ao sentido que cada um atribui a vida humana em termos de como entendem e explicam os eventos e as circunstancias. Todas as ações humanas são fundamentadas sobre uma rede de interdependência e “são efeitos de intenções, muito embora os resultados possam não corresponder ao que pretendamos” (BAUMAN, 2010); pois em geral agimos para alcançar coisas, seja visando possuir algum objeto, receber elogios, impedir que algo aconteça, ajudar um amigo, etc. Entretanto, a sociologia nos ajuda a refletir sobre nossas ações cotidianas, e observar as ações dos outros de modo a conferir sentido à sociedade, ao mundo e à nossa vida.

Para todos aqueles que acham que vale a pena viver a vida de maneira mais convincente, a Sociologia é um guia bem-vindo. Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis aos acontecimentos do mundo e tolerantes em relação à diversidade, com olhar atento aos horizontes de expectativas, para além das experiências imediatas, compreendendo, assim, as condições humanas até então, relativamente invisíveis.