A SOCIOLINGÜÍSTICA E SEU PAPEL METODOLÓGICO NO ENSINO DA LINGUAGEM ORAL.

MARIA DO CARMO BARBOSA [1]

RESUMO: Este artigo aborda a questão da sociolingüística como ciência, seu papel na sociedade e o preconceito lingüístico que ela luta para reduzir, com base em pesquisas, estudos ereflexões com educadores e estudiosos da língua materna.

  1. O Surgimento da Sociolingüística

Desde os estudos feitos acerca da linguagem buscou-se encontrar respostas para entender a relação linguagem e sociedade, haja vista que esses elementos estão intimamente ligados, pois em qualquer período o homem sempre utilizou uma forma de comunicação: nos primórdios a comunicação oral e em seguida, a escrita. Essas duas modalidades fazem parte de um sistema lingüístico de uma comunidade lingüística, o qual permite ao ser humano estabelecer contato com o outro e interagir.

Saussure, precursor da corrente estruturalista, reconhecia a importância de natureza etnológica, histórica e política, porém seus estudos voltaram-se essencialmente para o organismo lingüístico interno, uma vez que ele concebia a língua como um produto homogêneo e sua analise partia da observação como comportamento lingüístico de um indivíduo. O principio da homogeneidade lingüística foi adotada pelos estudiosos da glossemática e do gerativismo.

As primeiras investigações acerca de estudos sociolingüísticos surgiram a partir de William Bright (1966) e Fishman (1972), os quais passaram a incorporar os aspectos sociais nas descrições lingüísticas. Bright afirmava que "a diversidade lingüística" é precisamente a matéria de que trata a Sociolingüística. Segundo ele, as dimensões desse estudo estão condicionadas a vários fatores sociais, com os quais a diversidade lingüística se encontra relacionada nas identidades sociais do emissor ereceptor e na situação comunicativa.Essa nova área de estudo lingüístico, denominada sociolingüística, surge confusa e desprovida de um grande marco teórico.

Dando prosseguimento aos estudos de Bright, Labov (1972), passa a descrever a heterogeneidade lingüística, pois para ele, todo fato lingüístico relaciona-se a um fato social, e que a língua sofre implicações de ordem fisiológica e psicológica. Labov ficou conhecido por ser o representante da teoria da variação lingüística.

Dessa forma, a Sociolingüística é uma área da lingüística que estudará a língua através de fatores externos, os quais caracterizarão a diversidade e a heterogeneidade lingüística.

  1. Papel da Sociolingüística

Delimitar o campo de pesquisa da sociolingüística não foi tarefa fácil, já que muitos teóricos do assunto levantavam questões envolvendo a linguagem humana e todas as hipóteses possíveis de formulação para o estudo da Sociolingüística eram rejeitadas. Mas foi Bright (1966) um dos pioneiros na definição do objeto de estudo do sociolingüista definiu que a diversidade lingüística era o foco principal de estudo dessa nova disciplina, a Sociolingüística. Indo além, delimitando três ângulos fundamentais para esse estudo: a identidade social do emissor, a identidade social do receptor e as condições comunicativas. (ApudMONTEIRO. 2000:15)

Dino Preti (1987), afirma que a Sociolingüística pode desempenhar um papel de investigadora e fornecer uma excelente metodologia para os estudos da oralidade em diferentes locais. Com esse método de investigação é possível registrar diversos tipos de falas em diversas localidades na mesma região, traçandoo perfil sociológico, econômico e cultural desse falante.

Em Gadet (1987:4) consta que a Sociolingüística estuda as relações entre as variações lingüísticas e sociológicas e o sociolingüista tenta mostrar a variação da linguagem de um falante para outro, como e porque esta assim determinada.Desde então, estudos foram avançando, novos teóricos descrevem essa ciência nova, Sociolingüística, conquistando uma visão mais ampla acerca da linguagem.

Para Baylon (2000:26) a Sociolingüística se preocupava essencialmente em descrever as diferentes variedades coexistentes dentro de uma comunidade de fala, hoje ela engloba praticamente tudo o que diz respeito ao estudo da linguagem em seu contexto sociocultural.

"Se se entende por sociolingüística o estudo sistemático do uso da língua na vida social, não há como deixar de considerar a etnografia da comunicação como uma subdisciplina da sociolingüística" (Apud MONTEIRO. 2000 p. 29).

Delineando e revelando a língua viva capaz de sofrer todas as modificações possíveis, indo da política ao campo educacional, envolvendo todas as ciências pré-existentes, descrevendo minuciosamente cada palavra gesticulada, expondoos pormenores por maisimperceptível possa parecer.

  1. A Pesquisa Sociolingüística

O homem é um ser social. Essa afirmação já bastante comentada desde Aristóteles, não há nada mais verdadeiro do que ela. Afirmar-se que o homem é um ser social, conseqüentemente ele necessita se comunicar, e isso vêm de forma espontânea, através da fala individual do usuário da língua.

"E toda a nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos para tal" (Apud Ulisses INFANTE. 1995: 17).

Portanto, essa língua passa por várias modificações em sua trajetória, e esta nãochega intacta até o seu receptador ou vice-versa, daí provoca a tão estudada e comentada variação lingüística, e desse vem o desconfortante , preconceito lingüístico, que mede a "capacidade intelectual" do falante nato da língua materna.

A variação lingüística, segundo alguns teóricos, acontece em todos os níveis de elaboração da linguagem, e ocorre em função do emissor e do receptor, sempre levando em conta região em que encontra (emissor ou receptor), faixa-etária, classe social e profissão, sendo eles responsáveis por essa variação. No caso do Brasil, pelo fato de ser um país extenso e com uma população diversificada, utilizando a mesma língua materna, sempre haverá a heterogeneidade lingüística, dentro do mesmo estado ou comunidade lingüística.

Por isso, o campo da pesquisa sociolingüística está delimitado ao estudo dos problemas que envolvem a relação língua/sociedade. Sua principal tarefa é mostrar a variação sistemática lingüística da estrutura social e o relacionamento causal em uma direção ou outra. Deste modo, tanto a Sociolingüística como a Pesquisa Sociolingüística trabalham com o mesmo objeto: a diversidade lingüística, descrevendo o falar em sua magnitude, levando em conta aorigem, idade, sexo, escolaridadeo aspecto financeiro, não para demarcaros limites dos desníveis sociais, mas, para demonstrar que o homem é um ser sociável e em qualquer situação é capaz dese fazer entender e compreender a mensagem proposta.

Assim, na área dos estudos lingüísticos ela se articula com outras correntes que da Lingüística Aplicada: a Psicolingüística e a Etinolingüistica.

Fernando Tarallo (1994) em Pesquisa Sociolingüística mostra que os falares regionais podem ser descritos e mapeados com base em uma metodologia da linguagem que subsidie o trabalho do lingüista.Assim, a Sociolingüística estudaria as relações entre as variações lingüísticas e as variações sociológicas. Descrevendo o falante em toda sua essência, não desprezando o contexto em que se encontra, mas, levando em consideração todo aspecto em que se encontra no momento em que emite uma mensagem. Nesse mesmo contexto, ele afirma que a língua por ser um marcador que identifica usuários ou grupos a qual pertence , pode também ser o delimitador das diferenças sociais no seio de uma comunidade.

  1. Fontes e Experiências de Pesquisas Sociolingüísticas

A pesquisa de Labov distingue os seguintes tipos de estilo: casual, de leitura, de lista de palavras, de pares mínimos.

Nos discursos proferidos pelo falante há uma pré-elaboração por mais simples que seja, sendo que: o casual, a linguagem utilizada é aquela dodia-a-dia, sem previa elaboração. Já no discurso cuidado, o falante se limita a responder as perguntas utilizando uma linguagem mais elaborada. No estilo de leitura envolve mais atenção. O pesquisador solicita do pesquisado a leitura de textos, e é quando ele, o pesquisador depara com a variação fonológica, no sentido de perceber a pronuncia de certas palavras levando sempre emconsiderando o ambiente em que se encontra o informante.

"O ambiente e a ocasião em que a linguagem é usada, acarretará algumas conseqüências. Em palestras acadêmicas e ocasiões cerimoniosas, por exemplo, é provável que o falante selecione uma linguagem mais formal do que em festinhas infantis ou almoços em família". (Monteiro. 2000:71).

Labov observou em sua pesquisa, que os falares carregam grandes variações, principalmente o urbano e o rural que sofre influência um sobre o outro. O exemplo exposto pelo autor é o falar rural, ridicularizado por alguns, que em contanto com o falar urbano, sofre influência acarretando mudança no seu contexto natural.

Jesperson (Apud Dino PRETI. 1987:12) considera que a fala de um individuo que esteja isolado dentro de um grupo, nem sempre é a mesma. "Seu tom na conversação e, com ele, a escolha de palavras muda segundo a cada meiosocial em que se encontra no momento".O autor vai além dessa explicação, colocando também as diversas formas e estilos de linguagem utilizada pelo falante em ocasiões diferentes. "A isto se acrescente que a linguagem toma diferente colorido segundo o tema da conversação: há um estilo para declaração de amor, outro para a declaração oficial, outro para a negativa ou reprimenda"

Segundo Dino Pretti embora essas teorias sejam bastante relevantes nem sempre é possível relacionar com exatidão que um indivíduo de uma determinada região, cultura, posição social, raça, idade, sexo, etc., optaria antemão por uma ou outra estrutura. Coloca ainda, que, "nem sempre é possível estabelecer padrões de linguagem individual, de acordo com uma variedade muito grande de situação que pudesse servir de ponto de referência para uma classificação mais perfeita dos níveis de fala". Pretti, conclui que as pesquisas sociolingüísticas voltadas para a diversidade lingüística devem ser realizadas com muito êxito, principalmente se o pesquisador delimitar seu campo de pesquisa e seus reais objetivos. Valendo desses parâmetros o pesquisador obterá os resultados que tanto requer para validar sua pesquisa.

Marcos Bagno em sua obra Sociolingüística publicada em 1997, "A língua de Eulália", procura mostrar que o uso de uma linguagem "diferente", nem sempre pode ser considerado um "erro de português". Esse modo diferente das pessoas falarem pode ser explicado por algumas ciências como a Lingüística, a História, a Sociologia e até mesmo a Psicologia.

Embora a nossa tradição educacional negue a existência de uma pluralidade dentro do universo da Língua Portuguesa e não aceite que a norma culta seja uma das muitas variedades possíveis no uso do português, a "Língua Portuguesa" está em constante modificação e recebe notadamente, a influência de palavras pertencentes a outros idiomas, principalmente dos imigrantes que chegam a todo o momento ao Brasil, entre eles, portugueses, americanos, japoneses, alemães e italianos.

Entre outras coisas, o Livro "A Língua de Eulália" (2003) mostra que,na comparação entre o português-padrão e o português–não-padrão o maior preconceito apontado não são exatamente as diferentes lingüísticas que prevalecem, mas sim, as diferenças sociais, mostrando que esses preconceitos são comuns, como por exemplo, o étnico: o índio "preguiçoso", o negro "malandro", o japonês "trabalhador", o judeu "mesquinho",o português "burro"; o sexual: a valorização do "macho"; o cultural: o desprezo pelas praticas medicinais caseiras, além dos socioeconômicos como a valorização do rico e o desprezo pelo pobre; entre outros.

Conclusão

Todos esses preconceitos é um grande equivoco, nenhum ser humano é igual, seja na aparência física, moral ou intelectual, cada um tem sua essência própria. Colocar que o índio é preguiçoso, o negro é malandro, etc., vem de encontro com a maneira de viver de cada um, como pode alguém saber se alguém é mais "preguiçoso" do que outro pela etnia, ou que alguém é "malandro" só pela quantidade de melanina em seu organismo.

A questão cultural é ainda maior, baseado que a medicina dos séculos anteriores andava a passos lentos e a medicina caseira salvou muitas vidas utilizando seus chazinhos milagrosos ou até mesmo as rezas das benzedeiras.

Referências Bibliográficas

BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália.Novela Sociolingüística. Ed. Contexto. 1997.

______.Preconceito Lingüístico: O que é, como se faz. Ed. Loyola. 1999

______.Português ou Brasileiro? Um convite à Pesquisa. Ed. Parábola. 2001.

______Língua Materna: Letramento, variação e ensino. Ed. Parábola. 2002.

INFANTE. Ulisses. Curso de Gramática Aplicada Aos Textos. Ed. Scipione. 1995.

MONTEIRO, José Lemos. Para Compreender Labov. Petrópolis- RJ: Vozes, 2000.

PRETI, Dino. Sociolingüística: Os Níveis da Fala. São Paulo. Cia Editora Nacional. 1987.

TARALLO, Fernando. A pesquisa Sócio-Lingüística. 4ª. Edição. Ática. 1994.



[1] Graduada em Letraspela faculdade de Itaituba