Pesquisa apresentada na disciplina de História do Brasil II, para o curso de Licenciatura em História, na Universidade Estadual Vale do Acaraú, ministrada pela professora Maria do Socorro Bezerra.
INTRODUÇÃO
No período regencial as províncias brasileiras foram marcadas por várias revoltas populares, inclusive a antiga Província da Parahyba, com a revolta popular "Quebra-quilos", agitando não somente a Paraíba como também as províncias de: Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará.
Houve vários motivos pela causa dessa revolta, dentre elas podemos citar: os impostos elevados, recrutamento para os serviços militar, que só convocava os pobres e opositores ao governo, a questão religiosa que envolveu o padre Dom Vital que fez frente à maçonaria, interditando a participação dos maçons em atos religiosos, tendo sido preso e condenado, padres aproveitam a oportunidade para reivindicar contra o governo por isso a igreja passa apoiar a revolta dos Quebra-quilos e contra o avanço do capitalismo a serviço da estrutura do sistema métrico decimal.
Por volta de 1870, a economia da Paraíba se encontrava em plena crise devido ao preço do algodão e do açúcar está em baixa. Os impostos eram cobrados sobre os preços antigos dos produtos, para completar, o governo passou a exigir o cumprimento de uma lei imperial de 1862, instituiu o sistema métrico decimal e peso oficiais. Até então, as medidas conhecidas e utilizadas de acordo com os costumes de cada localidade eram a vara, côvado, braça, palmo, quarta, cuia, canada, etc. Para pesar, utilizavam pedras, em volume correspondente a certo número de libras ou onças. Tudo isso teria que ser substituído por quilograma, metro, litro, etc. Os produtos só poderiam ser comercializados com observância as medidas e pesos que o governo imperial instituiu baseado no sistema métrico francês, quem descumprisse a lei pagariam pesada multa e seria punido com prisão de cinco a dez anos. Montou-se um represado serviço de fiscalização e repressão nas feiras, armazéns, mercados e bodegas.
O Quebra-quilos foi a gota d?água entornada no caldeirão de novos impostos e novas regras de recrutamento, dizia-se na época que não escapariam do "voluntariado" militar nem as pessoas de posses. Por essas razões, juntavam-se na mesma turba de revoltosos, comerciantes, elementos da camada proprietária, pequenos agricultores que vendiam sua produção semanalmente na feira e consumidores atingidos com a elevação de preços dos produtos.

DESENVOLVIMENTO
A revolta dos Quebra-quilos começou a 7 de novembro de 1874, na vila de Fagundes em Campina Grande. Era um sábado dia de feira, daí por diante o quebra-quebra de pesos e medidas passou a ser feito em outras vilas, povoações e cidades nos dias de feira. Pessoas humildes, rude, do meio rural e das ruas, armados com reúnas, garruchas, pedras, foices, invadiam as feiras. A população achando-se enganada e desconfiada do peso e dos altos preços discutia a qualidade dos produtos chegando a apreender e inutilizar os metros e quilogramas encontrados nas feiras, armazéns, açougues e bodegas.
A rigor não havia um líder a coordenar a arregimentação dos insurretos. Estes apareciam espontaneamente, embora se saiba que é impossível a explosão de um movimento sem um cabeça. Em outras situações, apareceram lideres improvisados, dizem os historiadores que em Campina Grande houve um herói popular conhecido como João Carga d?água, que animava os ataques com entusiasmo e agressividade. Já em Fagundes, aparecerá um tal de Marcolino a frente dos rebeldes.
As comunicações na época eram precárias mais mesmo assim a notícia dos quebra-quilos de Fagundes repercutiu por toda a Paraíba. No dia 21 de novembro 1874, foi à vez da Vila do Ingá, Cabaceiras, Pilar, Areia, Alagoa Grande, Alagoa Nova, Bananeiras, Guarabira, São João do Cariri e outras localidades.
O ritual do motim se desdobrava em rasga-rasga e queima de móveis, livros, documentos e papéis das Câmaras, Juizados e Cartórios. Em Cabaceiras incendiaram o cartório, a polícia em inferior em números ficava impotente para reações. No Ingá era o centro da gravidade, nessa vila mais de duzentos homens invadiram a casa do escrivão, onde se apoderaram de papéis e livros, imediatamente destruídos. Delegados e juízes de paz tiveram mobilhas danificadas. Alguns revoltosos marcharam até a cadeia arrebentando as portas, voltando os presos e proclamando a liberdade pública. Ainda em Ingá, obrigaram o Comandante da Polícia a subescrever um documento abolindo os impostos, não aplicar a lei do recrutamento militar e não mais exigir utilização de metros e pesos oficiais. Em Alagoa Grande seria montado o quartel general dos quebra-quilos. A cidade de Areia era considerada importante por sua posição geográfica e também por ser o principal ponto de comércio do sertão da Paraíba, sofreu duas invasões, os revoltosos quiseram demolir o teatro por considerá-lo uma casa maçônica, como não conseguiram passaram a destruir todos os móveis e objetos. Também em Areia os novos pesos e medidas foram destruídos e os papéis públicos queimados, os revoltosos colocaram abaixo o mercado municipal.
Em Campina Grande, os quebra-quilos fizeram o serviço completo. Não deixaram um só peso e nem um metro inteiro invadiram a Coletoria, Câmara, Cartório e a loja maçônica "Segredo e Liberdade". Rasgaram e queimaram todos os livros e documentos, a exceção dos que encontraram na loja maçônica entregando ao padre Calisto, que ficou por dentro dos segredos da maçonaria. Um dos cabeças chamava-se Antonio Martins de Souza.
O governo da Paraíba com medo de represarias passou a dormir em um vaso de guerra ancorado em Cabedelo. Passava o dia no palácio, porque a luz do sol era mais fácil arregimentar forças para uma defesa.
Diante desses fatos o presidente da Paraíba Silvino Elvídio Carneiro da Cunha não sabia mais o que fazer para combater os revoltosos pediu ajuda ao imperador. Também pediu ajuda ao seu colega de Pernambuco, Henrique Pereira de Lucena. O governo imperial mandou para cá o coronel Severiano Martins da Fonseca, irmão do Marechal Deodoro da Fonseca. O coronel trouxe para província paraibana um batalhão de infantaria com efetivo de 38 oficiais, 540 soldados e mais uma ala de outro batalhão com 9 oficiais e 211 soldados. Trouxe também um piquete de cavalaria com um oficial e 19 soldados, a polícia local 17 oficiais e cerca de mil componentes, além de destacamentos da guarda nacional.
Posto diante desses fatos o governo reagiu com brutalidade, havendo elementos perigosos capazes de selvageria inomináveis. Existia uma tropa de linha chefiada pelo capitão José Longuinho, paraibano, comandante de um dos destacamentos deslocados da Bahia para cá. Esse oficial destacou-se por cometer várias atrocidades e pela utilização de colete de couro, instrumento de tortura que, molhado e costurado no tórax da vítima, comprimia-o matando por asfixia e hemoptises, quando secava.
O coronel Severiano fez deslocar um canhão para Campina Grande mais não obteve êxito, pois chegando lá a revolta já estava debelada. Com isso as tropas avançaram até Pocinhos onde houve um massacre de pessoas indefesas. No itinerário de volta a Campina Grande prenderam muitas pessoas. O padre Calisto foi trazido para a cidade da Paraíba, onde foi julgado e absorvido pelo júri, quem o defendeu foi o Dr. Irineu Joffily. Dezenas de quebra-quilos, tidos como cabeças ou participantes da mazorca, foram presos e julgados, outros migraram para a Amazônia, onde a extração da borracha garantia trabalho e o Sudeste atraídos pelas riquezas que a produção de café gerava. Muitos escolhem o cangaço, engrossando os bandos que para sobreviver assaltavam e roubavam pelo interior do nordeste. Outros buscam consolo na religião, e o nordeste se enche de beatos e fanáticos, dos quais Antonio Conselheiro é o exemplo mais conhecido. Finalmente, outra parcela dessa população continua a se submeter e a se conformar, numa dramática rotina de miséria e fome, que se repete até hoje.

CONCLUSÃO
Como já foi dito, a adoção do sistema métrico decimal, desde 1872, veio substituir a enorme variedade de padrões de pesos e medidas usados a muitas gerações. O novo sistema não era mau. Entretanto, sua adoção no Brasil aconteceu num momento impróprio, por causa da crise econômica social. Além disso, a população não foi devidamente esclarecida para mudança do antigo sistema, ao qual estava acostumada a século. Desta forma, rejeitou violentamente a novidade. As pessoas não entendiam as novas medidas e por isso não eram capazes de conferir as quantidades e os preços.
Assim, o novo sistema métrico foi alvo de muitas críticas, algumas totalmente sem fundamento. A destruição dos padrões de pesos e medidas pelos rebeldes simbolizava uma oposição ao governo. O nome quebra-quilos, embora revelasse apenas um aspecto do movimento, era símbolo importante e característico dessa revolta.
O movimento dos quebra-quilos revela uma sociedade que acreditava nas revoltas coletivas. Mostra também a crença dos revoltosos de que todos os nordestinos, ricos ou pobres, se uniram para salvar sua região. Isso não aconteceu e a repressão ao movimento foi bastante cruel.
Lembrar a história dos quebra-quilos é reviver o dia em que os matutos lutaram contra os bacharéis e destruíram os símbolos de sua opressão.

BIBLIOGRAFIA

MONTEIRO, Hamilton de Mattos: Revolta do Quebra-quilos. São Paulo: Ática S.A., 1995.

NETO, Dorgival Terceiro. Gente de ontem, histórias de sempre. João Pessoa: Itacoatiara, 1994.