Introdução

A contabilidade é considerada a "linguagem dos negócios"(NIYAMA,2005,p.15), isso quer dizer, que é nela que os principais agentes econômicos buscam informações, para realizar investimentos. No entanto, essa linguagem não é igual em termos internacionais,pois cada país tem suas próprias práticas contábeis, o que significa dizer que o lucro de uma empresa no Brasil não seria igual se adotadas as praticas contábeis de outros paises, prejudicando sua compreensão devido à falta de uniformidade. Essa linguagem não é uniforme porque cada país tem critérios próprios e diferentes para reconhecer e mensurar a cada transação. A contabilidade internacional é o processo de harmonização contábil, visando proporcionar uma compreensão dessas linguagens e sua comparabilidade(NIYAMA,2005,15).

Diante do aquecimento da economia em termos globais, o mundo passou a viver uma grande necessidade de informações. Em conseqüência deste processo, diferentes organismos e entidades, vem buscando uma maior aproximação, objetivando minimizar suas diferencias, no sentido de permitir maior comparabilidade nas informações para atender maior numero possível de agentes inseridos neste processo de internacionalização.

A contabilidade internacional tem por objetivo levar aos profissionais de contabilidade os conhecimentos necessários sobre as Normas de Contabilidade vigentes no mundo, de forma que possam adaptar as demonstrações contábeis às exigências de determinados paises em que a empresa sob sua responsabilidade tenha interesses comerciais e financeiros.

A necessidade de uma linguagem contábil que permita a contabilidade fornecer informações objetivas e legíveis em qualquer lugar do mundo torna-se cada vez mais presente, a comunicação desses profissionais requer familiaridade com questão internacionais relacionados aos negócios, sendo oportuno refletir sobre a formação desses profissionais.

O objetivo deste artigo é avaliar se o programa curricular dos cursos de Ciências Contábeis das Universidades/Faculdades brasileiras, vem atendendo as necessidades do mercado globalizado.

1. Contabilidade Internacional

De acordo com Carvalho,Lemos e Costa (2006,p13) depois da queda da Bolsa de Valores de Nova York, e suas seqüelas mundo afora.Os americanos se dedicaram,nos anos após a crise da bolsa,a elaborar e fazer aprovar um novo estatuto que disciplinasse de maneira mais eficaz as relações entre acionistas e as empresas,uma nova Lei das S.A.(6.404/76). A falta de uma agencia reguladora do mercado de capitais também foi uma falha percebida que contribuiu para a crise,neste mesmo período de cinco anos concebeu-se e instalou-se a Comissão de Valores Monetários nos Estados Unidos a SEC,cujo modelo serviu de inspiração no Brasil em 1976 para criação da CVM.Os americanos chegaram a conclusão que outra razão poderia contribuir bastante para a catástrofe do seu mercado de capitais,as demonstrações financeiras,nas quais os investidores se baseiam para tomar suas decisões de comprar,vender ou manter posições acionarias, eram desinformativas,Carvalho,Lemos e Costa (2006,p.13).Não existiam um conjunto inteligente e sensato de normas contábeis que orientasse à preparação de tais demonstrações financeiras,e em conseqüência as analises de balanço podiam levar, a graves erros na tomada de decisões econômicas (Sem levar em conta as fraudes).Ao contrario de nossa cultura,onde as decisões partem da deliberação de órgãos oficiais,comissionaram o setor privado por meio de uma entidade que passou a englobar,para fins de normalização contábil,os profissionais de contabilidade,finanças,auditoria e mercado de capitais,para produzirem as normas ate então inexistentes,cuja tarefa foi atribuída à Junta de Normas de Contabilidade( o Accounting Principles Board- APB),uma espécie de grupo de trabalho inserido na estrutura do Instituto Americano de Contadores públicos certificados( AICPA). Segundo CARVALHO, Lemos e Costa(2006,p.15):

A contabilidade internacional surgiu para minorar as agruras de quem quer investir fora de seu país e até hoje tinha que manusear balanços em dezenas de normas contábeis distintas, tentando compatibiliza-las para comparar.

Segundo Norbes e Parker apud Echternacht,(2006) ,existem pelo menos quatro razoes pelas as quais a contabilidade internacional é considerada de extrema importância, são elas:

Razão histórica

Razão multinacional

Razão de comparação

Razão de harmonização

De acordo com as razoes atrás enumeradas, considera-se interessante fazer uma referencia a cada uma delas separadamente, não esquecendo porem que estão intimamente relacionadas.

Historicamente, um grande número de países tem contribuído, ao longo dos tempos, de forma extremamente importante, para o desenvolvimento da contabilidade. Temos Itália, que assumiu a liderança com o método das partidas dobradas, seguindo-se a Inglaterra e os Estados Unidos também eles com inovações. Como resultado destas mais marcantes lideranças a língua inglesa tornou-se assim, a língua oficial da contabilidade.

A multinacionalidade, tem a ver com a importação e exportação de técnicas, instituições e conceitos contabilísticos para todos os cantos do mundo. As empresas chamadas multinacionais também tem desempenhado um importante papel na transferência das técnicas contabilísticas de um país para outro Echternacht (2006). Com o aparecimento dessas empresas, tornou-se necessário à elaboração de relatórios financeiros para o país de origem, de acordo com as respectivas leis e praticas contabilísticas. Assim, analistas e investidores necessitam de ter um conhecimento aprofundado do sistema financeiro de vários paises, tendo em conta também, que as multinacionais angariam fundos não só a nível doméstico, mais principalmente nos mercados de capitais mais diversos, que nos últimos anos se tem tomado cada vez mais internacionalizados.

Quanto à razão de comparação podemos dizer que é talvez uma das mais importantes, pois assim, permite a um país ao observar e comparar-se com outro,o aperfeiçoamento da contabilidade.

A razão da harmonização desenvolve-se com bastante importância. Seria uma tentativa de busca de preservação das particularidades inerentes a cada país, mas que permita reconciliar os sistemas contábeis com outros países de modo que as informações trocadas sejam melhores interpretadas e compreendidas.

1.1O PAPEL DO FASB E IASB

FASB(Financial Accounting Standards Board),em 1973 os americanos dos Estados Unidos entenderam que o modelo de traçar normas contábeis pelo mecanismo de profissionais de mercado que doavam tempo e talento via APB havia se extinguido,e criaram uma modelo mais ousado,de uma instituição sem fins lucrativos,privada,total e exclusivamente voltada para elaborar normas contábeis,criou-se então a Junta de Normas de Contabilidade Financeira,o FASB, Carvalho,Lemos e Costa (2006,p15).

IASB (Internacional Accounting Standards Board),é um órgão independente,esta comprometido em reduzir tais diferenças buscando harmonizar as regulamentações,normas contábeis e procedimentos relativos a preparação e apresentação das demonstrações financeiras.O IASB acredita que maior harmonização pode ser objetivada focando-se nas demonstrações financeiras que são preparadas para o propósito de prover informações úteis na tomada de decisões econômicas, Carvalho,Lemos e Costa (2006,p15)..

2.Cursos de Ciências Contábeis

Segundo dados da Revista Brasileira de Contabilidade,(Girotto,2008,p.13) , "há mais de mil cursos de Ciências Contábeis autorizados pelo Ministério da Educação(MEC)em todo o Brasil".

A primeira escola a ministrar um curso de contabilidade no Brasil foi a Fundação Escola de ComercioÁlvares Penteado (FECAP) , em São Paulo,1906, ainda em nível secundário, sob forte influencia da escola italiana, ou seja, com forte ênfase no método das partidas dobradas e pouca discussão sobre o produto final para o usuário, no caso, as demonstrações financeiras.

O ensino da contabilidade sob influência da escola italiana prevaleceu fortemente ate os meados da década de 70 ou ate a vigência da lei 6.404/76, que veio a estabelecer critérios e procedimentos contábeis predominante influenciados pela escola norte-americana de contabilidade,conforme dados de Katsumi (2005,p.05).

Cabe destacar o impulso, dado pela Universidade de São Paulo, primeira instituição de ensino a oferecercurso regular de mestrado e doutorado em contabilidade no Brasil.

O conteúdo de mínimo da grade curricular dos cursos de Ciências Contábeis é determinado pela resolução n 10 do Conselho Nacional de Educação, de 10 de Março de 2004, que prescreve no art. 5 .(Echternacht,2006,p.35)

Os cursos graduação em Ciências Contábeis, Bacharelado, deverão contemplar em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que revelem conhecimento do cenário econômico e financeiro, nacional e internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas e padrões internacionais de contabilidade, em conformidade com a formação exigida pela Organização Mundial do Comercio e pelas peculiaridades das organizações governamentais observados o perfil definido para o formando e que atenda aos seguintes campos interligados de formação.

3.A disciplina de contabilidade Internacional .

Adams e Roberts apud Echternacht(2006) afirmam que a "contabilidade internacional deve ser considerada como uma importante disciplina acadêmica", não somente porque as praticas e normas contábeis tem sido influenciadas cada vez mais por eventos e práticas internacionais, mas também por trata-se de um veiculo particularmente rico para explorar o contingente natural de muitas normas e praticas contábeis.

Segundo Weffort (2005) apud Castro (2007,p.10) "no Brasil é reduzido o numero de pesquisas voltadas para a contabilidade internacional comparativamente com aquelas desenvolvidas em outros ramos da contabilidade". Até 2005, no Brasil, não havia obras que tratassem de Contabilidade Internacional, nem docentes preparados com conhecimentos adequados para ministrar a disciplina (Niyama,2008,p.15)

Weffort (2005) apud Castro (2007),analisa a inserção da Disciplina de Contabilidade Internacional nas grades curriculares dos Cursos de Ciências Contábeis,no Brasil e afirma que,de modo geral,essa inclusão ainda e tímida nos cursos de graduação,como pode ser observado na tabela.

Regiões Brasileiras

Inst. De Ensino

Inst. Analisada

Inst. Que oferece a disciplina

Percentuais

Norte

41

4

0

0%

Centro-Oeste

80

10

1

10%

Nordeste

124

16

2

12,5%

Sul

149

19

4

21,05%

Sudeste

273

34

9

26,47%

Total

667

83

16

19,28%

Fonte:Adaptado de Weffort(2005) apud Castro(2007).

Entretanto houve um aumento no numero de artigos de periódicos, tese e de dissertação que abortam o tema contabilidade internacional, Weffort (2005) apud Castro(2007).

Echternacht(2006) também elaborou uma pesquisa objetivando avaliar a Disciplina de Contabilidade Internacional nos cursos de Ciências Contábeis das faculdades públicas e privadas Brasileiras.

Regiões Brasileiras

Inst. De Ensino

Inst. Analisada

Inst. Que oferece a disciplina

Percentuais

Norte

55

5

1

0%

Centro-Oeste

102

10

2

9%

Nordeste

168

17

3

13%

Sul

191

19

8

36%

Sudeste

367

36

8

36%

Total

883

87

22

25,28%

Fonte: Echternacht(2006).

4. O Currículo Mundial ISAR UNCTAD

Tentando promover a harmonização mundial dos requisitos de qualificação profissional, harmonização esta, que permitira reduzir as disparidadesentre os sistemas nacionais de educaçãoe auxiliar a utilização do comercio sem fronteiras, criou-se um bloco de conhecimentos do currículo mundial, ISAR UNCTAD apud Castro(2007).

Entende-se que quanto maior for a semelhança entre o currículo adotado por um país e o currículo internacional, maior será a harmonização na educação contábil desse país (Riccio;Sakata apud Echternacht(2006)

Bloco de conhecimento do currículo mundial ISAR/UNCTAD.

Conhecimento administrativo e organizacional

Tecnologia de informação

Conhecimentos de Contabilidade e assunto afins

Conhecimentos gerais

Economia

Métodos quantitativos e estáticos para a administração.

Políticas administrativas e estrutura organizacional.

Funções e praticas gerencias função de marketing.

Módulo de gestão e estratégia organizacional.

Tecnologia de administração, conceitos de para sistema administrativo.

Controle interno de sistema informatizado de gestão.

Gestão de Implementação e uso de TI.

Gestão da segurança de informações.

Inteligência artificial.

Comercio eletrônico.

Contabilidade básica e preparação de relatórios financeiros a profissão contábil, padrões internacionais.

Práticas Contábeis e financeiras avançadas.

Princípios de relatórios financeiros avançados.

Contabilidade gerencial para tomada de decisão.

Tributação legislação comercial fundamentos de auditoria.

Finanças e gestão financeira.

Historia e religião

Comportamento humano psicologia.

Economia local.

Metodologia da pesquisa.

Artes e literatura.

Ética

Filosofia.

Comunicação oral.

Línguas.

Experiência Geral.

Fonte: ISAR UNCTAD apud Castro(2007).

5.Conclusão

Com este artigo, concluímos que a disciplina de contabilidade internacional é de grande relevância para os profissionais contábeis, pois diante daglobalização de informações, esse estudo é uma ferramenta, imprescindível para atender as necessidades do mercado.

Analisou-se que o ensino da disciplina de contabilidade internacional ainda é muito restrito, pois não existi muitos trabalhos, nem profissionais nesta área. Com vimos no estudo deEchternacht (2006), apenas 25 % dos cursos de Ciências Contábeis incluem nos seus currículos a disciplina, sendo que na nossa região este percentual é ainda menor pois, só corresponde a 13% dos cursos. Dentro deste contexto vimos que estamos sendo contemplados pois na nossa Faculdade temos esta disciplina, que acreditamos ser uma área da contabilidade que ainda tem muito a crescer.Por tudo que esta acontecendo no mundo, com a globalização dos mercados, o profissional que se especializar nesta área será mais valorizado.

Referencias Bibliográfica

AQUINO, Ítalo de Souza.Como escrever artigos científicos; Sem "arrodeio" e sem medo da ABNT.5. ed. João Pessoa: Editora Universitária UFPB,2008.

CARVALHO, L.Nelson; LEMES, Sirlei;COSTA, Fábio Moraes da. ContabilidadeInternacional: Aplicação das IFRS 2005.São Paulo: Editora Atlas, 2006.

CASTRO,Rita de Cássia Silva; O currículo dos cursos de contabilidade e aglobalização: Estudo de um caso Brasileiro. Aveiro,2007.

ECHTERNACHT, Tiago Henrique de Souza.Agostinho. O ensino da contabilidade internacional nos cursos de graduação em ciências contábeis no Brasil. João Pessoa,2006.

GIROTTO, Maristela.O ensino de Contabilidade Internacional.Revista Brasileirade Contabilidade, Brasília,n 170,p.13-19,marco/abril.2008.

NIYAMA, Jorge Katsumi.Contabilidade Internacional. SãoPaulo:Editora Atlas,2005.