Um novo modelo de acesso às universidades públicas federais está entrando em vigor no Brasil. É o novo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), cujo objetivo maior, até então, era avaliar o nível de aprendizagem dos estudantes de ensino médio no país, sendo que os resultados eram utilizados por algumas instituições públicas e pelo próprio governo federal para a distribuição de bolsas de estudo em instituições particulares através do Pro-Uni.
Com a chegada do novo Enem as escolas e os cursinhos pré-vestibulares já começam a se adequar às mudanças, inclusive na distribuição da carga horária por disciplina e pelos conteúdos abordados por cada uma delas. A disciplina curricular que mais "sofreu" com essas mudanças foi, sem sombra de dúvidas, a matemática ? o calcanhar de Aquiles da grande maioria dos estudantes ? que teve parte relevante de seus conteúdos simplesmente descartada do programa do novo Enem, além de ter alterações significativas na forma de trabalhar os conteúdos em cada questão.
Foram ignorados no programa do novo Enem conteúdos altamente importantes da matemática, como Matrizes, Determinantes, Sistemas lineares, Números Complexos e Polinômios, ou seja, toda a Álgebra do 2º e 3º anos do ensino médio regular, o que é um verdadeiro absurdo, haja vista que foge, inclusive, da proposta do novo Enem de aplicar, contextualizar e interdisciplinarizar os conteúdos. A Álgebra Matricial (parte indispensável no estudo da Álgebra Linear), que envolve Matrizes, Determinantes e Sistemas Lineares, é muito aplicada em Computação, Física, Astronáutica, Robótica, Engenharia etc. Como conteúdos com tamanha aplicabilidade podem ser sumariamente banidos do currículo escolar?
Ademais, não podemos nos esquecer que a Matemática é uma ciência independente e importante por si só. Não se pode achar que a matemática é importante unicamente por ser uma ferramenta para a Física, a Biologia, a Química, a Medicina, a Engenharia ou a Robótica, mas sim por oferecer recursos metodológicos que ajudam a humanidade a pensar melhor, a aumentar o seu poder de concentração, a encarar situações problemas e, aí sim, poder aplicar convenientemente seus conhecimentos matemáticos.
Não se sabe ainda o real motivo do descarte destes conteúdos, mas certamente foi sem nenhum embasamento científico e sim pedagógico. Os estudantes, de um modo geral, estão a cada dia mais desmotivados para os estudos, pois mais e mais o sistema educacional vem acabando com distinção entre quem estuda e quem não estuda. Ninguém reprova mais de ano, o aluno tem tantas chances quantas precisar até acertar. Será que é selecionando equivocadamente os conteúdos da matemática que resolveremos os graves problemas da educação brasileira? Não. E quanto aos estudantes que decidirem seguir uma carreira na qual a matemática é um dos pilares, como as Engenharias, as licenciaturas em Matemática, Física ou Química, a Mecatrônica ou a Computação? Chegarão à universidade sem nenhum conhecimento de Álgebra Matricial?
A Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), a maior referência no ensino e na pesquisa de Matemática no Brasil, com sede no Rio de Janeiro, já se manifestou repudiando o programa de Matemática do novo Enem e se propuseram a orientar o INEP (Instituto Nacional de Educação Anísio Teixeira), órgão responsável pelo ENEM, na eleboração de um novo programa de Matemática, mas até agora não receberam nenhuma notificação positiva a este respeito.
O que nós, brasileiros preocupados com o futuro de nossa educação, podemos fazer é participar das discussões, dos debates e não nos isentarmos deste processo. O novo Enem precisa ser revisto, respeitando a Matemática como ciência que é, e reintegrando os seus conteúdos retirados. Para o bem de toda a educação esperamos que isto ocorra muito brevemente.