1
A IMPORTÂNCIA DA REVISÃO DE TEXTO NOS TRABALHOS ACADÊMICOS
Luana Augusta de Freitas
Universidade Gama Filho
Resumo: Esse artigo traz uma breve análise e referência sobre os trabalhos acadêmicos, o processo de revisão de texto e o trabalho do revisor de texto - que nem sempre é visto como um trabalho que pode melhorar a qualidade de diversos textos e que vai além da correção gramatical - mostrando a importância da revisão de texto para melhorar a qualidade dos trabalhos acadêmicos, facilitando a leitura e melhorando sua compreensão.
Palavras chaves: texto, trabalho acadêmico, revisão, revisor
2
A IMPORTÂNCIA DA REVISÃO DE TEXTO NOS TRABALHOS ACADÊMICOS
1. INTRODUÇÃO
A criação de um texto é uma tarefa que requer certos cuidados. O texto e uma trama de ideias que deve ter coerência entre si. Existem vários tipos de textos e todo texto precisa ser bem estruturado e redigido e para isso, é necessário que se tenha uma boa linguagem e conhecimento de regras de escrita.
O presente artigo mostrará os diversos tipos de textos e algumas de suas características que facilitam na hora da escrita. Dentro da produção de texto, temos o texto acadêmico, que é uma forma de demonstração de conhecimento científico adquirido na vida acadêmica.
Esse tipo de trabalho tem forma específica e seu conteúdo deve ter bases científicas, mas um detalhe importante nos trabalhos acadêmicos é a sua apresentação. No artigo falaremos sobre a importância da revisão de texto nesse tipo de trabalho.
O trabalho do revisor de texto é importante em todas as áreas que se trabalham com texto, uma boa revisão não se baseia somente em regras gramaticais, também visa melhorar a estrutura e a coerência do que foi escrito.
Trataremos, além dos tipos de textos e, particularmente, dos textos acadêmicos, da revisão de texto e de um trabalho de qualidade e credibilidade que facilitam o entendimento do leitor e da importância do trabalho do profissional em revisão de texto.
3
2. O TEXTO E SUAS CARACTERÍSTICAS
A definição de texto é uma informação ampla e imprecisa. Mas um texto pode ser bem explicado a partir do conceito de conjunto de palavra e frases articuladas entre si, formando um significado. Um texto pode ser escrito ou oral. "Um texto é uma ocorrência lingüística, escrita ou falada de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal. É uma unidade de linguagem em uso." (Costa Val, 1991.).
O texto tem que ter estrutura, elementos que estabelecem relação entre si. Dentro dos aspectos formais temos a coesão e a coerência, que dão sentido e forma ao texto. "A coesão textual é a relação, a ligação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto" (PLATÃO & FIORIN, 1996). A coerência está relacionada com a compreensão, a interpretação do que se diz ou escreve. Um texto precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência. Embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos, são os elementos coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos componentes, a coerência depende da coesão.
Os textos podem ser literários, que são aqueles que, em geral, têm o objetivo de emocionar o leitor, e para isso exploram a linguagem conotativa ou poética. Em geral, ocorre o predomínio da função emotiva e poética. Podem ser também não literários, que pretendem informar o leitor de forma direta e objetiva, a partir de uma linguagem denotativa. A função referencial predomina nos textos não-literários.
Basicamente existem três tipos de texto:
4
 Texto narrativo;
 Texto descritivo;
 Texto dissertativo.
Cada um desses textos possui características próprias de construção. Na prática, esses tipos de texto se misturam. É possível a identificação de elementos descritivos, narrativos e dissertativos num mesmo texto, com predomínio de uns ou de outros.
Texto narrativo
A narração consiste em falar sobre os fatos, ou seja, contar uma história envolvendo ação e movimento.
Existem alguns elementos fundamentais em uma narração:
a) O fato ? consiste em o que será contado, deve ter sequência lógica que será denominado enredo.
b) A personagem ? é sobre quem se fala na narração. Normalmente tem-se personagem principal e personagens secundários.
c) Narrador ? é quem narra a história. Pode ser narrador-observador, que não faz parte da história, nesse caso a narração será feita em terceira pessoa e narrador-personagem, que faz parte da história, nesse caso a narração será feita em primeira pessoa.
d) Tempo ? O intervalo de tempo em que o(s) fato(s) ocorre(m). Existem dois tempos na narração: o cronológico, ou seja, um tempo especificado durante o texto e o psicológico, onde você sabe que existe um intervalo em que as ações ocorreram, mas não se consegue distingui-lo.
5
e) Espaço ? é imprescindível, e deve ser esclarecido logo no início da narrativa, pois assim o leitor poderá localizar a ação e imaginá-la com maior facilidade.
Texto descritivo
O texto descritivo expõe os detalhes de pessoas, situações, cenários e objetos que fazem parte do fato descrito. É muito comum em um texto descritivo vir incorporado uma narrativa ou uma argumentação. Segundo Othon M. Garcia (1973), "descrição é a representação verbal de um objeto sensível (ser, coisa, paisagem), através da indicação dos seus aspectos mais característicos, dos pormenores que o individualizam, que o distinguem."
Há descrições literárias e técnicas. Nas primeiras, o que importa é a transmissão de impressões que o objeto desperta em quem descreve; e, de fato, uma interpretação daquilo que se vê. Já as segundas se constituem em um detalhamento de características, objetivando a exatidão, uma espécie de fotografia do objeto visto.
Texto dissertativo
Dissertação é um texto que se caracteriza pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de um determinado assunto. Em geral, para se obter maior clareza na exposição de um ponto de vista, costuma-se distribuir a matéria em três partes:
a. introdução - em que se apresenta a ideia ou o ponto de vista que será defendido;
6
b. desenvolvimento ou argumentação - em que se desenvolve o ponto de vista para tentar convencer o leitor; para isso, deve-se usar uma sólida argumentação, citar exemplos, recorrer a opinião de especialistas, fornecer dados, etc.
c. conclusão - em que se dá um fecho ao texto, coerente com o desenvolvimento, com os argumentos apresentados.
Quanto à linguagem, prevalece o sentido denotativo das palavras e a ordem direta das orações. Também são muito importantes, no texto dissertativo, a coerência das ideias e a utilização de elementos coesivos, em especial das conjunções que explicitam as relações entre as ideias expostas. Portanto, a elaboração de um texto dissertativo não está centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa de idéias e na forma como essas ideias são articuladas. Quando se lança mão de uma figura de linguagem, ela deverá sempre ser utilizada com valor argumentativo, como um instrumento a mais para a defesa de uma determinada ideia.
O texto acadêmico-científico
Esse tipo de texto é baseado em questões científicas, ou seja, o que é escrito nesse tipo de texto tem que ter referências científicas comprovando sua veracidade. Nesse tipo de texto não se pode trabalhar com "achismos", tudo deve ser embasado em obras científicas que tratam do assunto relacionado.
É essencial demonstrar quais os métodos de pesquisa, análise e tratamentos de dados que sustentam o trabalho de investigação.
7
A produção do texto acadêmico-científico requer escrita sobre temas que podem ser tratados cientificamente, à luz da experimentação, do raciocínio lógico, da análise, da aplicação de um método/técnica. Esse tipo de produção objetiva expor informações comprovadas ou passíveis de comprovação, divulgar ideias próprias ou de outrem, partilhar um saber, informar.
Tem um estilo marcado pela objetividade, precisão, clareza, concisão, simplicidade e formalidade e utiliza linguagem respeitando o padrão culto da escrita, usando terminologia específica da área do saber, recorrência ao sentido denotativo da palavra.
Através da citação de Köche (2002) podemos compreender qual é a proposta do conhecimento científico:
O conhecimento científico é, pois, o que é construído através de procedimentos que denotem atitude científica e que, por proporcionar condições de experimentação de suas hipóteses de forma sistemática, controlada e objetiva e ser exposto à crítica intersubjetiva, oferece maior segurança e confiabilidade nos seus resultados e maior consciência dos limites de validade de suas teorias (KÖCHE, 2002:37).
Nota-se, então, que para a construção do texto acadêmico, é necessário ter claro quais são os limites e limitações das teorias com as quais se trabalha. A teoria não serve apenas para explicar o quanto as hipóteses são plausíveis, mas para elaborar os instrumentos e as técnicas de pesquisa e os parâmetros
Para Magda Alves (2001), o texto científico estrutura-se em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Antes de abordar o que essas três partes devem conter, Alves (2007) aponta alguns aspectos formais do gênero acadêmico-científico: o título e o subtítulo, se houver; o autor do texto, seguido de um indicador numérico para informar, em rodapé, sua titulação; o resumo ou abstract, que constitui uma apresentação concisa e seletiva do trabalho.
8
Os tipos de trabalhos acadêmico-científicos e suas características serão abordados posteriormente neste artigo.
A revisão de texto
A revisão de texto pode ser feita pelo escritor para resolver dúvidas deixadas ao longo do texto, "limpar" o texto, verificar se as ideias têm sequência lógica, esclarecem adequadamente o leitor.
Escrever e revisar são atividades distintas, uma mais criativa e descritiva, a outra mais crítica.
A revisão feita pelo revisor profissional propõe, primeiramente, uma leitura rápida para ter ideia do conjunto. Numa segunda leitura, mais cuidadosa, faz-se uma anotação das discordâncias, indagações, sugestões. E por fim, tenta-se detectar as falhas na transmissão das ideias e possíveis hesitações em termos de conteúdo.
3. O TRABALHO ACADÊMICO
Durante a vida acadêmica adquirimos conhecimentos abrangentes e restritos sobre a área da qual estudamos. Esses conhecimentos são colocados a prova em muitos momentos. E os trabalhos acadêmicos são uma forma de demonstrar esses conhecimentos adquiridos. Há diversos tipos de trabalhos acadêmicos, que serão citados ao longo desse trabalho.
Em uma breve definição, o trabalho acadêmico é resultado dos estudos e conhecimentos adquiridos na vida acadêmica. É também uma forma de comunicação que proporciona troca de informação e, portanto, deve ser
9
normatizado. Esse tipo de trabalho é baseado em um assunto escolhido pelo autor.
A escolha do tema é o primeiro passo para a realização do trabalho. Ao primeiro momento a escolha de um tema amplo, genérico traz mais segurança, pela facilidade de se escrever mais sobre o assunto. Mas é importante que o autor encontre dentro desse tema, uma delimitação, um assunto mais específico. O tema mais restrito facilita a pesquisa e a elaboração do trabalho. A participação de um professor orientador na escolha do tema é de grande valia para o aluno, principalmente na fase de delimitação do tema, pois ele pode indicar de forma mais clara o limite dessa delimitação.
A escolha do tema deve ser de interesse do aluno e de fontes de pesquisas acessíveis, para facilitar a pesquisa e o processo de elaboração, e evitar fuga do tema ou texto incoerente e que mostrem a falta de domínio sobre o assunto.
Escrever um trabalho acadêmico exige concentração e tempo. Requer uma atenção especial para o assunto, a forma de escrever e a ortografia. Deve-se passar para o leitor, o significado do tema de forma clara e objetiva e também de forma gramaticalmente correta.
Um dos fatores importantes para um bom texto é o conhecimento que se tem do vocabulário. O domínio do sentido das palavras dentro de um contexto dá mais qualidade ao texto e maior eficácia na leitura. É imprescindível uma vasta leitura sobre o determinado tema, para aumentar o domínio do vocabulário técnico relativo a esse tema e facilitar a elaboração do trabalho.
10
Para Othon M. Garcia (1986, p. 184), vários são os meios de enriquecer o vocabulário: "O mais eficaz, entretanto, é aquele que se baseia na experiência, isto é, numa situação real, como a conversa, a leitura ou a redação".
O trabalho acadêmico tem por finalidade apresentar e/ou contestar o conhecimento produzido. A demonstração do conhecimento é necessidade na comunidade acadêmica, onde esse conhecimento é o critério de mérito e acesso. Quase todo conhecimento produzido é contestado. Essa contestação, em que não constitua conhecimento diferenciado, certamente é etapa contribuinte no processo da construção do saber que contesta. Esse processo de difusão do conhecimento se faz cada vez mais presente na vida acadêmica, pois é um tipo de forma de constatar a construçao ou transmissão do saber.
Existem vários tipo de trabalhos acadêmicos, alguns mais complexos, outros mais simples, mas todos com o objetivo de transmitir um conhecimento. Veremos alguns tipos nos tópicos abaixo.
Tese
A tese é um trabalho de estudo científico acerca de um tema delimitado. É o trabalho final dos cursos de doutorado e pós-doutorado, elaborado depois de cursados os respectivos créditos e feita a pesquisa correspondente; nesses casos é desenvolvida sob assistência de um orientador acadêmico.
É um texto que se caracteriza pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista. Ou então pelo questionamento acerca de um determinado assunto. O autor do texto dissertativo trabalha com argumentos, com fatos, com dados, que utiliza para reforçar ou justificar o desenvolvimento de suas ideias (SILVEIRA, 2002).
11
A tese deve revelar a capacidade do pesquisador em sistematizar o conhecimento, revelando a capacidade do doutorando em fornecer uma contribuição para a ciência, primando pela originalidade.
Uma tese deve começar por cumprir, em regra, o seguinte objetivo principal: identificar um problema científico relevante que não foi ainda sujeito a investigação. Depois, é necessário cumprir outro objetivo: resolver o problema definido como ponto de partida da investigação. Quando encontramos a solução para o problema original que definimos como base de trabalho da nossa investigação, podemos dizer que cumprimos o grande objetivo de uma tese.
A NBR 14724:2002 define tese como:
Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investigação original, constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor) e visa à obtenção do título de doutor, ou similar.
Dissertação
A dissertação é um trabalho de exposição de ideias, nela se desenvolve um raciocínio e argumentos que fundamentem posições. Dissertar é estabelecer relações de causa e consequência, é dar exemplos, é tirar conclusões, é apresentar um texto com organização lógica das idéias.
Ela representa um trabalho, de tema único, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informações ou a exposição de um estudo científico retrospectivo.
12
A dissertação, geralmente, é feita em final de curso de pós-graduação, stricto sensu (mestrado), com a finalidade de treinar os estudantes no domínio do assunto abordado e como forma de iniciação a pesquisa mais ampla.
Estruturalmente, Silva et al. (s.d., p. 179) indicam ser a dissertação composta por três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução aponta-se os problemas, no desenvolvimento demonstra-se o que foi proposto na introdução e na conclusão aponta-se a postura do autor diante do problema.
A dissertação consiste na explanação ou discussão de conceitos ou ideias. Ela pode ser expositiva ou argumentativa. Em uma dissertação não se pode colocar a opinião própria.
Na dissertação expositiva, o autor apresenta uma ideia, uma doutrina e expõe o que ele ou outros pensam sobre o tema ou assunto. Geralmente faz a amplificação da ideia central, demonstrando sua natureza, antecedentes, causas próximas ou remotas, consequências ou exemplos.
Na dissertação argumentativa, o autor quer provar a veracidade ou falsidade de ideias; pretende convencer o leitor ou ouvinte, dirige-se à sua inteligência através de argumentos, de provas evidentes, de testemunhas.
Monografia
É um tipo de trabalho científico concentrado em um tema específico; ela consiste na forma de trabalho científico exigida do aluno no momento da
13
obtenção de sua titulação acadêmica. Por esse motivo é notória a importância da monografia enquanto última instância para a formação de um profissional.
Segundo o dicionário Aurélio, a monografia é um estudo minucioso a fim de esgotar determinado tema relativamente restrito. É um trabalho de base bibliográfica e desenvolvida, em alguns casos, com o auxílio de um orientador.
De acordo com seus propósitos, a monografia é construída a partir de inúmeras regras que visam basicamente o melhor tratamento da ideia ou assunto tratado assim como também gerar certa homogeneidade em relação à metodologia utilizada para sua criação.
Esta se baseia a partir de fatos ou ainda conceitos, devendo-se fundamentar o assunto de modo a que se obtenha uma coerência e relevância científica ou filosófica. Para tanto, a monografia necessita ser elaborada a partir do embasamento existente em bibliografias, que irão fundamentá-la ou ainda a partir de resultados práticos de pesquisa científica, como um modo de apresentação, racionalização e discussão dos mesmos.
A monografia deve ser um trabalho sistemático, que seja organizado em etapas, começando com o projeto, e que siga determinadas regras de execução. E deve ser completo, com qualidade, para que, apesar de apresentar um único problema, se possa compreender o todo do tema, integralmente.
Artigo
É um trabalho acadêmico curto e apresenta o resultado de investigação sobre determinado tema. O artigo pode ser usado para a obtenção de título ou
14
como trabalho de conclusão de curso. Nesse caso, deve ser desenvolvido sob o auxílio de um orientador.
É apresentado segundo a linguagem e método próprios de uma área da ciência e, de modo geral, com uma estrutura lógica de argumentação, apresentando inicialmente o problema ou objetivo da investigação, o conjunto de hipóteses, as possíveis soluções do problema ou modos de se atingir o objetivo, uma descrição dos métodos e técnicas utilizados, uma análise dos resultados obtidos, uma conclusão que aponta qual hipótese foi verificada experimentalmente.
Os artigos são submetidos às comissões e conselhos editoriais dos periódicos, que avaliam sua qualidade e decidem sobre sua qualidade relevância e adequação ao veículo. Deste modo, o artigo científico, ao tornar público e aberto ao debate o conhecimento elaborado em pesquisa, é um meio fundamental para a divulgação e desenvolvimento da ciência.
Resenha
É um trabalho de síntese e crítica a respeito de um trabalho mais logo, como textos, livros e filmes. Quando se trata de resenha científica, ou trabalho acadêmico de divulgação, apresenta síntese e crítica sobre trabalho científico mais longo. Pode ser elaborado com base em leitura motivada por interesse próprio ou sob demanda editorial.
Na resenha é importante que se informe alguns dados sobre o trabalho que está sendo falado, para facilitar o leitor de entender o texto. Nem sempre se conhece a obra que está sendo resenhada. Essas informações podem
15
aparecer no corpo do texto ou no final , como uma citação bibliográfica. Se forem apresentadas no corpo do texto, devem ser bem integradas à exposição dos assuntos tratados.
Resenha é um texto que serve para apresentar outro (texto-base), desconhecido do leitor. Para bem apresentá-lo, é necessário além de dar uma ideia resumida dos assuntos tratados, apresentar o maior número de informações sobre o trabalho: fatores que, ao lado de uma abordagem crítica e de relações intertextuais, darão ao leitor os requisitos mínimos para que ele se oriente quanto ao grau de interesse do texto-base.
Quando se trata de resenha científica, ou trabalho acadêmico de divulgação, apresenta síntese e crítica sobre trabalho científico mais longo. Pode ser elaborado com base em leitura motivada por interesse próprio ou sob demanda editorial. Visa geralmente à publicação em periódico técnico ou mesmo visando divulgação de conhecimento ao grande público pela veiculação em mídia ampla. Nesses casos a resenha é, geralmente, feita por um cientista da mesma área de conhecimento do texto-base.
A Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) e a formatação e estruturação de trabalhos acadêmicos
Fundada em 1940, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o órgão responsável pela normalização técnica no país, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro.
Desse modo, em toda e qualquer produção científica oficial, como projetos de pesquisa, monografias, TCCs, dissertações de mestrados e teses
16
de doutorado, devem obedecer à normatização ABNT, para consonância com o ideal objetivado, ou seja, uma efetiva contribuição para o desenvolvimento do País.
Portaria do Ministério da Educação e da Cultura, número 1.886 de 30 de dezembro de 1994, em seu artigo 9º, tornou-se obrigatória a apresentação de monografias para a conclusão de cursos superiores.
Além de cumprir às exigências do Ministério da Educação e Cultura, os trabalhos de conclusão de curso devem ser apresentados de acordo com a normatização da Associação Brasileira de Normas Técnicas. A aplicação dessas normas visa à melhora da qualidade dos trabalhos acadêmicos e uniformidade e padronização na formatação desses trabalhos. Algumas instituições possuem seus manuais de normas de formatação de trabalhos acadêmicos, baseados nas normas da ABNT.
O padrão de apresentação de trabalhos acadêmicos, nos aspectos estruturais e gráficos, é orientado pela ABNT através da NBR 14724 que sugere a organização dos trabalhos em três grupos de elementos: os elementos pré-textuais que são compostos de elementos que precedem o texto e ajudam identificá-lo; os elementos textuais são as partes onde a matéria é exposta e está concebida conforme a ordenação lógica do trabalho acadêmico e os elementos pós-textuais são compostos das referências bibliográficas e eletrônicas utilizadas nas citações do texto.
A figura abaixo mostra os elementos de estruturação e sua ordem de apresentação:
17
Figura 1: Elementos de estruturação
O autor deve levar em consideração que, além do orientador, várias pessoas terão acesso ao trabalho, por isso é importante ao uso das normas técnicas para uma boa apresentação e compreensão da leitura.
Pelas normas da ABNT, os trabalhos devem ser apresentados de modo legível, através de documento digitado, ocupando apenas o anverso da página e seguindo as regras de formatação.
Nas regras de formatação da ABNT, aparecem alguns itens importantes e obrigatórios na forma de apresentação dos trabalhos, segue abaixo:
 Formato ? tipo de papel, tamanho da fonte e margens;
 Espaçamento;
 Paginação;
 Citações;
18
 Referências.
4. A REVISÃO DE TEXTO E O TRABALHO DO REVISOR
A atividade de revisão de textos surge com as gramáticas, "fortemente vinculadas à prescrição de bem falar" (BRITTO, 1997) e prescritivas em sua origem. Nascendo a partir da norma, e só existindo por causa dela, a revisão de textos restringiu-se por muito tempo à correção ortográfica e gramatical e foi incorporada como parte intrínseca do processo editorial. É nesse espaço social que o profissional que realiza o trabalho de revisão encontra boa parte do mercado de trabalho. A produção de textos acadêmicos e científicos também compõe uma porcentagem expressiva do trabalho disponível ao revisor de textos.
Mas o processo de revisão de texto vai além da correção gramatical, que a maioria das pessoas pensa. Esse trabalho envolve um processo muito mais elaborado para garantir a qualidade de um texto. Ainda se tem grande preconceito com esse tipo de trabalho porque se acredita que a revisão de texto vai alterar a estrutura e ideia original do texto. Essa visão é totalmente errada, pois a grande qualidade de um bom revisor de texto profissional é o respeito ao estilo de quem elaborou o texto ? seja o mesmo um trabalho acadêmico, um projeto, um folder ou um manual. Deve ser analisada a linguagem, percebendo se ela está adequada ao objetivo e à mensagem do autor. O revisor de texto busca, além dos aspectos gramaticais e estilísticos, melhorar a organização e a exposição das ideias.
Uma boa revisão de texto começa por um bom revisor, e são poucas as pessoas capazes de realizar uma revisão profissional. Garantir que um
19
documento escrito esteja claro nem sempre é óbvio. Muitas vezes as ideias são boas, mas aparecem mal formuladas. É aí que entra o revisor de texto, para garantir a clareza das ideias expostas.
Muitas pessoas têm boas ideias, mas dificuldades para transmiti-las para o papel, e o revisor de texto auxilia nesse processo de melhor essa exposição dessas ideias, dando mais qualidade ao texto e tornando-o de fácil entendimento. Um texto bem escrito transmite credibilidade a quem o lê e promove a veiculação de informações claras, coerentes e redigidas de acordo com a norma culta da língua.
O trabalho do revisor de texto é um trabalho de respeito às idiossincrasias de seus clientes, reconhecendo a relevância de cada produto para seu autor. A importância do revisor e sua função são indescritíveis. O revisor - profissional graduado em Letras ou em Jornalismo -, muitas vezes, tem de fazer mais do que retificar palavras; ele embeleza o texto ou é capaz de ressuscitá-lo, ele melhora as construções textuais, dá destaque às palavras, reforça uma mensagem, traz clareza, torna coeso.
Além disso, o trabalho deste profissional pode garantir a coerência na construção de um documento, através de sugestões de acordo com o conteúdo do que foi escrito. O revisor de texto profissional deve levar em conta a correção ortográfica e a coerência, mas jamais modificar as características, a maneira de expressar-se de um autor. Além da correta escrita das palavras e da boa estruturação textual, deve-se ponderar o contexto de quem escreveu, o conteúdo escrito e a quem se dirige o texto.
20
O revisor não só é um leitor, ele é um leitor com experiência de leitura e representa todos os potenciais leitores do texto que revisa. De certa forma, o revisor traz o leitor para o processo de produção do texto, pois, estabelecida a comunidade interpretativa o revisor passa a representá-la e a sugerir alterações no texto que sejam mais adequadas aos leitores a quem o texto se dirige.
Muitas pessoas julgam escrever suficientemente bem e acham dispensável a contratação de pessoas especializadas para auxiliar na elaboração de textos. Mas vários pontos passam despercebidos e acabam afetando a qualidade do trabalho. O seu leitor/cliente pode ter uma primeira impressão não muito boa se lhe for apresentado um texto confuso, com erros gramaticais ou ortográficos, evidenciando uma falta de cuidados ao divulgar informações e desatenção aos detalhes.
A pressa em escrever ou a necessidade de agilizar a transmissão das informações levam, possivelmente, a esse caos linguístico. Uma vírgula deslocada, por exemplo, gera ambiguidade ou altera um significado.
A necessidade de produção muitas vezes acaba se colocando acima de outros atributos tão ou mais importantes, entre os quais a qualidade.
Um dos pontos mais importantes para garantir a qualidade de um texto é ter percepção para o que é importante e o que não é, no que foi escrito. É necessário saber fazer cortes no texto. Muitas coisas escritas podem ser descartadas para deixar o texto menos cansativo para o leitor.
Às vezes a pessoa que escreve não tem essa noção do que pode ou não ser retirado do texto sem perder sua qualidade. Para isso é importante que
21
o texto passe pelo processo de revisão; reordenar as ideias do texto, eliminando o que não é necessário, para assim oferecer um texto de qualidade para o público.
Elementos importantes na revisão de texto
Alguns pontos são importantes no trabalho de revisão de texto. No que diz respeito ao texto, são aspectos linguísticos que entram em jogo: padrões lexicais e terminológicos, padrões de coesão e elementos sintáticos. Há também os aspectos extra-textuais e de experiência de leitura.
Coesão e coerência
A construção de um texto depende da junção de fatores que dizem respeito aos aspectos formais e as relações sintático-semânticas. Um texto bem construído será bem interpretado e apresentará uma textualidade, características que fazem dele um texto e não uma sequência de frases.
Dentre os fatores de textualidade encontra-se a coerência, que assume os conceitos e relações subtextuais. Segundo Silveira (2008, apud SARTORELLI et al., 2008, p. 142), "é o responsável pelo sentido do texto". Um texto é coerente quando compatível com o conhecimento do mundo do receptor. Observar a coerência permite perceber que um texto não existe em si mesmo, mas constrói-se na relação emissor-receptor-mundo.
A coerência textual consiste na a articulação bem feita entre os elementos do texto e a ideia que o prende, o tema a que se refere. O assunto deve ficar preso em todo o desenvolver do texto, de forma que, permaneça no fio dos enunciados do começo ao fim. Não se pode desmentir um fato (direta
22
ou indiretamente) que foi dito anteriormente. O posicionamento tomado no início do texto deve ser mantido até a conclusão.
Outro fator importante é a coesão, que é verificada mediante a análise de seus mecanismos lexicais e gramaticais de construção. Segundo Silveira (2008, apud SARTORELLI et al., 2008, p. 144), "dá conta da estruturação da sequência superficial do texto", sendo "o modo como os elementos se interligam, por meio de recursos linguísticos para formar um tecido, uma unidade de nível superior". Os elementos de coesão também proporcionam ao texto a progressão do fluxo informacional, para levar adiante o discurso.
A coesão textual é uma articulação gramatical entre os elementos do texto. Esses elementos, bem trabalhados, permitem a retomada de termos já expressos anteriormente ou antecipar a expressão deles, de forma tal, que o texto se torne uma leitura inteligível, agradável, não tenha muitas repetições e tenha referências bem definidas para a sua perfeita compreensão.
Norma gramatical e a reforma ortográfica
Após várias tentativas de se unificar a ortografia da língua portuguesa, a partir de 1º de janeiro de 2009 passou a vigorar no Brasil e em todos os países da CLP (Comunidade de países de Língua Portuguesa) o período de transição para as novas regras ortográficas que se finaliza em 31 de dezembro de 2012.
Algumas modificações foram feitas no sentido de promover a união e proximidade dos países que tem o português como língua oficial: Angola,
23
Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.
A reforma ortográfica da língua portuguesa trouxe à tona a necessidade de se realizar uma revisão de textos em trabalhos já publicados, a fim de adequá-los às novas regras.
As mudanças que ocorreram com a Reforma Ortográfica não foram muitas, mas algumas alterações são difíceis de serem notadas durante a leitura um texto. Por isso, é importante que o revisor de texto esteja atualizado em relação a essa reforma para proporcionar maior qualidade aos textos.
Todo texto deve passar pela revisão ortográfica. Sabe-se que a língua portuguesa possui regras ortográficas e gramaticais nem sempre simples. Mas uma vez que o objetivo de todo material escrito é transmitir ideias de forma clara e bem construída, a revisão ortográfica torna-se parte importante da própria produção de um texto. Para efetuar a revisão gramatical é necessária uma maior compreensão sobre a sintaxe da língua.
Sintaxe e pontuação
A pontuação é uma convenção que não se destina simplesmente a imitar a fala, mas a ordenar a escrita de acordo com um código padrão específico. Para dominar as regras de pontuação, é importante que se tenha algumas noções de sintaxe.
Segundo o gramático Celso Pedro Luft, a sintaxe de uma língua é a "parte da Gramática que se ocupa das relações que as palavras contraem na
24
frase", ou seja, correspondem à ordenação das palavras em unidades maiores ? os sintagmas. A organização dos sintagmas, por sua vez, implica a formação de orações que, unidas, compõem períodos.
Pode-se dizer, ainda, que a sintaxe, ou seja, a organização de uma língua implica algumas relações fundamentais, como a regência, a concordância, a colocação, as quais são estudadas ao longo do curso.
O termo regência, derivado do verbo reger, significa ?comando, governo, direção‟. Num sentido amplo, é o verbo que rege todos os termos da oração.
A concordância, por sua vez, é decorrente das relações de regência numa oração. O elemento que determina a concordância verbal é o sujeito. Logo, a melhor definição de sujeito seria "o elemento com o qual o verbo concorda". Já o predicado seria "tudo o que se diz do sujeito".
A colocação é o mecanismo que regula a disposição espacial das palavras na frase. O modo de dispor as palavras varia de língua para língua: cada uma possui os seus próprios mecanismos de colocação. Uma frase está em ordem direta quando as palavras se dispõem na progressão do antecedente para o consequente.
A variação linguística
Como sabemos, o uso da língua sofre variações de acordo com uma diversidade de fatores. A variação linguística é um tema que se popularizou e atraiu grande atenção nos últimos anos, especialmente de sociolinguistas. Um texto escrito é diferente do oral. O texto acadêmico é diferente do texto de uma
25
carta. Muitos fatores contribuem para as variações linguísticas, como por exemplo o nível de instrução, a idade, questões sociais e econômicas.
Durante a elaboração de um trabalho acadêmico, muitos estudantes se deparam com um problema clássico: a elaboração do texto. Com razoável freqüência, é comum os estudantes transcreverem na modalidade escrita, um texto com características de um texto oral. O texto escrito tende a ser mais objetivo, com maior nível de subordinação e menor repetição vocabular.
Outro erro comum é o nível de formalidade linguística. É comum observar uma escrita informal para o contexto acadêmico, em especial para o trabalho de conclusão de curso. A linguagem de um trabalho acadêmico deve atingir uma formalidade maior, porém sem dificultar o entendimento do público-alvo, com palavras por demais rebuscadas.
É importante que se faça uma pesquisa de artigos, dissertações e demais trabalhos acadêmicos na área de estudo para se compor uma linguagem apropriada para o trabalho, uma vez que o que pode ser aceitável em uma área pode não ser em outra. O texto acadêmico tende a apresentar vocabulário específico pertinente à área ou especificidade de significações de certos termos.
No caso da variação linguística é importante que o trabalho do revisor seja feito em conjunto com o autor do texto, para que possa conseguir uma linguagem apropriada sem perder a ideia e a essência do texto. O revisor possui o domínio dessa linguagem formal, mas a linguagem específica da área
26
deve ser também de conhecimento do estudante, assim facilitará o processo de elaboração e correção do trabalho.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho acadêmico é uma das mais importantes publicações da vida acadêmica e deve ser escrito de acordo com normas e seguir uma linguagem adequada. É importante também que seja coeso e coerente e que a informação passada seja clara.
O presente artigo mostrou uma breve análise da importância da revisão de texto nesse tipo de trabalho de forma a adequá-lo ao contexto. Deve-se sempre haver essa preocupação por parte do autor, para manter seu trabalho dentro das exigências acadêmicas. O trabalho do revisor vai além da correção gramatical, ele busca um melhor aperfeiçoamento do texto para exposição e apresentação e, futuramente, para uma publicação.
27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: novas práticas. São Paulo: Atlas, 1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação ? referências - apresentação: NBR6023:2005. Rio de Janeiro:
CÁLIS, Orasir Guilherme Teche. A reescrita como correção: sobras, ausências e inadequações na visão de formandos em Letras. Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.
________. Normas sobre documentação. São Paulo: ABNT, s.d. ABNT, 2005.
ECO, Umberto. Como se Faz uma Tese - 14ª ed., São Paulo: Ed. Perspectiva, 1996.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luis Carlos. Texto e coerência. 8.ed. São Paulo: Cortez, 2002.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 1995d.
LUBISCO, N. M.; Vieira, S Chagas. Manual de estilo acadêmico, monografias, dissertações, teses. Salvador, EDUFBA, 2003.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. São Paulo: Atlas, 2005.
SOARES, Magda Becker; CAMPOS, Edson Nascimento. Técnicas de redação: as articulações linguísticas como técnicas de pensamento. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1978.