Não é possível aprendizagem sem uma relação de afeto. O envolvimento da família é de fundamental importância para que ocorra o desenvolvimento da criança, devendo esta ser cercada de carinho, amor, afeto.  Os estímulos que a criança recebe é que garantem a sua maior ou menor disposição para aprender. Uma criança desvalorizada hoje pode se tornar uma pessoa sem amor próprio, com dificuldades de relacionamento na escola e na vida. A criança que cresce cercada de carinho e tem relações afetivas positivas em casa e na escola, mesmo que apresente algumas dificuldades de aprendizagem, estas serão consideradas naturais, sendo compreendidas e acolhidas junto com a criança, criando assim condições para que sejam superadas. As relações afetivas deficientes podem ser causa ou efeito das dificuldades que muitas crianças encontram tanto no relacionamento interpessoal quanto na aprendizagem dos conteúdos escolares.

1. Introdução

A escola está muito longe de alcançar seu principal objetivo, que é o de uma educação de qualidade, trabalhando sozinha.
E a partir dessa premissa busquei estudar, como monografia de conclusão do curso Psicopedagogia Institucional e Clínica, a questão da afetividade para a aprendizagem. Minha intenção é adquirir maiores conhecimentos e, ao desenvolver este trabalho, procurar mostrar a importância das relações afetivas no meio familiar e social em que vive o educando para o desenvolvimento de sua aprendizagem, pois a criança não deve ser vista de forma isolada. Os relacionamentos estão presentes no cotidiano de cada ser, favorecendo o desenvolvimento afetivo/cognitivo, ampliando conhecimentos e criando possibilidades de maior valorização de si e do outro.
Não existe aprendizagem sem afeto. O desenvolvimento cognitivo acontece juntamente com o afetivo. Uma criança que vive em um ambiente acolhedor terá mais chances de sucesso que aquelas que vivem onde se predominam discussões, agressões, falta de respeito e incompreensão. É na família que se constroem os primeiros laços de amor. Na escola é importante que o professor seja mais que simples professor. Vá além da transmissão de conteúdos curriculares. Ele precisa ser amigo, capaz de se relacionar com todos do grupo com afeto, carinho e amor.
Incentivando e estimulando sempre para que ocorra a aprendizagem. Ajudando os alunos a se tornarem cidadãos capazes de superar os desafios e terem uma vida plena em sociedade.
De acordo com Olívia Porto (2011) a aprendizagem constitui-se de um processo que vai além da aprendizagem escolar. Envolve a inteligência, os desejos e as necessidades do individuo. A transmissão do conhecimento não se da de forma direta, mas através da interpretação que cada um faz desse conhecimento utilizando os recursos dos quais dispõe.
Os aspectos afetivos, juntamente com os cognitivos e biológicos, são comumente identificados como fatores individuais, internos da criança, que isoladamente ou em interação, determinam as condições de aprendizagem.
( PORTO, 2011, P.41).
Sendo um processo humano que envolve transformação e mudanças, a aprendizagem pode apresentar algumas dificuldades. Os aspectos afetivos e cognitivos são importantes, influenciando o desempenho do individuo. "Aprender é construir o seu próprio significado e não encontrar as " respostas certas" dadas por alguém".(PORTO, 2011, P 40) Quero investigar e relacionar esses aspectos afetivos, cognitivos e sociais na construção da aprendizagem, bem como sua relação com as possíveis dificuldades nesse processo.

2. Desenvolvimento

2.1. A relação entre afetividade e aprendizagem

Sabemos que a afetividade desempenha um papel fundamental na constituição e funcionamento da inteligência, e que determina os interesses e necessidades individuais. Os fenômenos afetivos são de natureza subjetiva, mas não são independentes da ação do meio sociocultural, e tem relação direta com a qualidade das interações entre os sujeitos. As experiências vivenciadas nessas interações vão marcar e conferir aos objetos culturais um sentido afetivo.
Segundo Wallon(2010), a afetividade nos primeiros meses de vida tem função de comunicação e manifesta-se através de impulsos emocionais, como o choro do recém-nascido e o sorriso do bebê, que, a principio é apenas uma reação muscular, ou seja, fisiológica, orgânica.
"É inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação determinante. (...) porque se dirigem, a medida que ela desperta, a automatismos que o desenvolvimento espontâneo das estruturas nervosas contém em potencia(...). Assim, o social se amalgama ao orgânico." (WALLON, 2010,p.122) A afetividade exerce influencia contínua no desenvolvimento cognitivo, bem como nas interações sociais. Para que existam bons relacionamentos interpessoais é necessário que haja afetividade, uma vez que esta é responsável por que a pessoas sintam prazer em relacionar-se. A relação entre professor e aluno, como toda relação humana, precisa fundamentar-se na afetividade. A escola deve proporcionar um ambiente favorável à aprendizagem, agradável e que transmita confiança. Um ambiente favorável à aprendizagem deve ser desafiador, propiciar o trabalho da autoestima, da confiança, do respeito mutuo e da valorização do aluno.
A afetividade, pois, que se manifesta na relação professor/aluno, é elemento indispensável no processo de construção do conhecimento. A qualidade da interação pedagógica confere um sentido afetivo para o objeto de conhecimento, a partir das experiências vividas. A afetividade pode manifestar-se por meio de comportamentos posturais ou de manifestações verbais.
A proximidade física entre professor e aluno proporciona inúmeras formas de interação. Possibilita diálogos intensos e cria infinitas maneiras de auxiliar os alunos.
Caracteriza uma forma de demonstração de atenção bastante eficiente e facilmente percebida pelo aluno. A proximidade do professor é muito valorizada pelos alunos e constitui-se numa forma de interação bastante afetiva, que ameniza a ansiedade, transmite confiança e encoraja o aluno a investir no processo de execução da atividade, interferindo, significativamente na aprendizagem. Assim a criança percebe que existe por parte do professor, uma maior preocupação com o processo de execução da atividade e não apenas com o resultado final.
Embora a linguagem oral predomine nas interações em sala de aula e desempenhem um papel fundamental nas relações sociais cotidianas, nos anos iniciais da escolarização os gestos posturais, como proximidade física, abraços, olhar no nível dos olhos da criança, expressam grande parte da afetividade, complementam e dão maior significado ao que é expressado verbalmente.
A qualidade da interação professor-aluno traz um sentido afetivo para o objeto de conhecimento e influencia a aprendizagem do aluno. Tanto a forma de se falar, como o conteúdo do que é falado influenciam a aprendizagem e podem motivar o aluno a ter maior prazer em aprender, pois o interesse em envolver o aluno pode ajudá-lo a melhor interagir com os professores e os conteúdos escolares, afetando positivamente as relações professor-aluno e influenciando diretamente o processo de ensino-aprendizagem.
Esse cuidado é necessário para que consigamos superar as dificuldades possíveis de serem encontradas nas relações entre as pessoas. As relações humanas nem sempre são tranquilas e suaves. Os fenômenos afetivos referem-se também aos estados de raiva, medo, ansiedade, tristeza. Essas emoções e sentimentos estão presentes nas interações sociais. O comportamento do professor em sala de aula expressa suas intenções, crenças, valores, sentimentos e desejos que afetam cada aluno individualmente.
O professor carrega para a sala de aula sua história de vida, pois, como nos diz (NÓVOA, 1992, p. 15) "o professor é a pessoa; e uma parte importante da pessoa é o professor". Ou seja, não é possível pensarmos a docência desvinculada da pessoalidade do professor e isso terá um forte peso em como ele interage com os alunos.
Como o processo de aprendizagem é social e a escola é o centro da vida extrafamiliar, ocupando a maior parte do dia das crianças, os professores devem levar a dinâmica da vida em consideração. Quem são as crianças que os professores ensinam e quais os métodos de ensino e os tipos de interações são importantes nas relações de ensino-aprendizagem. Assim, os elementos aos quais as crianças estão expostas terão efeitos importantes na sua maneira de encarar a vida, dominar problemas e desafios novos. Se as relações no ambiente escolar forem boas poderão levar o aluno à autoconfiança e autoestima positiva. Se essas relações forem difíceis, poderão fazer com que o aluno não desenvolva o desejo de aprender, gerando uma relação negativa com o objeto de conhecimento.
O estabelecimento de relações interpessoais positivas, com aceitação e apoio das capacidades e limites de cada um, são fundamentais para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adequado dentro do ambiente escolar e fora dele, possibilitando assim o sucesso dos objetivos educativos.Enquanto educadores, precisamos estar atentos ao fator afetivo na relação professor/aluno, trabalhando com a construção do conhecimento, mas nunca deixando de lado o trabalho da constituição do sujeito, que envolve valores e construção do caráter, necessários para o desenvolvimento integral do individuo.

2.2. A relação com a família e a escola

Afetividade e aprendizagem estão relacionadas, não sendo possível o desenvolvimento cognitivo pleno sem que haja afetividade nas relações. O ambiente familiar, social e cultural no qual a criança esta inserida é de fundamental importância para o seu desenvolvimento afetivo e cognitivo. Um ambiente fundamentado no amor e na tolerância colabora para que ela cresça com equilíbrio mental e emocional.

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