Sergio Ricardo Almeida da Hora ([email protected])1

Luyz Paullo Targino Saturnino ([email protected])1

Profª Msc.Eliete Correia dos Santos (Orientadora) ([email protected] )[1]

Resumo

O presente trabalho discute sobre a evolução dos arquivos e da Arquivologia em uma perspectiva histórica, com objetivo de mostrar que na pré-história já havia a preocupação em guardar documentos. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica baseada em Schellenberg (1973), Reis (2006), entre outros. O estudo está dividido em cinco partes: 1. Os arquivos surgiram na pré-história e que na antiguidade os sumérios e fenícios contribuíram para a sua evolução com a escrita cuneiforme e o alfabeto. 2. Na Idade Média a Arquivologia passa por um declínio, com a centralização das fontes de informações pela Igreja. 3. Na Idade Moderna ganha força, quando os arquivos passam a ser abertos para pesquisa. 4. Na Idade Contemporânea ganha prestígio com a Revolução Francesa e a publicação do manual dos arquivistas holandeses, com princípios importantes para a área. 5. E atualmente, temos como principal elemento difusor da informação a Internet. Os dados revelam que é possível repensar a origem da Arquivologia.

Palavras-chave:Evolução, História, Arquivo.

Abstract
This paper discusses the evolution of files and Archivology in a historical perspective, aiming to show that the early history had the desire to save documents. This is a literature search based on Schellenberg (1973), Reis (2006), among others. The study is divided into five parts: 1. The files appeared in the prehistory and the ancient Sumerians and the Phoenicians contributed to its development with the writing and the cuneiform alphabet. 2. In the Middle Ages Archivology is a decline, with the centralization of the sources of information by the Church. 3. Gained strength in the Modern Age, when the files will be opened for research. 4. Age in Contemporary wins prestige with the French Revolution and the publication of the handbook of Dutch archivists, with important principles for the area. 5. And now we have as a primary element of information the Internet diffuser. The data show that it is possible to rethink the origin of Archivology.

Keywords: Evolution, History, Archives.

1.Introdução

Antes de analisarmos a evolução dos arquivos, é preciso apresentar um conceito de o que seria um arquivo, além disso, estabelecer marcos históricos, assim iremos das origens, que acreditamos ser na pré - história, por conta de gravuras e pinturas desenhadas no interior de grutas e cavernas, até os dias atuais.

De acordo com o dicionário de terminologia arquivística (2004) "arquivo e o conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, publica ou privada, pessoa ou família, independente da natureza do suporte". A palavra provém do grego "archeion" que seria composto de dois elementos: ARKHAIOS, antigo e EPO, dispor, ter cuidado, e deu origem em latim "archivum". Arquivo significaria, portanto, a arrumação de coisas antigas.

Ao longo dos tempos, os arquivos se encontraram nos mais diferentes suportes, desde as paredes das cavernas, as tábuas de argila, do papiro, do papel e entre outros. Hoje a variedade dos suportes é enorme, e por sua vez os conteúdos inseridos nestes também se tornaram bastante variados.

Os arquivos constituem desde sempre a memória das instituições, das pessoas, de um povo e de uma nação. Vários estudiosos defendem a tese que os arquivos se iniciaram ha 6 mil anos a.C. através das primeiras civilizações desenvolvidas às margens dos rios Tigre e Eufrates, mais precisamente em região denominada Mesopotâmia. Mas, esses autores acabam por esquecer-se do homem pré - histórico que registrava seu cotidiano no interior das grutas e cavernas, em forma de desenhos e pinturas.

Esses registros podem sim ser considerados arquivos, por narrarem à história de homens já extintos, sua cultura e seus costumes. Arquivos não significam apenas um pedaço de papel escrito, e sim tudo que representa a existência de um povo ou conta a história de acontecimento.

Para a elaboração deste trabalho, utilizamos o método histórico, o qual investiga os fenômenos, os conceitos, as situações, etc. à luz da História. Geralmente não é um estudo isolado, pois a evolução, método histórico - evolutivo, e a comparação, método histórico - comparado, se fazem presentes para auxiliar e dar sustentação ao processo investigatório.

2.O arquivo: a origem e sua evolução ao longo do tempo

O arquivo surgiu da necessidade que o homem tinha de registrar e difundir informações relacionadas ao seu tempo, a gerações futuras, organizando - as de acordo com as técnicas possíveis ou existentes em sua época. No período pré - histórico, o homem primitivo descobriu e dominou o fogo, os metais como: o cobre, o estanho, que mais tarde fundidos deram origem ao bronze. Se o ser humano não tivesse descoberto e difundido essas inovações, será que conseguiríamos sobreviver sem o fogo? Ou talvez estivéssemos encontrado os metais? Elementos que hoje são de extrema importância para humanidade, lembrando que os mesmos passaram por diversas evoluções para serem úteis para os homens contemporâneos.

No período pré - histórico, o homem primitivo registrava seu cotidiano através de pinturas e desenhos feitos em paredes de grutas e cavernas. Como não tinha escrita na época, esses resquícios são considerados comprobatórios que o homem já existia na época, também podemos chamar esses registros de arte rupestre.

Segundo Seriacopi (2005, p.16) "a arte rupestre é um dos mais belos e importantes vestígios deixados pelos grupos pré - históricos. Encontrada nas paredes de grutas e cavernas, em geral apresentava pessoas, animais e cenas de caças e danças". Analisando este conceito de arte rupestre e o que já entendemos sobre a temática, podemos afirmar que o homem pré - histórico já se preocupava em registrar seu cotidiano e disseminar informações sobre a cultura de sua época para as gerações futuras? Informações estas relacionadas ao seu povo, aos animais, à caça e à dança, lembrando que alguns destes costumes já foram extintos a milhares de anos ou caíram em desuso. Então nos perguntamos, por que nossos antepassados registravam as informações, ou seja, desenhavam em paredes de cavernas? Já existia nesta época a preocupação de preservar a informação para as gerações futuras?

Levando em consideração estes questionamentos, não estaria surgindo neste momento um principio de arquivo[2]? Porque esses registros e a preocupação em manter essas informações que foram descritas a milhares de anos atrás em grutas. As cavernas podem ser consideradas um arquivo, e então podemos afirmar que as primeiras noções de arquivo surgiram na pré - história, devido à existência deste tipo de informação, antes mesmo da invenção da escrita.

Segundo Marques (2007) "A origem histórica dos arquivos remonta ao início da escrita, nas civilizações do Médio Oriente, há cerca de 6 mil anos atrás". Os primeiros arquivos surgiram de forma espontânea nos palácios e nos templos. Alguns dos principais arquivos da Antiguidade são: Palácio de Ebla na Síria, Arquivo do Templo de Medinet no Egito no Séc. XII a.c.. Os  Hititas[3] foram os primeiros povos a construir um edifício especial para arquivos, no Séc. XIV A.C. Podemos afirmar que a autora defende a tese que os arquivos, em sua origem, seriam um fenômeno natural e espontâneo, desde o aparecimento da escrita. Com a escrita apareceu a idéia de guardar, reunir e organizar os suportes de escrita existentes na altura. Pode-se dizer que os primeiros arquivos surgem de modo natural e intuitivamente.

Já Schellenberg (2006, p. 25) afirma que "Os arquivos como instituição, provavelmente, tiveram origem na antiga civilização grega. Entre os séculos V e IV a.C. quando os atenienses guardavam seus documentos de valor no templo da mãe dos deuses, isto é, no Metroon". Mas o autor não apresenta convicção em sua teoria em que os arquivos poderiam ter surgido na civilização grega.

É importante ressaltar que os dois autores só consideram arquivo devido ao advento da escrita. É importante lembrar que arquivo não é apenas um papel com informações escritas, mas tudo que representa a história de um povo, ou de acontecimento. Portanto, gravuras, desenhos, pinturas encontradas em cavernas, vestígios que foram deixados por nossos antepassados também podem ser consideradas instituições arquivísticas, ou seja, defendemos a teoria em que os arquivos se iniciaram na pré - história.

2.1. Antigüidade

Na Antiguidade, consolidaram - se em uma região conhecida como Crescente Fértil[4], às margens dos rios Tigre e Eufrates (Mesopotâmia[5]), o surgimento das primeiras civilizações, tais como os sumérios, os fenícios, e mais tardiamente os gregos e os romanos, e entre outras. Dentre várias, iremos enfatizar apenas os povos citados anteriormente, pois está diretamente ligada à evolução dos arquivos.

Os sumérios deram sua contribuição a arquivística com a invenção da escrita cuneiforme[6].

"Na sociedade suméria, a escrita começou a surgir durante o quarto milênio a.C. Nessa época, os templos e palácios eram o centro da vida. Eram ali que se armazenavam a produção agrícola e se pagavam os tributos. Tudo isto exigia anotações, inventários e registros contábeis. Inicialmente eram feitos em placas de argila úmida, nas quais um funcionário (...) estampavam desenhos representando aquilo que precisava ser registrado: cabeça de boi, porcos, jumentos, etc. Cozidas ao sol, as placas de argila endureciam e podiam ser guardadas.

Cerca de quinhentos anos depois esse sistema de anotação foi substituído por marcas em forma de cunha - dai (...) – feitas com estilete na argila. Tornando - se cada vez mais abstratos passando a representar silábos". (ADAPTADO DE JOHN MAN. A História do Alfabeto. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. P. 38 - 42)

Como podemos ver na citação, os sumérios tinham a preocupação de registrar e controlar toda a produção agrícola e o pagamento dos tributos, esta necessidade deu origem à escrita cuneiforme, esta era feita em placa de argila úmida, onde eram produzidos desenhos que representavam aquilo que queria registrar. As placas eram colocadas ao sol onde endureciam, e assim permitia ser guardadas nos templos e palácios, onde serviam como arquivos. A escrita cuneiforme passou por muitas modificações ao longo do tempo, passando a representar sílabas dando origem futuramente ao alfabeto, criado pelos fenícios.

Os fenícios contribuíram para a arquivística, através de sua grande criação que foi o alfabeto e a difusão do mesmo. Graças a estas contribuições, a arte de saber ler e escrever deixaram de ser privilégio de poucos.

Segundo Arruda et al (2001 p.35), "A principal contribuição foi o desenvolvimento do alfabeto. Por necessidade prática, eles criaram sinais para representar os sons das palavras. Esses sinais acabaram adotados por Arameus e Hebreus; complementado pelas vogais, tornaram - se o alfabeto grego".

Com o advento do alfabeto, houve um aumento considerável de documentos, pois a nova invenção passou por uma evolução mudando do suporte de argila para o papiro, e posteriormente para o papel que facilitava a escrita e a guarda dos mesmos de forma otimizada e mais organizada nos arquivos. Outra contribuição dos fenícios foi a propagação do alfabeto tornando - o universal, possibilitando que todas as civilizações, como: Arames, Hebreus, Gregos, e entre outros passassem a ter a mesma compreensão e a ler o que estava escrito nos documentos que comprovavam a compra e a venda dos objetos comercializados entre os mesmos, facilitando assim as transações comerciais, diferentemente das escritas antigas que eram monopólio dos escribas.

2.1.1. Grécia e Roma

Segundo Reis (2006), o primeiro arquivo no mundo grego surgiu cerca de 460 a.C. criado porÉfialtes, estes arquivos se localizavam ao sul da Ágora[7] e se situavam em templos e dependências do Senado.

Os gregos, considerados uma civilização organizada e evoluída, por possuírem e aperfeiçoarem a técnica da escrita causou um aumento significativo na massa documental, e sentiram a necessidade de guardar documentos com o objetivo de provabilidade e historicidade nos que eles chamaram de Arkheion (arquivo). Na Grécia Antiga, é importante destacar os arquivos de Gea e Palas, que através de expedições feitas por historiadores e pesquisadores, foram encontrados importantes depósitos de documentos como leis e decretos, atas judiciais, decretos governamentais, inventários, etc. No ano 350 a.C. os documentos oficiais passam a concentra-se no Metroon no Templo de Cibele.

Em Roma, a administração do Império levou a grandes progressos no domínio dos Arquivos. Certos critérios usados na organização de Arquivos pelos Romanos continuam ainda hoje válidos. Criaram uma rede de serviços e um corpo profissional especializado. Além dos Arquivos Centrais, instituíram a criação de um arquivo próprio para cada corpo de magistrados: Arquivo de Governadores provinciais. Coube a Valerius Publicoaem 509 a.c. ,que na época exercia a função de Cônsul, criar o primeiro arquivo da Roma antiga.

Esses arquivos inicialmente funcionavam no Templo de Saturno, onde se guardavam as Tabulae Publicae, que posteriormente vieram a ser chamados deTabularium[8], que está relacionado com a natureza do suporte "tabulare", e agora passou a ser situado no Capitólio. Estes Tabularium desepenhavam o papel de Arquivo Central do Estado, já com a importância de um grande serviço público. Os documentos relacionados diplomáticos, eram abrigados e conservados no templo de Júpiter e os testamentos no Vesta.[9]

2.2.Idade Média

Podemos considerar que esta subdivisão da história foi um período mefistólico, melancólico e sombrio para a arquivística, onde a mesma teve um desenvolvimento contrário ao que se esperava, pois nesta época houve uma redução na prática da escrita, resultando em uma diminuição dos arquivos. Estes pontos negativos, dentre outros partiram todos da Igreja, que detinha os saberes e monopolizava todo o conhecimento da época, esta religião conservava em seu poder todos os documentos que eram guardados nos mosteiros¸catedrais, mais conhecidos como arquivos eclesiásticos, onde as informações contidas ficavam a mercê de religiosos (abades, frades, padres, monges e principalmente o papa). Os mesmos faziam uso das informações, para adquirir riquezas, utilizando - se do argumento de que constava na Bíblia, a maior fonte de conhecimento da época, que para alcançar a vida eterna, o povo tinha que dar seus bens (terras, moedas, animais, etc). Vale salientar que conhecimento é poder. A Igreja interrompeu ainda mais o desenvolvimento dos arquivos, por montar barreiras para a criação de documentos e informações que contradizessem seus ditames, o conhecido tribunal de Inquisição, cuja tarefa era julgar e punir os que se pronunciavam contra os dogmas católicos; os chamados Hereges. Um exemplo da prepotência da Igreja, foi o grande Nicolau Copérnico[10]que se opôs a mesma com informações e documentos que eram verdadeiras, mas contrariavam os interesses e os dogmas da Igreja. Ele foi julgado, condenado e morto, queimado em praça pública; esta época foi considerada por nós um retrocesso para arquivística. Só veio contribuir de forma positiva nos finais do século XII, quando começou a surgir os primeiros arquivos não eclesiásticos que deu subsídio à Idade Moderna, onde no início do século XIV começou a surgir os primeiros arquivos estatais.

2.3.Idade Moderna

Diferentemente da Idade Média, onde todos os documentos estavam sobre o poder da Igreja, neste período da história surgirm movimentos artísticos e políticos promovidos por grupos de pessoas que irão dar fim à prepotência da Igreja, contribuindo assim com o desenvolvimento da arquivística, movimentos estes conhecidos nos dias atuais como: Renascimento, Reforma Protestante, Expansão Marítima européia e o Iluminismo. Dentre vários acontecimentos importantes que aconteceram neste período, daremos ênfase apenas a esses citados anteriormente, pois contribuíram de forma positiva para a arquivística.

No Renascimento, aconteceu uma grande revolução cultural, que contribuiu com o aumento da documentação em um curto espaço de tempo, dando uma importância maior à necessidade de guarda e de organização dos mesmos em um espaço fisíco apropriado.Nesta época, surgiram as primeiras universidades que difundiram o conhecimento, capacitando a população para interpretar as informações contidas nos documentos e ao mesmo tempo produzirem mais registros. O Renascimento foi custeado pelos mecenas, ricos burgueses que financiavam pintores, escultores, arquitetos, para produzirem mais documentos relacionados aos seus respectivos campos de atuação contribuindo desta forma com o apogeu da arquivística, diferentemente dos dias de hoje. A partir desse período houve também um grande aumento de documentos literários, pois neste tempo surge a imprensa que deu fim ao trabalho dos copistas, permitindo a publicação de um grande volume de livros, possibilitando assim maior difusão do conhecimento.

A Reforma Protestante foi de fundamental importância para a arquivística, pois deu fim a prepotência da Igreja, que na Idade Média tinha em suas mãos todo o monopólio dos documentos que eram concentrados em catedrais e mosteiros, sendo assim detentora "do saber e da cultura". Possuidora de tantas informações e poder, a Igreja fazia uso dos mesmos para adquirir riquezas; Segundo Tetzel, frade da época " assim que a moeda no cofre caí, a alma do purgatório sai"

"Convencido que tal prática não encontrava respaldo na Bíblia e que era mais uma forma de a Igreja tirar proveito da fé das pessoas, Martinho Lutero protestou (...) formulou um documento com 95 teses nas quais tercia profundas críticas a venda de indulgências entre outras práticas da Igreja (...), os escritos de Lutero foram reproduzidos aos milhares na imprensa inventada por Gutemberg[11] e atingiram um número cada vez maior de pessoas". (SERIACOPI ,2005, p. 142)

Podemos afirmar, com convicção, que com o inconformismo de Lutero é o documento pelo mesmo elaborado, abrangendo em grandes proporções toda a população com reprodução do mesmo pela imprensa que contribuiu para "abrir os olhos da população", mostrando o verdadeiro cárater oportunista da Igreja, onde os mesmos a pressionaram, levando - a rever os dogmas, valores e princípios da doutrina; estes acontecimentos contribuíram para por fim à arrogância da Igreja, onde toda a população passou a ter contato com os documentos, reproduzirem documentos e adquirirem conhecimentos sobre as informações contidas nos registros reprimidos pela Igreja, contribuindo com o surgimento de novos arquivos e conseqüentemente a evolução da arquivística, além de ofercer uma nova opção religiosa, o protestantismo. Para se redimir com a população e obter novos fiéis a Igreja católica pegou "carona" com a expansão marítima européia que contribuiu, com a descoberta de novas terras, civilizações e a difundir informações por todo o mundo, onde a Igreja católica passou a transmitir conhecimento às novas civilizações (ameríndios), a expansão contribuiu também com a geração de novos documentos que eram criados pelos cronistas (Pero Vaz de Caminha), que escreviam cartas, livros e crônicas, contando todos os acontecimentos ocorridos durante as expedições sobre as terras descobertas.

Com o advento do Iluminismo, os arquivos passaram a ser fontes de pesquisa relacionadas com a história, onde os documentos guardados serviam como instrumentos de pesquisa, para tentar explicar fatos decorrentes da época, dando origem aos documentos de cunho acadêmico.

"De todas as publicações do século XVIII, a que mais simbolizou o Iluminismo foi a enciclopédia ou dicionário raciocinado das ciências, das artes e dos ofícios, por uma sociedade de homens e letras (...) sua publicação garantiu ao grande público acesso a um amplo acervo de informações até então restritas a circulos de intelectuais". (SERIACOPI, 2005.p. 238)

A enciclopédia se originou graças aos documentos que estavam guardados e conservados nos arquivos, que proporcionou à população ter acesso a uma literatura que registravam todos os acontecimentos anteriores a sua criação, onde através dela o povo começou a formular opiniões, abrindo caminho para diversos movimentos sociais, inclusive a Revolução Francesa, que foi um movimento de grande amplitude, marcando o início do mundo contemporâneo, período mais importante para a arquivística. Vale lembrar que neste período surgiram o Arquivo de Simancas[12], o Arquivo das Índias[13], na Espanha,e o Arquivo Secreto do Vaticano[14]e entre outros que eram conhecidos como arquivos de Estado.

2.4. Idade Contemporânea

É nesse período da história, que se alastra até os dias atuais que ocorre uma grande explosão documental e informacional com o advento de novas tecnologias (computador, redes de TV, etc). E na arquivística, o que acontece? Surgem novos princípios e a população começa a ver a ciência de uma maneira que poderia resolver os problemas informacionais, organizando – os e conservando - os, objetivando sua difusão de forma clara e eficaz para toda a população. E tudo isso tem início em 1789, com a explosão da Revolução Francesa que contribuiu bastante para a Arquivística, pois durante o movimento, os camponeses ficaram divididos. De um lado, os radicais que queriam destruir os documentos referentes ao antigo regime, com o objetivo de "apagar" as más lembranças desta odiada época. Enquanto a outra parte, a conservadora, se faziam algumas perguntas como: o que deve ser feito com os documentos do passado? Porque ao invés de destrui - los não os organizamos e os conservamos em um arquivo para levar as informações às gerações futuras? A resposta a essas e outras perguntas foi a criação do primeiro Arquivo Nacional do mundo o Archive Nationale de Paris. Segundo Schellenberg (2006 p.26) "Nele deveria ser guardados os documentos da Nova França, documentos estes que traduziam suas conquistas e mostravam suas glórias".

Este reconhecimento de guarda e não de destruição resultou em três importantes realizações no campo arquivístico: a) Criação de uma administração nacional e independente dos arquivos; b) Proclamação do princípio de acesso do público aos arquivos; c) Reconhecimento da responsabilidade do Estado pela conservação dos documentos de valor, do passado; (SCHELLENBERG, 2006. p. 24)

Com essas realizações surge o princípio da proveniência ou de respeito aos fundos, com o objetivo de facilitar a organização dos arquivos, assim os cidadãos passam a ter mais acesso aos documentos, além disso aumentou a preocupação com a preservação dos documentos nos arquivos por parte do Estado. Essas preocupações se estenderam por vários outros países: Inglaterra, Estados Unidos, Itália, Espanha, etc.

Com a chegada de Napoleão Bonaparteao poder da França, com sua política expansionista, começa a armazenar todos os documentos obtidos de outras nações conquistadas por ele, em Paris, contrariando o princípio da proveniência em que Duchein (1986, p.14) define que "consiste em manter agrupados, sem misturá - los a outros, os arquivos provenientes de uma administração, de uma instituição ou de uma pessoa física ou jurídica".

Napoleão já tinha um conhecimento sobre a importância dos documentos, para ele os documentos e as informações contidas neles valiam mais de mil generais, porém o mesmo não tinha nenhum conhecimento de como guarda - los, organizá - los e conserva - los de acordo com sua proveniência.

Tendo em vista solucionar esses problemas e outros, os arquivistas holandeses Samuel Muller, Johan Adrian Feith e R. Fruin, criaram um manual conhecido como Handleiding Voor Het Ordenen en Beschridven Van Archiven[15]. Este manual surgiu com o objetivo de evitar que erros acontecidos no passado, não venham acarretar novamente no futuro. Esse manual é munido de regras, que na verdade são orientações, princípios, conceitos, procedimentos e indicações sobre o arranjo[16] e descrição dos documentos de arquivo. Com o passar do tempo, se transformou em uma língua universalpara todos os arquivistas, e é vista como um grande marco, pois a arquivística passa a não ser mais subsidiária da História a partir de sua criação.

No século XX, os arquivos irão recuperar a sua dimensão administrativa, com a consolidação a partir dos anos 30. Após o término da Segunda Guerra Mundial, surge em 1950 o Conselho Internacional de Arquivos (CIA),leis que enfatiza a Arquivística, e com a explosão tecnológica, surge o computador, redes de TV, etc. que irão dar suporte a esta ciência a nível mundial e em tempo real, dando origem a documentos e arquivos digitais, onde as informações podem ser consultadas a qualquer momento,e de onde estiver, através da Internet.

A afirmação da Arquivística como Ciência da Informação; a importância da informação como meio de gerir documentos; torna a mesma uma ciência que busca novos paradigmas, onde sua certificação na nova configuração geopolítica e o surgimento de novas tecnologias da informação, tornando - a gestora de todos os documentos do mundo.

3.Considerações finais

Obras de conteúdo histórico e o desejo de ratificar a hipótese em que os arquivos surgiram no período pré - histórico, foram elementos necessários para nos impulsionar a realizar esta pesquisa, utilizando - se sempre de fatos históricos, para contar a história de um povo, sua contribuição para a arquivística, seus vestígios que são de grande valor para estudos acadêmicos em tempos atuais.

A reflexão sobre a evolução do Arquivo e da Arquivologia na perspectiva da Historia, partiu após termos constatado a inexistência de uma literatura relacionada a este assunto e de que renomados arquivistas têm duvidas sobre a origem do arquivo. O presente trabalho tem por objetivo mostrar esta evolução e expor uma hipótese de que o arquivo surgiu no período pré-histórico e não na antiga civilização grega; como é defendido por alguns estudiosos da área sem convicção. Após uma pesquisa minuciosa descobrimos que os homens primitivos foram os responsáveis pela descoberta do fogo, metais e pelas gravuras na qual apresenta o seu cotidiano, conhecida como arte rupestre. Depois de alguns questionamentos relacionados a estes assuntos entre outros, contatamos que os seres primitivos armazenavam estes vestígios em cavernas, pois eles tinham a preocupação de conservá-los e preservá-los objetivando difundir essas informações dentre outras há períodos futuros e que a população começa a ver a ciência de uma maneira que pudesse resolver os problemas informacionais existentes na atualidade.

Com o termino da pesquisa concluímos que o arquivo surgiu de forma espontânea e natural durante o período pré-histórico, pois os resquícios encontrados nas cavernas são considerados documentos que comprovam a existência desses seres as gerações futuras. Vejamos a necessidade de futuramente ser feita uma pesquisa mais aprofundada sobre o determinado assunto, pois essa é apenas uma hipótese elaborada por simples estudantes de Arquivologia que fez uso de poucos recursos para elaboração dessa investigação cientifica.

4.Referências

ARQUIVO NACIONAL, Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. 2004. Disponível em: < http://www.arquivonacional.gov.br/download/dic_term_arq.pdf >. Acesso em 2 de novembro de 2008.

ARRUDA, José. PILETTI, Nelson.Toda a história. São Paulo: Ática, 2001, 11° Edição,

DUCHEIN, Michel. O respeito aos fundos em Arquivística: princípios, teóricos e problemas práticos. Arquivo & Administração, Rio de Janeiro: 1986. v.10 - 14 n. 1,

Minidicionário Houaiss da língua portuguesa/ organizado pelo instituto Antonio Houaiss de lexicografia e banco de dados da língua portuguesa. S/C LTDA. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. 2° Edição,

MARQUES, Amélia. Arquivos nas Ciências da Informação. Origem histórica dos arquivos. 2007. Disponível em: < http://ameliamarques.web.simplesnet.pt/origem.htm >. Acesso em 13 de Outubro de 2008.

REIS, Luís. O arquivo e a arquivística: evolução histórica. Évora (Portugal): 2006 n. 24,

RIBEIRO, Joaquim. Sistemas de Informação: Arquivo. Conceito de arquivo. 2006. Disponível em: <http://joaquim_ribeiro.web.simplesnet.pt/Arquivo/index.htm>. Acesso em: 14 de Outubro de 2008.

SCHELLENBERG, T. R. Arquivos modernos. Princípios e técnicas. Rio de Janeiro: FGV, 1973. Traduzido em 2006 para o português, por Nilza Teixeira Soares - G.E. D - FGV.

SERIACOPI, Gislaine. História: Volume Único São Paulo: Ática, 2005.1° Edição.



[1] Universidade Estadual da Paraíba - UEPB

[2] Conjunto de documentos produzidos e acumulados, por uma entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho de suas atividades, independente da natureza dos suportes.

[3] Os Hititas eram um povo indo-europeu que, no II milênio a.C., fundou um poderoso império na Anatólia central (atual Turquia).

[4] Região que estende, em arco, do sudeste do Mediterrâneo até o Golfo Pérsico, em um traçado que lembra a lua em quarto crescente.

[5] Em grego significa região entre rios.

[6] Escrita gravada em forma de cunha.

[7] Cidade grega da Antigüidade clássica.

[8] Era o arquivo oficial da Roma Antiga.

[9] É a personificação romana do fogo sagrado, da pira doméstica e da cidade.

[10] Em 1543, publicou um livro que descrevia o sistema solar, que concebia a Terra como centro do Universo.

[11] Criador da imprensa.

[12] Foi considerado o primeiro arquivo de Estado, criado por Carlos V em 1540.

[13] Foi criado em 1788.

[14] Foi criado em 1611.

[15] Traduzido para o português por Manual Adolpho Wanderley, sob título Manual de arranjo e descrição de arquivos, editado pelo Arquivo Nacional, em uma primeira edição, em 1960.

[16] Seqüência de operações intelectuais e físicas que visam á organização dos documentos de um arquivo ou coleção, utilizando - se diferentes métodos, de acordo com um plano previamente estabelecido.