A CIDADE E HISTÓRIA DE JOSÉ D’ASSUNÇÃO BARROS E A NOVA HISTÓRIA

Paulo César Gomes[1] 

A complexidade dos estudos que envolvem a cidade é um tema que intriga muitos pesquisadores e é esse tema central da obra Cidade e História. O texto discute inicialmente o conceito de cidade, procurando problematizar e esclarecer que fatores caracterizariam uma cidade em todos os tempos, em cada tempo histórico específico.

O texto busca apresentar um panorama sobre a reflexão sobre a cidade que foi produzida no último século por historiadores, geógrafos, sociólogos e urbanistas em torno do fenômeno urbano. Discute-se questões como a forma urbana, a especificidade da população urbana, as imagens e imaginário da Cidade, a interação da Cidade com o seu meio, a sua posição em relação ao campo.

Por se tratar de uma publicação que é de interesse de estudiosos de áreas como a geografia, a história, a antropologia, a sociologia e a economia, o que na verdade é uma proposta de interdisciplinar, o que nos remete a identificar os princípios que norteiam a Nova História Cultural, pois ela busca estabelecer um dialogo com outros campos do conhecimento humano, em especial as ciências sociais como auxílio na pesquisa histórica, paradigma que veio à tona no último quartel do século XX, surgindo a partir da Nova História francesa que, após várias críticas a ciência histórica, defende uma aproximação da História com as artes, a filosofia e a literatura, afastando-se das pretensões cientifica tradicionais.

Segundo José D’Assunção Barros os estudos sobre o fenômeno urbano tiveram início no século XIX. Durante esse período, os principais autores a pensarem o fenômeno urbano, com uma análise institucional, foram: Karl Marx, Fustel de Coulanges, Gustave Glotz,entre outros.

Karl Marx procura analisar a urbe pelos aspectos sociais e históricos concomitantemente; Frederic Engels envereda pelos caminhos da psicologia e do cotidiano; Fustel de Coulanges vê na cidade a associação de agregadose células sociais como a família, no que é bastante criticado por Gustave Glotz, que introduz um elemento de conflito na construção de Coulanges.

No século XX, as formas de se citadino, a forma urbana, a. Organização social, o imaginário e a relação entre o público e o privado. Novos Sentidos associam-se às cidades: artefatos, produtos da terra, ambiente, Sistema, ecossistema, máquina, empresa, obra de arte, texto. Também surgem novos conceitos: armaduras ou redes urbanas, sistemas urbanos e interação com outras cidades.

A teoria de Fernad Braudel, um dos mais importantes representantes da Escola dos Annales, considera a relação da cidade como o mundo exterior: ele pode ser aberta, fechada e estar sob tutela ou dominada, remetendo à sua ligação com um Estado.

Sobre a dimensão econômica como fator impulsionador da criação das cidades, o autor apresenta as teorias de Max Weber, Henry Pirenne, Henri Lefebvre,Werner Sombart, Kalr Marx, Frederich Engels, além de alguns materialistas Histórico.

O livro traz ainda uma análise dos fatores políticos, caracterizando a cidade como sede dos poderes políticos e das lutas de classe, a cidadania como instrumento privilegiado, o pacto social como organizador da sociedade urbana,

Os micropoderes, a estratificação social e múltiplas influência. Rousseau, Hegel, Marx, Foucault, Floyd Hunter, Robert Dahal, Franco Ferrarotti, entre outros, possuem esse objetivo de investigação.

Para José D’Assunção Barros, a cidade também foi pensada tendo por base modelos ecológicos e biológicos. Para o desenvolvimento do modelo ecológico de pensar a cidade foi importante à contribuição da Escola de Chicago e da obra de Georg Simmel. Simmel foi o primeiro a teorizar sobre a cultura urbana, apontando como traço fundamental do homem citadino contemporâneo a indiferença para como o outro, o que definiu como atitude blasé. O modelo biológico veio a prospera com a publicação da obra A Origem das Espécies de Charles Darwin em 1859.

Segundo Barros, cidade foi pensada enquanto um texto, uma imagem que possibilitou a renovação dos estudos sobre o fenômeno urbano, em que teve por base as contribuições de Roland Barthes e Michel de Certeau, e “esta imagem ergue-se sobre a contribuição dos estudos semióticos”, Essa metáfora “aloja dentro de si diversos discursos e todas as ordens”, com os quais se vale o intérprete do fenômeno urbano para a elaboração de seu enredo.

Para ele haveria alguns fatores fundamentais para o entendimento  da cidade e da questão da urbanização no espaço e no tempo, a saber: a historicidade, a população, a Economia, o político, a organização, a forma, a cultura, o imaginário e a função. A Historicidade constituiria a necessidade de o estudioso intencionar inquirir o fenômeno

Urbano no tempo, já que “as formas urbanas são produtos da história”.

Pode-se perceber a existência de multifuncionalidade ou funções elementares (culturais, religiosa, ambiental, política e econômica) predominantes. Os estudiosos privilegiam ora uma, ora outra, sem desconsiderarem que, como parte de um todo, cidade reparte diversas funções em seu meio.

No interior do espaço urbano, no qual os indivíduos se relacionam, formam-se a base de um tipo específico de convivência intermédia por meio da “produção, distribuição e consumo” de mercadorias, subsidiadas pelas “atividades industriais, atividades comerciais, e relações de consumo”, local onde se observa o fato econômico. A política, nesse sentido, além de ser um fator articulador das formas de convivências em sociedade, também interage junto à própria dinâmica do mercado e do consumo, por que por “várias razões a dimensão política emerge como um dos principais definidores da cidade”, pois ela “é a principal sede das lutas sociais”.

Cidade mantém uma relação com a produção da cultura. E, nesse sentido, toda cidade cria um imaginário social, na medida em que é representada e construidora de representações sobre si. O autor ressalta a necessidade de se abordar os  comportamentos culturais nas cidades como sistemas de comunicação, assim como fizeram Umberto Eco, Le Goff, Bakhtin e Meier.

Nesse sentido, o fenômeno urbano deve necessariamente ser pensado a partir de “um esquema complexo” dos traços específicos que, reunidos, poderiam caracterizar a Cidade como forma de organização específica”. De acordo com  a proposta elaborada pelo autor “um outro passo nos estudos urbanos seria o de examinar a cidade nos seus diversos momentos históricos ”, o que evidenciaria suas características, semelhanças e diferenças no tempo e no espaço.

O livro traz ainda uma análise dos fatores políticos, caracterizando a cidade como sede dos poderes políticos e das lutas de classe, a cidadania como instrumento privilegiado, o pacto social como organizador da sociedade urbana, os micropoderes, a estratificação social e as múltiplas influência, temas que foram objetos de investigação de Rousseau, Hegel, Marx, Foucault, Floyd Hunter, Robert Dahal, Franco Ferrarotti, entre outros.

A discussão apresentada no que se refere ao conceito de Cidade e todas as demais questões que envolvem o meio urbano, tornam o livro Cidade e História, uma obra de extrema importância para os estudiosos e pesquisadores desse tema tão complexo, além de disso, ela é fundamentada na proposta da Nova História o que contribui ainda mais para a sua importância.

BIBLIOGRAFIA

BARROS, José D’Assunção. Cidade e História. Petrópolis: vozes, 2007. 128 páginas.



[1] Professor de História Geral e bacharelando em Direito pela FIS.