TEORIAS DA AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR 

                                                       Texto da Tese de Dissertação de Mestrado Autor Miguel Arnaud Marques

Para que se entenda como se processa a avaliação na escola é necessário conhecer se sobre as teorias que influenciaram e influenciam este processo na escola, os significados e o que poderá vir antes de todo o processo que é usado no cotidiano escolar.

Ao se lançar um olhar sobre nosso dia-a-dia, é-se levados a avaliar nossas ações, onde se precisa observar, analisar e julgar, visando sempre uma tomada de decisão.  Esta decisão, sempre atrelada ao ato de julgar o melhor ou mais pertinentes dos caminhos a serem seguidos para que se tenha bons êxitos, seja no campo profissional, afetivo, social e outros que direta ou indiretamente influenciam no percurso de nossa vida, nos conduzem a realizar uma avaliação. Assim a avaliação está presente na construção de nossa história de vida e da evolução histórica do homem e da sociedade.

Diante deste enfoque pode-se dizer que a avaliação já existe desde a idade antiga quando se realizava o sistema de exame com propósitos de suprir as necessidades avaliativas da época.

No Brasil a teoria da avaliação sofreu grande influencia dos estudos norte-americanos, principalmente a partir dos anos 60 quando a proposta de Halph Tyler conhecida como avaliação por objetivos foi divulgada.(HOFFMAN 1995). Esta proposta passou a ser referencial teórico nas academias dos cursos de formação de professores, prevalecendo até hoje nos meios educacionais.

O enfoque avaliativo desta teoria refere que “(...) a avaliação é o processo destinado a verificar o grau em que mudanças comportamentais estão ocorrendo” (TYLER[1] apud HOFFMAN, 1995, p.40). Neste sentido a avaliação deve julgar o comportamento dos alunos, pois o objetivo da educação é modificar estes comportamentos.

Segundo Hoffman (1995) este enfoque teórico é comportamentista, pois o processo avaliativo se resume à verificação de mudança ocorridas previamente prescritas pelo professor com objetivos definidos.

Apesar deste enfoque ter recebido críticas de outros teóricos em avaliação, percebe-se que essas críticas não conseguiram derrubar definitivamente essa concepção enraizada nas ações avaliativas, nas escolas e nas universidades.

Outra obra que mais influenciou no processo avaliativo foi a de Bejamim Bloom e colaboradores: Handebook on Formative and Somative Evaluation of Student Learning, a qual foi traduzida no Brasil em 1983 com o titulo: Manual de Avaliação Formativa e Somativa do Aprendizado Escolar, o qual reuniu as melhores técnicas de avaliação construídas sobre as taxonomias dos objetivos educacionais (SAUL, 1988).

Sobre a obra de Bloom (1983) pode se dizer que não alterou o pensamento positivista de Tyler, conduzindo as ações dos professores e administradores a todos os níveis de ensino.  Esta obra ganhou ampla divulgação e aceitação no meio educacional, influenciando até hoje a prática da avaliação no cotidiano escolar. “Em que pese o questionamento levantado quanto aos pressupostos da proposta de avaliação de Tyler, o fato é que ela constitui o superego de professores e administradores que mal ou bem a utilizam” (SAUL, 1988, p.52).

O estudo de Bloom (1983) afirma que qualquer ser humano pode se apossar livremente da aprendizagem contando que haja meios disponíveis para auxiliar cada aluno.

Conforme Depresbiteris[2] apud Ferreira (2002) a idéia da aprendizagem para o domínio baseia - se nos seguintes aspectos :

“(...) as diferenças individuais devem ser consideradas, e usadas estratégias que promovam o máximo de desenvolvimento. Os estudantes são capazes de aprender em seu próprio ritmo a aptidão é que determina. Distinção marcante entre o processo de ensino, que prepara o estudante, e o processo de avaliação que verifica a extensão ao domínio, assim o aluno sente  que esta sendo avaliado em nível de desempenho e não em função da curva normal. (..) testes curtos de diagnósticos podem ser aplicados para domínio por isso os alunos não devem receber nota, servem apenas para  fornecer informação para a melhoria do desempenho”(FERREIRA,2002,p.26).

 

Esta taxionomia criada por Bloom (1983) divide os objetivos educacionais em três domínios principais o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. Os objetivos cognitivos enfocam o comportamento dos educando que acreditam refletir nas habilidades, enquanto que os afetivos referem-se aos comportamentos dos alunos que refletem as disposições não cognitivas, como valores, atitudes e interesses.Os objetivos psicomotores referem-se a todas a habilidades físicas e motoras que se espera que os alunos alcancem. ( POPHAN[3] apud ARAUJO, 1985).

Araujo (1995) analisando a obra de Bloom refere que foi uma das que contribuiu para a disseminação do pensamento tecnicista nos procedimentos da aprendizagem e, por conseguinte estende-se a avaliação.

Para Libâneo (1992) a avaliação na visão tecnicista é realizada através de verificação em curto prazo a exemplo: testes orais, exercícios de casa, provas escritas e outras sempre se utilizando classificações.

Segundo Depresbiteris (1997) as idéias de Bloom foram muito importantes para a geração de um sistema de ensino e avaliação mais coerentes. A relevância de sua taxonomia elaborada despertou mais professores para o perigo da incoerência entre o que se ensina e o que se avalia.

 Viana [4]apud Depresbiteris (1997) concentra suas orientações no aspecto técnico para a construção de medidas educacionais, marcadas pelo tecnicismo, onde os escores são totalmente trabalhados.

Estas orientações ainda permanecem arraigadas nas escolas sendo usadas diariamente pelos professores como se fossem avaliação conduzindo muitos professores ao não entendimento de termos testar, medir e avaliar.

Viana (1997) destacando o estudo de Cronbach (1963) que em seu artigo discutiu aspectos de extrema importância para a avaliação como: associação entre avaliação e o processo de tomada de decisão; os diferentes papéis da avaliação educacional; o desempenho do estudante como critério de avaliação de cursos e algumas técnicas de medida à disposição do avaliador educacional

Como confirma o autor citado anteriormente as idéias provocadas de Cronbach[5] (1963) influenciaram nos trabalhos de dois autores que já realizavam estudos sobre avaliação: Stake (1984) e Scriven (1967)

A obra de Stake (1984) aborda os vários problemas ligados à avaliação, ficando considerada como uma das principais colaborações aos estudos da área. Sua teoria ampliou as discussões a exemplo da chamada avaliação responsiva que procura responder a problemas colocados pelos interessados na avaliação de um programa educacional, tanto as pessoas internas como o próprio avaliador. A grande contribuição à avaliação educacional foi ampliar as discussões sobre as diferenças epistemológicas entre pesquisa e avaliação quantitativa e qualitativa, definindo as características do estudo de caso como forma de pesquisa.

(VIANNA, 1997).

Scriven[6] apud Depresbiteris (1997) desenvolveu uma série de idéias que foram fundamentais para a teoria da avaliação educacional.

Para Depresbiteris (1997) o fundamento dessas idéias, de que a avaliação desempenha vários papéis, possui um único objetivo que seria determinar o valor ou mérito do que está sendo avaliado. Scriven diferençou os papéis formativos e somativos da avaliação, apresentando conceitos que passaram a influenciar a prática e o futuro da avaliação.

A avaliação formativa ocorre em etapas, ao longo do desenvolvimento de programas, projetos e produtos educacionais, tornando possíveis ás modificações que precisarem ser realizadas ao longo do processo avaliativo. Já a avaliação somativa é realizada ao final de um programa possibilitando julgamento de mérito e valor, fornecendo pistas para a orientação das ações para tomada de decisões caso seja necessário (Idem, 1997).

Estas concepções de Tyler, Bloom, Stake e Scriven e as medidas através de testes estão presentes no cotidiano escolar como procedimentos de avaliação, que mesmo com novos modelos contemporâneos e propostas de autores brasileiros e estrangeiros como Hoffman (1993), Luckesi (1995), Saul (2001), Perrenoud (1999), e outros ainda não foram suficientes para a adoção de uma nova concepção de avaliação.

Apesar de estudos realizados por estes celebres educadores ainda não foi possível na verdade extirpar dos sistemas de ensino o processo exclusivamente classificatório realizado através de uma avaliação tradicional. Porém, já se percebe sinais de mudanças quando alguns sistemas de ensino entendem que a função seletiva é eliminatória que se faz da avaliação é responsabilidade de todos e a mudança dependerá de todos que se envolvem direta ou indiretamente com a educação.

Estas reflexões nos conduzem a repensar a necessidade de apreensão de conceitos pelos professores de forma que venham servir de esclarecimento sobre os procedimentos que vem-se adotando diante do processo avaliativo. Alvarenga (1999) esclarece a importância de se conhecer conceitos, em que à medida que se esclarece algum conceito, é possível melhorar a compreensão do processo.

Neste enfoque é interessante destacar algumas abordagens da avaliação para um melhor entendimento sobre as concepções de avaliação presente na escola, para que ela não se torne um fim em si mesma como acontece na maioria dos estabelecimentos de ensino. É lícito supor a necessidade de se ter um referencial sobre novas abordagens neste estudo de avaliação para podermos empregá-la de forma correta na escola, podendo assim fazer uma relação contextualizada no estudo.



[1] TYLER, R. W. Basic principles of curriculum and  instruction. Chicago, The University of Chicago, 1949.

[2] DEPRESBITERIS, Lea.O desafio da avaliação da aprendizagem: dos fudamentos a uma proposta inovadora. São Paulo: EPU 1989

[3] POPHAM,W. J (1983). Avaliação Educacional..Porto Alegre: Rio de Janeiro: Globo.

[4]VIANA, Heraldo Marelim. Teste em educação,São Paulo: Ibrasa,1982.

[5] CRONBACH, l. J. WARRINGTON.W.G.(1962).Eficiency of multiple-choice testes as function of the spead of item difficulties.Psychometrika,17,pg,127-147.

[6] SCRIVEN, M.1978.  Perspectivas e procedimentos  de avaliação, Petropolis, Vozes