SOCIEDADE, ESTADO E EDUCAÇÃO

 

A sociedade

             Desde os primórdios da humanidade e até os dias de hoje, por uma questão de sobrevivência, o homem vive em sociedade, tendo como base fatores temporais, culturais e geográficos que são determinantes de sua relação com o meio e com as pessoas. Também contribuem com a evolução permanente das relações sociais e humanas, procurando garantir a existência e perpetuação da humanidade.

            Viver em sociedade significa criar e aceitar regras, abrir mão de parte de suas liberdades em prol do bem comum.

De acordo com Hobbes (1670, p.22):

 

“Cada um deve consentir, se os demais concordam, e enquanto se considere necessário para a paz e a defesa de si mesmo, em renunciar ao seu direito a todas as coisas, e a satisfazer-se, em relação aos demais homens, com a mesma liberdade que lhe for concedida com respeito a si próprio”.

             Quando o sujeito entende os benefícios da coletividade, da relação de interdependência e de suas responsabilidades é capaz, como disse Karl Marx,  de contribuir segundo suas possibilidades e de usufruir dos benefícios da sociedade  segundo suas necessidades.

            Somos seres sociais e complexos movidos por uma força que nos impele à associação. Necessitamos da comunhão entre as pessoas para garantir nossa segurança, alimentação, bem-estar, para nos proteger dos fenômenos da natureza e, inclusive, para procriar, visto que nenhum ser humano procria ou cria seus filhos sozinhos – já que temos a necessidade de médicos, professores etc.

            O processo de humanização se desenvolve no contexto da sociedade, assim como a socialização, o compartilhamento de idéias e também os conflitos.

            Na esfera do microcosmo, como uma aldeia ou pequenas cidades, elementos divergentes se complementam e conflitos se resolvem, muitas vezes, dando-se tempo ao tempo ou buscando-se a intermediação de um ancião ou de um conselheiro, de acordo com a dinâmica e a cultura daquela comunidade. 

O estado

             Nos tempos mais remotos, quando ocorriam divergências entre grupos pelos mais variados motivos, desde a falta de alimento até a falta de uma companheira, os confrontos eram inevitáveis e mais cedo ou mais tarde surgia a figura de um líder para  equacionar a questão. Este procedimento, com o passar dos anos, e de uma forma natural, passa a vigorar com maior regularidade na sociedade, instituindo-se a figura do Estado, representado por uma liderança reconhecida com o poder de tomar decisões em prol de uma maioria, mesmo que para isso tenha que impor limites para a minoria, inclusive quanto ao cerceamento da liberdade. O objetivo era e continua sendo manter a harmonia do grupo, o bem-estar das pessoas, criando condições que favoreçam o desenvolvimento da sociedade.

            Para Platão, o Estado surge de uma necessidade de cooperação entre as pessoas. Já Engels afirmava que o Estado é resultado de um processo econômico, no qual uma classe economicamente mais forte impõe sua força para toda a sociedade de uma forma geral e legal.            Tanto Platão como Engels, e outros teóricos que trataram do tema, não desvinculam sociedade e Estado, sendo um o complemento do outro.

            Em qualquer sociedade, o que garante a harmonia entre as pessoas é a existência de um Estado que planeja, desenvolve, acompanha e estimula novas formas que facilitem a convivência pacífica, pois quando os conflitos são maiores do que os instrumentos de defesa criados pela comunidade, quando ultrapassam a esfera local e extrapolam os limites do aceitável, surge a figura do Estado.

            O ser humano, com as condições necessárias à vida garantidas pelo Estado, pode enveredar por outras esferas do conhecimento, das artes e das ciências, tem condições de dominar a natureza, observar os astros, desenvolver sua cultura, cultivar a paz e se desenvolver de forma ampla.

            Na sociedade contemporânea, o Estado é um elemento presente e ao mesmo tempo invisível, um guia que direciona o dia-a-dia de todos os habitantes de um país[1] ou de uma nação[2],  e muitos não se dão conta de sua dimensão.

 A educação

             Como já apontado anteriormente, sociedade e Estado se completam e um dos elementos que os une é a educação.

            Toda ação do homem é uma ação de educação na medida em que é observada, imitada, transmitida, copiada, adaptada, passada de geração para geração, exportada para as mais variadas culturas.

            A educação é resultado do processo de desenvolvimento das sociedades, manifesta-se das mais variadas formas para atender aos mais variados interesses, sofre influências e influencia gerações e gerações. É um processo vivo, permanente e em constante transformação.

            Crianças, jovens, adultos e anciãos aprendem de acordo com a necessidade imposta ou pela manifestação da própria vontade de acordo com os mais variados objetivos: ora para satisfazer uma curiosidade, ora pelo prazer da descoberta, ora para facilitar o dia-a-dia.

            A escrita contribuiu sobremaneira com o processo de desenvolvimento da educação, mas não se tornou elemento essencial. Ainda hoje, em sociedades tribais, verifica-se a educação como um processo natural transmitido de pai para filho, de geração para geração, por exemplo, por via oral, pela prática observada, pela cultura, pela religião de maneira formal  (escrita, registrada) ou não.

            Em relação à importância da educação, podemos fazer referência ao modelo grego, base da cultura ocidental, como um exemplo que priorizava o corpo e a mente no processo de aprendizagem. Na contemporaneidade, no mundo ocidental, o fenômeno da globalização criou um modelo de educação homogêneo que prioriza o conteúdo.

            Ao analisarmos os movimentos históricos que mais marcaram a humanidade, podemos destacar o Iluminismo como o mais profícuo para a educação, principalmente pelo esforço de atribuir ao Estado a responsabilidade pela educação da sociedade, destinada a todos os cidadãos.

    Conclusão        

 

            Desde os tempos mais remotos, passando pela Antiguidade e chegando aos dias de hoje, não podemos dizer que evoluímos ao ponto de termos descoberto um modelo perfeito de Sociedade, de Estado ou de Educação. No entanto, quando analisamos as grandes revoluções que propiciaram mudanças profundas na história da humanidade, como, por exemplo, a Revolução Francesa, Revolução Industrial, Revoluções Sociais, Revoluções Científicas, Revoluções Culturais, notamos evidentes sinais que demonstram a presença da sociedade, do Estado e da educação influenciando e determinando os rumos da humanidade.

            Sócrates, na Grécia antiga, berço da civilização moderna, denunciava um estado corrupto, no entanto forte, uma sociedade falida e uma educação que necessitava de mudanças profundas. Assim, entendemos que quando um dos elementos se torna mais forte, provoca um desequilíbrio com consequências maléficas e duradouras, já que o ideal seria o constante equilíbrio entre estas três forças.

            No Brasil de hoje, assim como na Grécia antiga, também temos um Estado, forte e corrupto. Uma sociedade apática diante dos grandes problemas apresentados diariamente pela mídia, que mesmo assim apresenta leves traços de evolução, felizmente constantes, graças a uma educação frágil, porém questionadora por si só em detrimento do Estado que pouco contribui com o processo evolutivo do seu povo.

            Assim, entendemos que a educação, em si, é um processo revolucionário, que sofre influências da sociedade e do Estado e que também influencia.

            O educador de verdade será aquele que contribuirá ajudando a construir a história, debatendo a relação entre a sociedade, o Estado e a educação.

 

Manoel Ferreira

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[1] País: união entre povo, governo e território, exemplo: Brasil.

[2]  Nação: povo e governo sem território próprio, exemplo: a Palestina.