É fascinante viajar através do significado das palavras. Dentro do contexto da palavra saúde, no sentido mais globalizado, um conjunto de fatores atuam como atores coadjuvantes, dentro de um processo complexo que envolve ideologias e ações, concretas e dinâmicas. A saúde é mais do que um pré-requisito para uma constituição física e mental adequadas às exigências da natureza e da sociedade que criamos, com todos os seus benefícios e males. A idéia que ela amalgama a outros significados, extrapola os limites da conformação do corpo humano. O significante pode tomar outras formas, mas a essência do significado conservará  sempre a sua idéia principal, que é a busca da perfeição em todos os aspectos, pelo menos é o que acredito. 

                        A busca da perfeição é uma característica divina, que nós seres humanos, imperfeitos que somos, perseguimos como parte da nossa missão. Uma das maneiras de nós expressarmos essa perfeição é adequando-nos às exigências do nosso mundo material, através da promoção de eventos que nos possibilitem viver em equilíbrio, interno e externamente. Para tanto o homem é capaz de se transformar e transformar o outro, visando atingir essa adequação. Assim é que ele pensa e constrói a saúde humana individual e social. 

       Quando, através do estudo, ele procura transcender às suas limitações físicas e tenta construir uma vida melhor para si e para o outro, doando suas energias e capacidades intelectuais, ele está contribuindo para a saúde do indivíduo e da sociedade. E quando arregaça as mangas e com as próprias mãos se entrega à construção dos seus ideais, trabalhando em ações concretas pelas causas em que acredita, ele a está tornando viável e real.

                        Há muitas formas de atuar no contexto da saúde individual e social. Abraçar uma profissão que atue direta ou indiretamente na cura e/ou controle das doenças humanas de origens físicas, psicológicas e mentais, como é o caso da medicina, constitui-se, a princípio, numa das formas mais efetivas. Entretanto, há outras formas de atuação profissional na área da saúde, que são igualmente importantes e, cada vez mais, necessárias: as atividades que dão suporte aos médicos, auxiliando-os na construção, funcionamento e manutenção de toda uma infra-estrutura que os permita desenvolver o seu trabalho da melhor forma possível.

                        Há outros, no entanto, que trabalham pela perpetuação da espécie humana, são os cientistas. Os estudiosos, os criadores de tecnologias. Eles fazem a grande diferença entre o passado e o futuro, gerando mudanças na sociedade humana, sob todos os aspectos, elevando-a a um estágio evolutivo cada vez mais crescente e aprimorado, que pode significar um progresso na história humana e ao mesmo tempo, um retrocesso em termos de danos à qualidade de vida da geração atual e das gerações posteriores. Pelo simples fato de que, a ciência, construída e pensada por uma elite de mentes humanas privilegiadas, preocupa-se muito mais com as descobertas, com as novas perspectivas e possibilidades de poder da raça humana do que com a sua própria subsistência. Ninguém se responsabiliza pelas catástrofes geradas por suas descobertas. O poder é mais importante e este, quase sempre, está nas mãos erradas.

               Enquanto a ciência progride a passos largos e novas tecnologias surgem, como efeito imediato de trabalhos de pesquisa desenvolvidos nas mais diferentes áreas, por seres humanos brilhantes e de mentes privilegiadas, a vida no planeta clama por saúde. O indivíduo, enquanto sujeito individual e social, exige uma melhor qualidade de vida, o que significa muito mais do que uma mera subsistência.

                        A saúde do planeta tem que ser levada a sério, porque o homem é parte do planeta e ambos crescem e evoluem juntos, como também juntos podem ser aniquilados. Não basta apenas que o homem construa, produza ou aprimore bens, instrumentos ou tecnologias aplicadas à saúde humana, de maneira geral. É preciso mudar os paradigmas da saúde, deixar de lado a visão mecanicista cartesiana e transformá-la em algo mais apropriado à realidade atual da saúde de todos os sistemas vivos do nosso planeta. Só assim poderemos ter uma perspectiva de perpetuação das espécies, principalmente a da raça humana.

                        Se nos prendermos, particularmente, à questão da saúde do indivíduo teremos que analisar inúmeros fatores, econômicos e sócio-culturais que a envolvem direta ou indiretamente.

                        Quando abrimos, inicialmente, um leque de possibilidades de atuação do homem sobre a questão da saúde individual e social, incluímos a área científica como um dos caminhos a escolher, entre tantos outros. Enfatizamos o papel da ciência, especificamente, pela influência que esta exerce nos modelos ou paradigmas da história da humanidade, a partir dos relevantes estudos realizados ao longo dos séculos, na área médica e psicológica, através de pesquisadores fisiologistas e psicólogos que se uniram formando parcerias na tentativa de desvendar os mistérios do funcionamento do corpo e da mente humanos.

                        Ao longo da história, muitos mistérios foram sendo desvendados e outros surgiram, constituindo-se em novos desafios à inteligência humana. Entre eles aquele que me parece o mais simples, porém o mais significativo para a nossa realidade que é a manutenção da vida humana, sim, porque saúde é vida e para viver o homem precisa estar funcionando perfeitamente ou quase, segundo a ótica mecanicista, mas também precisa estar seguro e bem alimentado, tanto em relação ao corpo quanto ao espírito. Pois o homem tem distintas formas de sentir sede e fome, ele, por exemplo, pode sentir fome de amor e sede de paz e justiça social. Nesse momento entram em cena os atores coadjuvantes que dão suporte a ciência dentro do processo histórico da sociedade humana, que são a política, a economia e a educação, esta última essencial à mudança e transformação da realidade do homem sob todos os aspectos e em todas as épocas. Estes atores com suas ações e ideologias fazem a diferença entre a vida e a morte. Morte do corpo e da mente, morte de sonhos e ideais.

                        Como pudemos perceber é extremamente complexo e profundo o ato de imprimir e/ou extrair um sentido do significado das palavras, dentro de variados contextos onde este possa estar inserido, de acordo com a percepção de cada um. É preciso, mais do que conhecimentos lingüísticos, de sensibilidade e uma imaginação que não se deixe intimidar pela nossa visão crítica do mundo real.