BARTH, Wilmar Luiz. O homem pós-moderno, religião e ética. In.:____________ Teocomunicação. Porto Alegre. v. 37; n. 155. 2007, p. 89-108.

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         Enderson Pereira da Silva

RESUMO

O HOMEM PÓS-MODERNO, RELIGIÃO E ÉTICA

 

            Barth enfatiza, com base em estudos já feitos, o problema do homem pós-moderno. Um homem imbuído de um movimento exacerbado, envolvido por um sentimento de querer mudar a todo instante: mudar valores, costumes, cultura, conduta, leis... Mudar tudo que não lhe é mais útil, prático, novo. Um ser movido pela necessidade de está na moda; pelo fluxo exagerado do ter e usar aquilo que é novidade. E esse ter e usar a novidade vai muito além do simples objeto tecnológico como, por exemplo, o aparelho celular iphone. Esse sentimento se estende para o campo da religião, da política, dos relacionamentos conjugais e familiares, dos modos de vida... Das relações ético-sócio-culturais. Isso resulta das grandes transformações econômicas e tecnológicas que apresentará para uma sociedade, que já foi antiga, medieval, moderna, um modelo novo de sociedade no qual reina aquilo que é neo.

            Nós temos nesse modelo de sociedade o homem que se civilizou, isso já há muito tempo, mas voltou a primitividade. Age por instinto: um instinto chamado energia de querer o prazer. É um homem que cultua a mudança, o fugaz, o oscilante, o fútil, o superficial, o volúvel e odeia o fixo, o equilíbrio. Mesmo que, uma das suas procuras seja o próprio equilíbrio, mas um equilíbrio que não está no fixado e sim no trelante. Temos aqui, desse modo, uma sociedade na qual impera aqueles que proporcionam a esse tipo de homem todos estes sentimentos de mudanças, de novidades, de gozo, de “liberdade e equilíbrio”

            Para Rojas o homem moderno é a imagem e semelhança dos produtos “light”. Uma sociedade que vive sem compromisso, “sem gosto ou interesse. Há uma desvalorização de tudo e de todos. É um homem leviano e negligente que não se importa mais com nada. Apesar de querer “abraçar o mundo com as mãos” é um homem que não consegue cumprir suas tarefas e compromissos por completo, mas sempre dar seu jeitinho, como diz o senso comum: “o homem tem sempre um gambiarra” ou “o jeitinho brasileiro de ser”. Ou seja, o homem “light”, seja ele europeu ou brasileiro, está sempre preocupado em dar um jeito nas coisas e não trabalhá-las de forma sistemática e complexa.

            É uma pessoa vazia e sem meta, sem compromisso, sem objetivos.  A única coisa que lhe interessa é ter, possuir cada vez mais. Consome desesperadamente, como diz o conhecimento popular, “é como urubu em carniça”. Consome porque é novidade, porque está na moda, porque lhe torna “parte da sociedade”. É acima de tudo, um homem que consome porque é solitário e vazio e, por isso mesmo, consome para suprir essa necessidade de relacionar-se, de ter um estilo e um objetivo de vida. Consome porque pensa que tais produtos podem lhe trazer felicidade, mas traz-lhe apenas um gozo e/ou uma satisfação momentânea. Resultado, tristeza e arrependimento, pois tal produto já não lhe satisfaz mais, mesmo que ainda esteja novo. Ele adota para si a cultura do descartável na qual tudo é descartável inclusive o próprio homem, os relacionamentos conjugais, a ideologia, a justiça, etc. É alguém que quer ter cada vez mais não importando o que tenha que fazer para se chegar a tal fim.

            Carrega o sexual como “fora suprema de prazer”. Além do sexo, busca nas drogas o orgasmo inebriante. É um homem “pornográfico”. Comercializa e consome sexo de variadas formas e maneiras que a pós-modernidade lhes proporciona. É infeliz porque suas buscas são fúteis, sórdidas, mórbidas, e de efeito imediato e passageiro. A solidão melancólica é sua companheira habitual. É um homem paradoxal: feliz e infeliz. Feliz porque vive uma ficção disso e a sustenta com os ingredientes, oferecidos pela indústria mercadológica, com prazo de validade já no limite; e, infeliz porque, ao perceber que, todo esse universo de possibilidades oferecido pela pós-modernidade não é suficiente para proporcionar, não é mais novidade, uma certa felicidade cai num vazio existencial que o leva a um estado de vida que nós denominamos, por meio de convenções, de depressão.

            Apresenta seis ideologias que circundam a vida desse homem pós-moderno: 1° materialismo; 2° hedonismo; 3° permissivismo; 4° relativismo; 5° consumismo; 6° niilismo.

            No materialismo o homem é reconhecido por aquilo que possui que tem. Você é a sua conta bancária, o seu carro importado, o seu salário exagerado. Nesse tipo de ideologia você é reduzido à simples números. Para ser é preciso ter.

            O hedonismo traz como marca o prazer, o inebriante, o deleite, como bem supremo. É a busca demasiado pela adrenalina. Sensações diferentes que nos leve ao orgasmo. E os instrumentos possíveis para se ter essas sensações novas vai deste o sexo animal (por instinto), do uso de drogas naturais e misturas com produtos químicos, até a violência com o outro ou com o seu próprio corpo. É o gozo pelo gozo. Sexo pelo sexo. Prazer pelo prazer.

            Constrói-se também uma cultura do permissivismo na qual tudo é passável de ação, até as mais ilícitas e extravagantes atitudes, conquanto que ela me traga um bem está. As regras éticas e morais foram destronadas pelo “tudo vale”.

            O relativismo é uma das características bem evidente nesse homem atual. Na há pontos fixos, mas apenas incertezas. O que hoje é para ele amanhã pode e, provavelmente, deve não ser mais. É um homem que não norteia regras, vela a opinião da maioria o que está na moda.

            O consumismo é a carteira de identidade da sociedade pós-moderna. A lei é comprar sempre mais. É consumir determinado objeto e imediatamente substituí-lo por um mais nono, “lançamento”, mais sofisticado, não importando se o outro ainda está em perfeito estado de uso e utilidade. Dessa forma, cria-se aqui a “sociedade do desperdício”. O consumismo leva o ser humano ao individualismo e à competição. Porém, nessa competição todos são vencedores, todos podem consumar a vontade. Essa generalização é correta, pois até aquele que o seu estado financeiro não lhe permite estão imbuídos dessa ideologia e o seu maior sonho é fazer parte dessa massa de zumbis modernos.

            No niilismo o homem se direciona para uma cultura do maleável na qual não existe uma verdade absoluta e indissolúvel. A tendência, então, aqui é reduzir tudo ao simples nada. Tudo é e não é simultaneamente. Isso será regido pelos ditames individualistas, de gosto e bem-estar, de cada um.

            Salienta que o homem pós-moderno é marcado pela pluralidade, pela novidade, pela secularização, pela racionalidade e pela imersão no universo.

            O homem pluralista ele é fragmentado, não tem um padrão de vida e/ou ideologia fixa. É um que varia conforme a tendência, o momento, a moda; o homem secular é aquele que procura ser a resposta e o principio de todas as coisas que o rodeia inclusive o próprio ser humano. Desse modo, procura diminuir o protagonismo de Deus e se auto-intitula centro de tudo; o homem racional dos tempos moderno é “pragmático”: o conhecimento construído e acumulado, só tem valor de verdade se poder ser experienciado, se for inerente a práxis; o homem imerso no universo se ver como intimo dele e procura aproveitá-lo o Maximo que poder. Percebe que esse universo que o rodeia oferece N’s possibilidades de ser e existir. Desse modo, se lança nele de corpo e alma.

            A sociedade pós-moderna, apesar de todas as críticas a ela dirigidas, é positiva também. O homem desse período dispõe de grande variedade de inovações e de transformações nos campos da ciência, tecnologia, relações humanas, etc. É um individuo que usufrui de liberdade de pensamento, expressão e pratica como nenhum outro em toda a história da humanidade. Tudo isso garantido pelo que chamamos de lei. É um homem que planeja, que busca sempre mais melhorar de vida, que é visionário: vive o presente em função de um futuro. É capaz de dizer não a ideologias alheias e emancipar sua subjetividade.

            O homem secular não está preso a ideologias e dogmas religiosos. Não acredita que seja necessário um deus que dita as regras e se faz principio de tudo para que o homem exista e viva bem. Não pretende destruir Deus como um ser metafísico existente, somente não aceita mais o valor de Deus como centro de todas as coisas. Para esse homem ele mesmo é o centro: o homem em primeiro lugar, o centro das atenções; Teos e o Cosmos perdem seu espaço.

            O homem pós-moderno quer ser o primeiro, quer dominar, quer ditar as regras por ele próprio e não a partir de uma instituição metafísica. Em lugar das experiências transcendentes opta pela experiência, pelo pragmatismo. Só tem valor de verdade aquilo que eu experimentei, aquilo que provei. É um animal racional que busca conhecer-se a partir da própria experiência de si mesmo. E nessa busca não cabe mais as explicações vindas de um Absoluto que dita regras absolutas. O homem pós-moderno é relativista está em um constante movimento de “vir-a-ser”. É um homem que constrói e desconstrói, pois ele é quem dita as regras agora.

            Atual o que vemos não é um homem desprovido de moral e ética, mas sim o nascimento de novos valores e princípios. Essa sociedade não permite mais regras e leis absolutas que não se apresenta como produtora de um bem-estar humano. A moral agora é fragmentada. Cada um, a partir da sua subjetividade, constrói seus valores e princípios morais. Não existe somente mais somente uma verdade, mas uma gama variada de verdades que o leva a uma vida boa. Isso não quer dizer que homem não segue leis e princípios morais. Pelo contrario, segue sim, mas, somente aquilo que por ele foi construído e está documentada em uma constituição por ele próprio elaborada. É um homem que quer ser ético, que quer viver a ética, mas não tendo-a como uma forma de deveres difíceis e árduos. Ele proclama uma moral autônoma e subjetiva.

            Aspectos religiosos também tomaram novos rumos na agitação do mundo pós-moderno. Algumas crenças e seguimentos religiosos se apresentam novamente com uma nova roupagem. Nós vemos atualmente vários tipos de religiosos, mas queremos salientar dois desses tipos que são bem visíveis para nós: aqueles que retornaram ao um conservadorismo religioso e dogmático e aqueles que aqui iremos chamar de ecléticos. Os primeiros compreende que para que o resto do mundo possa ter salvação, assim como eles já são, é preciso voltar as antigas regras e mandamentos; já os segundos procuram a religião como um remédio, uma solução para o seu problema presente. E, não importa qual oferece tal remédio, o importante é se livrar de tal mazela e/ou melancolia.

            O homem religioso da pós-modernidade é escasso de sentido. Busca uma sentido para sua vida. E um dos meios é procurar o modelo de Deus que mais identifica com a sua necessidade. Como nos apresenta o texto há um verdadeiro “self-servece religioso”. Ele procura um deus que o console e que ao mesmo tempo possa ser o seu servo. Ou seja, o homem não quer somente conhecer-se, mas também descobrir um novo modelo de deus e mandar nesse deus. Portanto, esse é o homem pós-moderno: rico em recursos tecnológicos e cientifico, mas preso num mundo sem sentido construído por ele mesmo.