Trabalho apresentado à disciplina Seminários Avançados do Curso de Design Moda da FAMESUL ? Faculdade Metropolitana de Rio do Sul

RIO DO SUL
2010

Em seu livro "Moda e Comunicação", Malcolm Barnard relata que a moda, o modo de vestir dos indivíduos, é também uma forma de se comunicar com outros seres de uma mesma sociedade, e através desta comunicação causar sensações e significados (impacto, carisma, revolta, contestação, alienação, conformismo, estabilidade, padrões sociais, etc.).

E é esta idéia de moda comunicando conceitos e significados que é assimilada nesta resenha, que relata desde as funções da moda e da indumentária até a moda enquanto reprodutora de uma sociedade. Não há sociedade em geral, quando se trata de moda. A moda requer que sejamos cada vez mais específicos, afinal nosso público é específico.

A indumentária serve para nos proteger do frio, assim como para diferenciar meninos de meninas, mas também serve como uma arte em abstrato, cada indivíduo expressando idéias e sentimentos através do seu jeito único e exclusivo de vestir.



DESCRIÇÃO DO ASSUNTO


Primeiramente, é importante nos atermos para um questionamento básico: quais as razões que levam as pessoas a adornar o seu corpo e os motivos pelos quais elas vestem e têm vestido roupas no decorrer da história da humanidade? E, num segundo momento, entender de que forma a moda e a indumentária podem reproduzir a sociedade.

Várias funções são dadas e destinadas à moda e à indumentária, inclusive proteger o corpo de elementos externos como frio, chuva, calor, etc. Mas já houve quem pensasse de modo diferente. Teufelsdröckh (apud BARNARD, 2003), por exemplo, imaginava que a primeira finalidade das roupas não era o aquecimento e sim o ornamento.

Também há outras funções igualmente importantes, como a de que a moda é uma forma de se comunicar com outros seres de uma mesma sociedade e causar sensações e significados. Deste modo, muitas observações podem ser consideradas ao estudar a moda como forma de reprodução da sociedade.

Enquanto a moda masculina e a feminina entre as classes mais altas se tornam mais distintas, assim também acontece com suas identidades de gênero. As mulheres continuam a ser mais ou menos decorativas como eram antes, mas os homens estão se tornando cada vez menos decorativos e adquirindo menor visibilidade.


APRECIAÇÃO CRÍTICA


Antes de apreciar criticamente o assunto, é importante lembrarmos que moda é também comportamento. E por assim ser, ela reproduz o comportamento de indivíduos e expressa-se através de uma comunicação explícita, porém muda, com os seus interlocutores, ou seja, com aqueles que vêem o indivíduo vestido.

A indumentária tem uma função norteadora do seu porquê! Ela diz a que vem: é universalmente usada para diferenciar os sexos, além das suas funções quase básicas de acalentar o corpo, por exemplo; mas já serviu também para distinguir diversidades de classe. Aliás, é aí que mora o perigo: ser rico não é estar na moda, mas há uma diferenciação entre o ?bolso? de quem pode ou não consumir "moda" ou de quem pode simplesmente se vestir. Classes opostas também se opõe à prática de vestir.

Às vezes o status relata o papel social de cada indivíduo: "O papel social das pessoas é produzido pelo seu status e concerne aos diversos modos pelos quais esperamos que elas se comportem", diz Barnard (2003, p. 96). É como se o conhecimento do papel representado por uma pessoa seja necessário para que possamos ter para com ela um comportamento compatível com aquilo que ela representa ser. O que é moralmente um absurdo! Todo mundo merece respeito de forma igualitária. Mas não é assim que a sociedade vê, não é assim que ela age e também não é assim que as camadas sociais se expressam.

De acordo com Rouse (apud BARNARD, 2003), até o fim do século XVIII, tanto homens quanto mulheres elegantes vestiam "golas bem franzidas, trajes talhados, peles, jóias, perucas, rendas", etc. Hoje esse comportamento do vestir, isto é, como portar-se ao vestir, não condiz com a realidade de modo coerente.

Antes as mulheres eram mais discretas e pomposas ao vestir, ao revés de hoje, onde a exposição de algumas partes do corpo se tornou um sinal de sensualidade. Por sua vez, os homens, há tempos atrás eram mais extravagantes, ao passo que hoje são muito mais contidos e buscam um ar mais cool, puxando para um apelo mais básico e/ou sofisticado.

Sempre aproveitam-se traços que remetem ao passado, mas não mais todos os elementos juntos. Trajes talhados são chiques, peles são aceitáveis quando sintéticas (caso contrário podem surtir um efeito reverso), jóias são atemporais, rendas são elementos de romantismo e sensualidade sempre explorados pelo ramo da moda, mas nenhum deles aliado a perucas iria soar como comercializável ou então imaginável nas ruas. São usos que caíram em desuso... Diferenças de gênero, mas também de estilo, de bom senso, de gosto.

Não significa que a sociedade não aceite antigas formas de se vestir, afinal a moda se recicla, mas expressa na realidade a adequação do indivíduo ao que a sociedade julga adequado ou inadequado. É por isso que a moda reproduz a sociedade à medida que é feita para esta.

Após a leitura do livro de Malcolm Barnard é possível declararmos com racionalidade, que é a sociedade que escolhe, é a sociedade que consome. Pensamos que moda sem consumo é, no nosso ramo, apenas criação! Devemos estar atentos e vigilantes ao público-alvo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Muito se pode adquirir ao estudar a moda como forma de reprodução da sociedade, mas também é necessário, antes disso entender as suas funções, bem como da indumentária.

Quando analisamos que a indumentária serve também para expressar formas únicas e exclusivas de cada sujeito da sociedade, além de proteger o corpo do frio, do calor e de outras condições, e comparamos isso à moda enquanto reprodutora de uma tal sociedade, percebemos uma incoerência muito grande, uma lógica que não concordamos.

A moda sempre solicitou modelos "quanto mais exclusivos melhor", mas todo muito se veste ao seu jeito. Acontece que quanto mais exclusivo, mais caro é. Para ter modelos exclusivos, ou seja, para se dar ao luxo de ter peças cada vez menos ?copiadas? o consumidor tem que pagar caro por isso, e nem todo mundo pode pagar o preço. Será que a moda serve então apenas para diferenciar classes? Essa é então uma reprodução cruel da sociedade, é uma reprodução da desigualdade social, que é latente num país como o nosso e que tende a segmentar ainda mais as infinitas desigualdades já existentes.

Por outro lado a moda serve também como modelo de ação, como inspiração para o dia-a-dia, e é o que de fato aproxima o ?exclusivo? da realidade de tantos mortais.

REFERÊNCIAS

BARNARD, M. Moda e Comunicação. Tradução de Lucia Olinto. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
ROUSE, R. Mexican Migration to the United States: Family Relations in the Development of a Transnational Migration Circuit. Ph.D. Dissertação de Antropologia: Stanford University, 1989.
TEUFELSDRÖCKH. In: BARNARD, M. Moda e Comunicação. Tradução de Lucia Olinto. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.