Kelsom Mutelela Chavonga – Licenciado em História, pós-graduado em agregação pedagógica para o ensino superior, pós-graduado em actualização dos docentes nos fundamentos do processo de formação inicial no Ensino Superior, mestrando em gestão de recursos humanos. Professor de História da idade contemporânea, História de África, História social e económica de Angola e Introdução as ciências sociais no ISPM.

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RESUMO

O presente artigo, subordinado à temática representação social dos jovens sobre a igreja, surge com o intuito de saber por intermédio de uma investigação qualitativa, a opinião dos jovens sobre a representação social da igreja. Nesta senda, para facilitar a compreensão do objecto em estudo torna-se necessário fazer uma abordagem teórica sobre representação social, o seu processo de formação e sem perder de vista a sua função.

Segundo Moscovici (1995) citado por Dos Santos e Dias (2015), a representação social ou colectiva é um fenômeno psicossocial que nasceu na Sociologia clássica e na Antropologia, cuja teoria se desenvolveu especialmente nas obras de Durkheim e Lévy-Bruhl.

Na perspectiva de Sêga (2000), as representações sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade quotidiana, uma forma de conhecimento da actividade mental desenvolvida pelos indivíduos e pelos grupos para fixar suas posições em relação a situações, eventos, objectos e comunicações que lhes concernem.

O mesmo autor defende que a representação é sempre a atribuição da posição que as pessoas ocupam na sociedade, toda representação social é representação de alguma coisa ou de alguém (Sêga, 2000).

Há uma variedade de definições para o fenômeno das representações sociais, segundo o foco no processo ou produto, e pluralidade de perspectivas de estudo. Segundo Jodelet (2001) citado por Walchelke e Camargo (2006), a representação social, "... é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objectivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”

Ainda na visão de Jodelet citado por Sêga (2000), a representação social tem cinco características fundamentais:

  1. É sempre representação de um objecto
  2. Tem sempre um caracter imagético e a propriedade de deixar intercambiáveis a sensação e a ideia, a percepção e o conceito
  3. Tem um carácter simbólico e significante
  4. Tem um carácter construtivo
  5. Tem um carácter autónomo e criativo

As representações socias nascem no curso das variadas transformações que geram novos conteúdos. Durante essas metamorfoses as coisas não apenas se modificam, são também vistas de um ponto mais claro.

As pessoas tornam-se receptivas a manifestações que anteriormente lhes haviam escapado. Todas as coisas que nos tocam no mundo à nossa volta são tanto o efeito de nossas representações como as causas dessas representações.

As teorias das representações sociais baseiam-se no conhecimento do homem sobre si mesmo, suas acções e manifestações na vida da organização social quotidiana. Goffman (2009) citado por Pereira e Souza (2015), utiliza o termo representação para se referir a toda actividade que ocorre em um período marcado pela presença constante de um actor social diante de um grupo particular de observadores em que exerce alguma influência. Além disso, designa como fachada a expressividade – do tipo padronizado – utilizada pelo sujeito durante sua representação proposital ou inconsciente. O mesmo autor (2009) citado por Pereira e Souza (2015) observa que nas acções quotidianas os observadores fundamentam-se em estereótipos, facilitando o convívio social.

Não se mantêm distintos padrões e expectativas de respostas para cada actor e representação, ligeiramente diferentes das experiências vivenciadas. Pode-se, em vez disso, fixar a situação em uma ampla categoria: nela se encontram convencionados os saberes anteriores acionados para acomodação da disposição actual.

Para Moscovici (2004) citado por Reis e Bellini (2011), as representações apresentam duas funções: discriminação ou para a manutenção da distância social entre eles.

Para compreender o fenômeno de algumas Representações Sociais segundo os mesmos autores referenciados por Moscovici, temos de perguntar: Por que criamos essas representações? A resposta é que a finalidade de todas as representações é tornar familiar algo não-familiar.

As representações sociais, regra geral detêm funções e aplicabilidades nos grupos sociais. São elas: a do saber ou cognitiva, a identitária, a orientadora e a justificadora.

Garante aos grupos compreender e explicar a realidade que os cerca. Essa função facilita aos grupos reconfigurar um determinado fenômeno social para o senso comum, tornando-o uma realidade compreensível para o grupo.

Objecto da representação

No quadro de pesquisas em representações sociais, o campo religioso ainda está pouco desenvolvido em relação à outras áreas da cultura.

A religião, segundo Beremblitt, (1996) citado por Da Rocha e Filho (2014), “é a instituição que regula as relações do homem com a divindade,... Com respeito à qual existe toda uma série de comportamentos indicados e toda uma série de comportamentos contra-indicados".

Desta feita, segundo Gomes, 2004, citado por Da Rocha e Filho (2014) aponta-se a importância da Teoria das Representações Sociais para estudar o campo religioso como fenômeno complexo, em que a função do pesquisador não é testar a existência ou não do sagrado, mas observar como o sagrado é representado e contribui para a vida quotidiana.

Nesse sentido, os mesmos autores referenciados por Guareschi (2004) discutem a utilidade de pesquisar o tema da religião à luz da Teoria das Representações Sociais, e defendem essa posição, em face das crenças se constituírem como uma das dimensões das representações sociais, e que o estudo das crenças deveria ser mais explorado.

METODOLOGIA

O presente artigo científico tem como objectivos:

  • Compreender a função da representação social da igreja.
  • Analisar a percepção dos jovens sobre a representação social da igreja.

O objecto de estudo do nosso trabalho justifica-se pelo facto de a representação social dos jovens sobre a igreja ser uma temática que se reveste de capital importância na medida em que permite olhar para a sociedade tendo em conta a maneira de interpretar e pensar a realidade quotidiana como uma forma de conhecimento da actividade mental desenvolvida pelos indivíduos e pelos grupos para fixar suas posições em relação a situações, eventos, objectos e comunicações que lhes concernem.

Na mesma medida, liga os indivíduos às instituições religiosas que representam e, quando estudado quer na perspectiva diferencial – diferença entre grupos (género, posicionamento social, tipo de funções que exerce, entre outras) quer a nível da sociedade, fornece informações diagnósticas importantes que permitem compreender a representação social da igreja.

Amostra: para o estudo em causa, trabalhamos com 16 jovens do curso de Sociologia do Instituto Superior Politécnico Maravilha de Benguela que frequentam as igrejas dos quais, oito (8) do sexo feminino, na qual cinco (5) delas estão acima dos 26 anos de idade e três (3) estão no intervalo dos 18 aos 21 anos de idade. Para o sexo masculino, trabalhos com igual número (8), onde quatro deles estão no intervalo dos 22 aos 25 anos de idade, dois estão acima dos 26 anos e outros dois estão no intervalo dos 18 aos 21 anos de idade.

Instrumento: Para a recolha de informação da nossa investigação, foi utilizado um inquérito por questionário com perguntas fechadas para às preliminares ou estado social dos inquiridos (género e idade) e perguntas abertas que possibilitou aos inquiridos responderem com maior liberdade para o aprofundamento do conteúdo inerente à pesquisa qualitativa sobre a representação social da igreja.

Procedimento: Os sujeitos participantes da pesquisa foram inquiridos aleatoriamente, mas, antes de aplicarmos os inquéritos, pedimos a autorização do coordenador do curso de Sociologia do Instituto Superior Politécnico Maravilha e em seguida, o mesmo concedeu-nos a autorização e das quatro turmas existentes, trabalhamos com duas. Os inquéritos foram aplicados durante o mês de Março e contamos com a ajuda dos delegados das turmas no processo de recolha dos mesmos apesar de identificarmos alguma mortalidade experimental embora num número bastante reduzido, vale lembrar também que durante o processo de entrega dos inquéritos para responderem as questões, alguns estudantes recusaram-se em participar por não terem a mínima noção sobre o assunto em pesquisa, outros alegavam que tinham algum conhecimento sobre o assunto mas não sentiam-se capacitados para fazer parte da mesma investigação pelo facto de não frequentarem nenhuma igreja.

RESULTADOS

Fazendo jus à pesquisa qualitativa que caracterizou o nosso trabalho, utilizamos a análise de conteúdo no processo de tratamento de dados para medir a veracidade da informação obtida por via do questionário, na mesma senda, usamos a função heurística e o procedimento por milha obedecidos por uma unidade de registo e regra de enumeração.

Análise de conteúdo das respostas obtidas por via do inquérito.

1 - O que lhe vem em mente quando ouve falar de representação social da igreja?

Categoria

Sub - categorias

Indicadores

Frequências

 

 

 

 

 

 

 

 

Representação social dos jovens sobre à igreja.

 

Educação do homem 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Liderança na sociedade

 

Relacionamento entre as pessoas

 

 

 

Difusão do evangelismo 

(…) Moldar o comportamento do homem.

Educar o homem (…)

(…) Promoção do bom caracter.

(…) Respeito da opinião alheia (…)

(…) Promoção de bom comportamento.

(…) Aconselhamento de boas práticas (…)

(…) Dar exemplo de boas práticas.

(…) Promoção de bons comportamentos.

 

Capacidade de liderança (…)

(…) Sensibilização das pessoas.

 

(…) Promoção do amor.

(…) Amor ao próximo (…)

Respeito da opinião alheia (…)

 

 

Representação de Deus (…)

(…) Difusão da palavra de Deus.

(…) Professar a fé.

08 (50%)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

02 (12,5%)

 

 

03 (18,7%)

 

 

 

 

 

03 (18,7%)

 

 

Análise de conteúdo das respostas obtidas por via do inquérito.

2 - Deia três exemplos sobre o papel da igreja na sociedade?

Categoria

Sub - categorias

Indicadores

Frequências

 

 

 

 

 

 

 

Representação social dos jovens sobre à igreja.

 

Reeducação do homem 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Evangelismo

 

 

 

 

 

 

(…) Educação (…)

(…) Educar, moldar a conduta (…)

(…) Resgate dos valores.

(…) Reeducar o homem, acabar com os conflitos (…)

(…) Educar a sociedade.

(…) Educar o homem.

(…) Educação do cidadão.

Educar o homem (…)

(…) Boa conduta do cidadão.

Moralizar às pessoas (…)

 

 

Mostrar um caminho melhor (…)

(…) Promover o bem.

(…) Fazer o bem.

(…) Salvar almas perdidas (…)

Promoção do evangelismo (…)

(…) Converter almas perdidas (…)

 

 

 

 

10 (62,5%)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

06 (37,5%)

 

 

 

 

 

 

 

 

Discussão dos resultados 

Os resultados encontrados através desta amostra de conveniência constituída por 16 jovens do curso de sociologia que frequentam as igrejas, demonstram que a maioria converge para a mesma linha de pensamento sendo que entre as categorias feitas por intermédio do inventariado, a educação do homem (08) identifica-se como o nó central da representação social da igreja seguidos do relacionamento entre as pessoas (03), difusão do evangelismo (03) e da liderança na sociedade (02). Nesta medida, pode-se afirmar que os jovens sabem da importância da representação social da igreja e estão comprometidos através de relações de caráter que lhes permite a identificação e o envolvimento na sociedade. Por outro lado, na mesma sequência de perguntas, quando questionados sobre o papel da igreja na sociedade, a reeducação do homem (10) e o evangelismo (06) foram as duas categorias citadas pelos jovens inqueridos.

Referências bibliográficas 

 

Da Rocha, J. C., & Filho, E. A. (Janeiro e Abril de 2014). Representação social do pecado segundo grupos religiosos. Psicol. Soc. vol.26 no.1 Belo Horizonte Jan./Apr. 2014.

Dos Santos, G. T., & Dias, J. M. (2015). Teoria das representações sociais: Uma abordagem sociopsicológica. PRACS: Revista electrónica de humanidades do curso de ciências sociais da UNIFAP, 174.

Pereira, A., & Souza, A. M. (Janero a Junho de 2015). A função das representações sociais para práticas pedagógicas. Revista Eixo.

Reis, S. U., & Bellini, M. (2011). Representações sociais: teorias, procedimentos metodológicos e educação ambiental. Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto, 151 e 152.

Sêga, R. A. (13 de Julho de 2000). O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e Serge Moscovici. Porto Algre, nº13, p. 128.

Walchelk, J. F., & Camargo, B. V. (2006). Representações sociais, representações individuais e comportamneto. Revista Interamericana de Psicología/Interamerican Journal of Psychology , Vol. 41, Num. 3 pp. 379-390.