ANAIS ? Resumos Expandidos do Relato da Experiência de Estágio
Seminário Saberes docentes na EaD: compartilhando vivências
07 a 09 de julho de 2011 ? IE- SEAD/UAB/FURG

RELATO DE ESTÁGIO DAS SÉRIES INICIAIS


Carla Janaina Peres Silva
Maria Francisca Saldívia Borges

Professora Orientadora: Professora Mestre Suzane Vieira
Professora Co-orientadora: Professora pós-graduada Rejane Theodoro


Palavras - chave: Estágio, Crianças, Experiências, Formação docente.


Esse trabalho apresenta relatos de nosso estágio nas séries inicias realizado em uma turma de 4º ano da escola Estadual de Educação Básica Manoel Vivente do Amaral no turno da tarde, sendo a mesma composta por vinte e três alunos dos quais 11 eram meninos e 12 meninas na faixa etária dos oito aos 9 nove anos de idade.
Realizamos observações, para conhecermos o trabalho da professora e nossas crianças, nossas vinte e três crianças são receptivas e alegres, e percebemos que as crianças possuem mochilas, estojos com fotos dos personagens infantis de sucesso na mídia, sendo que estão a par da cultura midiática consumindo e sendo influenciadas por ela o tempo todo.
Escolhemos trabalhar com um tema transversal, o Meio Ambiente, e procuramos nas cinco semanas em que estivemos estagiando na turma realizar atividades que visassem chamar a atenção das crianças para os problemas relacionados ao meio ambiente em que vivemos, sendo a sala de aula a escola parte desse meio bem como a nossa cidade, desta forma buscamos realizar nossa proposta salientando questões ambientais de nosso município.
Baseadas no que acreditamos e tendo como metodologia adotada em nossa proposta o pensamento de Vygotsky, e para este autor o aprendizado da criança ocorre antes dela chegar à escola, o conhecimento da criança ocorre durante suas vivencias, por exemplo, os conhecimentos matemáticos que a criança experimenta desde cedo quando divide balas com amigos, então buscamos trabalhar o meio ambiente de maneira interdisciplinar e contextualizada.
Para realizarmos este trabalho buscamos alguns conceitos para fundamentar nosso planejamento, e através das nossas pesquisas acreditamos que o planejamento deva ser flexível e procurar perceber as áreas de interesse das crianças, ter a função de norteador das atividades evitando os improvisos e erros de um trabalho que não seja pensado e planejado, e ainda promover a reflexão sobre a nossa prática.
O currículo não é apenas a seleção de conteúdos a serem trabalhados, mas envolve a seleção de conhecimentos e práticas concretas que atendam a criança, sujeito social de direitos, na plenitude de sua formação oriundas da convivência em sociedade, deve oferecer base comum as crianças, mas deve atender as especificidades das localidades em que é desenvolvido, o ideal é que a escola problematize com a comunidade escolar a forma de trabalho e na escola que fizemos o estágio apenas é distribuída a lista de conteúdos a serem trabalhados, mas o aspecto positivo que encontramos é a liberdade de escolha do professor para realizar o seu trabalho.
Procuramos entender a concepção de registro diário das atividades e esta prática é uma possibilidade de conhecer melhor as crianças e reavaliar o planejamento, já que ao escrevermos sobre o dia podemos perceber o que foi positivo e o que deve ser revisto.
Quanto à avaliação o que encontramos na escola, são avaliações do que as crianças aprenderam ou não, e a prova que presenciamos ser aplicada percebemos que causava pânico nas crianças, sendo que nós acreditamos que esta avaliação não deva ser estanque, ela deve acontecer no dia a dia e perceber os reais avanços e esforços que a criança vem fazendo na apropriação do conhecimento.
E a escola é um lugar de sociabilização dos conhecimentos, deveria oferecer mais que acesso a todos, deveria oferecer permanência destas crianças na escola, socializando um conhecimento cientifico e "poderoso", que permitiria as crianças inclusão social, partindo do pressuposto que esse conhecimento oportunizaria desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, visando à cidadania dos sujeitos que a escola recebe, e encontramos alguns destes aspectos no PPP e na prática de diretores e docentes.
E em relação a nos constituirmos como professores e como os professores se constituem, acreditamos que o conhecimento teórico e a prática caminham juntos, embasando e constituindo o profissional através das interações e aprendizagens que este constrói ao realizar o trabalho docente.
O trabalho em sala de aula junto às crianças foi construtivo para nós não apenas como docentes, mas como pessoas, já que tivemos que trabalhar com algumas questões que as observações não nos permitiram perceber tão claramente. O grupo de crianças era bem agitado com um sério problema de relacionamento entre eles, haviam disputas constantes por quem era mais inteligente da turma, quem copiava mais rápido ou quem era o melhor no jogo, e como estes outros tantos motivos que geravam discussões na sala, gerando conflitos entre eles e uma certa angustia entre nós já que no inicio ficávamos inseguras em que atitude tomar diante das ofensas entre eles.
Na hora da recreação a disputa ficava muito acerbada entre os meninos, e as meninas também não conseguiam se entender, não havia diálogo entre elas, foram momentos difíceis, embora atendessem quando chamávamos sua atenção, não achávamos que estaríamos contribuindo com o crescimento emocional de nossas crianças apenas inibindo suas frustrações e agressividades através da presença e autoridade como professoras da turma.
Essa situação nos causou muita preocupação, de nada adiantaria avançar conteúdos com esse grupo de crianças sem antes resolver os conflitos, assim fomos pesquisar dinâmicas que nos ajudassem a mediar às relações entre eles. E aproveitando o desenvolvimento de uma atividade proposta onde às crianças deveriam em grupo construir cartazes informativos sobre a coleta seletiva do lixo e uma lixeira para a campanha de limpeza na escola, para também realizar uma dinâmica de grupo com eles, após terminar a tarefa fizemos a exposição dos trabalhos no quadro e cada grupo foi convidado a ir até ao quadro observar os cartazes.
Como já esperávamos pelos comentários entre eles podíamos perceber que havia uma discussão pelo cartaz mais bonito, e após todos observarem problematizamos a situação com eles, salientando que todos receberem o mesmo material para construção dos cartazes, que todos estavam bonitos, todos eles tinham atingido o objetivo, mas todos estavam diferentes, e até mesmo dentro dos grupos não estavam iguais todos os desenhos, e perguntamos para eles qual seria o motivo, as crianças responderam que era porque eles eram diferentes, após chegarem a essa conclusão conversamos sobre os conflitos existentes entre eles, e o resultado positivo dessa dinâmica podemos perceber na sala de aula e nas próximas aulas de recreação, as crianças tentavam corrigir seus comportamentos relembrando a conversa da dinâmica.
Em nossa turma também tínhamos crianças que costumavam se atrasar muito para copiar, e alguns não faziam as atividades apenas esperavam pela correção no quadro ou copiavam a resposta dos colegas, então passamos a usar o incentivo nos cadernos, estimulamos aqueles que não acompanhavam a turma elogiando suas iniciativas e progressos por menor que fossem.
Um menino que costumava não trazer tarefa e não copiava na sala ao receber um bilhete positivo em seu caderno, disse que esse ele gostaria muito de mostrar para os pais, conversamos com ele dizendo que ele tinha capacidade e que com determinação ganharia muitos outros bilhetes como aquele, e tivemos um retorno incrível, já que no outro dia ele trouxe a tarefa pronta de casa e estava orgulhoso de ter realizado a tarefa sozinho, segundo ele a primeira que ele realizava, percebemos que simples palavras mudaram seu comportamento porque ele passou a copiar e trazer as tarefas.
Muitas foram às experiências vivenciadas no período dessas cinco semanas, as crianças visitaram locais da cidade que estão sendo usados como depósitos de lixo, fizeram uma coleta seletiva do lixo recolhido no pátio da escola por elas.
E a partir dessa atividade criamos junto com as crianças um esquadrão da limpeza, e com os cartazes e as lixeiras construídos por eles fomos de sala em sala divulgando a campanha para os colegas e professores da escola campanha: "Todos juntos por uma escola mais limpa". No começo as crianças estavam tímidas, mas ao receberem o apoio dos colegas, professores e da diretora da escola gostaram da atividade, havia um grupo de crianças responsáveis por cada lixeira e na hora do recreio colocaram as lixeiras no pátio da escola e ao termino do intervalo fomos verificar se as demais crianças haviam usado as lixeiras. Nesta atividade percebemos a satisfação das crianças ao verem seus cartazes espalhados pelos corredores da escola em sua iniciativa sendo aderida por todos.
Concluímos que a realização desse estágio foi muito importante para nosso processo de formação e estagiar em uma turma com tantas diversidades, nos fez buscar além do planejado. Compartilhar conhecimentos com as crianças, com a professora regente, com os demais participantes da comunidade escolar como pais e demais professores, nos possibilitou um grande crescimento como profissionais e como pessoas, já que através das relações podemos superar nossos limites e ajudar nossos semelhantes a superarem suas dificuldades e desenvolverem seu potencial.
Acreditamos que todos somos capazes de aprender e surpreender, que muitas vezes dentro das escolas faltam palavras como " eu acredito em você, "eu confio em você", "continue se esforçando", "parabéns," palavras simples e atitudes que não custam nada, como parar e ouvir o anseio de nossas crianças, um carinho, um afago podem mudar uma vida e não precisamos de recursos e sim de amor , solidariedade, comprometimento com os nossos semelhantes, com a nossa sociedade.
Concluímos que o futuro acontece no presente, o momento de ajudar nossas crianças é hoje, agora e não no próximo ano, a experiência desse estágio confirmou o que acreditamos, a mudança é possível, e a educação é a porta para essa mudança, como docentes devemos ser agentes ativos de maneira positiva para o desenvolvimento de todos nós, sendo o grande mestre aquele que aprende com seus discípulos e se orgulha ao ver suas crianças construindo um futuro mais justo e feliz comprometidos com a sociedade em que estão inseridos.
Com certeza deixamos marcas na vida de cada uma dessas crianças, e elas nos ajudaram na conclusão de mais um etapa em nossas vidas, assim também elas deixaram profundas marcas em nós e não seremos mais as mesmas após conhecermos seres tão únicos e especiais como as crianças do quarto ano.