Este artigo tem como objetivo refletir a prática pedagógica perante o seu contexto junto à escola e as legislações. Pretendemos refletir as ações com as quais o docente é agente ora ativo, ora passivo e buscar elucidar as relações deste profissional com seu trabalho. Questionaremos também a questão da formação do professor no âmbito acadêmico e a partir desta reflexão entrar na discussão dos problemas que isto acarreta, além das formas com as quais os educadores possuem entre si, com os funcionários da escola e com os alunos. Mas principalmente, discorrer quanto a um tema muito comum nos presentes dias, o professor como principal responsável pela piora do ensino, ou seja, a noção de que o docente possui em suas ações todas as consequências negativas que são em fato geradas por um processo sócio-político.

Da formação acadêmica

Quando o indivíduo interessado em lecionar busca uma área acadêmica que lhe propicie o título de licenciatura plena em uma determinada disciplina, começa um processo de formação de um novo ser docente. Ora, ao longo desta jornada o até então aluno, passará por uma série de disciplinas que visam prepará-lo para exercer da melhor forma possível dentro do universo da sala de aula. Entretanto, são realizados vários debates e aprendizagem que transmitem dimensões demasiadamente teóricas que por muitas vezes não dão conta de uma realidade geralmente contraria a estas teses.

Para dar solução a este tipo de problema, a graduação inclui, de maneira muito bem arquitetada, um estágio supervisionado no qual o futuro docente realiza seu primeiro contato com a vida profissional. É nesta atividade que o mundo pedagógico se faz mais presente e próximo a este aluno que será professor.Durante o processo, o discente é orientado por um acadêmico e deve então escrever um relatório que consiga explicitar como foi este primeiro contato com a sua futura vida profissional.

A formação pedagógica a qual é realizada ao longo da graduação, deveria estar, ao menos em tese, interligada a política educacional que é regulamentada pelos órgãos do governo. Entretanto, nem sempre políticos e instituições de ensino superior estão em sintonia. Muitas vezes as leis criadas são distantes das ações práticas e por conta disso os estabelecimentos de educação superior não conseguem atingir aquilo que é proposto por aqueles que escrevem as leis. Com relação a isso Veiga escreve:

"A questão básica relativa a orientações legais é mais uma meta do que a base de uma proposta de reconstrução profissional, dado o estado geral de desvalorização progressiva do magistério. Esse processo de degradação é acentuado pela ausência de medidas efetivas de valorização e profissionalização. Há, portanto, a necessidade de uma política incisiva, que aponte para a efetivação das orientações legais e outras reivindicações profissionais vagamente definidas e não asseguradas na Lei, tais como: a qualificação de professores leigos, em cursos regulares..." (VEIGA, 1998, p. 94)

Ora, a profissão docente é demasiadamente afastada da realidade perante as formas com as quais é tratada pelo sistema regulamentador da prática educacional. Em decorrência disto, o recém-formado, apesar das 300 horas de estágio que prevê a legislação, deverá buscar por si próprio a melhor forma de trabalhar e se adequar ao que lhe é imposto.

O professor e suas ações

Passado o processo de formação pedagógica a qual é submetido o novo docente, é chegado o momento da prática no sentido integral da função docente. Evidentemente, recaí sobre os ombros do novo professor a responsabilidade de formar e preparar mentes jovens através do conhecimento adquirido junto a sua graduação. Em primeira instância, o profissional exerce a ação/função de lecionar e é responsável por todo conteúdo e didática exposta para um melhor aproveitamento de seus alunos. Cabe ao agora educador adequar seus conhecimentos a uma linguagem acessível, fazendo assim com que os objetivos educacionais sejam atingidos.

Entretanto, há um ponto muito relevante ao qual o professor não possui nenhuma maneira de interagir para conseguir algum ponto que lhe seja mais útil. Uma vez mais mencionamos os métodos impostos pelos sistemas sócio-políticos. Quanto a isso, observamos o que Rios afirma:

"A necessidade, concretamente presente no contexto sócio-econômico em que se vive, é, efetivamente, o primeiro motor da ação do educador. Entretanto, é importante lembrar que essa necessidade é histórica, situada, que há possibilidade de se atendera ela de múltiplas maneiras; há, até mesmo, possibilidadede não se atendê-la; e aí está o que faz a necessidade do saber escolar diferente de outras necessidades sociais, e estas das que se encontram no plano da natureza." (RIOS, 1999, p. 61)

Fica evidente que os problemas encontrados na educação passam por uma série de atores e cenários que muitas vezes são deixados de lado para recaírem sobre a culpa apenas do professor e a escola. Em nossas instituições de ensino, de modo geral, os alunos acabam se tornando peças de um depósito humano cuja responsabilidade de transformar tal quadro é somente da escola e não de todos os agentes sociais, familiares e políticos. Cada vez mais fica complicado definir uma possível solução, ou possíveis soluções, para um problema em larga escala que é visto com um ponto focado facilmente apontado.Se uma mudança no quadro educacional se faz necessária, esta deve ser pensada e realizada por todos os grupos inseridos na questão; professor, escola, família e políticos devem se entender para que possam surgir efeitos diretos que supram as necessidades existentes.

Um ponto muito questionável no tocante a classe do professorado, diz respeito a sua falta de integração enquanto classe, previamente planejado por um sistema opulento, que acaba aumentando ainda mais os lapsos da educação, sobre isso, Veiga comenta:

"O que se espera e se deseja é que a profissionalização do magistério seja um movimento de conjugação de esforços, no sentido de se construir uma identidade profissional unitária, alicerçada na articulação entre formação inicial e continuada e exercício profissional regulado por um estatuto social e econômico, tendo como fundamento a relação entre: teoria e prática, ensino e pesquisa, conteúdo específico e conteúdo pedagógico, de modo a atender à natureza e à especificidade do trabalho pedagógico" (VEIGA, 1998, p. 76)

Somente quando houver uma classe mais homogeneizada, poderemos discutir e garantir em conjunto novas possibilidades que atendam as demandas importantes à guisa de suprir preceitos básicos para a realização de um bom trabalho pedagógico.

Assim sendo, podemos afirmar que é extremamente equivocado apontar e responsabilizar apenas um ponto quando o que acontece na realidade é um sistema todo ruído que não é, nas atuais circunstâncias, capaz de resolve um problema que pode e gera graves consequências que serão ainda mais complicadas de serem resolvidas. É, então, necessário se rever a formação e buscar um entendimento de todas as partes que participam de maneira ativa na formação do professor.

Referências

RIOS, Terezinha A. Ética e competência. 7° Edição. São Paulo, Cortez, 1999. (Coleção questões da nossa época vol. XVI)

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Avanços e equívocos na profissionalização do magistério e a nova LDB. Campinas, Papirus, 1998)