Diego Maués Fidalgo[1]

RESUMO

A preocupação com a qualidade de vida no trabalho constitui uma realidade empresarial, onde as empresas passaram a perceber a importância de seus funcionários. Um clima organizacional favorável aliado à qualidade de vida no trabalho permite, além de maior produtividade e qualidade, a satisfação dos colaboradores, gerando um ambiente integrado. O presente estudo teve como objetivo avaliar o nível de satisfação dos funcionários de uma clínica de exames e diagnósticos por imagem quanto à qualidade de vida no trabalho. Os resultados obtidos junto aos funcionários demonstraram que apesar da empresa não possuir um programa de Qualidade de Vida no Trabalho, esta foi avaliada positivamente por estes, em diversas categorias, os quais se encontram, em sua maioria, satisfeitos com a qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Palavras-chave: Qualidade de vida no Trabalho. Clima Organizacional. Satisfação.

 ABSTRACT

The concern with the quality of life in the work constitutes an enterprise reality, where the companies had started to perceive the importance of its employees. A organizational climate favorable ally to the quality of life in the work allows, beyond bigger productivity and quality, the satisfaction of the collaborators, generating an integrated environment. The present study it had as objective to evaluate the level of satisfaction of the employees of a clinic of examinations and diagnostic for image how much to the quality of life in the work. The results gotten next to the employees had demonstrated that although the company not to possess a program of Quality of Life in the Work, this were evaluated positively by these, in diverse categories, which if find, in its majority, satisfied with the quality of life in the work environment.

Key-words: Quality of life in the Work. Organizational climate. Satisfaction.

INTRODUÇÃO

As condições de trabalho cada vez mais vem se transformando com o passar do tempo, porém, algumas empresas ainda atuam de maneira pouco aceitável, exigindo de seus funcionários altos índices de quantidade de horas trabalhadas, sem descanso devido e sem que o mesmo possa expressar seus desejos, vivendo num ambiente de trabalho nada agradável, e principalmente, sem programas de Qualidade de Vida no Trabalho. Esse panorama encontra-se evoluindo, em grande parte, devido às mudanças e a competitividade crescente.

A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) visa proporcionar um ambiente favorável ao bem estar de todos, na tentativa de humanizar as relações e o trabalho nas organizações, conduzindo a melhorias na execução das tarefas e o conseqüente aumento do nível de satisfação do funcionário com a organização.

Os programas de QVT despontam no cenário empresarial como fruto do conhecimento e de práticas empresariais, demonstrando a importância que os funcionários possuem. A atmosfera do ambiente de trabalho, por sua vez, constitui um fator importante, visto que é por meio dele que organizações tomam conhecimento de como as expectativas dos membros estão sendo atendidas.

O nível de QVT percebido pelo trabalhador produz resultados importantes para a organização, podendo interferir no serviço e na produção. O clima organizacional, por sua vez, corresponde aos aspectos motivacionais a nível pessoal dentro das organizações, permeando as relações entre estas e seus funcionários. A existência de um clima organizacional favorável constitui um fator positivo quanto à satisfação dos funcionários.

Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar o nível de satisfação dos funcionários de uma clínica de exames e diagnósticos por imagem quanto à qualidade de vida no trabalho, bem como, identificar os pontos positivos e negativos percebidos pelos funcionários quanto ao seu ambiente de trabalho, de acordo com as variáveis estabelecidas.

MÉTODO

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa e qualitativa. Por sua vez, quanto aos objetivos, se caracteriza como do tipo exploratório, pela necessidade de obtenção dos dados junto aos funcionários da Clínica de Exames e Diagnósticos por imagem, os quais possuem direta relação com o objeto da pesquisa.

Inicialmente foi realizada uma ampla pesquisa bibliográfica, de modo a conhecer os aspectos que norteiam e caracterizam o nível de QVT e o clima organizacional. Por fim, um estudo de caso foi aplicado para propiciar o maior conhecimento do ambiente pesquisado.

O universo consiste no quadro de funcionários da organização estudada, composto de oitenta e cinco indivíduos. Adotou-se para esta pesquisa uma amostra de quarenta indivíduos.

A coleta de dados foi feita por meio de um questionário, o qual se encontra dividido em dois blocos, o primeiro com questões agrupadas em cinco categorias, relacionadas ao clima organizacional (Administração de Pessoal; comunicação; relacionamento; segurança; e satisfação) e segundo com questões organizadas em três categorias (Condições Ambientais; Serviços e Benefícios e Recursos Humanos).

Após as análises por categorias em seus respectivos blocos, foi realizada a análise global dos resultados, de modo a identificar os pontos positivos e negativos percebidos pelos funcionários, além de analisar a importância desses pontos para o nível de satisfação.

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Chiavenato (2004b, p.367) define que a QVT "representa o grau em que os membros da organização são capazes de satisfazer as suas necessidades pessoais com sua atividade na organização".

No entanto, questiona-se sobre quais seriam os métodos necessários para alcançar a QVT, posto que, as organizações, de modo geral, gostariam de ser vistas como o melhor lugar para se trabalhar. Dessa forma, Chiavenato (2004b, p.348) evidencia que, para que isso ocorra, é imprescindível a existência de qualidade de vida, definida pelo autor como "criar, manter e melhorar o ambiente de trabalho, seja em suas condições físicas – higiene e segurança –, seja em suas condições psicológicas e sociais".

O autor acrescenta ainda que a junção de todos estes fatores constitui um ambiente agradável e satisfatório, melhorando de forma substancial a qualidade de vida das pessoas nas organizações, e, por conseqüência, a qualidade de vida fora da organização.

Detoni (2001) evidência que a preocupação com a QVT existe desde os primórdios da vida humana, objetivando facilitar ou trazer satisfação e bem estar ao trabalhador no processo de execução dos seus deveres.

Bowditch e Buono (2004) pontuam que o surgimento do desenvolvimento histórico da QVT só ocorreu no final da década de 60, quando a sociedade norte-americana passou a se questionar sobre os efeitos do emprego da saúde e bem estar dos trabalhadores, preocupação esta que se expandiu para a nossa sociedade, onde se enfocou os efeitos no bem estar psicológico e na produtividade geral das organizações. Foi com a intenção de elevar os níveis de eficiência e a competência nas organizações que surgiu a abordagem Clássica da Administração, com a preocupação de eliminar o fantasma do desperdício.

As conceituações em torno do tema, Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), englobam uma série de variáveis com enfoques no grau de satisfação da pessoa com a empresa, condições ambientais gerais e promoção da saúde. Karch (2000) afirma que os programas de promoção de saúde e qualidade de vida vêm sendo cada vez mais adotados pelas organizações, mobilizando os profissionais de recursos humanos, para tornar o ambiente de trabalho mais produtivo e saudável.

Segundo França (1999), o conceito de QVT constitui um conjunto de ações de uma empresa que envolve o diagnóstico e a implementação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, no intuito de propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a realização do trabalho.

Entretanto, apesar da abrangência da definição acima, Bowditch e Buono (2004) destacam que a compreensão da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) deve envolver não somente aspectos relacionados ao empregado individualmente, mas também sob as perspectivas do empregador e da sociedade.

De acordo com Maximiano (2002), a qualidade de vida no trabalho consiste na visão mais ampla das concepções existentes sobre a motivação e a satisfação, baseando-se em uma visão integral dos seres humanos, denominado de enfoque biopsicossocial, o qual propõe a visão integrada dos seres humanos.

Tal enfoque propõe que a saúde consiste no completo bem-estar biológico, psicológico e social, definição esta, adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1986 (MAXIMIANO, 2002).

Salles e Federighi (2006, p. 269) reforçam a definição da OMS ao descreverem a qualidade de vida como um conceito amplo e complexo, podendo ser afetado "pela saúde física da pessoa,estado psicológico, convicçõespessoais, relações sociais e pelasua relação com as característicasprovenientes do ambiente".

Segundo Maximiano (2002, p. 297), as teorias convencionais preocupam-se predominantemente com a satisfação das pessoas, sem abordar a correlação entre o stress e o trabalho.

O conceito de QVT, além do enfoque biopsicossicial, baseia-se em uma visão ética da condição humana, visando identificar, eliminar ou, pelo menos, minimizar todos os tipos de riscos ocupacionais. Maximiano (2002, p. 297) reforça que "isso envolve desde a segurança do ambiente físico até o controle de esforço físico e mental requerido para cada atividade, bem como a forma de gerenciar situações de crise, que comprometam a capacidade de manter salários e empregos".

É possível perceber que a questão da QVT engloba diversos fatores, os quais estão interligados. Tal afirmativa é corroborada por Chiavenato (2004a), ao destacar que a QVT envolve inúmeros fatores, dentre eles: a satisfação com o trabalho executado e o salário oferecido, o relacionamento do funcionário dentro do grupo e nas organizações, e a liberdade de cada funcionário de tomar qualquer tipo de decisão sem que prejudique a organização.

Diversos autores, dentre eles França (1999), abordam o conceito de QVT relacionando-o a critérios como: grau de satisfação, condições ambientais, relacionamento e saúde. Segundo Chiavenato (2004a, p. 367), a qualidade de vida no trabalho abrange, dentro outros pontos:

[...] a satisfação com o trabalho executado, possibilidade de futuro na organização, reconhecimento pelos resultados alcançados, o salário percebido, benefícios auferidos, relacionamento humano dentro do grupo e da organização, ambiente psicológico e físico de trabalho, liberdade de decidir, possibilidade de participar e coisas assim.

O autor acrescenta ainda que a Qualidade de vida no Trabalho envolve tanto os aspectos intrínsecos do cargo, como os aspectos extrínsecos e contextuais, afetando atitudes pessoais e comportamentos importantes para a produtividade, como: motivação para o trabalho, adaptabilidade e flexibilidade para as mudanças no ambiente, criatividade e um ambiente propicio à inovação.

Albrecht (1992, apud DETONI, 2001, p. 50) destaca que, independentemente das percepções que os empregados possam ter acerca do que é Qualidade de vida no Trabalho, esta deve envolver:

Um trabalho que valha a pena ser feito; condições de trabalho seguras; remuneração justa e adequada, segurança no emprego, supervisão competente; feedback quanto ao desempenho no trabalho; oportunidades de crescimento intelectual e profissional; possibilidade de promoção; bom clima social e justiça.

Detoni (2001) afirma que inúmeros modelos foram construídos com intuito de investigar a qualidade de vida no trabalho, dentre eles de Walton (alicerçado em oito critérios e indicadores), considerado um dos mais abrangentes e utilizado em diversos estudos e pesquisas de QVT, podendo ser observado no Quadro 1.

Critérios

Indicadores de qualidade de vida no trabalho

1. Compensação justa e adequada

Remuneração adequada

Equiparação salarial dentro da organização

Equiparação salarial com o mercado de trabalho

Partilha dos ganhos de produtividade

2. Condições de trabalho

Jornada de trabalho adequada

Ambiente físico seguro e saudável

Salubridade

3. Uso e desenvolvimento de capacidade

Autonomia

Qualidades múltiplas

Informação sobre o processo total de trabalho

4. Oportunidade de crescimento e segurança

Crescimento e desenvolvimento pessoal

Perspectivas de avanço salarial

Estabilidade

5. Integração social na organização

Ausência de preconceitos

Igualdade

Relacionamento

Senso comunitário

6. Constitucionalismo

Direitos do trabalhador

Privacidade pessoal

Liberdade de expressão

Imparcialidade

7. O trabalho e o espaço total de vida

Estabilidade de horários

Poucas mudanças geográficas

Tempo para lazer da família

8. Relevância social do trabalho na vida

Imagem da empresa

Responsabilidade social da empresa

Responsabilidade pelos produtos

Quadro 1: Critérios e indicadores de qualidade de vida no trabalho

Fonte: Adaptado de Walton (1973, apud DETONI, 2001).

Moretti e Treichel (2003) evidenciam que além desses critérios e indicadores, existem os "benefícios sociais" além do trabalho. Os autores pontuam que o termo benefícios além do trabalho pode, em um primeiro momento, parecer estranho do ponto de vista racional, a um sistema em que é justo receber conforme o trabalhado.

De acordo com Moretti e Treichel (2003, p. 11), os benefícios constituem uma remuneração indireta, pois custa dinheiro à organização. No entanto, seguindo uma linha filosófica humanista, os seres humanos, "talvez devido ao progresso tecnológico e social que vivenciaram, almejam mais da organização do que apenas a paga pelo 'justo' trabalho. Eles reivindicam o papel social da organização na qual trabalham".

Segundo Chiavenato (1985, apud MORETTI e TREICHEL, 2003, p. 11), benefícios sociais são "facilidades, conveniências, vantagens e serviços que as organizações oferecem aos seus empregados, no sentido de poupar-lhes esforços e preocupação [...]".

Além dos benefícios sociais, Chiavenato (2004a) afirma que dois aspectos devem ser considerados para a QVT: o ambiente de trabalho, o qual deve abranger: credibilidade, respeito, imparcialidade e orgulho; e o perfil da empresa (benefícios, remuneração, ética e cidadania, desenvolvimento profissional e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal).

Para Maximiano (2002), a QVT pode ser avaliada através de dois meios, sendo o primeiro as práticas da empresa. Pelo lado da organização, a qualidade de vida no ambiente de trabalho pode ser julgada pelas práticas que a empresa propõe, tentando assegurar o bem-estar de seus empregados, de forma a considerá-los como seres humanos integrais, não apenas como máquinas que executam atividades.

A segunda se refere à satisfação dos funcionários. Para que a qualidade de vida tenha níveis altos, se faz necessário que a maior parte, se não todos, estejam satisfeitos com as condições de trabalho. Os trabalhadores também podem não estar tão satisfeitos com a empresa, ou seja, os fatores motivacionais, higiênicos, e também os fatores, como vida familiar, sua própria educação, e oportunidades para desfrutar de atividades culturais e sociais (os dois últimos estão fora do ambiente da organização, mas seu papel é fundamental na saúde psicológica e relacionado à boa produtividade no trabalho) (MAXIMIANO, 2002).

» Baixe o artigo completo para continuar lendo.