Cães e gatos.

1 -  Introdução

Os eritrócitos, hemácias ou glóbulos vermelhos são produzidos no tecido conjuntivo hematopoiético, compondo a medula óssea, principalmente em ossos longos. Durante a diferenciação celular, estas células perdem núcleos, mitocôndrias e outras organelas, como membranas golgienses e lisossomo. Quando amadurecido, é acidófilo, sem núcleo, apresentando uma forma relativamente regular. Sua principal função é circular a hemoglobina responsável pelo transporte de gases, principalmente o oxigênio e dióxido de carbono. Quando prontas e liberadas para a circulação, apresentam uma vida média de 120 dias no cão e 60 dias no gato (LUCIDI, 2007).

Na espécie canina, apresenta um formato de disco bicôncavo, com um halo central, com dimensões entre seis a sete microns. Nos felinos, também em disco bicôncavo, com um diminuto halo central, com dimensões inferiores ás do cão, em média de 5,5 a 6 mícrons (KANTEK, 2005).

A via metabólica primária das hemácias, tanto do cão como a do gato, é a glicólise anaeróbica, seqüestrando o mínimo de oxigênio. São protegidas dos danos oxidativos, sendo as hemácias do cão mais resistentes a esses agentes, o que justifica as hemácias do gato apresentarem com maior facilidade corpúsculos de Heinz (REBAR, 2003).

Os valores hematológicos podem ser obtidos por várias técnicas, manuais ou automatizadas, seguindo padrões de qualidade e contendo informações básicas como:

a - Contagem dos eritrócitos;

b - Hematócrito;

c - Hemoglobina;

d - Proteína Plasmática Total;

e - Contagem dos leucócitos totais;

f - Contagem diferencial dos leucócitos;

g - Contagem ou estimativa das plaquetas;

É muito importante que  os veterinários observem com atenção os comentários colhidos do exame do filme sanguíneo com relação à morfologia das células, estas alterações podem ser de grande auxílio no diagnóstico, mesmo com um hemograma aparentemente normal.

Neste artigo vamos abordar as principais e mais freqüentes alterações ocorridas nas hemácias de cães e gatos.

2- Principais Alterações Morfológicas Nas Hemácias

2.1 Disposição celular

 2.1.1 Rouleaux

Rouleaux consiste no empilhamento ou grumos das hemácias. A presença de "hemácias em rouleaux" está relacionada ao aumento da concentração sanguínea das proteínas, como fibrinogênio e globulina (HENDRIX, 2002). Esta alteração pode, portanto, estar relacionada a uma possível alteração hepática, pois o fibrinogênio é um produto hepático, ou, ainda a um possível processo inflamatório (HENDRIX, 2002). (Figura 01).

 2.1.2 Aglutinação

Aglutinação refere-se a presença de grumos (ou agregados) eritrocitários. Diferentemente de hemácias rouleaux, é originada pela ação de anticorpos que revestem as hemácias, promovendo a adesão entre estas células.

Esta alteração pode ser um importante indicativo de doenças imunomediadas. Ela resulta na diminuição da sobrevida eritroide, como observado nas anemias hemolíticas imunomediadas, uma das principais causas de anemia em cães, é encontrada em menor freqüência em gatos (Figura 02). (FIGHERA, 2007).

2.2 Volume

2.2.1     Macrócito

O macrócito consiste em um glóbulo vermelho com diâmetro aumentado, detectado com o aumento do volume corpuscular médio, o VCM., pode ser normocrômico ou hipocrômico.. A anemia macrocítica hipocrômica ocorre devido a uma intensa regeneração do tecido hematopoiético; essa regeneração, por sua vez, é conseqüência de grande perda de hemácias (hemólises). Já a anemia macrocítica normocrômica está presente na deficiência do ácido fólico, cianocobalamina (B12) e niacina (SINK, 2006). (Figura 03).

2.2.2     Micrócitos

Micrócitos são glóbulos vermelhos com redução no diâmetro, geralmente hipocrômicos, sendo observado a redução do VCM. Podem ser um indicativo da desnutrição ou de alterações na absorção dos nutrientes. Caracterizam-se pela deficiência de hemoglobina, como observado na deficiência de ferro. Aparecem na anemia constitucional, anemias hipocrômicas primárias e secundárias, e na policitemia absoluta primária. (THRALL, 2007)

2.2.3 Anisocitose

Anisociose corresponde à variação no tamanho dos glóbulos vermelhos. É a presença de microcitose e macrocitose ao mesmo tempo. Normalmente, a medula óssea (tecido hematopoiético) produz hemácias com o mesmo tamanho. Uma discreta anisocitose pode ser considerada fisiológica. Entretanto, em função de grande solicitação medular, quanto maior a anemia, maior será a anisocitose (VALLADA, 1999)

2.3 Coloração

2.3.1 Hipocromasia

Hipocromasia, é a presença de eritrócitos contendo baixa concentração de hemoglobina, visualizados ao esfregaço, como hemácias "claras" A hipocromia quando identificada no índice denominado hemoglobina globular média (HCH), é um valor absoluto que informa sobre a "quantidade" de hemoglobina no interior das hemácias; a redução da intensidade é causada pela redução da hemoglobina (HENDRIX, 2002; FIGHEIRA, 2007). Quando causada pela redução da hemoglobina, geralmente a hemácia apresenta-se também microcítica2.3.2     Policromasia

Policromasia é a presença de eritrócitos jovens, com RNA citoplasmático e organelas remanescentes, torna-se azulados com a utilização de corantes usuais em laboratório de patologia, como os corantes rápidos. A presença de policromasia é um indicativo de boa resposta medular perante uma anemia (VIDOTTOL, 2004)

2.4 Forma

2.4.1 Acantócitos

Acantócitos são eritrócitos com projeções irregulares em sua membrana, encontrados em animais com doenças hepáticas severas, esplenectomizados, ou com deficiência de vitamina E, como também nos casos de hipotireoidismo e alterações nos valores de colesterol e triglicérides (HENDRIX, 2002) 

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