RESENHA DO CAPÍTULO "PEDAGOGIA DO MOVIMENTO NA ESCOLA DE PRIMEIRA INFÂNCIA" DO LIVRO "EDUCAÇÃO DE CORPO INTEIRO" DE JOÃO BATISTA FREIRE.
Moura, Renita

INTRODUÇÃO
Freire (1994) ao abordar o tema "Movimento" na escola de primeira infância, descreve os obstáculos enfrentados no cotidiano escolar no que concerne a professores, alunos, métodos e espaço físico. Menciona a importância da interação criança e meio (externo). Fala da padronização dos movimentos e ressalta a falta de criatividade dos professores de Educação Física. Analisa a ignorância por parte das autoridades quanto ao modelo de Educação Infantil adotado. Faz uma reflexão quanto ao exagero da imobilidade na pré-escola.

UM NOME INADEQUADO
Para Freire (1994) o objetivo da pré-escola é a preparação da criança para o futuro. Essa preparação não proporciona o prazer de ser e sim do que será, pois na infância, como em qualquer outra fase da vida, vale a pena viver como se cada dia fosse o último de todos.
Trata da questão relacionada aos problemas sociais que afetam diretamente no desenvolvimento das crianças quando essas são desvinculadas de suas famílias.
Alguns pais, por considerarem necessário a formação dos filhos, os encaminham à pré-escola na intenção de que eles sejam alfabetizados e assim, possam ser preparados para "o futuro" assegurando uma vida de "sucesso".
Para ele, a condição em que a educação pré-escolar é tratada, não possibilita nenhuma valorização em si mesma, bem como àqueles de que dela dependem.

ATIVIDADE CORPORAL E BRINQUEDO
O autor fala das características da primeira infância e das dificuldades que a criança enfrenta ao chegar na escola, na relação com a atividade física e o brinquedo e critica a posição de certas pré-escolas que dizem seguir modelos piagetianos, porém se detém em critérios alfabetizadores, deixando de lado atividades que envolvam a ação corporal.
Apresenta as falhas da escola em relação ao aprendizado, e conclui que a criança aprende cada vez mais através dos meios sociais.

O DESENVOLVIMENTO MOTOR
Freire (1994) aborda neste capítulo o desenvolvimento motor do ser humano, intra- uterino e pós-uterino.
Com base neste tema, ele trata da desconsideração do movimento psicomotor e biológico, idealizado e exposto por alguns autores ao padronizarem os exercícios nas aulas de Educação Física.
Defende a idéia de que tais movimentos não podem ser padronizados, pois são fundamentais para a construção motora e que para esse processo acontecer, depende de suas relações com o ambiente. Seu argumento central é baseado em alguns princípios teóricos os quais defendem o ser humano como um ser indissociável, ou seja, é um conjunto que se completa nas realizações das atividades motoras sociais e cognitivas e não na padronização dos movimentos.
Fundamenta suas idéias em Manoel Sérgio, Piaget, Wallon e Vygotsky, por considerarem que parte do que o homem precisa para viver depende da sua interação e mediação com o meio.

A FORMAÇÃO DO SÍMBOLO
Segundo o autor, a capacidade de simbolizar é o traço incondicional que difere o homem dos demais animais.
Afirma que a imaginação e a fantasia são fundamentais na infância de qualquer criança e que a mesma deve ser estimulada. O maior incentivo para tal desenvolvimento consiste no amor do adulto demonstrado pela mesma e na liberdade oferecida para que ela possa brincar e viver esta fase da vida em toda a sua dimensão.
Acredita que a escola deve incorporar o lúdico, como forma de estimular o aprendizado e contemplar o presente da criança.

BRINQUEDO SIMBÓLICO
O autor traz em seu texto o brinquedo simbólico como instrumento de desenvolvimento e de educação para a criança, sendo este, um meio de desenvolver várias habilidades.
Apesar de muitos educadores não considerarem interessante essa prática pedagógica, Freire (1994) ressalta sua importância pelo fato de estimular a fantasia existente nesta fase.
A escola não deveria trabalhar com seus alunos no sentido de treiná-los para serem adultos, mais sim, reforçar as estruturas corporais e intelectuais de que dispõe.

O MATERIAL PEDAGÓGICO
Ao referir-se às grandes dificuldades apresentadas nas escolas quanto à falta de material pedagógico variado, o autor sugere a confecção dos mesmos através de material reciclado. Aquilo que não tem mais serventia para o adulto, podem ganhar vida e virar brinquedo nas mãos de uma criança.
Materiais como pneus, copos descartáveis, caixas de papelão, bastão de madeira, bola de meia, garrafas de plástico, sacos de estopa, tampas de garrafas e outros podem contribuir no desenvolvimento da afetividade e motricidade, na qual a própria escola terá mais facilidade para alcançar seus objetivos, que é desenvolver o raciocínio lógico da criança.
Aspectos como professores e o âmbito escolar são sub-temas que reforçam seus argumentos.

A CRIATIVIDADE DO PROFESSOR
Segundo o autor, a falta de criatividade e o "apego" dos professores aos manuais e às rotinas, os tornam escravos dos livros impossibilitando um trabalho de qualidade e impedindo que os mesmos realizem atividades atrativas e prazerosas em sala de aula.
Para ele, a criatividade tão necessária na prática pedagógica não é ensinada nas escolas de formação profissionalizante, as quais deveriam ofertar aos alunos, aulas práticas de ludicidade, onde os futuros educadores pudessem ter contato com brinquedos, criá-los e recriá-los, exercitando sua criatividade para assim, formar profissionais capazes de se adequar às realidades do contexto social.

O JOGO DE CONSTRUÇÃO
O autor problematiza o tema na transição da primeira infância para a segunda, ao dizer que a primeira está caracterizada pelo simbolismo lúdico e a segunda pelo jogo de construção.
No final da primeira infância as descrições verbais da criança passam a reproduzir os objetos utilizados por elas, procurando reproduzir com materiais de forma mais fiel possível, as coisas imaginadas, o que caracteriza o jogo de construção. Através deste jogo é possível perceber a inserção da criança no mundo social.
O autor fundamenta-se em idéias de outros autores como Anne N. P. Clermont e Jean Piaget, ao enfatizarem o desenvolvimento individual, o progresso do pensamento e das noções operatórias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos perceber no capítulo resenhado deste livro, nas reflexões feitas por Freire (1994) sobre o tema "Pedagogia do Movimento", a forma veemente em que o autor descreve as necessidades físico-motoras na criança da pré- escola.
Encontramos os fundamentos em suas propostas quando analisamos as teorias de Piaget, Wallon e Vygotski, os quais apesar de terem opiniões diferentes quanto ao início do lúdico, são unânimes em afirmar a importância do mesmo para o desenvolvimento psicomotor infantil.
Em seu texto, o autor descreve de forma detalhada as necessidades físicas da criança e confronta-as com a realidade sócio-escolar. Tais descrições fazem sentido na medida em que analisamos a prática escolar e comprovamos as deficiências tanto na preparação do corpo docente quanto ao espaço físico oferecido aos mesmos para realizarem suas atividades.
A visão ampliada de Freire (1994) bem como suas expectativas para a pré-escola, podem ser percebidas na forma entusiasmada em que ele às descreve, na maneira como apresenta os conteúdos e métodos que julga ser importantes para amenizar os problemas de imobilidade vivida pelas crianças desta idade.
Embora o contexto da Educação Infantil esteja longe do idealizado pelo autor, vale a pena analisar suas propostas, pois acreditamos serem desafiadoras e merecedoras de reflexões por parte dos docentes. Apesar das dificuldades enfrentadas no contexto escolar, elas contribuem no sentido de que tais problemas podem ser superados, desde que haja um envolvimento de todos em prol de uma nova prática educativa.
Este texto é indicado para professores de educação Infantil, alunos do curso de Pedagogia e todos aqueles que, de alguma forma, estão envolvidos no processo educacional.