Em busca de desenvolvimento e do maior lucro possível, a humanidade extraiu o máximo dos recursos disponíveis. Uma vez que os efeitos deste modelo de produção e a escassez dos recursos para este se manter tornaram-se evidentes, a busca por alternativas de desenvolvimento e produção passou a ser o foco de pesquisas e políticas governamentais. Além disso, a FAO em de 2008 já solicitava a duplicação da produção de alimentos para 2030. Estes dois fatores exigem uma adaptação do processo produtivo, o qual encontra como grandes desafios aumentar a produção e diminuir o comprometimento dos recursos não-renováveis necessários para esta produção.

O Brasil é a última fronteira agropecuária do mundo que reúne território, água e tecnologia (Pineda, 2002) para abastecer esta demanda. No que se refere ao agronegócio, o país tem construído um sistema produtivo eficiente e competitivo (EMBRAPA, 2008), mas ainda procura equilíbrio econômico e socioambiental para manter sua competitividade.

O termo “Desenvolvimento Sustentável” só foi proposto 1987, quando a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, lançou o relatório Nosso Futuro Comum. Este foi definido para “atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”. Desde então, procuram-se alternativas sustentáveis para satisfazer as demandas da sociedade. No início do século XXI, conglomerados privados ingressaram neste cenário e passou-se a considerar a eficiência e a competitividade como fatores de sustentabilidade econômica neste processo de desenvolvimento.

Nos últimos quinze anos, a produção pecuária avançou especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte, com crescimento de, aproximadamente, 40% do efetivo bovino. Esta expansão ocorreu em áreas de complexidade legal e ambiental, como a Amazônia Legal, onde o crescimento do rebanho foi de 178% (CNA; Veronez, 2009), comprometendo esta nova preocupação com a sustentabilidade.

O crescimento sobre uma área de preocupação mundial aumentou as pressões sobre a pecuária de corte, principalmente após a publicação do Livestock’s long shadow. Nele, a bovinocultura é considerada uma das principais responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa e pela degradação ambiental, envolvendo também frigoríficos e redes de varejo. Contudo, com o aumento da demanda por produtos pecuários, o papel da pecuária foi revisto no relatório Review of evidence on drylands pastoral systems and climate change, em que se concluiu que as boas práticas de manejo podem tornar a pecuária uma das atividades mais mitigadoras dos gases do efeito estufa (Neely, 2009).

A pecuária sustentável surge como iniciativa dos agentes da cadeia produtiva da carne bovina como resposta a estas novas exigências. Principalmente porque, independente da comprovação das acusações contra a pecuária de corte, a sustentabilidade já está inserida no perfil do novo consumidor, que vai exigir cada vez mais produtos com esta comprovação. Desta maneira, diversas empresas já vêm estruturando seu planejamento para se adaptar a essas novas demandas, transformando-as em oportunidade de mercado.

Na pecuária de corte, diversos pesquisadores indicam técnicas de produção que aumentem a produtividade para o melhor aproveitamento das áreas já utilizadas sem comprometer outras áreas de preservação. Além disso, o uso de tecnologias que aumentem a taxa de desfrute, tornando os sistemas mais eficientes, diminui o tempo que o animal permanece no pasto, utilizando menos recursos e podendo até diminuir a área utilizada (Perez, 2009). Dentre essas práticas, a integração com outros sistemas produtivos e o aumento da eficiência alimentar se destacam.

Este tipo de pecuária na Europa (Van Calker et. al., 2005) indica proteção e melhoria do ambiente natural, bem-estar animal e condições das comunidades locais, sendo ao mesmo tempo produtiva e eficiente. Nos Estados Unidos, vários programas sugerem uma produção natural, livre de antibióticos, em pastagens e sem promotores de crescimento ou esteróides, alimentados sem ingredientes de origem animal ou ingredientes artificiais. Já no Brasil, a experiência mais avançada é a da pecuária orgânica, que já possui selo de certificação, na qual os animais são tratados apenas a pasto e com produtos homeopáticos e fitoterápicos (Domingos, 2005).

Os conceitos de carne natural, orgânica e a produção sustentável ainda não estão bem estabelecidos e harmonizados entre os países. Torna-se necessário compreender as percepções dos consumidores, produtores e do varejo para que a cadeia produtiva possa se organizar e atender a essa nova demanda. Além disso, seria necessário o esclarecimento do real impacto da pecuária sobre o ambiente, para que, a partir de dessa caracterização, possam ser propostos novos sistemas de produção.

Nesse contexto, tornam-se importantes instrumentos que analisem a contribuição de uma tecnologia para a sustentabilidade e avaliem seus impactos ambientais (Figueiredo et al., 2007). No entanto, para que essa evolução ser bem-sucedida é necessário que as ferramentas gerenciais sejam apropriadas. Após estes passos, será preciso a determinação de indicadores claros e aplicáveis ao sistema e produção de carnes para avaliar sustentabilidade, o que seria fundamental para a certificação e consequente comprovação de um sistema produtivo realmente sustentável.

Referências Bibliográficas

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DOMINGOS, I. T. Cenário atual da pecuária bovina de corte orgânica certificada na Bacia do Alto Paraguai (BAP) – Brasil. Brasília: WWF-Brasil, vol. 11, 2005.

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