PRIMEIROS PASSOS PROTESTANTES NO PIAUÍ

Dr. Julio Lustosa, piauiense e juiz de direito de Itapecuru-Mirim, do Estado do Maranhão, na década de 80 do século XIX, já relata sobre a necessidade do estudo do protestantismo no Piauí:
"O batista no Piauí - É talvez um tema de curiosidade fazer uma breve pesquisa acerca do protestantismo no Piauí. A história de Origem e desenvolvimento da religião evangélica em nosso Estado ainda está um tanto confusa, quase desconhecida, sem que tenhamos a pretensão de apresentar um trabalho completo, mas desejando para a nossa pátria a plena liberdade de pensamento, de consciência e cultos, como se pratica nos países democráticos, também queremos e podemos contribuir para que seja esclarecida esta parte da História. Não compreendemos como alguém possa privar-nos do nosso livre exame de acordo com os ditames de nossa consciência. É um fato que honra a humanidade e a civilização vir o padre católico romano celebrar sua missa em latim ao lado do ministro evangélico (qualquer que seja a denominação) todos prestando ofícios piedosos aos da sua fé, por que, se são diversas as línguas e diversos os cultos, o pensamento (adorar a Deus) é o mesmo, no fundo."

O protestantismo surge em Teresina já no segundo semestre de 1887, com o primeiro ministro protestante norte-americano Dr. George W. Butler, vindo de Pernambuco, médico e pastor presbiteriano, que ao chegar inicia sua evangelização em diversas casas particulares e com grande contentamento dos seus ouvintes, sempre seletos e numerosos, inclusive muitas famílias distintas, mas por outro lado já encontra um obstáculo por parte do Vigário da Igreja do Amparo, pois na hora marcada para seus sermões evangélicos, o vigário mandava repicar os sinos, chamando as ovelhas ao recinto de aprisco, mas em vão, pois a influência a pregação protestante crescia massivamente.
Quando George W. Butler partiu de Teresina para São Luís, foi espalhado que ele tinha saído fugido e escondido do povo teresinense, o que deu lugar a um protesto, que foi transmitido em um jornal de Teresina:
"Carta ao Dr. George W. Butler ? Em abono da verdade, declaramos ser falso o telegrama que daqui alguém passou para a capital do Maranhão, noticiando que V. S. saiu de Teresina as escondidas; Os abaixo assinados assistiram ao último sermão que V.S. pregou perante grande concurso de pessoas religiosas, ao terminar o seu discurso o ilustre DR. Butler despediu-se cavalheirosamente de todos e partiu na mesma noite acompanhado por alguns amigos e adeptos. Esta é a verdade que restabelecemos em honra da hospitalidade do povo teresinense e em respeito as leis do país. Somos com a maior estima e consideração de V.S. atentos criados. Assinados: Manoel Ildefonso de Souza Lima, juiz de direito; Dr. Simplicio de Souza Mendes, empregado público; Salomão Bawman, negociante; Hygino Cunha, juiz de municipal; Manoel Raymundo da Paz, negociante;...."
Nos primeiros anos de Republica outros protestantes vieram para Teresina, vendendo Bíblias, mas não permaneceram por muito tempo, nem despertaram grande atenção; Um deles, Francisco Philadelpho de Souza Pontes, brasileiro, filiado na religião presbiteriana, vindo de Pernambuco, fixou residência em Teresina, fundou uma Igreja e permaneceu alguns anos; Sofreu alguns insultos por parte de alguns católicos fanáticos, mas a polícia interveio e garantiu-lhe o exercício de seu culto.
Em 1905 e 1908, Teresina foi visitada pelo missionário William M. Thompson, que pregou diversas vezes na casa onde morava Souza Pontes, levantando o espírito dos crentes e fazendo prosélitos; também esteve em Teresina poucos anos depois o norte-americano Dr. J.B. Terry, que depois seguiu para o sul do Piauí.

Em todo o estado neste período, segundo Hygino Cunha, tem trabalhado somente duas denominações evangélicas, a presbiteriana e a batista:
"Aquela possui uma congregação ou Igreja nesta capital, com 47 professos, a qual é visitada mensalmente pelo pastor residente em Caxias, da mesma denominação ? Octávio Valois de Castro. A segunda possui, além de uma antiga missão no sul do Estado, duas Igrejas em Jerumenha, uma em Floriano, Amarante e Belém, e outra em Teresina que conta com 65 membros e tem como pregador o Evangelista Teófilo Dantas. Além dos 112 protestantes aqui residentes e dos do extremo sul e de Belém, não nos foi possível obter dados mais precisos sobre as outras Igrejas do Estado"

Em 1921, Sebastião Francisco de Oliveira inicia sua propaganda evangélica em Belém, situada a margem do Parnaíba, no município de São Pedro; Seu primeiro adepto foi seu irmão José Francisco de Oliveira, a povoação prosperou na evangelização, tendo vindo morar na localidade diversas pessoas já protestantes; Em 1923, o pastor Jonas Barreira de Macedo oriundo de Corrente, no sul do Estado do Piauí, reuniu diversas pessoas e fundou uma congregação, Belém movimentou-se para ouvir a palavra de Deus pela sua pregação; Com os irmãos já professos e mais quatro conversos, por ele batizado, ergueram uma Igreja com 12 membros e esta passou a ser dirigida pelo mesmo Sebastião de Oliveira, com o titulo de moderador ou presidente do trabalho, criaram uma escola dominical e fizeram propagandas evangélicas em três pontos do povoado.
Duas correntes Protestantes fizeram ponto de junção em Belém, a Batista partindo de Teresina e a outra de Corrente, projetando o futuro protestante piauiense.
O protestantismo em Teresina foi se desenvolvendo lentamente, mantendo duas duas escolas de ensino bíblico, que funcionava aos domingos, em cada Igreja; Nos outros municípios a evangelização sofreu perturbações e ameaças por parte dos vigários, em Jerumenha, Amarante e mais especialmente em União a Campo Maior, sendo nesta capital os Srs. José Lopes de Caldas e Antônio de Mello os seus principais representantes protestantes.
Data de 1891 a entrada no sul do Piauí, digamos melhor no Estado, da religião evangélica ou protestante, como é geralmente conhecida; O piauiense Joaquim Nogueira Paranaguá, então deputado federal, remeteu aos parentes e amigos do município de Corrente algumas bíblias, conferências e folhetos, e seu irmão coronel Benjamim Nogueira que em freqüentes viagens a Bahia, se relacionou com os missionários batistas Z. Taylor, foram os primeiros piauienses que se puseram a frente do movimento protestante, lançado a semente no sul do Piauí; E caro lhes custou, o padre católico romano, que não primava pelos bons exemplos e era assaz intolerante, zangou-se e quis impedir a entrada do missionário Dr. E. A. Jackson, organizador da Igreja Batista de Corrente que foi a primeira Igreja Batista fundada no Piauí. Depois de algumas ameaças, promovidas pelo referido padre católico, sendo ele melhor aconselhado e compreendendo seu erro, usou dos estratagemas seguidos pela "Internacional Negra"
No sul do Estado ninguém discutia mais que os padres são intolerantes, ambiciosos e intrigantes para dizer em voz alta, que eles são uns santos varões; Já não dizem baixinho que a história de Milagres do coração de Jesus e das aparições de Nossa Senhora não passam de lorotas, de histórias fictícias; O povo compreendia que o padre é refratário ao progresso e que o seu principal fito é o dinheiro.
Semeada a evangelização no sul do Piauí, chegou depois a Teresina o missionário Batista E. A. Nelson, fazendo conferências ao ar livre, que também visitou Amarante e Floriano; Enfim, foi em 1913 foi que começou o trabalho permanente dos batistas em Teresina, Amarante, Floriano, Jerumenha e Solidão. Em 1918, os pastores Severino Batista em Amarante e Floriano e A. Brandão em Jerumenha e Solidão foram encarregados do serviço evangélico, desenvolvendo-o. A Igreja de Corrente esteve isolada alguns anos, sem pastor, sendo visitada raras vezes pelo missionário C. J. Jackson, de Santa Rita, na Bahia, até que em 1915 teve o seu primeiro pastor, Sr. Augusto Fernandes, que também assumiu a direção da escola. Em 1917, uma missão batista do norte mandou uma junta de missionários da qual fazia parte o Dr. Mairhead, presidente do colégio e seminário batista de Pernambuco, viajar pela zona do rio São Francisco e sul do Piauí, afim de estudar o assunto e escolher o local adequado para o centro do trabalho; Ligando esta missão a cidade de Corrente, foi este o ponto escolhido por causa do seu clima ameno, de sua posição geográfica (próxima dos estados da Bahia e Maranhão) e principalmente da influência já predominante da religião batista. Estabelecido o plano e escolhido o centro, a Igreja de Corrente auxiliou em 5:00$000 o empreendimento, dando mais o usufruto de uma fazenda de gado composta de 200 cabeças além de outros donativos e de alguns terrenos cedidos aos particulares; Depois afim de bem organizar o trabalho, para lá seguiu outra comissão de missionário sob a direção do Dr. J. B. Terry, da qual fazem parte os Drs. A. E. Haye (Agrônomo) e Doorming (Médico) com as suas respectivas famílias, fundaram o Instituto Industrial Batista. Apesar da perseguição de alguns padres católicos, o evangelho conseguiu se estabelecer no município de Corrente, penetrando em Parnaguá, Gilbués e Gurgéia, Philomena e Alto Parnaíba, espalhando batistas em todo o sul do estado. Os evangelistas protestantes não se limitaram às práticas religiosas, pois, fundaram colégios para a instrução primária e secundária, fizeram campos de cultura especiais, tendo professores para ensinarem agricultura prática, abriram escolas próprias para lecionarem Artes e Ofícios; Grande foi o êxito alcançado, não só pelo lado prático, mas também pelo lado religioso, principal fim almejado.
Organizado a Igreja, era preciso combater o analfabetismo, mesmo porque o protestante, ao contrário do católico romano, precisa saber ler para examinar as escrituras, e assim, para melhor desenvolvimento do trabalho evangélico. O coronel Benjamim Nogueira fundou a primeira Escola Batista do Piauí, obtendo uma professora norte-americana, Mis Julieta, que a organizou. Tempos depois, foi Mis Julieta substituida pela professora Sandra Santos , e por último, depois do ser a escola dirigida por outros professores, já tendo a Igreja o seu primeiro pastor, o ministro e evangelico Augusto Fernandes, pasou este a dirigir a escola. O Evangelho, assim pregado, penetrou em todos os lares , e devido a sua luz divina, os correntenses foram abandonando as supertições e outras coisas, como os vicios de tabaco e do alcool, predominando hoje o elemento batista ali, de mesmo modo que em outros municipios do sul do Estado.