UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: PRÁTICA DE PESQUISA III

PROFESSOR: FRANCISCO FRANCILEI BEZERRA DE ARAÚJO

Os Períodos históricos da língua portuguesa ¹

Jamille de Abreu Vasconcelos ²

Susana Ramos de Vasconcelos Batista

RESUMO: O presente estudo pretende classificar os períodos históricos na qual a língua portuguesa passou e os processos que a aperfeiçoou e consequentemente a levou ao seu estado atual. Investigamos a língua latina que é o alicerce da língua portuguesa, assim como outros fatores que foram primordiais para a sua evolução. A pesquisa bibliográfica foi fundamentada pelos seguintes autores: BUENO (1955), COUTINHO (1976), GLADESTONE (1981), MOISES (1999), dentre outros autores.

PALAVRAS-CHAVE: Língua portuguesa. Latim. Galego português.

INTRODUÇÃO

Este trabalho levantará os períodos, os processos que a língua portuguesa passou e as influências recebidas de outras línguas até que ela chegue no estado em que nós a conhecemos e estudamos em nossas escolas. Outro ponto levantado na pesquisa é a de fundação de Portugal, país que difundiu a língua portuguesa por todo mundo, no período das grandes navegações.

A importância desse estudo baseia-se no fato de que para possamos compreender a fundo uma língua, devemos também conhecer sua origem, formação e fases de desenvolvimento da sua estrutura morfológica, sintática e semântica.

________________

¹ Artigo elaborado como requisito para conclusão da disciplina Prática de Pesquisa III do curso de Letras habilitação em língua portuguesa.

² Acadêmicas do curso de Letras da UVA, regularmente matriculadas na disciplina citada em epígrafe no semestre letivo 2011.1.

Nesse contexto, o presente artigo vem a colaborar com os estudantes da língua portuguesa e com estudantes de um modo geral, a melhor compreender as origens e as evoluções de nossa língua materna.

1 PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA DE UMA LÍNGUA:

1.1 HISTÓRIA EXTERNA: EVOLUÇÃO DA CULTURA EM SEUS REFLEXOS LINGUÍSTICOS.

O português é uma língua derivada do latim, que era falado antigamente na região do Lácio, onde fica a cidade de Roma.

Embora a influência do latim tenha sido decisiva para a formação do português, outros fatores interferiram no seu processo de desenvolvimento. Com relação a isto diz Cândido de Oliveira:

“Sua formação acompanha o destino da terra: todos os povos invadiram a Península, deixaram marcas ainda hoje correntes na língua. Temos a contribuição dos Celtas, Fenícios, Gregos, Cartagineses. Quando apareceram os Bárbaros, o povo da Península não abandona a língua doada pelos Romanos; feita a conquista política, não lograram os invasores imporem o seu idioma, e aceitaram o falado na região.” (OLIVEIRA, pág.176).

A invasão dos povos bárbaros no século V desmembrou o império romano, destruindo a organização burocrática e isolando as diversas regiões da influência de Roma, foi importante para intensificar a dialetação do latim vulgar (uma língua em constante evolução, falada por soldados e pessoas que provinham de vários lugares, o que o tornava diferente da língua falada na cidade de Roma.), levados pelos romanos. Dentre os povos bárbaros foram os vândalos, suevos e visigodos que mais influenciaram a vida do povo da Península Ibérica, onde mais tarde surgiu Portugal. 

Após os bárbaros, vieram os árabes que quase não alterou a situação da península, fornecendo apenas um grande número de palavras no vocabulário, não havendo modificações na estrutura da língua, que continuou latinizada. 

Mais tarde, com a reconquista paulatina da região e a conseqüente expulsão dos árabes, foram-se formando reinos e, tempos depois se tornaram independentes, vindo a ser Portugal.

[...] em 1250 Afonso III concluiu a conquista do Algarve e firmou os limites de Portugal. A língua era [...] o galego-português. Com a independência a feição sul-minhota foi estendendo-se e absorvendo os falares moçarábicos. [...], estabeleceu-se um português comum, que acabou por divergir levemente do galego. Enquanto este por assim dizer se conservou, o português se desenvolveu e se alterou, adaptando-se e enriquecendo-se na sua expansão, inclusive ultramarina.” (GLADSTONE p.74)

Com os descobrimentos marítimos e o intenso comércio dos portugueses, a língua portuguesa foi levada aos mais distantes lugares do mundo.

1.2 HISTÓRIA INTERNA: EVOLUÇÃO FONÉTICA, MORFOLÓGICA, SINTAXE E SEMÂNTICA

Como sabemos o português falado hoje proveio do latim. Do ponto de vista morfossintático, o latim era, ao contrário das línguas românicas, uma língua sintética, na qual as diferentes categorias semânticas e sintáticas se exprimiam preferencialmente pela flexão, nominal e verbal. As informações de gênero, número, pessoa, tempo, modo, aspecto, as categorias de sujeito, objeto, complemento eram traduzidas pelas terminações das formas verbais e dos nomes, adjetivos e pronomes. Em virtude de evoluções fonéticas que afetaram consoantes finais como o /-m/ e o /-t/, e em virtude de evoluções fonológicas que modificaram a pertinência da quantidade vocálica enquanto traço distintivo, toda a arquitetura sintética da morfossintaxe latina deu lugar a aspectos analíticos que afloram, sobretudo ao nível da ordem de palavras e no enriquecimento de classes gramaticais como a das preposições. No português, manteve-se, contudo majoritariamente sintética (flexional, portanto) a morfologia verbal, bem como o subsistema dos pronomes pessoais, o qual pode ser considerado bastante arcaizante.

Com o passar do tempo o latim foi se modificando, primeiro houve algumas mudanças que veio atuar nas categorias nominais e verbais portuguesas entre a Idade Média a época atual, á essa mudança dá-se o nome de analogia. A analogia é um tipo de mudança universal (comum a todas as línguas do mundo) que não tem motivação fonética nem fonológica, tem sim uma motivação gramatical. 

Quanto ao gênero, as formas nominais portuguesas podem ser femininas ou masculinas. Assim era também em latim vulgar, mas essa língua evoluiu de outra que tinha também o gênero neutro. As formas neutras dos substantivos e adjetivos latinos foram absorvidas quer pelas masculinas quer pelas femininas, e o português não tem hoje expressão gramatical para a categoria semântica neutra. Quanto ao caso, as formas nominais latinas também caminharam de um estado de flexão casual, para o seu quase total desaparecimento em português. O fato original desta mudança morfológica foi, como está dito acima, de natureza fonética e fonológica. As terminações de muitos casos e de diferentes gêneros tornaram-se idênticas pela queda de consoantes finais (apócope) e a prosódia nivelou, pelo desaparecimento do acento melódico (os radicais de muitas formas anteriormente distintas em termos de quantidade vocálica.

2 PERÍODOS HISTÓRICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA

2.1 PERÍODO PRÉ-HISTÓRICO

Este é um período bastante remoto da formação da língua, pois não se pode falar ainda em língua portuguesa, pois o seu surgimento se deu na Península Ibérica, localização geográfica que hoje se encontra Portugal.

Tem inicio com a origem da língua e se estende até o final do século IX. O latim-lusitânico é o pilar do português pré-histórico e é entre o século V e o século IX que datam algumas inscrições cristã-latinas escritas nesse dialeto. Porém esses documentos não devem ser considerados portugueses, pois, os mesmos, possuem muitos elementos encontrados em outros dialetos falados na Península Ibérica.

Respingando através desse campo documental não muito fértil, [...] não há documentação valedoura na primeiro período. [...]. Além desta escassez, os elementos colhidos não podem, a rigor, ser classificados como portugueses. Serão elementos hispânicos, encontráveis nos diversos dialetos então em formação na Península. (BUENO p. 19)

Nessa perspectiva, além da pequena quantidade de documentos que evidenciem e elucidem esse período, dificultando o seu conhecimento e estudo, existem apenas vestígios de dialetos falados na Península Ibérica e não de uma língua distinta. Mas sabe-se que a partir daí surgiu o português, e que o mesmo resultou essencialmente de uma evolução oriunda do latim vulgar, trazido pelos colonizadores romanos no século III , e também por influências menores de outros idiomas. Alguns marcos históricos também são muito importantes, tais como: as invasões bárbaras no século V e a invasão arabe no século VIII, pois trouxeram algumas consequências linguisticas.

2.2 PERÍODO PROTO-HISTÓRICO

Estende-se do século IX ao século XII. Nesta fase encontram-se documentos redigidos em Latim Bárbaro (modalidade do latim usado apenas em documentos e por isso também chamado de latim dos tabeliães da Idade Média), e neles já se encontram registros de alguns termos portugueses, em textos escritos pelos tabeliões.

A proto-histórica estende-se do século IX ao XII. Os textos, que então aparecem, são todos redigidos em latim bárbaro. Neles, porém, de quando em quando, se encontram palavras portuguesas, o que prova à evidência que o dialeto galaico-português já existia nesse tempo. (COUTINHO p, 56)

Nesse contexto, esses documentos, ainda que de forma indireta, atestam a existência de palavras e expressões do dialeto galego-português. É bastante provável que o galego-português já fosse falado e estivesse em processo da produção escrita, sendo que o mesmo já estava a se misturar com o latim bárbaro.

2.3 PERÍODO HISTÓRICO

No período histórico é o período onde aparecem textos, documentos redigidos em galego-português e português. O período histórico divide-se em duas fases: a arcaica e a moderna. A fase arcaica por sua vez, divide-se em duas fases: a fase trovadoresca e a fase da prosa histórica.

A fase trovadoresca vai do século XII ao ano de 1385. Inicia-se com o término da batalha de Ouriques, em 1139, onde Afonso Henriques passou a usar o título de rei de Portugal. Em 1179 o papa Alexandre III então reconheceu o título, estaria então fundada Portugal. Nessa fase se falava o galego-português. É marcada pelas cantigas trovadorescas, que eram poesias cantadas, que estão registradas nos cancioneiros. 

Já a fase da prosa histórica, se estendeu do ano de 1335 ao século XVI. Nessa fase já existia o português, deixou-se de lado as produções poéticas líricas e passou-se a aperfeiçoar a prosa. O número de textos dessa fase é bastante grande, tendo em vista que durante esse período surgiu a imprensa.

Até os fins do século XV, antes do aparecimento da Imprensa, as obras literárias corriam manuscritas. Nesse bendito afã de disseminar a cultura, traduzindo e multiplicando cópias, os religiosos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra […] afadigaram-se em traduzir obras misticas. (SILVA NETO p, 406).

Nesse contexto, a prosa se espalhou, principalmente pela propagação de histórias simples e ingênuas capazes de comover os homens da Idade Média, além dos livros que continham todos os registros genealógicos dos nobres, eram os chamados livros de linhagem.

A fase moderna vai do século XVI até os dias atuais. Na fase moderna o marco que a separa da fase arcaica é a publicação da obra de Luís de Camões, “Os Lusíadas”, escrita em 1572. Essa obra conta os prodígios das grandes navegações e da expansão das terras portuguesas.

Os Lusíadas representam a faceta épica da poesia camoniana. [...]. Considerada o “Poema da Raça”, “Bíblia da Nacionalidade”, a epopéia teve o condão de conduzir feliz retrato da visão do mundo própria dos quinhentistas portugueses, ao mesmo tempo, sincera e comovida reportagem do momento em que Portugal atingia o ápice de sua progressão histórica (MOISÉS p. 57).

Dessa forma “Os Lusíadas”, trazia a identidade, a história e as conquistas do povo português, portanto, por isso foi utilizada como padrão para a língua portuguesa, servindo para normatizá-la.

É neste mesmo século que surgem as primeiras tentativas de gramaticalização da língua. Fernão de Oliveira escreve, em 1536, a primeira Gramática da língua portuguesa, intitulada como Grammatica da Lingoagem Portugueza. Em 1540, João de Barros escreve, com o mesmo título, a segunda gramática da língua portuguesa. 

Nos séculos XIX e XX o vocabulário português recebe novas contribuições: surgem termos de origem greco-latina para designar os avanços tecnológicos da época como automóvel e televisão e termos técnicos em inglês em ramos como as ciências médicas e a informática, por exemplo, check-up e software. O português moderno continua a evoluir e a incorporar palavras e expressões de outras línguas tais como o inglês, o francês dentre outras.

CONCLUSÃO

A língua portuguesa é uma língua que está em constante evolução. Teve como base a língua latina, não estando isenta de outras influências. O galegoportuguês foi como um estágio de transição para a língua que utilizamos hoje, porém a mesma sofre modificações freqüentes nos vários campos. Neste contexto corroboramos que todos os períodos possuem sua importância, contudo, o período histórico é sem dúvida o mais importante, pois nele é que encontramos documentos escritos em português “original”. É no período histórico também, que encontramos a primeira tentativa de normatização da língua portuguesa e a nossa primeira gramática. Esse período se prolonga até os dias atuais, o que comprova a inclusão de novos termos, inclusive oriundos de outros idiomas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BUENO, Francisco da Silveira. A formação Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1955.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1976.

GLADESTONE, Chaves de Melo, Iniciação à Filologia e a Linguística Portuguesa. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1981.

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 30ª ed. São Paulo: Cultrix, 1999.

OLIVEIRA, Cândido. Súmulas de literatura portuguesa, 5.ed.,pág.176)

SILVA NETO, Serafim. História da língua portuguesa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Presença, 1988.