Por: Francisco Costa

Resumo:

A idéia é falar de como ensinar leitura e escrita, utilizando as normas gramaticais e ortográficas, muito usada nas décadas passadas, mas, muito questionada hoje, numa idéia aditiva com o uso dos gêneros textuais, na formação de leitores e escritores. Em minha opinião, as duas maneiras juntas pode ser uma opção bem mais proveitosa.

O ensino da leitura e da escrita, na forma tradicionalmente falada, consistia inicialmente no ensino de conceitos e significados dos termos. Todo bom professor ensinava desta forma e usando métodos tradicionais ou não, as crianças aprendiam; como ponto inicial, depois que o aluno dominasse o alfabeto, sabendo diferenciar as consoantes e as vogais, o professor trabalhava as classes gramaticais (artigo, substantivo, pronome, adjetivo, verbo, advérbio, numeral, preposição, conjunção e interjeição), conceituando-as e explicando o que cada uma representa, no processo ensino- aprendizagem da leitura e da escrita em Língua Portuguesa. Em seguida, o professor introduzia o estudo da oração, iniciando por seus termos:Os essenciais (sujeito e predicado e predicativo), os integrantes(objeto direto, objeto indireto,complemento nominal e agente da passiva) e os acessórios ( adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto), em seguida acrescentava a parte ortográfica, relacionando palavras e suas diferentes formas de grafá-las, como as palavras que se escreve com X e ch, j e g, c e ss, h, z,s, c, ç, entre outras.

Estes conteúdos eram ensinados de forma isolada e mecânica, sem nenhuma relação com os gêneros textuais, que só seriam introduzidos quando o aluno já soubesse ler e escrever, ou seja, numa série mais adiantada; bem diferente do que os especialistas em educação defendem atualmente,que é , o estudo dos gêneros textuais,desde cedo, logo nas séries iniciais, por ser o início da socialização do indivíduo ou seja na alfabetização,( os gêneros, nada mais são do que os vários tipos de textos e a função social que cada um representa no estudo das ciências humanas), com a justificativa de que desde cedo estes gêneros fazem parte da nossa vida, de forma significativa, o que constatamos ser verdade; podemos perceber a veracidade desta necessidade, ao considerarmos as diversas formas de comunicação que somos submetidos em nosso cotidiano e a sociabilidade que estas informações nos assegura; como exemplos podemos citar: quando lemos um jornal, recebemos um panfleto na rua, lemos o cartaz no mural da escola, recebemos um convite pra uma festa, recebemos ume email, entre outras. Podemos classificar os gêneros textuais em dois tipos: Os gêneros primários; que são os aprendidos ao usarmos a língua diariamente nas conversas em famílias, no trabalho e nas mesas de bares; e os gêneros secundários, que são os aprendidos na escola, são as comunicações formais, são planejadas de forma detalhada, como uma aula, uma palestra ou uma entrevista. O professor antes de trabalhar os gêneros textuais deve conhecer os grupos que tem a ação de: narrar, expor, argumentar, instruir e relatar, além de suas respectivas capacidades de linguagem envolvidas na produção de textos, bem como os gêneros a que cada um está agrupado; é o que chamamos de agrupamentos de gêneros, que aqui explico de forma detalhada: 1-Narrar- ficção e criação: gêneros de cultura literária ficcional: contos, crônicas, lendas, romances, fábulas;

2-Expor- divulgação de um conhecimento resultante de uma pesquisa científica em todas as áreas: artigos de divulgação científica, seminários, textos explicativos de livros didáticos, conferências, verbetes de enciclopédia, textos didáticos para ensino de diversas áreas; 3-Argumentar- questões polêmicas discutidas em sociedade, com defesa do posicionamento de seu autor: Cartas de solicitação e de reclamação, debates políticos, artigos de opinião, editorial; 4-Instruir- informações de como deve ser o comportamento de pessoas que vão usar um equipamento ou um medicamento ou até mesmo realizar um procedimento: manuais de instrução de diferentes tipos, bulas de remédios, receitas culinárias, regras de jogo, regimento, regimentos e estatutos;

5-Relatar - necessidade de relatar um fato, ou seja, um acontecimento real, fazer um relatório: memórias literárias, diários íntimos, depoimentos, reportagens, biografias e relatos históricos. O que diferencia o grupo narrar do relata; é que o narrar pode ser real e ficcional, já o relatar, só pode ser acontecimentos reais. Os gêneros textuais como instrumentos de ensino na escola, oferece maior significação aos estudos, por aproximá-los mais da língua que usamos de forma natural, tanto nas comunicações informais como nas comunicações formais. Na organização do planejamento incluindo os gêneros secundários; os gêneros podem ser escolhidos pelos professores, conforme o interesse dos alunos e suas capacidades de leitura e de escrita, sendo distribuídos ao longo das séries do Ensino Fundamental.

Se o método de ensinar leitura considerando a gramática e a ortografia como um fim, é considerando inadequado e por este motivo é muito questionado, temos em nossa historia homens que aprenderam, fazem ou fizeram muito bem o uso escrita e da leitura, não podendo assim, considerá-lo totalmente ineficaz, eu pessoalmente me considero um defensor do ensino da gramática e da ortografia antes, da introdução dos gêneros literários, por considerar muito complexo o ensino dos gêneros, principalmente antes da criança conhecer os primeiros passos da leitura e também pelo fato de se tornar um entrave na prática do professor, se o mesmo não souber unir estes métodos e trabalhar com os dois ao mesmo tempo, de forma a conduzir o processo a atingir o objetivo principal que é a aprendizagem da leitura e da escrita, o que pode dificultar muito o aprendizado, causando acúmulo de informações na mente da criança.

Mas, considerando a importância do estudo dos gêneros textuais na aprendizagem da leitura e da escrita, buscando o fazer pedagógico, o ensino da leitura e da escrita deve partir do lógico, do real, que os conteúdos sejam trabalhados conforme a realidade do aluno e das condições de trabalho do professor, bem como dos materiais didáticos que estão ao alcance do mesmo. Que as aulas sejam planejadas a partir de um projeto que busque despertar a curiosidade do aluno, que se ensine o aluno a produzir textos, sabendo como produzir, para que e para quem se escreve, considerando que seu texto será lido e compreendido por diversas pessoas e que o próprio aluno saiba ler e interpretar sua produção e que os textos produzidos não sirvam só para o aluno ser avaliado e sim, sirvam como forma de socialização e crescimento pessoal. Cabe ao professor lembrar ao aluno, que da sua produção textual deve ser retirada uma mensagem informativa, formativa ou mesmo de entretimento; para despertar o interesse do leitor. Devemos chamar atenção dos professores para que não ensinem apenas as características dos gêneros, pois os mesmos devem ter em mente que faz parte de seu dever formar leitores e escritores de verdade e que nossa relação com os textos escritos tem forma própria e possíveis propósitos de leitura.

Os diferentes gêneros textuais são definidos por suas características, pela soma do conteúdo, a função, pelo estilo do mesmo e a composição do que será lido, o que significa que em todo texto com função comunicativa, está presente um gênero textual. A presença do gênero em sala de aula é motivo pra comemoração, desde que a gramática e a ortografia não sejam esquecidas; e que os gêneros não sejam explorados apenas com suas características, pois, desta forma não se ensina a ler ou a escrever. Para um melhor entendimento de um gênero textual, vamos tomar como exemplo uma carta, mostrando suas partes: Cabeçalho, local, data (as características), que são importantes para o conhecimento do aluno, mas, também é importante se mostrar que se deve pensar em para quem escrever, o que se pretende escrever, a mensagem que se quer passar e quem vai ler esta carta. Aqui consiste a diferença entre ensinar os gêneros introduzindo-os na prática de leitura e escrita e ensiná-los de forma isolada, o ensino do gênero de forma isolada, é uma postura é equivocada que em breve vamos lembrar apenas como passado. O professor deve proporcionar meios para que os novos leitores e escritores entendam as estruturas e funções dos textos; este é o principal motivo que se contrapõe ao aluno escrever só para ser avaliado.

Ao redigir uma notícia ou escrever frases para um cartaz, sabemos que estamos passando informações para diversos tipos de leitores. Na escola, as cartas devem ser trocadas entre alunos de uma mesma turma ou de turmas distintas, um jornal pode ser criado e distribuído para que os alunos produzam e socializem as informações, ações que ajudam no desenvolvimento e n a interação dos mesmos e incentiva o gosto pela leitura e pela produção de textos; o mural, é uma boa alternativa para a divulgação de notícias e de acontecimentos sociais na escola;também pode ser criado um livro, de forma coletiva para publicar os textos, como forma de divulgar as produções textuais dos alunos.Os gêneros são considerados condição didática para se trabalhar os comportamentos dos leitores e dos escritores. É claro que a gramática e a ortografia não deve ser descartadas; pois, como os gêneros, são meios para se ensinar a ler e a escrever de forma eficiente não com um fim, mas, como um meio, ou como um conhecimento complementar, necessário para complementar o outro. A apresentação de um suporte real para cada tipo de texto é de suma importância; se você se propõe a trabalhar reportagens, jornais e revistas são instrumentos indispensáveis na sala de aula, portanto, não se pode cometer o erro de se trabalhar apenas com o livro de didático, por oferecer apenas uma idéia e seus conteúdos serem muito resumidos, pois, pode limitar o desenvolvimento do aluno, deixando de criar novas possibilidades de aprendizagem.

As crianças devem ser exercitadas no sentido de aprender a ouvir, a ler e a escrever, para se tornarem bons ouvintes, bons leitores e bons escritores. Trabalhar a gramática e a ortografia de forma contextualizada no ensino da leitura e da escrita, é uma tarefa que exige muito do professor, além de precisar ter objetivos bem definidos, o professor deve ter um projeto muito bem consistente para que seus objetivos não se percam no caminho, não esquecendo que as duas maneiras de se trabalhar leitura e escrita aqui relatadas são importantes e que na minha opinião, uma complementa a outra, pois, se com a gramática e a ortografia ensinadas de forma isolada, o aluno aprendia, imagine esta idéia somada com os gêneros textuais, o sucesso na aprendizagem de leitura e escrita será certo. O professor deve ter o cuidado de ver os dois lados da questão, para evitar que leitores e escritores sejam formados sem conhecer as normas gramaticais e ortográficas, que são indispensáveis, na aplicação da Língua Portuguesa, evitando que mude seu verdadeiro sentido que é a comunicação, a leitura e a compreensão do contexto leitura e escrita.

Referências Bibliográficas:

Como trabalhar com os gêneros. Revista Nova Escola, São Paulo, Nº 224, Pág. 48 - 57, agosto 2009.
Gêneros textuais na escola. Almanaque do Programa Escrevendo o Futuro na Ponta do lápis, São Paulo, Nº 5, pág. 6 - 7, abril 2007.